sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Liberdade e Espiritualidade

Espiritualidade e fanatismo.

Charles Evaldo Boller


O maçom que vive a Maçonaria adquire a capacidade de refrear os desejos e desregramentos, o que consiste numa expressão de liberdade. Ao dominar-se, determinar-se, faz aquilo que quer, e não o que determinam seus desejos tirânicos e descontrolados. Aprende que a razão domina os desejos, mas não os elimina; é uma luta que nunca acaba.

A sabedoria mais assentada sabe perfeitamente que não se deve baixar a guarda diante da força dos desejos selvagens. É por isto que ele evita empanzinar-se com excessos de comida e bebida e leva a vida com moderação. Sabe que a racionalidade sozinha não tem como lidar diretamente com os desejos.

Deduz, em seus estudos, que o homem não é só ventre e cabeça. O treinamento o leva a desenvolver forte espiritualidade. Não uma crença naquilo que não vê ou determinado pela fé em dogmas, mas a inspiração racional de que existe de fato uma Mente Orientadora, um Princípio Criador que dirige a dança da vida.

As religiões não estão dispostas a acordos ou negociações como é de se esperar numa sociedade que cresce vertiginosamente em termos de conhecimento tecnológico. O de mente aberta por sã racionalidade identifica a existência de um Grande Arquiteto em todas as obras de criação da biosfera e fora dela. Já os crentes nas palavras, tidas como escritas por inspiração divina, resultado de inspiração de deuses antropomórficos, não possuem tal liberdade e interpretam de forma absoluta os livros escritos por outros homens, impondo-os aos demais como verdades finais; não existe acordo com o fundamentalismo religioso.

O radicalismo fanático religioso é instrumento do sistema econômico mundial para matar e submeter os pobres ao Estado numa espécie de fornicação. Exemplo disso foi vivenciado durante a Segunda Guerra Mundial, quando padres e pastores, em ambos os lados das fronteiras, incitavam seus soldados: - "vão lá e matem em nome de Deus e do país" - estando do outro lado das trincheiras soldados que pertenciam às mesmas religiões. Aquelas instituições religiosas que se negaram, tiveram seus seguidores perseguidos e eliminados. Isto também aconteceu com os maçons, porque a eles foi dada a oportunidade de exercerem sua capacidade libertadora através do exercício do livre pensamento, do estudo diligente que conduz à liberdade com responsabilidade. Deduz-se que nem sempre o livre pensamento e o livre arbítrio exercido com responsabilidade, traz só felicidade, pode também propiciar a morte. Para tais momentos é importante o aporte de forte capacidade espiritual.

A Maçonaria oferece o desenvolvimento de espiritualidade desvinculada dos extremismos das religiões radicais; incentiva a prática da religião na medida em que propicie o nascimento da espiritualidade, dentro daquilo que a razão pode tratar e que liberte as pessoas da escravidão imposta pelo fundamentalismo. Encoraja a prática de uma religião como iniciadora de caminhada sem intermediação, uma espiritualidade flexível e disposta a acordos em sincronia com o fluxo da evolução científica e social.

É fato que os laboratórios farmacêuticos não têm a mínima vontade de efetuar investimentos para desenvolver pesquisas em medicamentos para os pobres. Muito menos em obter soluções simples e baratas para minimizar doenças. Não se investe pesado em saúde pública preventiva. Políticas de esterilização e contracepção são combatidas pelas religiões, sua hipocrisia aceita com mais facilidade a matança posterior imposta pelo sistema econômico mundial que prevenir a procriação desmedida.

Por outro lado, é financeiramente mais vantajoso matar depois de exaurir a capacidade produtiva por doenças, algumas naturais, outras fabricadas. A listagem de doenças é enorme. Algumas pragas para reduzir a população mundial: AIDS; Vírus Ebola, Lassa ou Marburgo; Doenças respiratórias como Covid; Sarampo; Cólera; Malária; Tuberculose; Gripe A; Aleitamento por mamadeira; e tantos outros. Adicionem-se drogas, falta de água potável, falta de espaço vital e outras necessidades e os quadros são dramáticos, dignos do inferno de Dante.

Os mecanismos de busca do equilíbrio estão em ação, matando os dispensáveis. Só alienados, aqueles que não pensam com isenção e razão, desapercebem a execução em massa. A liberdade só é obtida com pessoas saudáveis. Pobres e doentes são descartados para limitar a população dentro de parâmetros que garantam a sobrevivência daqueles que podem pagar o preço.

O que se vê é apenas um faz-de-conta nos investimentos em educação e saúde. É para o despertar disto que a Maçonaria cria o ambiente propício para trabalhar a mente de seus adeptos. Incentiva-os buscarem a liberdade pelo pensamento, dedicado a encontrar soluções para a humanidade sair desta situação terrível que vive, onde os pobres são mortos para propiciar a vida aos que podem pagar por isto.

A sedimentação de princípios para ajudar a humanidade a transpor o desequilíbrio pelo qual passa o sistema capitalista com o menor dano é maior onde se vê a prática de debates, palestras ou estudos em lojas, sejam elas de natureza filosófica, sociológica, antropológica, ou outra.

O maçom que estuda e age conforme o que aprende de seu relacionamento com outras pessoas, detentoras da mesma orientação mental, não é conivente com a mortandade que ocorre ao redor; antes, torna-se multiplicador de posturas que libertam o cidadão para a vida com felicidade, para situações onde não há necessidade de batismo de sangue, basta a atuação do pensamento orientado e livre. Já bastam os rios de sangue derramados pelas gerações anteriores. A liberdade advém do equilíbrio entre as necessidades materiais, emocionais e espirituais, e este equilíbrio é realizado no raciocínio claro e lógico, longe dos extremismos, da intolerância e da ignorância em todos os aspectos. É por inspiração nas obras criativas do Grande Arquiteto do Universo que se aprende a doar sem esperar nada em troca e esta é expressão da ação do amor fraterno, a única solução de todos os problemas da humanidade.


Bibliografia

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario DI Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. GEORGE, Susan, O Relatório Lugano, Sobre a Manutenção do Capitalismo no Século XXI, título original: The Lugano Report, tradução: Afonso Teixeira Filho, ISBN 85-85934-89-1, primeira edição, Boitempo Editorial, 224 páginas, São Paulo, 1999;

3. MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e la Concretezza, tradução: Gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;

4. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007;

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