sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O Futuro da Maçonaria no Brasil e no Mundo

Uma instituição em encolhimento.

Charles Evaldo Boller


Para especular o futuro da Ordem Maçônica Universal é interessante visitar um dos seus berços culturais, algo que se pratica no interior dos templos da Maçonaria ao redor da Terra: a Arte Real. A origem do uso dessa nobre arte milenar é debitada, principalmente, aos nobres da antiga Grécia, no planejamento e organização das cidades estado e aos nobres e sacerdotes do Egito antigo, como fonte de práticas herméticas que aguçam introspecção e espiritualidade. Por razões obvias, ao escravo daquelas vetustas sociedades não existia motivação nem incentivo para dedicar-se a pensar os vários temas da administração da cidade. Já os nobres, porque dispunham de tempo e recurso, debruçavam-se em boa parte do seu tempo no planejamento e praticavam o ócio criativo, a magia, o misticismo e outras atividades que usavam a razão. Por serem atividades restritas a reis e príncipes, o livre pensar do maçom é hoje denominado Arte Real. O maçom busca, em seu templo de pedra, reunir-se com outras pessoas, de diferentes origens e formações, para dedicar fração de seu tempo para evoluir em conhecimento e prática do bem e ócio criativo, pretendendo com isso viver e ensaiar uma utópica sociedade, onde a liberdade reina soberana. No entendimento dos sábios maçons é da presença de liberdade que brotam as sementes de outros valores virtuosos.

A prática da Arte Real do livre pensamento é praticada na Maçonaria hodierna, motivo pelo qual, não são aceitos "escravos" ao sistema de coisas humano. Exige-se do candidato a entrar na Maçonaria ser "livre", praticar bons costumes, ter tempo para si mesmo, gosto pelo exercício do livre pensamento, crença num Princípio Criador e numa vida futura. Estas são cláusulas pétreas universais em todas as obediências maçônicas.

Como instituição humana a Ordem Maçônica não é perfeita nem pratica uma ciência exata. Ao longo do tempo assistem-se conflitos entre obediências e disputas internas de poder que geraram inúmeras cisões. Longe de criticar essa realidade, não cabe ver nisso caos e derrocada, mas necessidade. A divisão da Maçonaria em diversas obediências alberga as mais diversas linhas de pensamento, caso contrário, deixaria de praticar o ócio criativo ou a Arte Real que cultuam o livre pensamento. O maçom busca ordem no caos: o exemplo é divino, pois o que no universo aparenta confusão são apenas as leis divinas administrando a natureza, e que, ao limitado homem parecem caóticas. Maçons sábios contam com a diversificação para imprimir mudança significativa de procedimentos de transmissão e prática da vetusta arte de levar os homens imersos numa sociedade que evolui em complexidade crescente, a evoluírem a partir do conhecimento que verte dos rituais a um estado aperfeiçoado.

Poder-se-ia debitar o atual estado de desalento e esvaziamento de templos à velocidade com que a tecnologia evolui e cativa o cidadão para atividades cada vez mais passivas, com rara atividade intelectual, tornando-o cativo de vil sistema de "escravidão". Talvez não se ofereça ao maçom algo pelo que se engajar, lutar e obter ganho de alguma espécie, isso porque, o adulto exige, para trabalhar em qualquer tarefa, um ganho ou vantagem. Não é falta de altruísmo, simplesmente funciona assim.

A Maçonaria está deficiente na transmissão do conhecimento que se constrói a partir de filosofar dos seus membros. Faltam líderes treinados para transmitir com técnica eficiente e adaptada ao treinamento do adulto, o conteúdo da base do filosofar maçônico. Se a Ordem Maçônica não investe em ensino de qualidade toda a sua estrutura balança ao sabor dos ventos das ideologias e crenças que "escravizam".


Busca de Valores

Hoje o maçom planta as sementes que germinarão e darão frutos em breve, inclusive mediante o estabelecimento e adaptação à novas moralidades. O conhecimento extraído dos rituais tem a pretensão de propiciar a iniciação interna, que melhora o maçom em termos de pessoa e consequente acúmulo de valor material, político, social, poder, emocional e espiritual. Isto têm forte apelo motivacional.

É crucial a apresentação de candidatos qualificados para a prática da Arte Real e que disponham de tempo para a presença periódica e continuada às atividades do ócio criativo. Depois de iniciado o noviço adulto exige retorno do investimento em dinheiro e tempo que gasta em sua formação, portanto, demanda equilíbrio do custo-benefício. As sementes são plantadas para eclodirem em futuro próximo e estas são plantadas nas mentes dos irmãos em forma de conhecimentos que permitem, a cada um, modificar-se para o bem e com vistas a um valor agregado: a sua evolução. As instruções contidas nos rituais são apenas um ponto de entrada para deduções muito mais elaboradas pela razão e com aplicação no campo político-social. Para aprofundamento na filosofia maçônica há a necessidade da presença em loja, de modo a adquirir conhecimento a partir de provocações de pensamentos contidos nos rituais e da parte dos demais irmãos. A Arte Real não é dedutível da palavra escrita ou falada: é um estado de espírito que modifica o ser! Em condições normais e acomodadas, o maçom não tem possibilidade de alcançar sozinho o que se encontra velado nos rituais. Os irmãos de loja são um grupo social, que se reúne com regularidade e de cujo relacionamento eclodem insights que levam o indivíduo a se modificar para obterem sucesso na vida. E esse sucesso é a principal moeda almejada pela maioria dos que atravessam os umbrais e colunas de um templo maçônico. Para usufruir desse manjar filosófico exige-se treinamento de qualidade.


Luz para a Transposição

O maçom inicia na Maçonaria para evoluir, aprender, estudar, mas nela não existem professores. A Ordem Maçônica não educa ninguém. Não é educandário, e sim, instituição que, em presença do livre-arbítrio, cria as condições ideais para o adepto autoeducar-se. Na prática encontra-se apenas a autoeducação! A partir disso, nasce a Luz que revela a transição através do conhecimento, mediante adaptação ao atual desenvolvimento tecnológico e sem perder de vista história, liturgia, ritualística, símbolos, alegorias, ilustrações, lendas, mitos, avatares, narrativas, contos, parábolas etc., com que são intuídas as verdades que o buscador deseja. São diversas e variadas as especulações com o objetivo de levar o adepto a examinar "verdades" que nele foram depositadas por seus pais, professores, pastores e outros, todos submetidos a um cruel e maquiavélico sistema de poder que a todos exaure a força ativa até sobrar apenas "bagaço". O maçom trabalha arduamente para manter-se livre, mesmo vivendo debaixo de um sistema que tenta "escravizar" a todos.

Hoje a tecnologia da informação atinge rapidez de disseminação estonteante, o que requer boa dose de planejamento de parte das lideranças maçônicas. O volume de informação com que o cidadão é atingido a cada instante é enorme. Há poucas décadas um cidadão comum obtinha, durante toda a sua vida, o conhecimento equivalente ao de um jornal em papel de uma edição de domingo. Hoje, esse mesmo volume de informação é absorvido em questões de minutos. A produção de livros em papel está com os dias contados, atualmente o número de livros digitais possíveis de se acessar é inimaginável! Em breve, livrarias e editoras aposentarão suas máquinas de impressão em papel! É incomensurável a quantidade de vídeos e imagens ao alcance de um simples toque na tela de um celular.

A prolongada pandemia de covid destacou nova realidade instrucional para as lojas maçônicas: a reunião online, virtual, não presencial. De um lado constitui auxílio aos dirigentes de lojas, na transmissão de conteúdo doutrinário e filosófico, mas traz embutido um desserviço: a falta do contato humano. E já existem lojas criadas com a pretensão de terem reuniões exclusivamente virtuais, sem a necessidade de templo para sessões econômicas e de instrução, reunindo-se presencialmente apenas para cerimônias de iniciação. Aos mais adiantados na Maçonaria é conhecido o fenômeno natural onde a convivência leva os humanos a mudarem a si mesmos quando estão em grupo. Depois que se aprendeu a dominar o fogo dentro de cavernas, os dias foram artificialmente prolongados e possibilitaram aos antepassados maior tempo de convivência e compartilhamento de ideias ao redor da fogueira. Isso criou o condicionamento psicológico que hoje já vem do berço e sujeita o indivíduo ao poder do grupo. Esse procedimento natural de transmissão de ideias e pensamentos atrelado à dinâmica de grupo é evidente dentro do templo, onde o ambiente especialmente preparado mediante o estabelecimento de uma espécie de sacralidade local, possibilita o fenômeno de absorção de coragem e determinação para a mudança. Mudar a si mesmo não é tarefa solitária fácil porque o mundo oferece diversidade de atrativos que não possibilitam a introspecção, meditação e troca de pensamentos, mas é facilitado quando em grupo, onde um incentiva o outro com eternos ciclos de tese, antítese e síntese, que, por sua vez, possibilitaram a evolução humana ao atual patamar da técnica e dinâmica social. Portanto, estudar com qualidade é essencial!


Propostas de Ensino

Como em loja a presença é essencialmente de adultos, há necessidade de se aplicar técnica de ensino própria para adultos, de modo a aumentar a eficiência de ajudar os outros a aprenderem. Um norte importante para a aperfeiçoamento maçônico pode ser a Andragogia, técnica apropriada ao aprendizado do adulto. As teorias pedagógicas de Maria Montessori, Lev Vygotsky, Jean Piaget e outros não são eficientes no treinamento de adultos: suas teorias visam, em princípio, as crianças. Rudimentos de Andragogia são uteis na transmissão do conhecimento explícito e velado dos rituais. É usual aos dirigentes de lojas efetuarem a leitura das instruções, por vezes de forma mecânica, quando não gaguejando, "comendo" pontos e virgulas ou atrapalhando-se com a "sopinha de letras tripontuadas", onde então, deixam de destacar efeitos necessários à compreensão. Aplicando-se rudimentos de Andragogia por ocasião da aplicação de instruções, mesmo que nas colunas compareçam obreiros de curso básico, ocorre um sensível incremento da eficácia na interpretação e apreensão do conhecimento.

Os meios de comunicação e a própria experiência de vida faz os adultos só se envolverem com os processos de aprendizagem se, e somente se, estiverem convencidos que levarão alguma vantagem prática ou puderem se beneficiar com algum valor agregado. Para tal, eles demandam melhor preparo e apresentação dos ensinamentos. Considerar que todos os que receberam formação acadêmica nos últimos quarenta anos foram treinados com as técnicas pedagógicas de especialistas no ensino de crianças, fica pior quando as técnicas de ensino foram copiadas e adaptadas a partir dos grandes mestres da pedagogia para utilização em objetivos ideológicos. Tratar o obreiro como adulto, certamente, resulta em motivação para a aprendizagem. Considerar sempre que, devido à presença de irmãos em loja com escolaridade média deve-se cuidar em não elevar demais o tratamento erudito no filosofar maçônico. Maçonaria não é escola de filosofia: o maçom filosofa de forma natural e apoiado em seus referenciais.

A orientação didática para ensino de adultos que lida com técnicas aplicadas ao ensino no ambiente maçônico é algo que, de longa data, já se impõe como dever e necessidade de acompanhar a tecnologia e a crescente complexidade social, cujo descompasso esvazia os templos. Adulto só aprende o que, de seu discernimento, ele realmente precisa saber. Seguindo as receitas e provocações que vertem dos rituais na aprendizagem maçônica, fomentam-se aplicações práticas na vida diária e isso é a linha mestra de ação do aperfeiçoamento maçônico.

Para amar a Maçonaria devem-se investir esforços para conhecê-la profundamente. Amando a Maçonaria, o irmão permanece nela e atrai outras pessoas com perfil maçônico ao interior dos templos. Isso cria círculo contínuo de crescimento intelectual e espiritual com incremento do sentimento de pertencimento à Maçonaria, sentimento onde a Maçonaria pertence ao adepto e o envolve.


Futuro da Ordem Maçônica

O futuro da ordem maçônica no mundo reside exclusivamente na arte de filosofar. O piso das lojas pode ser visto à semelhança de um "parque de diversão", onde se "brinca" com coisas sérias, como pensar algo que se intui e não se pode provar, mas que se sente e auxilia na autoconstrução do templo interno de cada um. Demanda-se fortemente a necessidade de inovar o campo do pensamento. A sociedade vive permanente evolução e aumento da complexidade em suas relações. A eficiência da orientação da informação didática aparece quando ela desperta a aprendizagem no adulto e onde este perceba que a sua atenção no processo de aprendizagem tem valor agregado, algo que vai desde sua promoção profissional até o desenvolvimento de autoestima, satisfação e qualidade de vida. Recomenda-se aos mestres: ouça o cliente e sinta os seus desejos!

A força do debate motiva os obreiros para a arte de pensar ou Arte Real ou ócio construtivo. O instrumento é imbatível na motivação, fomento à criatividade e intuição. Os debates atendem ao disposto nas considerações das melhores técnicas didáticas andragógicas, onde o adulto trabalha os diversos aspectos da sua psique. Principalmente no valor agregado e aplicação prática do filosofar do maçom. A dinâmica de grupo dos debates destaca-se por trazer o irmão de volta na próxima sessão.

O público adulto visa atingir as metas definidas pela administração da loja desde que os seus interesses e buscas sejam contempladas. Dentro da objetividade de todos os envolvidos no processo didático de ensino dispensam-se rodeios e perda de foco. O destaque fica para os debates livres que exigem apenas um pequeno treinamento de manejo de parte do coordenador do debate. Este manejo visa o auxílio ao obreiro de concretizar a sua busca, manter o foco e recompensar o esforço individual em atingir seus alvos pessoais, que constituem o seu "salário".

Tem mestre maçom que já não suporta mais ler as instruções, vez após vez, sem que o assunto receba o seu tempero pessoal num bom debate livre entre todos os presentes em loja. Lidar com adulto demanda outro tipo de manejo que a circulação ritualística da palavra. Interessam diretrizes e objetivos didáticos: a "técnica de ensinar a ensinar" voltada para o adulto.

Na criação de projetos didáticos, treina-se o mestre maçom a identificar qual é o contexto, a inter-relação de circunstâncias que acompanham a sua situação e envolve seus clientes: os obreiros da loja. O sucesso do mestre maçom depende de conhecimento, planejamento e eficiência que advém de projetos com sustentação didática. Ele deve ser capaz de adaptar sua experiência e treinamento no estudo do perfil do seu público alvo, pois conhece e convive com seus clientes. Trata-se apenas de facilitar a tarefa de "ensinar a ensinar com técnica" e não de fazer o trabalho de construção dos seus irmãos.

No treinamento didático, o mestre maçom desenvolve a arte de ensinar, a oratória e a técnica de dirigir debates dinâmicos e motivadores. Toda a equipe da loja, munida de técnica didática, aos moldes do ensino para adultos e nos assuntos ritualísticos e filosóficos, cria enlevo para despertar a vontade de voltar na próxima sessão.

Cabe ao mestre maçom ensinar a pescar utilizando-se de metodologia técnica. Não é aventura que se faça de qualquer jeito: carece treinamento. Cabe ao facilitador de debates aceitar inicialmente que a sua formação escolar está repleta de condicionamentos que tentam submete-lo e treiná-lo para ser usado pelo vil sistema humano de coisas. Instruções bem ensinadas facilitam a mudança dos obreiros. E a proposta aos mestres maçons é a de se tornarem excelentes facilitadores de acesso aos mistérios embutidos e velados nos rituais. Lembrar-se que os rituais não foram escritos para revelar, mas para ocultar segredos que, uma vez revelados para o maçom que trabalha no interior de sua "pedra", o motivam a mudar a si próprio. Sem objetivos de coragem para realizar mudanças, a filosofia maçônica do simbolismo fenece.

Para a criação de conteúdos didáticos concorre o planejamento, a visão clara e a consciência das possibilidades que envolvem o treinamento para a mudança. Mudança é necessidade pessoal, intransferível e inalienável. Sem mudanças, nenhuma meta, busca ou objetivo estabelecidos serão atingidos, por melhor que seja a técnica didática aplicada.

Pode-se orientar o mestre maçom a extrair das instruções dos rituais os temas de debate e estudo. Criar tema é peculiar para cada loja, palestrante, escritor. Suprir ou impor tema é forma de criar dependentes e não líderes. O líder está consciente de sua individuação e luta por ela: não é vaidade, mas brio e autoestima. Ademais, lida-se com cliente adulto. Criar listagem de temas para debate e estudo extraído de cada instrução pode criar condicionamento doutrinário. Pode forçar as pessoas dentro de um molde concebido por alguém que possui o poder de impor: isso tira a liberdade, cria o acomodado, inibe a criatividade, destrói a motivação do proativo, não é objetivo da Maçonaria, e péssima forma de tratar o adulto voluntário.

Entende-se que a Arte Real é sustentada por um tripé formado pela fraternidade dos seus irmãos, a prática da caridade e o estudo da filosofia dos graus simbólicos. Esse estudo, em especial, é alvo de grande atenção em todo o universo maçônico, através da necessidade de mudança de paradigmas, que visam a sobrevivência e evolução da instituição.

Atualmente não se pode oferecer ao perfil de novos iniciados o método de ensino maçônico baseado em leitura "mecânica" de instruções, que muitas vezes é feita com falhas de entonação e oratória. Esse modelo passou a ameaçar severamente a sobrevivência da Maçonaria pela comprovada evasão mundial de maçons de seus templos. Além da dificuldade em se captar e manter bons candidatos que estariam interessados nos augustos mistérios, escorreria entre os dedos da administração a capacidade de mantê-los em loja. A taxa de evasão aumenta a cada ano nas últimas décadas, de forma alarmante e as causas são diversas, mas a falta de transmissão do conhecimento eficiente é uma das vilãs preferenciais.


Estudo Pessoal em Loja

É de real importância na formação de aprendizes e companheiros que sejam destacados, pelo venerável mestre, um ou dois mestres para estudar com os aprendizes fora do templo, no mesmo prédio e no mesmo dia da sessão de mestre ou companheiro. Aprendizes e companheiros não deveriam auxiliar o mestre de banquete ou fazerem outras tarefas que não fosse o estudo: eles têm toda a sua vida maçônica pela frente para servirem a loja. Devem aproveitar a ocasião para lerem e interpretarem o ritual, confeccionar suas peças de arquitetura, debater os vários assuntos que vertem do ritual, esclarecer detalhes do funcionamento da ordem, história e filosofia do grau e da Maçonaria. Estas reuniões têm a mesma duração da sessão que está em andamento, o que permite a cobertura de muito assunto em um só encontro fora do templo. Esse uso nobre do tempo, apenas para estudar, tem resultados excepcionais na formação de maçons, futuros líderes e oficiais para comandarem a loja.

É usual ao aprendiz maçom estar aberto e motivado pela curiosidade. Desde a sua iniciação, com esses encontros ele passa a cultivar o hábito de se fazer presente na loja para estudar em todas as sessões. Nessa ocasião o mestre maçom coloca em ação a sua mais nobre missão: ensinar.

O aprendiz munido de caderno e caneta faz anotações da dinâmica desenvolvida pelo grupo fora de loja e normalmente já anota e desenvolve o seu trabalho de grau. Se o conteúdo integral do ritual for trabalhado já é suficiente para garantir sucesso na formação de bons mestres. Companheiros também participam, podem estudar com outro mestre maçom em local afastado ou no mesmo grupo junto com os aprendizes, ocasião em que revisam os assuntos do grau anterior e ajudam os mestres na formação dos aprendizes. O estudo não é simples, também não erudito ao ponto de causar desânimo. Normalmente acaba em ambiente lúdico de prática da Arte Real que resulta em conhecimento e satisfação.

A investigação didática para a aprendizagem dirigida ao adulto deve se fixar em temas e debates que possibilitem a resolução de problemas da vida. Os rituais estão prenhes desse tipo de informação e isso deve ser explorado ao máximo. Para tornar a dinâmica de grupo lúdica e agradável em debates livres, o obreiro é tratado como igual e a palavra flui livre. Naturalmente, há a necessidade do aporte de dinâmica de grupo onde prevaleça respeito e ordem. Debates livres demandam regulamentação para não ferirem a ritualística. Deixar a loja em família durante a ordem do dia, disposição aplicada ao debate de temas filosóficos, administrativos e logísticos, menos aos temas que exigem votação.

Na definição do objetivo didático dirigido ao mestre maçom deve ser introduzido o exercício da dúvida. A grande aliada da cognição, a dúvida propicia o processo de metacognição. Como maçom trabalha-se o controle do processo de pensar. É a essência do "ensinar a ensinar" e a relação disso com o valor agregado que se deve produzir para motivar o obreiro a voltar para a loja na sessão seguinte. Um objetivo didático ao se treinar o mestre maçom visa à utilização do que verte dos rituais de forma diferente, com outras palavras e ideias. Fragmenta-se cada instrução em tópicos menores. Algo que contribua com o aumento da apropriação do conhecimento. Parte-se do princípio de que não há diálogo sem que se manifeste alguma dúvida, parte do estudo didático de processos de aprendizagem do adulto. São inúmeras as oportunidades em que as instruções contidas nos rituais levantam dúvidas sobre verdades já há muito sacramentadas por usos, costumes e tradição. O mestre maçom deve especializar-se em usar da dúvida com o objetivo didático de motivação e criatividade.

É mandatório que os maçons pensem soluções de problemas da sociedade e para isso precisam desenvolver "a arte de ensinar a ensinar". O público alvo da aprendizagem de método de ensino com técnica é o mestre maçom atuando no seu principal dever de ofício: o ensino da arte maçônica de pensar. Ele carece de treinamento em sua arte de multiplicador da ideia de Maçonaria. O mestre maçom qualificado pela didática possui sabedoria, talento e competência na Arte Real. Goethe: "as pessoas ouvem apenas o que compreendem". O adulto só se concentra em algo com valor agregado para ele. As pessoas só amam aquilo que conhecem profundamente.

Na discussão de didática aplicada aos processos de ensino na Maçonaria, desde o instante em que o maçom vê a Luz, ele é instado a desenvolver autonomia em tudo. Principalmente em sua vida. Por isso ela dispensa os seus guias assim que lhe é dada à Luz na cerimônia de iniciação. O mestre maçom induz seus irmãos à heteronomia. Ao se lidar com adultos, a didática é técnica e referência, nunca camisa de força. Não é recomendável que as diretrizes emanadas culminem numa espécie de aprendizagem bancária: obreiros não são depósitos de informações, mas seres que estão em condicionamento autônomo crescente.

O obreiro adulto não é ouvinte passivo, é autônomo: duvida e questiona o que lhe é posto. A absoluta maioria dos maçons é autônoma, independente e exerce algum tipo de liderança. Esse tipo de cliente demanda manejo nos processos de ensino cuja didática deve ser minunciosamente discutida e cuidadosamente instalada. Preferencialmente lançar novidades apenas depois de ouvido um bom número de clientes e prestada a devida atenção aos seus desejos.

Espera-se que ao se aprimorar o modo de ensinar Maçonaria, se possa contribuir para diminuir a evasão das fileiras. Cativar a geração de homens multifuncionais pela aptidão a se dedicar a filosofia apresentada com didática moderna e de comunicação direta.

O futuro da maçonaria no Brasil e no mundo é do tamanho dos sonhos! Busque-se a Verdade que cada um define pelas suas escolhas e a chama da essência maçônica brilhará sobre a Terra.


Bibliografia

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8. RUSSELL, Bertrand Arthur William, O Elogio ao Ócio, tradução: Pedro Jorgensen Júnior, ISBN 85-7542-020-8, 3ª edição, Editora Sextante Limitada, 184 páginas, Rio de Janeiro, 1935;

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