Buscando a Luz da sabedoria.
Charles Evaldo Boller
O cidadão que bate na porta de um templo da Maçonaria em
busca da Luz, o conhecimento que leva à sabedoria. Aguarda que a ordem maçônica
possua um método de ensino que o transformará em homem melhor do que já é. Isto
é evidente na redação da absoluta maioria das propostas de admissão. Tempos
depois, alguns não encontram este tesouro, desiludem-se, adormecem, deixam a
Maçonaria. Para estes, a almejada Luz foi apenas um lampejo.
Longe de constituir falha do método maçônico de ensino de
construtores sociais a rotatividade é devida principalmente a nestes cidadãos a
Luz não penetrar. Isto porque eles mesmos não o permitem. A anomalia é
consequência do condicionamento a que foram submetidos ao confundirem educação
com aquisição de conhecimentos na sociedade. É comum não perceberem a sutil
diferença entre os dois propósitos. Professor de escola da sociedade ensina,
transmite conhecimentos e não educa. São raros os professores das escolas que
mostram caminhos e motivam o livre-pensamento, e, mesmo assim, isto não
constitui educação.
Em educação existe apenas o ato de educar-se, de receber luz
de fora e sedimentar em si novos conceitos, princípios e prática de virtudes. É
impossível educar outra pessoa. A não ser que esta, na prática de seu
livre-arbítrio, consinta e se esforce em mudar a si próprio.
No universo dos seres pensantes existe apenas a
autoeducação.
Qualquer um só pode educar a si próprio.
Ao mestre maçom é dada a atribuição de ensinar, transmitir
conhecimento da filosofia maçônica. Pelo modelo do mundo é de sua atribuição
transmitir conhecimentos e pelo da Maçonaria é induzir o aprendiz a decidir
qual caminho deseja seguir em sua jornada. O método da ordem maçônica visa
provocar cada maçom em descobrir seus próprios caminhos. Maçons lerem em
conjunto as instruções dos rituais não faz do mestre um educador maçônico, mas
alguém que transmite conhecimento; ele não induz a Luz, a educação da Maçonaria,
a almejada sabedoria, para tal, o próprio mestre carece de longa jornada de
autoformação e autoconhecimento. O mestre maçom que apenas transmite instruções
de forma mecânica não instrui, pois se comporta à semelhança do modelo do
mundo, onde governos propiciam instrução para o trabalho escravo do sistema,
religiões ensinam conceitos dogmáticos de ação e moral e a filosofia desperta
dúvidas que conduzem ao ateísmo. Religiões e filosofias positivas prometem
salvar seus praticantes, mas têm pouco sucesso porque o homem não muda a si
mesmo pela razão, e, sim por compulsão do medo e da vaidade. E isso é
temporário!
Auxiliar alguém em mudar o rumo de sua jornada na presença
do livre-arbítrio é educação. Romper a "couraça de aço" que envolve o
intelecto do aprendiz exige uma expressão da arte mística. A Maçonaria utiliza
tudo o que existe de bom nas mais diversas fontes positivas de conhecimento e
deixa a decisão para o adepto: é ele quem usa de seu livre-arbítrio para vencer
a si próprio.
É ilusão pensar que, pelo fato de o aprendiz ver-se
mergulhado numa sociedade de homens bons, livres e de bons costumes, já seja o
suficiente para fazer dele um homem bom. Se ele não o desejar e não agir
conforme, de nada adiantam os melhores mestres que nunca obterá a sabedoria
maçônica. Esta só penetra num homem se este o permitir. Quando ele se iniciar
internamente. Por mais que o mestre se esforce, ou possua proficiência num
determinado tema, se o caminho para dentro do educando não estiver aberto, isto
não sedimentará e não se transformará em educação. Se o recipiendário não se
abrir ao que lhe é transmitido, de nada vale o mais habilidoso professor.
O mestre exerce apenas impacto indireto, por uma espécie de
indução, potencial que todos têm latentes em si de influenciar terceiros por um
conjunto de atividades intelectuais, afetivas e espirituais. Para romper os
bloqueios do aprendiz o mestre deve primeiro encontrar-se, mudar-se, e só então
obterá a capacidade de induzir Luz maçônica ao outro, de motivar o outro a
mudar-se, momento em que, mente e coração do aprendiz se abrem e ele mesmo
passa a efetuar mudança em si, exercendo seu potencial de autoeducação.
O aprendizado torna-se mais eficiente quando as provocações
provêm da ação do grupo sobre o indivíduo, é o efeito tribal fixado
profundamente na mente de cada indivíduo desde os vetustos homens das cavernas
- quando a maioria das barreiras e bloqueios abre espaço para a autoeducação
com o objetivo de obter aprovação do grupo. De forma natural o grupo ajuda,
apoia, esclarece, orienta, protege e desperta o espírito de grupo que molda e
motiva a autoeducação do aprendiz.
Para despertar dentro do educando as potencialidades de seus
dons, exige-se de o mestre obter conhecimento lato da natureza humana. Para
aprofundar-se no conhecimento das características humanas exige-se do mestre
que conheça antes a si mesmo, da forma a mais ampla possível: é a essência do
"conhece-te a ti mesmo", de Sócrates. Este autoconhecimento só aflora
quando o mestre atinge a fase de autorrealização em sua vida, o último estágio
que um ser humano atinge depois de atender a todas as demais necessidades, e
que Abraham Maslow definiu para o indivíduo que procura tornar-se aquilo
"que os humanos podem ser, eles devem ser: eles devem ser verdades à
própria natureza delas". É neste último patamar que se considera a pessoa
coerente com aquilo que ela é na realidade, de ser tudo o que é capaz de ser,
de desenvolver seus potenciais. Só então é possível ao mestre conhecer a
natureza humana alheia, onde a educação passa a obter característica de arte ao
invés de ciência.
Note-se que educação maçônica, a luz, a sabedoria, não têm
nada a ver com decorar rituais, conhecer ritualística, ser enciclopédia
ambulante. É uma arte que adquire contornos mágicos quando os resultados
aparecem e produzem bons frutos ao induzir os outros a mudarem para melhor como
edificadores sociais. Enquanto a ciência pode ter tratamento intelectual com a
transmissão de instruções, a arte de educar da Maçonaria vai além, alcança
intuição cósmica. Enquanto o talento analisa e é consciente, o gênio intui e
vai além da consciência, alcança o místico.
Abordagens técnicas não furam a couraça do livre-arbítrio do
aprendiz, mas a alma da educação pode ser alcançada pela metafísica da arte de
ensinar os caminhos para a Luz. É uma mistura equilibrada de conhecimento,
emoção e espiritualidade. A educação apresentará até contornos lúdicos na sua
indução. Para isto exige-se do mestre maçom a plenitude do autoconhecimento e
da autorrealização. Tal personagem porta a capacidade de induzir na mente do
aprendiz uma caminhada que o motiva em efetuar mudanças em sua vida. Não porque
o mestre o determina, mas porque o aprendiz assim o deseja. Quando o mestre
adquire esta arte de atingir e motivar o aprendiz pela autoeducação, este terá
quebrado a barreira da indiferença do livre-arbítrio e ele se modifica porque
assim o deseja. Com isto o mestre maçom alcança a plenitude de sua atribuição:
ensinar.
É a razão de o maçom nunca ser definitivo em suas colocações
e sempre apresentar as Verdades sob diversos ângulos, para que o educando
escolha qual o melhor caminho que deseja seguir. É o motivo de propiciar aos
aprendizes a possibilidade de debater num grupo, de forma livre, os temas com
que a Maçonaria os provoca. Então eles mesmos definem, cada um a sua maneira,
as suas próprias Verdades. É por isso que o mestre brinca com os pensamentos.
Com isso ele proporciona emoção agradável, conduzindo as provocações apenas na
direção certa do tema e onde cada um define seus próprios caminhos. Em todos os
casos onde o aprendiz se sente livre para pensar e intuir, ele derruba as
inexpugnáveis barreiras do livre-arbítrio que o impedem, em outras
circunstâncias mais rígidas e ritualísticas, de obter as suas próprias Verdades
pelos eternos ciclos de tese, antítese e síntese.
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