quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Anjos

Anjos na história da humanidade.

Charles Evaldo Boller


Visão Histórica

Ao longo da história, as crenças humanas criaram as mais variadas explicações para a sensação de se sentir vigiado ou protegido em tempo integral por forças espirituais, onde os anjos são os mais utilizados e comuns. São inúmeras as especulações filosóficas que guiam o homem na explicação de certas percepções induzidas em momentos de comoção, principalmente aqueles que agitam os instantes de emoções, medo, alegria, euforia e assemelhados.

Anjos seriam vigias diuturnos que acusam ou castigam em caso de indisciplina ou erro da criatura, recurso utilizado para dominar o homem através de culpa e medo, evocando castigos terríveis ou lugares de delícias após a morte. A rigor seria uma espécie de barganha entre criatura e Criador. Os relatórios de comportamentos da criatura efetuado por essas criaturas celestes aladas seriam assentadas num livro a ser utilizado quando a alma comparecer diante do tribunal da divindade para prestar contas de suas atividades enquanto vivente, ocasião em que seu espírito ou alma receberia o que merece em decorrência de o seu comportamento ou atos serem ou não aprovados.

É comum, em tempos de guerra, invocarem-se deuses e potestades para auxílio dos soldados ao inevitável conflito e consequente morte. Lavagem cerebral engana e encoraja as pobres criaturas, sem opção ou possibilidade de revolta, a se doarem para a estupidez e insensatez dos conflitos. Nestas ocasiões as decisões de homens poderosos, gananciosos ou loucos, incapazes de efetuarem acordos ou com objetivos de ganho de poder e riqueza decidem-se por lutas genocidas.

Até o presente, o poder político sempre se aliou ao poder religioso para enganar o cidadão, usando-o como "bucha de canhão" para defender os interesses dos poderosos. Nas guerras ouviu-se brotar dos púlpitos de uma mesma religião, em ambos os lados das trincheiras, incentivos aos soldados, irmãos de fé e até de sangue, a se matarem uns aos outros.

A carnificina é mais extremada quando nos dois lados de um conflito são crentes de religiões diferentes que, do fluxo da história, relatam no presente cenas de barbárie incomensurável.

Os insidiosos manipuladores do pensamento como religiões e operadoras midiáticas, em mentiras absurdas, utilizando-se de avançadas técnicas ideológicas e psicológicas convencem as multidões de que a sua demanda é regida com o apoio e a decisão divina, daí a licitude e obrigação de o cidadão doar sua vida para proteger o interesse do bem comum que, em verdade, é administrado e explorado pelos poderosos.

A Maçonaria é das instituições sobre a face da Terra que vai na contramão dessa tendência. Em loja trabalha-se o pensamento para a libertação da manipulação midiática e religiosa.

O maçom vence guerras pela aplicação de fortes posições racionais, éticas e morais. Inclusive reavalia a crença em criaturas divinas que desditosamente são utilizados na manipulação das massas, como seres celestes semelhantes a anjos e até o próprio Grande Arquiteto do Universo.

Segue coleção de explicações, das mais variadas fontes ideológicas, filosóficas e religiosas, para despertar a dúvida na mente a respeito de anjos. Que cada um utilize sua própria capacidade de tese, antítese e síntese, nos raciocínios que possibilitem blindar a mente da manipulação e perda de liberdade incutida no berço, na escola, na igreja e na sociedade.


Do Grego

Anggelos: mensageiros.

Denominação geral de várias hostes de seres sobrenaturais especialmente mencionados nas religiões monoteístas como: Cristianismo, Judaísmo, Maometismo e Zoroastrismo.


Maçonaria

Anjos são aceitos como personagens que transitavam pela escada de Jacó, vista no painel da loja de aprendiz;

Seres alados, cujo mistério ainda não foi revelado.


Cristianismo

Considera anjos os mensageiros enviados de Deus, um pouco superiores em dignidade ao homem, distribuídos em hierarquia;

Pertencem à mitologia hebraica e são aceitos pela Igreja Católica Apostólica Romana em nove hierarquias: anjo; arcanjo; querubim; serafim; trono; potestade; dominação; virtude; principado;

  • Anjo, primeiro da hierarquia é considerado "mensageiro de Jeová";
  • Anjos e demais da hierarquia são seres incriados e não são parte da criação, mas da própria essência divina;
  • Afirma que cada nação está protegida por um anjo;
  • Cada ser humano possui seu anjo da guarda exclusivo;
  • O seu número corresponde aos seres humanos vivos;
  • Existem anjos bons e maus: aqueles que cumprem a vontade de Jeová e maus ou caídos, que se rebelaram contra a divindade, na liderança de Lúcifer, o anjo da Luz;
  • Existem nove coros angelicais cuja categoria inferior é constituída pelos anjos;
  • Podem ser comandados pelos homens, para que os sirvam, como serviram a Jesus, enquanto humano;
  • O homem percebe que "não está só";
  • Quem se encontra isolado, deve buscar a aproximação;
  • A hierarquia celestial deve ser invocada mentalmente.


Teogonia Judaica

Na genealogia das criaturas divinas, anjos são simples mensageiros de Deus, sob o nome de Malachim, palavra usada nas escrituras gregas e hebraicas;

Depois do cativeiro de Babilônia, os judeus trouxeram novas ideias místicas e consideraram os anjos instrumentos do ministério da Criação;

Apareceram os anjos: Ardarel, Fogo; Casmaran, Ar; Talliud, Água; Furlac, Terra;

Doutrinas dos caldeus e Zoroastro que foram imitadas pelos judeus gnósticos;

Considerados espíritos puros e inteligentes que servem a Jeová.


Hinduísmo

Davas.


Cabala

Considera a existência de inumeráveis ordens angelicais agrupadas em nove categorias;

Ordens angelicais cabalísticas, Sephiroth e coros angélicos cristãos. 1) Kether, Haioth Hakodesh, Seraphs; 2) Kjokmah (Chokmah), Ophanim, Querubins; 3) Binah, Aralim, Tronos; 4) Kjesed (Dhesed), Hashmalím, Domínios; 5) Gueburah, Seraphim, Imperiums; 6) Tiphareth, Malachim, Virtudes; 7) Netzach, Etohim, Principiado; 8) Hod, Beni-Elohim, Arcanjos; 9) Yesod, Querubim, Anjos.


Esoterismo

Espíritos planetários ou regentes de cada planeta do sistema solar destacados embaixadores ou representantes na Terra, de função nomeada: 1) Sol, Miguel; 2) Lua, Gabriel; 3) Mercúrio, Rafael; 4) Vênus, Anael; 5) Marte, Samael; 6) Júpiter, Zacharied; 7) Saturno, Cassiel; 8) Urano, Ithuriel.


Rosa Cruz

  • Seres de corrente evolutiva diferente da do homem e que vivem na região etérea, Éter de Vida: eram humanos durante o período lunar;
  • Veículo mais denso nos anjos composto por éter químico;
  • Capacitados a construir um corpo vital, porque no período lunar o éter era o estado mais denso da matéria;
  • Instrutores apropriados dos homens, animais e plantas, com relação às funções vitais. (Geoffrey Hodson, A Fraternidade dos Anjos e os Homens; Maynadé, Barcelona).


Especulações

Do uso que se faz dos anjos e em virtude aos inúmeras pensamentos e interpretações do que eles e outras potestades divinas seriam, o livre pensador cria a sua realidade em torno do assunto.

O maçom busca a Verdade, com letra maiúscula, representando a permanente busca de valores e princípios metafísicos mais próximos do conceito Grande Arquiteto do Universo.


1. Suprema Liberdade

A permanente busca do maçom cria uma sensação de liberdade incrível porque a relação direta com a divindade mostra um mundo onde o amor, a única lei deixada para o cristão, é o alimento das criaturas. O amor tem o potencial de acabar com todas as guerras e manipulações feitas pelos malvados que, sem amor, visam tirar vantagens e usar o próximo. Basta praticar o amor que desaparecerão maldade, guerra e miséria. Tudo seria paz e usufruto das benesses oferecidas gratuitamente nesse lindo planeta chamado Terra.


2. Anjos da Guarda

Na casa dos pais aprende-se: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pois que a ti me confiou a Piedade Divina, hoje e sempre me governa, rege, guarda e ilumina. Amém". O uso do anjo, enfeitado de zeloso guardador, mas em verdade utilizado como vigia permanente do comportamento moral e ético é utilizado para induzir medo e terror. Acentua a culpa e apavora de forma terrível com castigos e tem como objetivo controlar e dirigir o povo ao cativeiro nos redis de religiosos, políticos, reis e rainhas que usam essa escravização para obter domínio de vida e morte sobre o cidadão.


3. Grande Arquiteto do Universo

Para o maçom Grande Arquiteto do Universo é apenas um pensamento, uma ideia. O iniciado na Maçonaria não especula em sua essência. Em sua fé crê na existência de um Princípio Criador que projeta as coisas e dirige a orquestra do Universo. Vê nesse conceito a promessa de um dia religar-se energeticamente com Ele, desfrutando de vida futura diferente e prazerosa.

O maçom especula sobre manifestação tão incrível, poderosa e única com o conceito Grande Arquiteto do Universo. Fica fácil deduzir que em presença de Seu poder Ele não tem necessidade de anjos para o adorar ou utilizar-se desses mensageiros para controlar o homem. Dá pena a arrogância da criatura homem, vaidosa e orgulhosa, que não passa de uma das inúmeras criaturas, que vivem em simbiose ou consortismo na superfície de um diminuto planeta, que orbita um insignificante sol de quinta grandeza, num recôndito canto de uma das incontáveis galáxias hoje conhecidas pelo homem.

Enquanto criança a ideia do anjo da guarda encanta e floreia a imaginação fértil de um ser humano sensível em desenvolvimento, como adulto e maçom ele aprende a pensar e duvidar.


4. O Benefício da Dúvida

O Criador, poderoso e onipresente teria necessidade de ajudantes, de guardiões, de fidelidade, de adoração? Aprende-se que o contato é feito com Ele próprio. Por indução será que não poderiam ser dispensados intermediários como santos e santas, beatos e beatas, símbolos e imagens, anjos, arcanjos, querubins e outros? Ele é Pai e Mãe do Universo e todas as criaturas deste mesmo Universo são filhos Dele. Ele está em todo lugar e ao mesmo tempo. Será que isso não dispensaria intermediações de qualquer espécie? Será que existem anjos?


Bibliografia

1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, ISBN 978-85-7252-301-1, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, Londrina, 2012;

2. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, Coleção Biblioteca do Maçom, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 128 páginas, Londrina, 1994;

3. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, 4ª edição, Editora Pensamento Cultrix Limitada, 550 páginas, São Paulo, 1989;

4. HODSON, Geoffrey, A Fraternidade dos Anjos e os Homens, Maynadé, Barcelona;

5. PORTO, A. Campos, A Igreja Católica e a Maçonaria, 3ª edição, Editora Aurora Limitada, 320 páginas, Rio de Janeiro;

Nenhum comentário: