Charles Evaldo Boller
O templo não é local exclusivo para fazer ordem-unida,
marchar, bater continência, apresentar armas, formar fileira, ler a ordem do
dia e cumprir ritual de forma impecável. É local sagrado! Sim! É o espaço
tridimensional físico mais sagrado que o maçom possui: ele mesmo! O templo é o
local onde ele se percebe em união com o Todo.
É inaceitável comportamento inadequado dentro do templo que
representa o homem símbolo no universo. Não se trata do templo físico feito de
cimento, areia e tijolos: isso é matéria. O templo é outro. Feito de carne,
ossos, nervos, e, principalmente, intelecto e espírito. A loja representa o
homem. Feita para o homem. Simbolicamente é um homem deitado de costas com a
cabeça no oriente. Adentrar ao templo significa que se está penetrando o local
mais recôndito de si mesmo: representação viva do que cada um é. O maçom
esclarecido e espiritualizado entra no templo consciente que está caminhando
dentro em si mesmo. Local onde prospecta por virtudes, valores e mudanças em todas
as dimensões.
É na aparência externa que o outro reconhece imediatamente
aquele que já se iniciou maçom. Uma coisa é iniciar alguém, isso é simbólico,
outra é iniciar a si mesmo, isso é sublime, real! A iniciação simbólica é
trabalhada no grau de aprendiz maçom; a iniciação real acontece depois, em
surdina, no íntimo de cada um. Inicialmente burila-se o lado externo da pedra:
mundo da aparência, da fantasia, dos sentidos, daquilo que parece ser.
Subsequentemente trabalha-se o interior da pedra, da realidade, daquilo que os
outros não veem: que representa o maçom no universo. Este é o maçom de fato e
em sentido lato. Aquele que já se iluminou enxerga dentro de si mesmo, vê
dentro da pedra. O que passou pela cerimônia da iniciação pode até camuflar sua
aparência externa que os outros veem, mas é impossível camuflar de si o que ele
é por dentro.
A transposição das colunas vestibulares separa dois
universos: macro e microcosmo; no macrocosmo está o homem que parece ser:
corresponde à sala dos passos perdidos, átrio etc.; no microcosmo o homem real,
que é: sua essência, existência, realidade, consciência, espírito, templo etc. Tudo
no Universo é energia. O homem é energia. O pensamento é energia. A Mecânica
Quântica já caminha em direção da obtenção de explicações razoáveis desta
manifestação. Místicos reportam-se a algo denominado por eles como Egrégora,
uma força coletiva que se manifesta em condições especiais de colaboração e
fusão espiritual. Até associam a manifestação do espírito de pessoas mortas na
criação desta manifestação etérea. Mesmo ao incrédulo da manifestação
energética dos mortos em tais ocasiões há de considerar, no mínimo, a presença
das pessoas vivas que colaboram com a criação de um campo energético
concentrado. É física! O homem já está quase lá! Por ora apenas intuímos e
percebemos tal possibilidade sentida, mas em futuro próximo haverá comprovação
científica desta manifestação energética.
Isto dá sustentação para a necessidade de preparar o templo
material de pedra, de modo a tornar-se eficiente para concentrar energias.
Entrar no templo antes do que se definiu por consenso, ritualística e
regulamentação é uma forma de conspurcar um local sagrado preparado para lidar
com variadas formas de energia. Entrar antes de o ambiente estar preparado é desobediência,
rebeldia, brutalidade. Pode-se até entrar antes do permitido! Quem impede ao
embrutecido de fazer estragos? Apenas ele mesmo! Desobedecer ao acordado a
priori certamente altera o espaço físico onde se formará o homem-símbolo
espiritual que cada um é; respeitar tal dispositivo no mínimo acata o direito
dos demais usuários do local. A falta de respeito ao local sagrado altera a
essência espiritual coletiva dos irmãos reunidos em assembleia. Por empatia,
com sentimento fraterno deve-se reverenciar o sentimento dos irmãos recolhidos
dentro de si mesmos em presença do Grande Arquiteto do Universo! Maçonaria não
é religião, o templo maçônico não é local de adoração, mas o mais sagrado dos
templos que cada um é. Este local é sagrado, inefável, deve ser tratado com
respeito porque assim cada um respeita a si mesmo. O templo de pedra é apenas a
sua representação simbólica, mas quem o desrespeita e o conspurca com sua
presença ao entrar antes da hora está desrespeitando primeiro a si próprio,
depois a todos os outros irmãos que compartilham do mesmo espaço.
Entrar no templo é entrar no lugar mais sagrado do Universo
para cada um: é adentrar em si mesmo. E nesta ocasião cada um se dá o respeito
que acha que deve; se dá a importância que acha pertinente. Cada um entra em
seu local mais sagrado trajando-se interna e externamente da forma em que se dá
importância. Toda sessão em loja é magna para aquele que se respeita. Certo
seria trajar-se sempre para evento de importante envergadura, ocasião magna. O
ritual recomenda: terno, gravata, sapato, cinto, meias pretas e camisa branca.
Qualquer diferença é apenas aceitável, tolerável, afinal cada um se dá o valor
que acha possuir. Como falar de amor com alguém que nunca foi amado? Como
poderá amar a si mesmo aquele que nunca foi amado? O bruto que não respeita a
si mesmo nunca foi amado. Se o maçom em formação ainda não despertou e não se
dá valor, pode entrar de forma contumaz, com a indumentária com que se sente
melhor trajado para comparecer diante de si mesmo, dentro de si mesmo, diante
do universo, perante o Grande Arquiteto do Universo: isto é pessoal, é
intransferível. Cada um se dá o valor que acha que deve.
O templo é lugar sagrado que recebe a cada um naquilo que é
em sentido lato, não tem como escamotear a própria percepção de realidade de si
mesmo, da sua consciência e memória.
À glória do Grande Arquiteto do Universo, o templo deve ser
respeitado!
Bibliografia
1. CAPRA, Fritjof, O Ponto de Mutação, A Ciência, a
Sociedade e a Cultura Emergente, título original: The Turning Point, tradução:
Álvaro Cabral, Newton Roberval Eichemberg, primeira edição, Editora Pensamento
Cultrix limitada., 448 páginas, São Paulo, 1982;
2. GOSWAMI, Amit, O Universo Autoconsciente, como a
Consciência Cria o Mundo Material, tradução: Ruy Jungmann, ISBN 85-01-05184-5,
segunda edição, Editora Rosa dos Tempos, 358 páginas, Rio de Janeiro, 1993;
3. KEATING, Kathleen, A Terapia do Amor, título original:
The Love Therapy Book, tradução: Terezinha Batista dos Santos, ISBN
85-315-0797-9, 11ª edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 98 páginas,
São Paulo, 1999;
Um comentário:
Excelente trabalho!!!
Estive buscando algum texto neste sentido para apresentar em loja!.. Acho simplesmente absurdo a falta de consciência do aspecto sagrado do templo por parte de muitos Iir.'. na minha humilde opinião um templo maçônico deveria ser visto e respeitado como tal antes, durante e após o rito e/ou qualquer outra manifestação...
TFA
Ir.'. Carlos Guimaraes
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