quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Consciência

Considerações a respeito do treinamento e uso da consciência.

Charles Evaldo Boller


O maçom é sempre obediente?

Não!

Ele obedece a uma treinada consciência voltada para o bem e baseada em princípios morais.

Consciência é capacidade humana que pode ser treinada e desenvolvida. É o utilitário de segurança mais usado pelo homem sábio com vistas à pureza moral. É ela quem efetua comparações com padrões de moral que freiam o mal. A constante convivência com pessoas detentoras de elevada moral injeta na mente comportamentos, pensamentos, crenças e diretrizes que a treinam. Estudar e filosofar temas morais também contribui na sua boa edificação. Mas não é suficiente! É necessário querer e estar disposto em aceitar mudanças, orientações e advertências. Quando certa ação conflita com o padrão desenvolvido no condicionamento moral, soa o aviso de alerta ao início da contenda, empunha-se a consciência como escudo. Ela acusa e defende o homem do proceder que prejudica. Deixa de funcionar se estiver cauterizada, tornada insensível por inúmeros atentados que a desrespeitam. A consciência gera culpa e esta imobiliza a ação errada. A companhia de pessoas promíscuas e praticantes de atos atentatórios à moral prejudica seu bom condicionamento. É semelhante ao arrancar de terminações nervosas da carne que fica destituída de tato. A ação da pessoa passa a ser controlada pelo temor a castigos e não mais ao sentimento de culpa que imobiliza a ação do mal.

No Rito Escocês Antigo e Aceito o adepto recebe de herança cultural a direção que preconiza a obediência de caserna, disciplina marcial e rígida, influência de vetustas ordens de cavalaria e profissionais. A companhia de pessoas boas e disciplinadas auxilia no desenvolvimento de boa consciência. Razão da boa e criteriosa escolha de novos obreiros. Profano que não possui estatura mínima em sentido moral é impedido de entrar na Maçonaria, daí a importância de rigorosas sindicâncias. Uma vez iniciado, a convivência pacífica e amorosa entre os maçons proporciona a sintonia fina da consciência sensível e inteligente. Quem não treina a sua consciência faz de si um animal incapaz de ocupar-se de outra coisa, a não ser daquela do destino próprio dos animais.

Se a consciência do maçom está afinada com a moral, este pode até dispensar o livro da lei no altar dos juramentos. O detentor de boa consciência tem um livro da lei escrito no coração e na mente. Para o cristão, a bíblia judaico-cristã é símbolo da sua consciência. Representa espiritualidade e racionalidade de todo homem bom dotado de consciência voltada ao bem. Aquele que passa por transformação em sentido lato, reunindo em si bons princípios morais, éticos, religiosos, emocionais, físicos e espirituais tem o alicerce de sua consciência construído sobre a rocha. O maçom usa da inteligência para educar-se e afinar a consciência ao que ditam as leis naturais estabelecidas pelo Grande Arquiteto do Universo. Desenvolve e entende a mensagem contida na filosofia da Maçonaria, em cuja escalada peregrina ao interior de si. Trabalha a pedra por dentro nos exercícios de individuação tornando-se consciente do milagre da vida que o anima. E nesse seu mundo interior desenvolve acurada consciência, instrumento que o desculpa e acusa, diferencia entre bem e mal, percebe certo e errado.

Na história da Maçonaria observa-se que quando de parte de maçons ocorreu desobediência civil, aconteceram fatos que promoveram melhorias às sociedades humanas. Treinado a consciência o maçom desobedece a tudo o que possa bloquear o exercício da liberdade responsável, o bom uso da liberdade com possibilidades de escolhas. O maçom obedece mais à consciência criada pelo Grande Arquiteto do Universo que às leis, dogmas religiosos e ideologias políticas. Parte do princípio que aceitar de forma passiva às leis injustas as tornam legítimas. A sua espiritualidade associada à sua boa consciência leva-o a caminhar conforme os elementos de seu projeto existencial onde não obedece a ordens que conflitam com a moral guardada pela consciência. Tem o dever juramentado de rebelar-se contra leis e dominações injustas. Cultiva e condiciona sua consciência para a ação orientada ao amor fraterno; aquele sentimento em ação que soluciona a todos os problemas de relacionamento e humaniza o homem. O treinamento da consciência é atividade permanente do maçom e é por isso que ele começa cada tarefa invocando a glória do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, ISBN 978-85-311-1134-1, Sociedade Bíblica do Brasil, 1268 páginas, Baruerí, 2009;

2. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

3. CAMINO, Rizzardo da, Reflexões do Aprendiz, Coleção Biblioteca do Maçom, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 157 páginas, Londrina, 1992;

4. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Volume 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 172 páginas, Londrina, 2007;

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Maçonaria é Caminhada

Incentivo a caminhada maçonicamente orientada.

Charles Evaldo Boller


Pode-se descrever a Maçonaria como instituição de formação cívica, moral, escola de deveres, ciência de busca da verdade divina, instituição orgânica de moralidade com objetivo de eliminar ignorância, realizar filantropia, combater vícios e inspirar amor na humanidade. Mas Maçonaria não é definível. Isto porque abrange todo o conhecimento humano conhecido e desconhecido. A marcha do simbolismo representa esta diversidade do pensamento como o sair da reta e retornar para ela. Cabe ao maçom duvidar de verdades, modifica-las e retornar fortalecido para a reta, em direção à sabedoria. O vaivém da dúvida define a Maçonaria Especulativa, a especulação do pensamento lato, a busca na racionalidade em respostas a questões que orientam e constroem o homem.

Inicialmente o maçom lida com o "conhece a ti mesmo", de Sócrates. Caminha na reta, busca conhecer-se. Aperfeiçoa o intelecto na materialidade onde se identifica como indivíduo. Desbasta a pedra bruta em sua manifestação material. Especula em torno de um espírito de condição melhorada onde desenvolve a admiração ao conceito de Grande Arquiteto do Universo. É caminhada para a espiritualidade. Vê a luz da sabedoria que solicitou ver e inicia uma amizade com esta sabedoria. Num segundo estágio trabalha o "penso, logo existo", de Descartes. Pensar é ser. O pensamento vai mais longe. Diagnostica o ser, transcende a si mesmo. Busca metas e conhecimentos fora da reta. Começa a especular e, com isso, adivinha outras belezas que o conhecimento ainda não determinou. Descobre que o pensamento busca a luz que solicitou e consubstancia riquezas que o tirano não pode usurpar. Busca o conteúdo interno da pedra que tende a transformar-se em pedra polida na relação direta com que especula sua realidade e razão de ser. Torna-se ainda mais amigo da sabedoria.

A Maçonaria Especulativa tem por objetivo espalhar os pensamentos da ordem maçônica para todos os cantos da Terra e é essencialmente conspiratória. Conspirações que, pelo pensamento especulativo iluminista mudou profundamente o desenho político nos séculos dezessete e dezoito onde promoveu a independência de países e fomentou a Democracia. Maçons especularam em templos maçônicos e realizaram magníficas obras em prol da sociedade. Não guardaram segredo da ação maçonicamente orientada. Divulgaram e agiram conforme o que debateram nos templos.

Maçom! Não permita que o fogo da Maçonaria Especulativa se apague dentro de ti. Não te restrinja ao cumprimento automático de rituais e estudos obrigatórios ou esqueça-se da essência do pensamento especulativo de onde nasce a capacidade de mudar a si mesmo e à sociedade. Teu dever é opor-se a obscurantismo, despotismo e tirania. Coloque em prática o que desenvolve em loja. Continue cada vez mais amigo da sabedoria, do grego "philos" "sophia". Ser maçom é filosofar! Para divulgar a filosofia da Maçonaria use de todos os meios disponíveis de comunicação. Os pensamentos que iniciam dentro de loja devem continuar em todos os recantos e até no espaço cibernético. Não divulgar o que se especula e conspira em loja torna sem propósito o reunir-se em templos maçônicos. O maçom especulativo livre não permite que lhe calem ou subjuguem o direito de pensar e expor seus pensamentos especulativos onde quer que seja! Romper com esta obrigação tomada por juramento é falhar consigo mesmo e a sociedade.

A caminhada pelo simbolismo da Maçonaria é o ensino fundamental no Rito Escocês Antigo e Aceito. Outras portas são abertas, numa preparação que pode levar até quinze anos para se chegar ao doutorado e então iniciar outra caminhada, com outros alvos de servir a Maçonaria Especulativa, a si mesmo, aos irmãos e a sociedade. A caminhada para manter vivas as três colunas do simbolismo que suportam o Rito Escocês Antigo e Aceito honram e glorificam a criação do Grande Arquiteto do Universo. Isto não se faz sem tornar-se amigo íntimo da sabedoria e divulgar a filosofia da Maçonaria a todos os cantos da Terra.


Bibliografia

1. CAMINO, Rizzardo da, Simbolismo do Primeiro Grau, Aprendiz, ISBN 85-7374-076-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 188 páginas, São Paulo, 1998;

2. FAGUNDES, Morivalde Calvet, Uma Visão Dialética da Maçonaria Brasileira, Coleção Pensamento Maçônico Contemporâneo, primeira edição, Editora Aurora Limitada, 64 páginas, Rio de Janeiro;

3. PIKE, Albert, Morals and Dogmas, primeira edição, 1076 páginas, Estados Unidos da América, 2008;

4. QUADROS, Bruno Pagani, O Pensador do Primeiro Grau, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 978-85-7252-247-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 184 páginas, Londrina, 2007;

5. SOUTO, Élcio, O Iniciado, Drama Cósmico Maçônico, ISBN 85-7374-331-X, primeira edição, Madras Editora limitada., 106 páginas, São Paulo, 2001;

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sessão Maçônica Motivadora

Considerações a respeito promoção de sessões maçônicas motivadoras imprescindíveis para a sobrevivência da Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


O objetivo do maçom em loja é participar de sessão maçônica motivadora para realimentar sua alma na vivência do dia-a-dia. Sessões com assuntos administrativos reduzidos ao mínimo para sobrar mais tempo para degustar bons pensamentos em animadas atividades que visam o crescimento e a autoeducação. O tempo de instrução e estudos é a alma da sessão maçônica!

Cabe apenas aos aprendizes e companheiros maçons a tarefa de manterem acesa a chama do pensamento maçônico? Aprendizes e companheiros são pessoas sedentas de informações e conhecimentos ou os instrutores nas sessões? Instrução é dever do mestre maçom! Ultimamente os aprendizes e companheiros, e só estes, por obrigação regimental, apresentam peças de arquitetura, trabalhos de cunho intelectual visando aumento de salário. Por que os mestres maçons não se encontram motivados para tal? Faltam provocações! Carecem de debates e conversas informais dos assuntos da Maçonaria dentro e fora da loja. Tristemente, são comuns os aprendizes e companheiros ensinarem de forma proativa enquanto os mestres maçons dormem! Como aconteceu isto? Porque o mestre maçom está tão desmotivado? São as sessões maçônicas desmotivadoras! Ou o mestre desce do pedestal em que ele foi colocado em resultado de sessões monótonas ou deixa de ser o eterno e motivado aprendiz ou deixa a ordem maçônica! Esta última é a realidade universal!

Mestre motivador e motivado nasce do atrito com os outros intelectos que o acompanham numa sessão maçônica, daí a importância de debates. A tarefa dos embates por pensamentos em animadas argumentações é arrancar lascas de imperfeição das pedras uns dos outros, o polimento exige trabalho, atividade em equipe - não é assim que são formadas as pedras roladas dos fundos de rios? Uma pedra vai batendo na outra até que todas adquirem formas harmoniosas, quase lisas, nunca perfeitas, apenas aperfeiçoadas. São pancadas ora suaves ora bruscas, mas continuas! O resultado são pedras diferentes umas das outras: grandes, pequenas, achatadas, ovais, arredondadas, mas nunca perfeitas. Cada pedra mantém sua forma própria e reflete a luz com maior ou menor intensidade, dependendo de quanto ela rolou em contado com outras pedras maiores e menores, até com pedras tão pequenas como grãos de areia. Todas se modificam pelo atrito constante. Não há necessidade de erudição elevada, apenas conhecimento médio já é suficiente numa motivadora sessão maçônica, é semelhante à diversificação das pedras do fundo dos rios. Em verdade, basta apenas uma mente sadia - qualquer mente humana! O objetivo deve ser o canteiro de obras movimentado onde cada obreiro é aprendiz, um eterno aprendiz, mesmo que seja apenas um grão de areia em erudição ele vai influir no pensamento de seu irmão.

Promover debate em loja é retornar à prática da Maçonaria Especulativa, que preconiza o filosofar, o estudo teórico, o raciocínio abstrato e investigativo, que usos e costumes deturparam a ponto de descaracterizar as sessões maçônicas. Urge despertar nos irmãos a salutar capacidade em desenvolver o pensamento em animadas discussões das coisas da sociedade e da ordem maçônica. O propósito central das sessões motivadoras é eliminar o inconformismo gerado pelo comparecimento semana após semana em loja apenas para ouvir o som seco, duro, impessoal dos malhetes, em detrimento do trabalho no polimento das pedras chocando-se umas nas outras no exercício do pensamento. Sessões sem debate e instrução mecânicas revelam perda de tempo; são vazias e sem propósito; devem ser defenestradas do templo. O obreiro da pedra deve terminar seu dia em loja com algo novo e consistente dentro da mochila que ele leva de volta para casa. Urge acabar com a mente desocupada, oca, vazia, cheia de lacunas em resultado de atividade passiva e deixar a capacidade de pensar fazer sua parte na construção do templo ideal da sociedade onde cada homem é apenas uma pedra. Atividades motivadoras em loja levantam a egrégora, um campo de força do pensamento em uníssono e vibrante, algo revelado no brilho dos olhos dos participantes. Como é possível ver os olhos do irmão que dorme o sono dos anjos? O objetivo da Maçonaria é despertar o equilíbrio da razão, emoção e espiritualidade - quando poderão fazer isto se suas mentes estão adormecidas pelo enfadonho e repetitivo som monótono das mesmas ideias repetidas vez após vez?

O obreiro deve voltar à prática do salutar e edificante afiar da espada, a língua, e praticar o manuseio do maço e do cinzel, dar tratos à capacidade de pensar, que há muito foi substituído por outras atividades nada motivadoras; mesmices, tão entediantes que apenas embalam o sono dos ouvintes passivos. Urge incrementar a qualidade das sessões maçônicas de modo a torna-las motivadores de tal forma que estabeleçam contágio para edificantes conversas entre irmãos, o que é de fato o real objetivo da Maçonaria Especulativa com sua filosofia e liturgia.

Mestres maçons devem ser compelidos na confecção de peças de arquitetura? Não! Ninguém é obrigado a fazer nada além do determinado pelas leis que regem a loja. O mestre maçom só confeccionará peças de arquitetura quando estiver inspirado para isto. Tais construções surgem no canteiro de obras principalmente se esta for a sua vontade e depois do obreiro se ver provocado por novas inspirações provindas em loja dos irmãos, das outras pedras, pedriscos e grãos de areia.

O salão é o mesmo, as músicas e o ritmo é que devem mudar. O baile será alegre e trará prazer aos dançarinos se a sessão for motivadora e entusiasta! O que interessa é cada músico dar o que tem de bom em si e animar o baile ao sabor de seus pensamentos temperados com alegria. O que se objetiva é alimentar com o sadio, construtivo e consistente alimento da filosofia maçônica. A sede de conhecimento maçônico deve ser aplacada para que o homem produza frutos. O gênio da motivação vem do ritmo impelido pelos músicos e maestro, onde todos participam da orquestra e ao mesmo tempo dançam ao som de seus pensamentos, sonhos e até devaneios. E assim, os dançarinos vão se movimentando na pista do tempo construído à semelhança de um rio e onde cada pedra lustra a outra para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. DANTAS, Marcos André Malta, Do Aprendiz ao Mestre, ISBN 978-85-7552-283-0? Primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 248 páginas, Londrina, 2010;

2. PUSCH, Jaime, ABC do Aprendiz, segunda edição, 146 páginas, Tubarão Santa Catarina, 1982;

3. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Volume 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 172 páginas, Londrina, 2007;

domingo, 21 de agosto de 2011

Vingança ou Justiça?

 Repudiar a vingança e estabelecer o amor fraterno com educação como solução para os problemas da concorrência por recursos enfrentada pela humanidade.

Charles Evaldo Boller


A sociedade não deve punir para vingar, sua obrigação é a de ensinar o homem a melhorar cada vez mais. "Educai as crianças e não será necessário castigar os homens" (Pitágoras de Samos). O que se deduz da vida em sociedade real de hoje é que ela não ama seus componentes, embrutecida e insensibilizada pela ganância e o poder tornou-se subserviente a economia e espreme a todos até sobrar apenas bagaço.

É evidente que o homem é naturalmente bruto, fera sanguinária cuja única força limitadora atenuante de sua natural violência provém da lei e da intimidação que ela exerce. Lei escraviza. Lei é artifício para selar uma espécie de acordo entre os cidadãos de uma determinada sociedade. Concebida com o propósito dos cidadãos de determinadas sociedades não sucumbirem devido aos exageros dos mais fortes e bem dotados. Surgiu da necessidade de estabelecer regras de convivência que determinam, a priori, o que não é aceito em nome da convivência pacífica por uma sociedade específica, bem como as penalidades impostas àqueles que as desrespeitam. Cada sociedade estabelece suas próprias leis. O que é aceito em uma pode ser condenada em outra; não existe uniformidade universal; tentam, mas não conseguem devido à diversificação moral que é característica de cada grupo social. As leis vão crescendo em graus de complexidade até que se tornam uma carga muito pesada para ser suportada pelo cidadão comum, a exemplo do que aconteceu com a antiga lei mosaica que, na visão ocidental, o Cristo veio cumprir e que com sua morte foi totalmente eliminada, remanescendo apenas a lei do amor fraterno. As leis transformaram-se numa espécie de escravidão a que todo homem, que se diz civilizado, é submetido compulsoriamente.

As decisões que cada um tomava de sua própria iniciativa no Direito Natural passou a ser arriscado no jogo de azar da interpretação de um terceiro, um juiz, nem sempre competente e com frequência suscetível às influências dos donos do poder ou das amizades. Um avilte ao direito natural intuitivo. Com isto a sociedade tomou para si o direito de vingar do indivíduo e criou o que se denomina justiça - com letra minúscula. Em todos os tempos, em todas as sociedades, a Justiça foi usada pelos poderosos para oprimir os mais fracos e sem recursos. Mesmo que sua definição seja a busca do equilíbrio entre as partes, independente de condição social dar a cada indivíduo o que lhe pertence, em tempo algum ela ocupou esta posição, salvo nas ideologias e utopias teóricas, ou na concepção de uns poucos otimistas.

Existem os que ainda acreditam que a Justiça da sociedade está a seu dispor, isto é falácia! Na realidade a Justiça dos homens está a favor do dinheiro, do poder, da influência e da amizade. O engodo atravessa eras, em todas as sociedades a Justiça não só é usada por vingança, mas também para usurpar a liberdade do homem de ir e vir, tomando para si um direito de judiar e matar, usurpando o direito natural do indivíduo. "Platão disse: meu caro amigo Antíoco, pode-se perdoar de bom grado a confissão de qualquer homem amar-se excessivamente, mas, dentre os vários vícios que nascem desse amor próprio, um dos mais perigosos é aquele que impede um julgamento equilibrado e imparcial de si mesmo; pois a amizade deixa-nos facilmente cegos a respeito do que amamos, a menos que uma educação sábia tenha-nos acostumado a preferir o que é belo e honesto em si mesmo ao que nos interessa pessoalmente" (Plutarco o Biógrafo Grego).


Pena de Prisão

Uma das grandes judiações é a pena de prisão. É hipócrita, sórdida, desumana porque exclui o condenado da sociedade por muitos anos e até o resto da vida do infeliz. Por vingança a Justiça prende os que pecam contra a sociedade em lugares horrendos, afastando-os da sociedade. Hipocritamente a isto denominam ressocialização, tentativa de recuperar o homem para a sociedade. Entretanto, além de tomar um dos bens inalienáveis do homem, sua liberdade, esta ação cria uma sociedade de reclusos que, apartados da sociedade, concentram o mal em pequenos espaços; onde aumenta a concorrência, a disputa para definir qual é o mais malvado e cruel. As mazelas surgem exatamente porque a sociedade, desde tempos imemoriais se amontoa, e devido a isso disputa, guerreia e luta pelo espaço físico. Colocam-se homens uns ao lado de outros em prisões, propiciando condições muito piores para restaurar um desvio de conduta em sua maioria diminuto e que pela convivência piora; prolifera o contágio do mal. Muitos condenados são resultados da falta de educação, de cultura, de oportunidades, ou da melhor distribuição dos recursos. Ao amontoar o lixo social humano só se propicia a fermentação dos piores desvios de conduta. "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele" (Immanuel Kant).


Prostituição Histórica da Justiça

Quantas mentes brilhantes foram caladas pelo despotismo de governantes e quantos santos foram queimados por praticarem o bem em desacordo com a vontade do grupamento humano em que viviam. Os assassinatos foram cometidos ao longo do tempo com todos os poderes de comum acordo: Religião, Legislativo, Executivo e Justiça. Uma prostituição continua ao longo das eras que em nome de um deus, do rei ou da Pátria matou milhões de inocentes. A promiscuidade é perceptível ao se permitir a formação de grupos de meliantes que desafiam qualquer governo, que debocham daquelas instituições que alienaram o direito natural do homem e o transformaram em instrumento de vingança.

Diante desta horrenda realidade a Maçonaria em sua filosofia busca conscientizar seus adeptos da necessidade de não tomar a Justiça em suas próprias mãos, o que tornaria a vida insustentável em meio aos extremos de concorrência por mais recursos. A própria natureza já começa a mostrar os efeitos da característica extrativista do homem que nada colabora com a sustentabilidade e a exaure ao limite. Para conter o desastre, algumas lojas da Maçonaria Universal promovem debates e estudos do que pode ser realizado para minorar o sofrimento humano, mas é insuficiente. Deve-se primar por ação e não por reação. Já é tardia a reação à violência que assalta diariamente o cidadão correto e honesto. As prisões estão tão cheias que tem ladrão saindo pelo ladrão!

Ficam os questionamentos: deve-se deixar o povo morrer de fome; um bilhão de seres humanos de hoje padecem fome crônica todos os dias? Estaria a solução em mais uma guerra global, como era realizado na antiguidade? Que fazer no Brasil do carnaval e futebol onde a miséria enfeita vergonhosamente os barrancos das metrópoles? Aumentar a altura do muro, grades e alarmes monitorados evitam a violência? Pena de prisão resolve?

Penas de prisão em nada contribuem, antes aumentam o inchaço do problema onde a Justiça não tem força e com isto tornou-se impotente, demorada, inexistente. Na eventualidade de surgimento de sistema ditatorial, a força sem a Justiça se reduz a tirania. Sobra para sociedade investir em educação. Não confundir educação com aquisição de conhecimento. Assim como dito já nos tempos de Pitágoras, a educação preconizada pela Maçonaria atua junto aos seus adeptos. Em seus templos são cultuados virtudes e valores que permitem ao homem edificar-se com ferramentas simbólicas que incentivam arrancar as nódoas do homem para com isto glorificar a criação efetuada pelo Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. GAVAZZONI, Aluisio, História do Direito, Freitas Bastos Editora, 2005;

2. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários aos Graus Filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito, 1997;

3. REALE, Giovani e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Editora Paulus, 1990;

4. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade entre os Homens, Editora Escala, 2006;

5. SACADURA ROCHA, José Manuel de, Fundamentos de Filosofia do Direito, Editora Atlas, 2006;

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Edifício Social

Ensaio sobre a atividade de desmonte e possibilidade de reconstrução do edifício social.

Charles Evaldo Boller


O edifício social é construído para que o cidadão possua o atributo humano para desenvolver sua dignidade e desde era remota vem desenvolvendo sua humanidade em sociedades cada vez mais organizadas e complexas. Na Maçonaria o maçom destaca a honra e nobreza já perseguidas desde sociedades mais antigas e combate os inimigos da dignidade humana: a falsa liberdade, aquela que transforma a vida para o mal em resultado de vida e procedimentos dissolutos como desregramento moral; promoção da falsa ordem que redunda em anarquia, a falsa humanidade como consequência do despotismo das massas. Estas ideias de combate surgiram no Iluminismo alemão e foram introduzidos nas leis e dispositivos legais hodiernos.

Com o crescimento da população e conspiração ideológica, o estabelecimento destas leis colocou fora do controle a sua aplicação. O progresso tecnológico deu lugar a guerras de dominação sem lutas armadas e onde passaram a figurar povos dominantes e dominados em larga escala. Desapareceram as classes dos escravos e homens livres; hoje todos estão de alguma forma presos ao um nefasto sistema onde uma minoria explora a maioria em seus próprios prejuízos; em detrimento do edifício social que vai desfalecendo. Presa de paixões e vícios a sociedade humana derruba constantemente a soberania da igualdade e da justiça.

Aquela dignidade que era respeitada de forma natural pelos antigos passou a ser aviltada e desrespeitada no edifício social hodierno que obriga os miseráveis e oprimidos a se escravizarem de forma indigna para sobreviver. Negam-se às pessoas os direitos mais rudimentares de liberdade, desviando-os do estado de direito e gerando homens desesperados que enveredam ao crime organizado, quebrando uma cultura natural que também tinha seus defeitos, mas preservava valores hoje esvaziados e ridicularizados. A instituição familiar está de tal forma arruinada que, para coibir o crescimento populacional os governos permitem, e até incentivam, a união conjugal de pessoas do mesmo sexo. A violência não é combatida de forma eficaz apenas para manter o terror e a submissão. A saúde é negligenciada para reduzir a sobrevida do cidadão e diminuir a população.

O maçom estuda as diferenças entre orgulho, vaidade e egoísmo para esta época marcada pelo avilte da dignidade humana onde ele levanta-se contra a tendência de desestruturação do edifício social, inspirado na lenda da Torre de Babel descrita na bíblia judaico-cristã e que representa a confusão e desestruturação da sociedade. O mundo civilizado vive em permanente atividade para desconstruir a sociedade, gerando conflitos sociais e derrubando o edifício social na sarjeta; é do interesse das classes dominantes manter os mais fracos submissos ao seu sistema de domínio. Grandes humanistas como Joaquim Nabuco e Rousseau, em seu tempo, já apontavam para esta degradante situação e em seus trabalhos filosóficos buscam resgatar a humanidade do retorno à barbárie.

O maçom é inspirado a levar para a sua célula social a devida reação contra toda e qualquer injustiça promovida pelos grandes e poderosos. Prove auxílio para os que sofrem alguma forma de tratamento desigual pela justiça, delatando juízes e políticos prevaricadores e corruptos. Auxilia aos que foram aviltados por extorsões, abusos e violências. É inspirado a estabelecer justiça humana condizente com as necessidades para estabelecer a dignidade humana e estabilizar as bases da sociedade ordeira e progressista. Incentiva-se a integridade mantida a semelhança de Noé, quando este foi justo e modesto fugindo ao orgulho que vitimou o planejador do projeto da edificação que deveria alcançar as nuvens e ficou conhecida como torre de Babel, símbolo da confusão hoje representado pelo sistema que oprime e escraviza.

A dignidade humana com liberdade é o meio necessário para que o homem construa o edifício social assentado nos valores da natureza humana. O respeito pela liberdade faz o homem equilibrado constituir a sociedade organizada no humanismo, valorizando o homem. Dignidade só aflora com liberdade. E isto só se conquista quando se reconhecem os valores internos do homem e não suas posses materiais ou dotes intelectuais. A vaidade é a pior componente do avilte do homem por outro homem. Descendente do sentimento social e do desejo de aprovação que condiciona os homens a se tornarem agradáveis como exercício de falsidade e hipocrisia; faz com que um homem queira ser mais importante que o outro, é quando o orgulho, a autoestima em demasia o leva a promover a submissão de outros homens pela força. A consequência disso leva ao desmonte do edifício social.

A escravidão nos antigos moldes é rara nos dias de hoje. A subjugação do homem é parcial, mas tão repugnante como a antiga, onde um ser humano podia ser conduzido a uma condição de propriedade de outro. O que avilta os alicerces do edifício da sociedade de hoje é a ultrajante desigualdade social que pode ser resolvida por vontade política. Existem recursos financeiros, humanos e tecnológicos suficientes para eliminar a mácula da servidão e miséria em questão de pouco tempo. Mas como hoje as pessoas são dominadas pela economia, tecnologia e falta de acesso aos bens de consumo e oportunidades em virtude da presença de imensos e intransponíveis vales do desnível social, esta realidade parece querer perpetuar-se.

O edifício social humano melhorou em artificialidades e técnica, mas não em valores sociais; nisso a degradação e desmonte é visível - existe uma grande opressão à dignidade humana em virtude da dificuldade de acesso a melhores oportunidades e suporte de condições de vida em decorrência do manipulado descontrole econômico ao sabor dos interesses de uns poucos grupos de poder mundial.

Na Maçonaria busca-se a presença da premente necessidade do despertar da consciência individual, de consciência universal para obter liberdade necessária para nutrir a dignidade e construir uma sociedade liberta em sentido lato. Não é o caso de nova ideologia político partidária, mas de marcha em sentido de restaurar valores e elevar o respeito à dignidade humana num pedestal onde o egoísmo humano não a possa tocar. Isto faz aflorar uma nova organização social. É pela reorganização dos pilares que suportam a justiça social que o homem adquire a liberdade necessária para obter dignidade de vida e de onde obtém forças para construir um edifício social digno para si e seus descendentes. Com o aparecimento e desenvolvimento da liberdade individual despertará a consciência social e a vontade de servir às causas comuns da sociedade.

As palavras em nossa constituição federal são lindas e poéticas, mas a sua consecução é um desastre em virtude da falta de força e do interesse alienígena de fazer do povo escravos para o sistema aviltante que escraviza. Tem a dignidade humana como fundamento, mas esta é apenas teoria. Fala-se em erradicação de pobreza, que poderia ser eliminada num soco só, bastaria, para tanto, apenas vontade política. Ao invés disso criou-se uma geração de dependentes e indolentes sem vontade alguma de trabalhar para construir e manter os valores do edifício social. Inclusive contém em seus artigos previsão que coíbe tratamento degradante e aviltante, mas a realidade dos corredores de hospitais, escolas e lares estão recheadas de péssimos exemplos de má gestão da coisa pública, quando não desvio de verbas e outros crimes de lesa-pátria. Arrogam-se proteção aos desamparados e esta não passa de mero ensaio, de um faz de conta que não tem fim. Propala-se a base da ordem social e do bem estar e justiça social e isto não passa de teatro, encenação até bem pobre, pois é notória até ao mais simples cidadão. Dispositivos legais existem em profusão, mas não protegem a dignidade humana, antes, degradam-na e aviltam de forma ultrajante. Leis existem, mas faltam força e vontade na sua aplicação.

Para o edifício social existir em sua plenitude, a ação conjunta da sociedade deve fortalecer os direitos fundamentais do homem com liberdade; só então este poderá conquistar vida digna. O que impede a aplicação do diversificado cabedal de boas leis é ganância, vaidade, orgulho e outros pecados. Apenas o amor é capaz de tornar os homens mais modestos e livres. Longe de paixões e desejos exagerados passarão a enobrecer a pratica de virtudes, obedecerão às leis, respeitarão os direitos dos outros e cumprirão seus deveres de forma aceitável e natural. A educação estará em primeiro plano no planejamento dos governantes. Liberdade de imprensa e da palavra possibilitará correção de rumos. Assim que o maçom acorda em si esta disposição ele fará a diferença no mundo em que vive. Se o fizer em seu lar já é de bom tamanho. Se obtiver o privilégio de dirigir a política e chegar ao ponto de poder influenciar nas decisões de poder e com sua atuação construir o edifício social, então se dará glória ao Grande Arquiteto do Universo e o homem escravo recuperará naturalmente a sua dignidade.


Bibliografia

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