Técnica de aprendizagem maçônica.
Charles Evaldo Boller
Para especular o futuro da Ordem Maçônica Universal é
interessante visitar um dos seus berços culturais, algo que se pratica no
interior dos templos da Maçonaria ao redor da Terra: a Arte Real. A origem do
uso dessa nobre arte milenar é debitada, principalmente, aos nobres da antiga
Grécia, no planejamento e organização das cidades estado e aos nobres e
sacerdotes do Egito antigo, como fonte de práticas herméticas que aguçam
introspecção e espiritualidade. Por razões obvias, ao escravo daquelas vetustas
sociedades não existia motivação nem incentivo para dedicar-se a pensar os
vários temas da administração da cidade. Já os nobres, porque dispunham de
tempo e recurso, debruçavam-se em boa parte do seu tempo no planejamento e
praticavam o ócio criativo, a magia, o misticismo e outras atividades que
usavam a razão. Por serem atividades restritas a reis e príncipes, o livre
pensar do maçom é hoje denominado Arte Real. O maçom busca, em seu templo de
pedra, reunir-se com outras pessoas, de diferentes origens e formações, para
dedicar fração de seu tempo para evoluir em conhecimento e prática do bem e
ócio criativo, pretendendo com isso viver e ensaiar uma utópica sociedade, onde
a liberdade reina soberana. No entendimento dos sábios maçons é da presença de
liberdade que brotam as sementes de outros valores virtuosos.
A prática da Arte Real do livre pensamento é praticada na
Maçonaria hodierna, motivo pelo qual, não são aceitos "escravos" do
sistema de coisas humano. Exige-se do candidato a entrar na Maçonaria ser
"livre", praticar bons costumes, ter tempo para si mesmo, gosto pelo
exercício do livre pensamento, crer num Princípio Criador e numa vida futura.
Estas são cláusulas pétreas universais em todas as obediências maçônicas.
Como instituição humana a Ordem Maçônica não é perfeita nem
pratica uma ciência exata. Ao longo do tempo assistiram-se conflitos entre
obediências e disputas internas de poder que geraram inúmeras cisões. Longe de
criticar essa realidade, não cabe ver caos e derrocada nisso, mas necessidade.
A divisão da Maçonaria em diversas obediências alberga as mais diversas linhas
de pensamento, caso contrário, o maçom deixaria de praticar o ócio criativo ou
a Arte Real que cultuam o livre pensamento. O maçom busca ordem no caos! O
exemplo é divino, pois o que no universo aparenta confusão são apenas as leis
divinas administrando a natureza, e que, ao limitado homem parecem fenômenos
caóticos. Maçons sábios contam com a diversificação para imprimir mudança
significativa de procedimentos de transmissão e prática da vetusta Arte Real.
Leva-se ordem aos homens imersos numa sociedade que evolui em complexidade
crescente. Promove-se evolução a um estado aperfeiçoado, a partir do
conhecimento que verte dos rituais.
Poder-se-ia debitar o atual estado de desalento e
esvaziamento de templos à velocidade com que a tecnologia evolui e cativa o
cidadão para atividades cada vez mais passivas, com rara atividade intelectual,
tornando-o cativo de vil sistema de "escravidão". Talvez não se
ofereça ao maçom algo pelo que se engajar, lutar e obter ganho de alguma
espécie, isso porque, o adulto exige, para trabalhar em qualquer tarefa, um
ganho ou vantagem. Não é falta de altruísmo, simplesmente funciona assim.
A Maçonaria está deficiente na transmissão do conhecimento
que se constrói a partir de filosofar dos seus membros. Faltam líderes
treinados para transmitir com técnica eficiente e adaptada ao treinamento do
adulto, o conteúdo da base do filosofar maçônico. Se a Ordem Maçônica não investe
em ensino de qualidade toda a sua estrutura balança ao sabor dos ventos das
ideologias e crenças que "escravizam".
Busca de Valores
Hoje o maçom planta as sementes que germinarão e darão
frutos em breve, inclusive mediante o estabelecimento e adaptação à novas
moralidades. O conhecimento extraído dos rituais tem a pretensão de propiciar a
iniciação interna, que melhora o maçom em termos de pessoa e consequente
acúmulo de valor material, político, social, poder, emocional e espiritual.
Isto têm forte apelo motivacional.
É crucial a apresentação de candidatos qualificados para a
prática da Arte Real e que disponham de tempo para a presença periódica e
continuada às atividades do ócio criativo. Depois de iniciado o noviço adulto
exige retorno do investimento em dinheiro e tempo que gasta em sua formação,
portanto, demanda equilíbrio do custo-benefício. As sementes são plantadas para
eclodirem em futuro próximo e estas são plantadas nas mentes dos irmãos em
forma de conhecimentos que permitem, a cada um, modificar-se para o bem e com
vistas a um valor agregado: a sua evolução. As instruções contidas nos rituais
são apenas pontos de entrada para deduções muito mais elaboradas pela razão e
com aplicação no campo político-social. Para aprofundamento na filosofia maçônica
há a necessidade da presença em loja, de modo a adquirir conhecimento a partir
de provocações de pensamentos contidos nos rituais e de parte dos demais
irmãos. A Arte Real não é dedutível da palavra escrita ou falada: é um estado
de espírito que modifica o ser! Em condições normais e acomodadas, o maçom não
tem possibilidade de alcançar sozinho o que se encontra velado nos rituais. Os
irmãos de loja são um grupo social, que se reúne com regularidade e de cujo
relacionamento eclodem insights que levam o indivíduo a se modificar para juntos obterem sucesso na vida. E esse sucesso é a principal moeda almejada pela
maioria dos que atravessam os umbrais e colunas do templo maçônico. Para
usufruir desse manjar filosófico exige-se treinamento de qualidade.
Luz para a Transposição
O maçom inicia na Maçonaria para evoluir, aprender, estudar,
mas nela não existem professores. A Ordem Maçônica não educa ninguém. Não é
educandário, e sim, instituição que, em presença do livre-arbítrio, cria as
condições ideais para o adepto autoeducar-se. Na prática encontra-se apenas a
autoeducação! A partir disso, nasce a Luz que revela a transição através do
conhecimento, mediante adaptação ao atual desenvolvimento tecnológico e sem
perder de vista história, liturgia, ritualística, símbolos, alegorias,
ilustrações, lendas, mitos, avatares, narrativas, contos, parábolas etc., com
que são intuídas as verdades que o buscador deseja. São diversas e variadas as
especulações com o objetivo de levar o adepto a examinar "verdades" que
nele foram depositadas por seus pais, professores, pastores e outros, todos
submetidos a um cruel e maquiavélico sistema de poder que a todos exaure a
força ativa até sobrar apenas "bagaço". O maçom trabalha arduamente
para manter-se livre, mesmo vivendo debaixo de um sistema que busca
"escravizar" a todos.
Hoje a tecnologia da informação atinge rapidez de
disseminação estonteante, o que requer boa dose de planejamento de parte das
lideranças maçônicas. O volume de informação com que o cidadão é atingido a
cada instante é enorme. Há poucas décadas um cidadão comum obtinha, durante
toda a sua vida, o conhecimento equivalente ao de um jornal em papel de uma
edição de domingo. Hoje, esse mesmo volume de informação é absorvido em
questões de minutos. A produção de livros em papel está com os dias contados,
atualmente o número de livros digitais possíveis de se acessar é inimaginável!
Em breve, livrarias e editoras aposentarão suas máquinas de impressão em papel!
É incomensurável a quantidade de vídeos e imagens ao alcance de um simples
toque na tela de um celular.
A prolongada pandemia de covid destacou nova realidade
instrucional para as lojas maçônicas: a reunião online, virtual, não
presencial. De um lado constitui auxílio aos dirigentes de lojas, na
transmissão de conteúdo doutrinário e filosófico, mas traz embutido um
desserviço: a falta do contato humano. E já existem lojas criadas com a
pretensão de terem reuniões exclusivamente virtuais, sem a necessidade alugar
templo para sessões econômicas e de instrução, reunindo-se presencialmente
apenas para cerimônias de iniciação. Aos mais adiantados na Maçonaria é
conhecido o fenômeno natural onde a convivência leva os humanos a mudarem a si
mesmos quando estão em grupo presencial. Depois que se aprendeu a dominar o fogo dentro de
cavernas, os dias foram artificialmente prolongados e possibilitaram aos
antepassados maior tempo de convivência e compartilhamento de ideias ao redor
da fogueira. Isso criou o condicionamento psicológico que hoje já vem do berço
e sujeita o indivíduo ao poder do grupo. Esse procedimento natural de
transmissão de ideias e pensamentos, atrelado à dinâmica de grupo, é evidente
dentro do templo, onde o ambiente, é especialmente preparado mediante o
estabelecimento de uma espécie de sacralidade local. A reunião presencial
possibilita o fenômeno de absorção de coragem e determinação para a mudança.
Mudar a si mesmo não é tarefa solitária fácil porque o mundo oferece imensa
diversidade de atrativos que não possibilitam a introspecção, meditação e troca
de pensamentos. Em grupo presencial a absorção de conhecimentos é facilitada quando um
incentiva o outro com eternos ciclos de tese, antítese e síntese, que, por sua
vez, possibilitaram a evolução humana ao atual patamar da técnica e dinâmica
social. Portanto, estudar com qualidade é essencial!
Propostas de Ensino
Como em loja a presença é essencialmente de adultos, há
necessidade de se aplicar técnica de ensino própria para adultos, de modo a
aumentar a eficiência de ajudar os outros a aprenderem. Um norte importante
para a aperfeiçoamento maçônico pode ser a Andragogia, técnica apropriada ao
aprendizado do adulto. As teorias pedagógicas de Maria Montessori, Lev
Vygotsky, Jean Piaget e outros não são eficientes no treinamento de adultos:
suas teorias visam, em princípio, as crianças. Rudimentos de Andragogia são
uteis na transmissão do conhecimento explícito e velado dos rituais. É usual
aos dirigentes de lojas efetuarem a leitura das instruções, por vezes de forma
mecânica, quando não gaguejando, "comendo" pontos e virgulas ou
atrapalhando-se com a "sopinha de letras tripontuadas", onde, então,
deixam de destacar efeitos acústicos necessários à compreensão. Aplicando-se
rudimentos de Andragogia por ocasião da aplicação de instruções, mesmo que nas
colunas compareçam obreiros de formação básica, ocorre um sensível incremento da
eficácia na interpretação e apreensão do conhecimento.
Os meios de comunicação e a própria experiência de vida faz
os adultos só se envolverem com os processos de aprendizagem se, e somente se,
estiverem convencidos que levarão alguma vantagem prática ou puderem se
beneficiar com algum valor agregado. Para tal, eles demandam melhor preparo e
apresentação dos ensinamentos. Considerar que todos os que receberam formação
acadêmica nos últimos quarenta anos são bons facilitadores de instrução é
temerário. Todos foram treinados com as técnicas pedagógicas de especialistas
no ensino de crianças, fica pior quando as técnicas de ensino foram copiadas e
adaptadas a partir dos grandes mestres da pedagogia para utilização com objetivos
ideológicos. Tratar o obreiro como adulto, certamente, resulta em motivação
para a aprendizagem. Considerar sempre que, devido à presença de irmãos em loja
com escolaridade média deve-se cuidar em não elevar demais o tratamento erudito
no filosofar maçônico. Maçonaria não é escola de filosofia: o maçom filosofa de
forma natural e apoiado em seus referenciais.
A orientação didática para ensino de adultos que lida com
técnicas aplicadas ao ensino no ambiente maçônico é algo que, de longa data, já
se impõe como dever e necessidade de acompanhar a tecnologia e a crescente
complexidade social, cujo descompasso esvazia os templos. Adulto só aprende o
que, de seu discernimento, ele realmente precisa saber. Seguindo as receitas e
provocações que vertem dos rituais na aprendizagem maçônica, fomentam-se
aplicações práticas na vida diária e isso é a linha mestra de ação do
aperfeiçoamento maçônico.
Para amar a Maçonaria devem-se investir esforços para
conhecê-la profundamente. Amando a Maçonaria, o irmão permanece nela e atrai
outras pessoas com perfil maçônico ao interior dos templos. Isso cria círculo
contínuo de crescimento intelectual e espiritual com incremento do sentimento
de pertencimento à Maçonaria, sentimento onde a Maçonaria pertence ao adepto e
o envolve.
Futuro da Ordem Maçônica
O futuro da ordem maçônica no mundo reside exclusivamente na
arte de filosofar. O piso das lojas pode ser visto à semelhança de um
"parque de diversão", onde se "brinca" com coisas sérias,
como pensar algo que se intui e não se pode provar, mas que se sente e auxilia
na autoconstrução do templo interno de cada um. Demanda-se fortemente a
necessidade de inovar o campo do pensamento, mas como evoluir se não se
debatem os temas propostos nos rituais? A sociedade vive permanente evolução e
aumento da complexidade em suas relações e a Maçonaria segue a mesma linha de
tempo. A eficiência da orientação da informação didática aparece quando ela
desperta a aprendizagem no adulto e onde este percebe que a sua atenção no
processo de aprendizagem tem valor agregado, algo que vai desde sua promoção
profissional até o desenvolvimento de autoestima, satisfação e qualidade de
vida. Recomenda-se aos mestres: ouça o cliente e sinta os seus desejos!
A força do debate motiva os obreiros a pensar ou Arte Real
ou ócio construtivo. O instrumento é imbatível na motivação, fomento à
criatividade e intuição. Debates atendem ao disposto nas considerações das
melhores técnicas didáticas andragógicas, onde o adulto trabalha os diversos
aspectos da sua psique. Principalmente no valor agregado e aplicação prática do
filosofar do maçom. A dinâmica de grupo dos debates destaca-se por trazer o
irmão de volta na próxima sessão.
O público adulto visa atingir as metas definidas pela
administração da loja desde que os seus interesses e buscas sejam contempladas.
Dentro da objetividade de todos os envolvidos no processo didático de ensino
dispensam-se rodeios e perdas de foco. O destaque fica para os debates livres
que exigem apenas um pequeno treinamento de manejo de parte do coordenador do
debate. Este manejo visa o auxílio ao obreiro de concretizar a sua busca,
manter o foco e recompensar o esforço individual em atingir seus alvos
pessoais, que constituem o seu "salário".
Tem mestre maçom que já não suporta mais ler as instruções,
vez após vez, sem que o assunto receba o seu tempero pessoal num bom debate
livre, onde a palavra circula livremente entre colunas e oriente, em meio a
todos os presentes em loja. Lidar com adulto demanda outro tipo de manejo que a
circulação ritualística da palavra. Interessam diretrizes e objetivos
didáticos: a "técnica de ensinar a ensinar" voltada para o adulto.
Na criação de projetos didáticos, treina-se o mestre maçom a
identificar qual é o contexto, a inter-relação de circunstâncias que acompanham
a sua situação e envolve seus clientes: os obreiros da loja. O sucesso do
mestre maçom depende de conhecimento, planejamento e eficiência que advém de
projetos com sustentação didática. Ele deve ser capaz de adaptar sua
experiência e treinamento no estudo do perfil do seu público alvo, pois conhece
e convive com seus clientes. Trata-se apenas de facilitar a tarefa de
"ensinar a ensinar com técnica" e não de fazer o trabalho de
construção dos seus irmãos.
No treinamento didático, o mestre maçom desenvolve a arte de
ensinar, a oratória e a técnica de dirigir debates dinâmicos e motivadores.
Toda a equipe da loja, munida de técnica didática, aos moldes do ensino para
adultos e nos assuntos ritualísticos e filosóficos, cria enlevo para despertar a
vontade de voltar na próxima sessão.
Cabe ao mestre maçom ensinar a pescar utilizando-se de
metodologia técnica. Não é aventura que se faça de qualquer jeito: carece
treinamento. Cabe ao facilitador de debates aceitar inicialmente que a sua
formação escolar está repleta de condicionamentos que tentam submete-lo e
treiná-lo para ser usado pelo vil sistema humano de coisas. Instruções bem
ensinadas facilitam a mudança dos obreiros. E a proposta aos mestres maçons é a
de se tornarem excelentes facilitadores de acesso aos mistérios embutidos e
velados nos rituais. Lembrar-se que os rituais não foram escritos para revelar,
mas para ocultar segredos que, uma vez expostos para o maçom que trabalha no
interior de sua "pedra", o motivam a mudar a si próprio, e, se ele
muda, o outro também muda, e o outro só muda se ele se modificar primeiro. Sem
objetivos de coragem para realizar mudanças, a filosofia maçônica do simbolismo
fenece.
Para a criação de conteúdos didáticos concorre o
planejamento, a visão clara e a consciência das possibilidades que envolvem o
treinamento para a mudança. Mudança é necessidade pessoal, intransferível e
inalienável. Sem mudanças, nenhuma meta, busca ou objetivo estabelecidos serão
atingidos, por melhor que seja a técnica didática aplicada.
Pode-se orientar o mestre maçom a extrair das instruções dos
rituais os temas de debate e estudo. Criar tema é peculiar para cada loja,
palestrante, escritor. Suprir ou impor tema é forma de criar dependentes e não
líderes. O líder está consciente de sua individuação e luta por ela: não é
vaidade, mas brio e autoestima. Ademais, lida-se com cliente adulto. Criar
listagem de temas para debate e estudo extraído de cada instrução pode criar
condicionamento doutrinário, pode forçar as pessoas dentro de um molde concebido
por alguém que possui o poder de impor: isso tira a liberdade, cria o
acomodado, inibe a criatividade, destrói a motivação do proativo, não é
objetivo da Maçonaria, e péssima forma de tratar o adulto voluntário.
Entende-se que a Arte Real é sustentada por um tripé formado
pela fraternidade dos seus irmãos, a prática da caridade e o estudo da
filosofia dos graus simbólicos. Esse estudo, em especial, é alvo de grande
atenção em todo o universo maçônico, através da necessidade de mudança de
paradigmas, que visam a sobrevivência e evolução da instituição.
Atualmente, apoiando-se no perfil de novos iniciados, não se
pode oferecer o método de ensino maçônico baseado em leitura
"mecânica" de instruções, que muitas vezes é feita com falhas de
entonação e oratória. Esse modelo passou a ameaçar severamente a sobrevivência
da Maçonaria pela comprovada evasão mundial de maçons dos templos. Além da
dificuldade em se captar e manter bons obreiros que estariam interessados nos
augustos mistérios, escorreria entre os dedos da administração a capacidade de
mantê-los em loja. A taxa de evasão aumenta de forma alarmante a cada ano nas
últimas décadas, e as causas são diversas, e a falta de transmissão eficiente
do conhecimento é uma das vilãs preferenciais.
Estudo Pessoal em Loja
É de real importância na formação de aprendizes e
companheiros que sejam destacados, pelo venerável mestre, um ou dois mestres
para estudar com os aprendizes fora do templo, no mesmo prédio e no mesmo dia
da sessão de mestre ou companheiro. Aprendizes e companheiros não deveriam
auxiliar o mestre de banquete ou fazerem outras tarefas que não fosse o estudo:
eles têm toda a sua vida maçônica pela frente para servirem a loja. Devem
aproveitar a ocasião para lerem e interpretarem o ritual, confeccionar suas
peças de arquitetura, debater os vários assuntos que vertem do ritual,
esclarecer detalhes do funcionamento da ordem, história e filosofia do grau e
da Maçonaria. Estas reuniões fora do templo têm a mesma duração da sessão que
está em andamento, o que permite a cobertura de muito assunto em um só
encontro. Esse uso nobre do tempo, apenas para estudar, tem resultados
excepcionais na formação de maçons, futuros líderes e oficiais para comandarem
a loja.
É usual ao aprendiz maçom estar aberto e motivado pela
curiosidade desde a sua iniciação. Com esses encontros ele passa a cultivar o
hábito de se fazer presente na loja para estudar em todas as sessões. Nessa
ocasião o mestre maçom coloca em ação a sua mais nobre missão: ensinar.
O aprendiz munido de caderno e caneta faz anotações da
dinâmica desenvolvida pelo grupo fora de loja e normalmente já anota e
desenvolve o seu trabalho de grau. Se o conteúdo integral do ritual for
trabalhado já é suficiente para garantir sucesso na formação de bons mestres.
Companheiros também participam, podem estudar com outro mestre maçom em local
afastado ou no mesmo grupo junto com os aprendizes, ocasião em que revisam os
assuntos do grau anterior e ajudam os mestres na formação dos aprendizes. O
estudo não é simples, também não erudito ao ponto de causar desânimo.
Normalmente acaba em ambiente lúdico de prática da Arte Real que resulta em
conhecimento e satisfação.
A investigação didática para a aprendizagem dirigida ao
adulto deve se fixar em temas e debates que possibilitem a resolução de
problemas da vida. Os rituais estão prenhes desse tipo de informação e isso
deve ser explorado ao máximo. Para tornar a dinâmica de grupo lúdica e
agradável em debates livres dentro e fora do templo, o obreiro é tratado como
igual e a palavra flui livre. Naturalmente, há a necessidade do aporte de
dinâmica de grupo onde prevaleça respeito e ordem. Debates livres demandam
regulamentação para não ferirem a ritualística. Colocar a loja com a palavra circulando livremente durante a ordem do dia, disposição aplicada ao debate de temas filosóficos,
administrativos e logísticos, menos aos temas que exigem votação, ressaltam a prática da liberdade e são motivadoras.
Na definição do objetivo didático dirigido ao mestre maçom
deve ser introduzido o exercício da dúvida. A grande aliada da cognição, a
dúvida propicia o processo de metacognição. Como maçom trabalha-se o controle
do processo de pensar. É a essência do "ensinar a ensinar" e a
relação disso com o valor agregado que se deve produzir para motivar o obreiro
a voltar para a loja na sessão seguinte. Um objetivo didático ao se treinar o
mestre maçom visa à utilização do que verte dos rituais de forma diferente, com
outras palavras e ideias. Fragmenta-se cada instrução em tópicos menores. Algo
que contribua com o aumento da apropriação do conhecimento. Parte-se do
princípio de que não há diálogo sem que se manifeste alguma dúvida, parte-se do
estudo didático de processos de aprendizagem do adulto. São inúmeras as
oportunidades em que as instruções contidas nos rituais levantam dúvidas sobre
verdades já há muito sacramentadas por usos, costumes e tradição. O mestre
maçom deve especializar-se em usar da dúvida com o objetivo didático de
motivação e criatividade.
É mandatório que os maçons pensem soluções de problemas da
sociedade e para isso precisam desenvolver "a arte de ensinar a
ensinar". O público alvo da aprendizagem de método de ensino com técnica é
o mestre maçom atuando no seu principal dever de ofício: o ensino da arte
maçônica de pensar. Ele carece de treinamento em sua arte de multiplicador da
ideia de Maçonaria. O mestre maçom qualificado pela didática possui sabedoria,
talento e competência na Arte Real. Goethe: "as pessoas ouvem apenas o que
compreendem". O adulto só se concentra em algo com valor agregado para
ele. As pessoas só amam aquilo que conhecem profundamente.
Na discussão de didática aplicada aos processos de ensino na
Maçonaria, desde o instante em que o maçom vê a Luz, ele é instado a
desenvolver autonomia em tudo. Principalmente em sua vida. Por isso ela dispensa
os seus guias assim que lhe é dada à Luz na cerimônia de iniciação. O mestre
maçom que força seus argumentos induz seus irmãos à heteronomia. Ao se lidar
com adultos, a didática é técnica e referência, nunca camisa de força. Não é
recomendável que as diretrizes emanadas culminem numa espécie de aprendizagem
bancária: obreiros não são depósitos de informações, mas seres que estão em
condicionamento autônomo crescente.
O obreiro adulto não é ouvinte passivo, é autônomo: duvida e
questiona o que lhe é posto. A absoluta maioria dos maçons é autônoma,
independente e exerce algum tipo de liderança. Esse tipo de cliente demanda
manejo nos processos de ensino, cuja didática deve ser minunciosamente
discutida e cuidadosamente instalada. Preferencialmente lançar novidades apenas
depois de ouvido um bom número de clientes e prestada a devida atenção aos seus
desejos.
Espera-se que ao se aprimorar o modo de ensinar Maçonaria,
se possa contribuir para diminuir a evasão das fileiras. Cativar a geração de
homens multifuncionais pela aptidão a se dedicar a filosofia apresentada com
didática apropriada e de comunicação direta.
O futuro da maçonaria no Brasil e no mundo é do tamanho dos
sonhos! Busque-se a Verdade que cada um define pelas suas escolhas e a chama da
essência maçônica da Arte Real brilhará sobre a Terra.
Bibliografia
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2. ARIBO, Andragogia, Simplíssimo, Livros Digitais;
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4. KAROLCZAK, Maria Eloisa, KAROLCZAK, Marcio, Andragogia,
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ISBN 85-86796-45-X, 1ª edição, Editora Sextante Limitada, 328 páginas, Rio de
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7. MOREIRA, Ivelise de Maria Mena Barreto, Importância da
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8. RUSSELL, Bertrand Arthur William, O Elogio ao Ócio,
tradução: Pedro Jorgensen Júnior, ISBN 85-7542-020-8, 3ª edição, Editora
Sextante Limitada, 184 páginas, Rio de Janeiro, 1935;
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