Pronúncia correta do nome do deus judaico-cristão.
Charles Evaldo Boller
Existe um registro na bíblia judaico-cristã, onde o deus de
Moisés se materializou aos seus olhos como um fogo sobre um arbusto e disse: eu
sou aquele que é, e ainda, eu sou me enviou até vós. Isto para uma mente não
treinada constitui um absurdo, pois algo que afirma que apenas é tem sentido
vago, impreciso e não pode ser associado com uma entidade de qualquer tipo.
Em seu estado natural, sem a devida instrução, o homem tem
pouca, ou nenhuma capacidade de lidar com o abstrato. Mas por condicionamento
mental ele tem necessidade em sempre converter as informações que o rodeiam em
símbolos. Tem tendência natural de nomear tudo o que encontra ao seu redor,
para tudo há necessidade de criar um símbolo.
O maçom sabe muito bem o quanto os símbolos são importantes
para o processo cognitivo.
Pelo dicionário, deus não é nome próprio, é substantivo
masculino comum, por isto é escrito em letras minúsculas; só utilizando
maiúscula quando for nome próprio. Daí o deus do cristão pode ser representado
por: deus, criador, o todo poderoso, o pai, o pai eterno, o onipotente, o
altíssimo, e outros; até Jesus Cristo é confundido como se fosse o deus dos
israelitas.
Para o judeu e seus peritos religiosos, o seu deus tem um
nome que pode ser vertido como Javé, Iavé, Elohím, Adhonay, Jah e outros.
Em língua portuguesa é comum encontrar-se o nome próprio
Jeová.
Aviltado pelo antropomorfismo generalizado e diante da
confusão da existência de miríades de deuses e santos, esbarra-se com as mais
diversas linhas de pensamento que defendem um número enorme de variações.
Quando perguntado por Moisés, aquele deus se apresentou como
aquele que apenas é. Isto tem semelhança com o conceito de Grande Arquiteto do
Universo, o que não causa discussões vazias e tolas.
Mas isto para um simples operário, lavrador, criador de
amimais é subjetivo e abstrato.
O próprio Moisés solicitou que aquele deus declinasse o nome
quando em seu primeiro encontro. Inclusive ele, dotado de grande cultura, com
todo o treinamento iniciático egípcio, com todo o conhecimento dos segredos e
da cultura metafísica evoluída dos sacerdotes egípcios, privilégio que a
condição de adido da família real proporcionou, teve como primeira reação obter
um símbolo para algo que se identificou apenas como aquilo que simplesmente é.
Isto facilita a dedução do porque o povo judeu dar-lhe um
nome.
Um deus sem nome já era incomodo por razões racionais,
intuitivas e naturais, mas era agravado sobremaneira porque os vizinhos tinham
deuses com nomes, e, como é comum entre as religiões, aqueles certamente
desdenhavam do deus de Moisés.
Mesmo com a promessa daquele deus de que um descendente
obteria um nome para ele, diante da realidade vivida nos desertos, os
orgulhosos judeus exigiram para eles que o seu deus tivesse um nome também.
Daí inventou-se o tetragrama hebraico iod, he, vau, he;
escrito da direita para a esquerda, contrário ao padrão de escrita latinizado
da esquerda para a direita, e que pode ser escrito IHVH, ou IHWH, ou ainda
JHVH; existem diversas maneiras de verter o tetragrama do nome inefável em
línguas latinas, mas dão apenas uma noção pobre de tradução escrita do nome do
deus de Israel.
As consoantes no nome original que o deus de Israel recebeu
no deserto pelos seus adoradores chegaram até nossos dias. O problema é a
inexistência de vogais no hebraico original. E sabe-se que as consoantes não
produzem sons, antes, elas alteram o som produzido pelas vogais. Apenas as
vogais produzem fonemas em resultado de símbolos gráficos. Fonema é som, letra
é o sinal gráfico que representa o som. As incógnitas são quais vogais a
combinar com as quatro consoantes. É problema insolúvel, pois não existiam
gravadores de som naquela época!
As vogais eram introduzidas e usadas ao gosto de cada um. É
de conhecimento geral que qualquer processo linguístico é dinâmico no tempo;
basta observar as gritantes diferenças existentes entre o português falado no
Brasil e em Portugal; mesmo com as rígidas regras ortográficas estabelecidas em
comum.
Pela ausência de pontuações vocálicas, entre os próprios
judeus da época de Moisés já foram se estabelecendo mudanças quanto à correta
fonação do tetragrama. O hebraico só veio a utilizar-se de pontos vocálicos na
segunda metade do primeiro milênio da era cristã, faz um pouco mais de um
milênio. E estes pontos vocálicos introduzidos não fornecem a chave para se
pronunciar o nome inefável do deus israelita exatamente como faziam Moisés e
seus contemporâneos.
Acrescente-se a isto que o próprio povo judaico, por excesso
de zelo, estabeleceu pecaminoso pronunciar o nome do deus representado pelo
tetragrama. Inexistem provas cabais para determinar quando exatamente os judeus
passaram a evitar a pronúncia do nome do seu deus. Sabe-se que o excesso de
zelo dos sacerdotes foi endurecendo cada vez mais as rígidas normas religiosas
judaicas a tal ponto que passaram a considerar que o nome de deus fosse sagrado
demais para ser pronunciado por ordinários e imperfeitos mortais.
Todavia, ao ler as escrituras hebraicas é fácil observar que
os mais antigos escritores não tinham o menor receio em se utilizarem do
tetragrama nos escritos que traduziam suas experiências metafísicas. Naquela
época o tetragrama era usado tanto em escritos religiosos como em
correspondência mundana.
Existem estudos que pretendem definir que o povo judaico
passou a evitar proferir o nome inefável quando do êxodo para a Babilônia, no
ano 607 antes de Cristo, o que é falso e baseado numa tendência das escrituras
hebraicas apresentarem o nome cada vez menos.
A data mais provável da abstenção do uso do nome é cerca do
ano 270 antes de Cristo, mas também não passa de especulação.
Resumindo: o nome passou a não ser usado por simples
fanatismo.
Na introdução ao Pentateuco da Bíblia de Jerusalém, os
autores afirmam que seria um absurdo exigir das tradições de um povo, o que lhe
propiciava sentimento de unidade e a base de sua fé, a precisão exigida por um
historiador moderno. Em contrapartida, seria errado também negar-lhes a verdade
em decorrência do rigor técnico da historicidade.
Todas as alegorias e fábulas da origem do universo e do
homem do Pentateuco são partes do que convinha à mentalidade de um povo inculto
que se satisfazia com isto para tentar explicar a origem do universo e de todas
as coisas e criaturas.
A Maçonaria usa de semelhante processo em suas instruções.
Mas aquele povo carregava em seus genes a necessidade de nomear tudo o que o
rodeava, daí exigirem um nome para o seu deus. Com seus recursos de escrita
registraram o pentagrama que representava o nome de seu deus, e que só eles, os
inventores, tiveram a capacidade de produzir o som correto da pronúncia dos
fonemas representados.
A Maçonaria usa o nome Jeová ao referir-se ao tetragrama e
nenhuma argumentação justifica o abandono do uso deste nome próprio,
principalmente em resultado de não se saber o seu som original, o que constitui
insignificância que foi transmitida pelo próprio Moisés quando em seu primeiro
contato com o deus que apenas é.
Não se deve deixar de dar um nome, principalmente se este
for o deus que satisfaz às necessidades metafísicas individuais. Nomear as
coisas, e principalmente aquilo que se considera o mais sagrado, a razão de
existir, é necessidade física e emocional de cada um à sua maneira.
O próprio uso frequente que fazem os mais diversos
escritores dos livros da bíblia judaico-cristã o justifica, haja vista que o
tetragrama aparece quase sete mil vezes apenas nas escrituras hebraicas, ou
velho testamento.
Ademais, Jeová é um nome próprio, designativo de um ser,
independente do que seja ou de como é. É um nome pessoal, para uso do cidadão
que deseja um relacionamento pessoal com esta divindade.
Reconhecendo a grave falha de retirar o nome do incriado da
bíblia judaico-cristã e do uso coloquial, apareceram traduções novas como A
Bíblia de Jerusalém, que introduziu o nome Iahweh. Já é um avanço, pois tanto
faz o nome que se dê: Iahweh ou Jeová são nomes próprios e em nada diminuem o
valor que seus adoradores lhe dedicam.
A maior liberdade é a preconizada pela Maçonaria por
influência dos Iluministas. Na seara da discussão de detalhes como dar um nome
para aquele que simplesmente é, nada se adiciona na construção que dignifique o
homem e sua sã racionalidade. O século das luzes, injustamente acusado de
advento do ateísmo, é na verdade o início da libertação dos grilhões da
pequenez humana que discute detalhes da divindade que em nada melhoram as
condições de vida moral do cidadão, antes, foi e é causa de guerras. O que de
fato interessa é obter o laboratório próprio para efetuar saltos no
conhecimento para propiciar eras de paz e tranquilidade para a humanidade, no
encontro ao desejo do desenho do grande Geômetra.
O despotismo combatido pela Maçonaria não admite em seu meio
que se perca tempo com prospecção da pronúncia correta de um deus, por isto
estabeleceu como forma de atender às necessidades metafísicas de cada adepto o
conceito Grande Arquiteto do Universo, que representa Jeová ou qualquer outro
deus que o iniciado maçom tenha em resultado de suas necessidades espirituais.
Bibliografia
1. BENOÎT, Pierre; VAUX, Roland de, A Bíblia de Jerusalém,
título original: La Sainte Bible, tradução: Samuel Martins Barbosa, primeira
edição, Edições Paulinas, 1663 páginas, São Paulo, 1973. Autores: P. Benoît,
escritor francês. Pierre Benoît. Nasceu em 16 de julho de 1886, em Albi.
Faleceu em 3 de março de 1962, em Ciboure, com 75 anos de idade. Roland de
Vaux, escritor e padre francês. R. De Vaux. Nasceu em 17 de dezembro de 1903.
Faleceu em 1971, com 67 anos de idade. Padre dominicano. Diretor da Ecole
Biblique. Tradutor: Samuel Martins Barbosa, tradutor brasileiro;
2. CEGALLA, Domingos Paschoal, Novíssima Gramática da Língua
Portuguesa, ISBN 85-04-00789-8, 31ª edição, Companhia Editora Nacional, 556
páginas, São Paulo, 1989. Sinopse: Gramática da língua portuguesa mais voltada
para o uso no Brasil. Autor: Domingos Paschoal Cegalla, autor e professor
brasileiro;
3. CINTRA, Celso Cunha Lindley, Nova Gramática do Português
Contemporâneo, segunda edição, Editora Nova Fronteira S/A, 724 páginas, Rio de
Janeiro, 1985. Sinopse: Gramática da língua portuguesa com os contrastes entre
a língua falada em Portugal e no Brasil. Autor: Celso Cunha Lindley Cintra,
autor e professor brasileiro.
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