Espiritualidade e fanatismo.
Charles Evaldo Boller
O maçom que vive a Maçonaria adquire a capacidade de refrear
os desejos e desregramentos, o que consiste numa expressão de liberdade. Ao
dominar-se, determinar-se, faz aquilo que quer, e não o que determinam seus
desejos tirânicos e descontrolados. Aprende que a razão domina os desejos, mas
não os elimina; é uma luta que nunca acaba.
A sabedoria mais assentada sabe perfeitamente que não se
deve baixar a guarda diante da força dos desejos selvagens. É por isto que ele
evita empanzinar-se com excessos de comida e bebida e leva a vida com
moderação. Sabe que a racionalidade sozinha não tem como lidar diretamente com
os desejos.
Deduz, em seus estudos, que o homem não é só ventre e
cabeça. O treinamento o leva a desenvolver forte espiritualidade. Não uma
crença naquilo que não vê ou determinado pela fé em dogmas, mas a inspiração
racional de que existe de fato uma Mente Orientadora, um Princípio Criador que
dirige a dança da vida.
As religiões não estão dispostas a acordos ou negociações
como é de se esperar numa sociedade que cresce vertiginosamente em termos de
conhecimento tecnológico. O de mente aberta por sã racionalidade identifica a
existência de um Grande Arquiteto em todas as obras de criação da biosfera e
fora dela. Já os crentes nas palavras, tidas como escritas por inspiração
divina, resultado de inspiração de deuses antropomórficos, não possuem tal
liberdade e interpretam de forma absoluta os livros escritos por outros homens,
impondo-os aos demais como verdades finais; não existe acordo com o
fundamentalismo religioso.
O radicalismo fanático religioso é instrumento do sistema
econômico mundial para matar e submeter os pobres ao Estado numa espécie de
fornicação. Exemplo disso foi vivenciado durante a Segunda Guerra Mundial,
quando padres e pastores, em ambos os lados das fronteiras, incitavam seus
soldados: - "vão lá e matem em nome de Deus e do país" - estando do
outro lado das trincheiras soldados que pertenciam às mesmas religiões. Aquelas
instituições religiosas que se negaram, tiveram seus seguidores perseguidos e
eliminados. Isto também aconteceu com os maçons, porque a eles foi dada a
oportunidade de exercerem sua capacidade libertadora através do exercício do
livre pensamento, do estudo diligente que conduz à liberdade com
responsabilidade. Deduz-se que nem sempre o livre pensamento e o livre arbítrio
exercido com responsabilidade, traz só felicidade, pode também propiciar a
morte. Para tais momentos é importante o aporte de forte capacidade espiritual.
A Maçonaria oferece o desenvolvimento de espiritualidade
desvinculada dos extremismos das religiões radicais; incentiva a prática da
religião na medida em que propicie o nascimento da espiritualidade, dentro
daquilo que a razão pode tratar e que liberte as pessoas da escravidão imposta
pelo fundamentalismo. Encoraja a prática de uma religião como iniciadora de
caminhada sem intermediação, uma espiritualidade flexível e disposta a acordos
em sincronia com o fluxo da evolução científica e social.
É fato que os laboratórios farmacêuticos não têm a mínima
vontade de efetuar investimentos para desenvolver pesquisas em medicamentos
para os pobres. Muito menos em obter soluções simples e baratas para minimizar
doenças. Não se investe pesado em saúde pública preventiva. Políticas de
esterilização e contracepção são combatidas pelas religiões, sua hipocrisia
aceita com mais facilidade a matança posterior imposta pelo sistema econômico
mundial que prevenir a procriação desmedida.
Por outro lado, é financeiramente mais vantajoso matar
depois de exaurir a capacidade produtiva por doenças, algumas naturais, outras
fabricadas. A listagem de doenças é enorme. Algumas pragas para reduzir a
população mundial: AIDS; Vírus Ebola, Lassa ou Marburgo; Doenças respiratórias
como Covid; Sarampo; Cólera; Malária; Tuberculose; Gripe A; Aleitamento por
mamadeira; e tantos outros. Adicionem-se drogas, falta de água potável, falta
de espaço vital e outras necessidades e os quadros são dramáticos, dignos do
inferno de Dante.
Os mecanismos de busca do equilíbrio estão em ação, matando
os dispensáveis. Só alienados, aqueles que não pensam com isenção e razão,
desapercebem a execução em massa. A liberdade só é obtida com pessoas
saudáveis. Pobres e doentes são descartados para limitar a população dentro de
parâmetros que garantam a sobrevivência daqueles que podem pagar o preço.
O que se vê é apenas um faz-de-conta nos investimentos em
educação e saúde. É para o despertar disto que a Maçonaria cria o ambiente
propício para trabalhar a mente de seus adeptos. Incentiva-os buscarem a
liberdade pelo pensamento, dedicado a encontrar soluções para a humanidade sair
desta situação terrível que vive, onde os pobres são mortos para propiciar a
vida aos que podem pagar por isto.
A sedimentação de princípios para ajudar a humanidade a
transpor o desequilíbrio pelo qual passa o sistema capitalista com o menor dano
é maior onde se vê a prática de debates, palestras ou estudos em lojas, sejam
elas de natureza filosófica, sociológica, antropológica, ou outra.
O maçom que estuda e age conforme o que aprende de seu
relacionamento com outras pessoas, detentoras da mesma orientação mental, não é
conivente com a mortandade que ocorre ao redor; antes, torna-se multiplicador
de posturas que libertam o cidadão para a vida com felicidade, para situações
onde não há necessidade de batismo de sangue, basta a atuação do pensamento
orientado e livre. Já bastam os rios de sangue derramados pelas gerações
anteriores. A liberdade advém do equilíbrio entre as necessidades materiais,
emocionais e espirituais, e este equilíbrio é realizado no raciocínio claro e
lógico, longe dos extremismos, da intolerância e da ignorância em todos os
aspectos. É por inspiração nas obras criativas do Grande Arquiteto do Universo
que se aprende a doar sem esperar nada em troca e esta é expressão da ação do
amor fraterno, a única solução de todos os problemas da humanidade.
Bibliografia
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Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN
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Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354
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5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os
Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas,
São Paulo, 2007;
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