segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Busca das Explicações para a Existência da Vida

Instrumentos maçônicos que indicam razões para a vida existir na Terra.

Charles Evaldo Boller


Apoiando-se nas costas de especuladores antigos, que copiaram suas ideias de outros destacados pensadores mais antigos ainda, e estes de outras fontes sábias, de antiquíssimas escolas de mistérios, o maçom moderno encontra, nos pensamentos de todos estes avós longínquos, o procedimento que combina ideias advindas de tradição, mitologia e doutrinas, e disso interpreta, desvenda e evolui conceitos para adquirir explicações para a existência da vida e sua significação.

O entendimento é resultado de incontáveis ciclos de tese, antítese e síntese, a técnica filosófica do método dialético, que, entre outras verdades, revelou a existência de um Universo em permanente oscilação.

Desta forma, a filosofia, a mãe de todas as ciências, projetou e tornou a tecnologia de hoje disponível. A indústria, percebendo o valor prático dessas ideias, desenvolveu utilidades e as colocou à disposição do homem. Infelizmente, a maioria dos descobrimentos e avanços tecnológicos serviram, ao longo dos tempos e em primeira instância, para a indústria da guerra, e, só depois, algumas delas foram adaptadas para outros campos de atuação humana como educação, medicina, indústria, diversão etc.

Percebe-se que o homem só desenvolve e evolui quando se interessa por algo e disso visualiza a possibilidade de tirar vantagens para facilitar e alegrar a sua existência. Todo interesse humano visa atividade lúdica, conforto e segurança. Nada é deixado ao acaso. Para todas as atividades humanas existe sempre o desejo de tirar vantagem e presença obrigatória de valores agregados que atuam no interesse material.

Para o homem material prevalece a teoria da ética que sustenta a ação mais inteligente, aquela que maximiza a felicidade e minimiza o sofrimento. O maçom participa de instituição que pretende tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo respeito ao pensamento de cada um e pela tolerância ao que o outro pensa. Essa abordagem da ética avalia a moralidade da ação apoiada em suas consequências para o bem.

O maçom aborda a influência da ética maçônica, que em suas avaliações estão voltadas ao fomento do amor fraterno entre os homens, resultado de fenômenos percebidos em seus templos, por ocasião da presença ordeira e disciplinada dos obreiros.

Os distantes e vetustos avós do filosofar maçônico já percebiam que tudo no universo vibra constantemente, em frequências não percebidas pelos sensores humanos, e que estas oscilações enganam o homem o tempo todo. Os dispositivos sensoriais humanos foram projetados para perceberem apenas diminutos intervalos das manifestações vibratórias do universo. O homem percebe apenas as frequências que lhe são necessárias, úteis e práticas. Os fenômenos ondulatórios fora das faixas perceptíveis são desprezados. O que interessa ao enclausurado homem em seu pequenino planetinha azul, são as vibrações que agitam as partículas atômicas, subatômicas e galáxias inteiras que se deslocam pelo espaço sideral em velocidade estonteante.

Os fenômenos ondulatórios fora da faixa de percepção tornam-se úteis a partir do momento em que a criatura pensante é confrontada com a finitude de sua existência ou para aliviar certos sofrimentos, utilizando-se da oração, exercício que amplia a irrigação sanguínea no lóbulo frontal do cérebro, porque lá são geradas vibrações de alta energia e em frequências que entram em sintonia para religar o autor da prece com o transcendente e divino.

Através de especulação filosófica despertam insights onde o ser pensante e inteligente sente falta das vibrações que não são captadas pelo seu limitado sistema de detecção. A atividade mental de expansão da oração como fenômeno oscilatório, liberta o homem da angústia existencial e abranda a sua sede de conhecimento ao que pode acontecer quando não existir mais como manifestação vibratória de alta densidade, quando morre e seu espírito, supostamente, passa a manifestar-se dentro de faixas oscilatórias mais sutis, as que definem o mundo espiritual, transcendental ou metafísico, algo além da física convencional.

A Maçonaria oferece o privilégio de estender as especulações de avós pensadores antiquíssimos, para entender a natureza da realidade de cada um em produzir seu autoconhecimento, a experiência sensorial que liberta o pensamento a adentra em estágios de compreensão mais elevados da metafísica.

O iniciado nos mistérios da Maçonaria não frequenta seus templos apenas para entender a sua realidade, mas para interagir com as oscilações sutis que o cercam, e, de tal forma a despertar novos estados de consciência, a despeito das limitações sensoriais no campo mental, físico e espiritual. Com isso desperta a definição conceitual de Maçonaria, a de ser ela caracterizada por sensação e percepção impossível de se definir por palavra escrita ou falada, portanto, deve ser vivida em fraterna convivência de modo frequente e persistente.

Nas atividades templárias, isoladas do mundo secular por guardas armados com espadas, o maçom especula de forma a assimilar de antigos gregos, egípcios e outros, os segredos esotéricos passados de uns para os outros até nossos dias, a fim de, entre outras coisas, iniciar seu entendimento da razão da vida nesse planeta. O fenômeno ocorre quando se reúnem em templos consagrados ao livre-pensar, reunindo livres-pensadores semelhantes, que se atraem uns aos outros de forma a compartilhar descobrimentos da física e da metafísica, com aplicação prática na vida.

Uma vez presentes em seus templos e provocados a pensarem sobre determinado tema, cada maçom, à sua maneira, intui verdades diversas e particulares que, depois de assimiladas são compartilhadas. Essas trocas de conhecimentos reacendem novos ciclos dialéticos. Cada ciclo da realidade transcendente visa à percepção da realidade onde cada participante se reconhece como parte de um todo, identificando tudo o que é acima, assim também é embaixo, dentro e fora.

Desta forma o maçom define a Verdade onde o Universo e a manifestação vibratória metafísica daquilo que ele conceitua como Grande Arquiteto do Universo, de cuja reunião forma o Uno, a Unidade, da qual o próprio homem é parte. É a percepção dessa realidade que dispara insights, que retiram os véus da busca de explicações para a existência da vida, e de como degustar de inúmeros momentos de felicidade em presença da divindade e do amor.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Paradoxo da Tolerância

 Quando a tolerância se transforma em intolerância.

Charles Evaldo Boller


No condicionamento social do maçom em sua loja, ele se defronta com a imposição do grupo de irmãos a ser tolerante, uma virtude a ser cultivada para permitir a convivência pacífica entre pessoas das mais diversas origens, crenças e filosofias.

Mas esse condicionamento é levado a exageros ao aceitar comportamentos inadequados e prejudiciais à convivência tolerável entre irmãos. Mesmo em presença de leis e regulamentos que especificam critérios de ações judicativas que determinam a exclusão de um membro da loja, existem corpos administrativos de lojas que lutam contra poluírem seus currículos, em não macularem a sua gestão ao terem de eliminar das fileiras dos maçons de sua loja algum irmão que incorre em infrações disciplinares que determinam tal punição.

Devido ao tratamento permissivo com o erro surgem situações onde os bons maçons se retiram definitivamente da ordem maçônica. São casos em que se exige postura firme e segura e onde a tolerância não é aplicável, deixando de ser virtude.

Karl Popper, desenvolveu um raciocínio conhecido como paradoxo da tolerância, também conhecido como paradoxo de Popper. De sua ótica, o agrupamento social que for tolerante demais, permite a criação sem restrições de ideias intolerantes, o que implica na sua destruição pelos intolerantes. A ideia que fundamenta seu pensamento implica que o grupo social que admite ações intolerantes destrói a liberdade e a tolerância do grupo. A tolerância levada ao excesso destrói a própria tolerância.

A loja que permite ações intolerantes onde existem leis e regulamentos penais que determinam o afastamento de um de seus membros, mina e destrói os princípios democráticos e tolerantes da sua própria associação. A tolerância ilimitada acaba por destruir os alicerces da sociedade tolerante.

Popper conclui que para manter a associação aberta, justa e perfeita é essencial a obediência aos limites para a tolerância estabelecidos em leis e regulamentos. Considera que a permissividade tem a influência de ideologias ou comportamentos que têm por objetivo destruir a loja por dentro ao propalarem tolerância demais para com os delitos, sejam leves ou graves.

O cerne do paradoxo de Popper defende o estabelecimento de limites que toda a loja deve aplicar e exigir para não abalar os alicerces que visam edificar templos às virtudes e cavar masmorras ao vício.

Toda loja que guia as suas ações judicativas pelas diretivas emanadas de suas leis e regulamentos tem mais chance de evoluir para tornar feliz à humanidade pelo amor e cumprir o desiderato do Grande Arquiteto do Universo e ver o homem evoluir a uma condição estabelecida em Seu projeto.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

O que se Faz na Loja?

O que o maçom faz dentro do templo.

Charles Evaldo Boller


Para o obreiro tornar-se motivado deve agir da forma como Domenico de Masi afirmou, agir como se "não sabe se está trabalhando, aprendendo ou se divertindo". Onde trabalho é parte importante da vida, fornecendo sustento financeiro e oportunidades de crescer profissionalmente; onde estudar é jornada contínua que ocorre ao longo da vida; onde a diversão desempenha papel importante para manter a saúde mental e emocional; onde se destaca a importância de equilibrar essas três atividades para desfrutar da vida com qualidade. Visto a partir dessa ótica, na Maçonaria, é interessante que o trabalho dentro da oficina maçônica, torne-se atividade lúdica, onde no maçom desperta o desejo de se fazer presente em todas as oportunidades para trabalhar em si mesmo.

A influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo estudado na Psicologia Social, Sociologia e Antropologia, onde a origem dessa inclinação natural, comumente é debitada a várias teorias e conceitos como: a Psicologia Social, onde os indivíduos tendem a se conformar com as normas e expectativas de um grupo, mesmo que isso signifique ir contra suas próprias crenças ou julgamentos; a Identidade de Grupo que parte da teoria da identidade social, onde as pessoas categorizam a si mesmas e derivam parte de sua identidade e autoestima; a Polarização do Grupo que influi nos membros de um grupo a compartilharem opiniões ou atitudes semelhantes; onde as Normas Sociais aplicam regras que regem o comportamento aceitável do indivíduo dentro de um grupo ou sociedade; e a Pressão Social sobre o indivíduo que se manifesta de diversas formas, incluindo aprovação, desaprovação, elogios, críticas e até mesmo coerção. Assim, as pessoas, muitas vezes, cedem à pressão social para evitar conflitos ou para sentirem-se aceitas. A Teoria da Psicologia Evolutiva explica que a tendência de os seres humanos serem influenciados pelo grupo tem raízes na própria evolução das sociedades. A cooperação do indivíduo dentro de grupos sociais conferiu vantagens adaptativas ao longo da história da evolução humana, assim, a influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo afetado por interação de fatores psicológicos, sociais e culturais. A compreensão desses fatores é essencial para entender por que os maçons acabam adotando comportamentos, crenças e valores conforme à loja a qual pertencem, e, assim, aprendem e se influenciam uns com os outros.

Quem ensina que a raiz quadrada de 4 é igual a 2 é o professor de escola, mas quem ensina na Maçonaria é o próprio obreiro. Não existe a figura do professor na Maçonaria. Todos são autodidatas. Dessa forma, a Maçonaria promove a autoeducação a partir do autoconhecimento e potencial de cada um. Em presença do livre arbítrio, no Universo inteiro, apenas o próprio indivíduo muda a si mesmo, se assim ele o desejar. E isso acontece dentro da loja que o maçom frequenta aproveitando-se da característica natural interna gravada no seu DNA, em milênios de evolução social. Cada loja é uma célula independente, onde cada maçom se autoconstrói e evolui segundo a sua vontade e conforme a sua capacidade intelectual. É dentro da oficina que se levantam templos à virtude, no plural, porque um obreiro influencia o outro e todos crescem juntos. Cada um é professor de si mesmo e dos outros. Como cada maçom é internamente um templo, o processo de mudança individual exige a presença dos outros templos, que são os outros irmãos. A atividade é coletiva, realizada em conjunto. Um depende do outro, daí a criação do ambiente próprio dentro do templo onde a mudança ocorre, tudo dependendo da vontade individual. E assim acontecem fenômenos de mudança que parecem magia, mas é resultado da simples convivência em ambiente apropriado e mediante o debate da filosofia maçônica. O que cada maçom cria nesse meio é extremamente cativante e motivador, pois, como afirmava Domenico de Masi, "a criatividade baseia-se na incerteza: o criativo erra muitas vezes, mas quando acerta, revoluciona"!

O valor agregado nas sessões maçônicas onde o maçom filosofa produz aprendizagem com aplicação prática diária. Em sendo adulto, aprende o que realmente precisa e quer saber; um homem assim vai diretamente ao ponto que o interessa. A atividade ritualística e intelectual o leva ao processo denominado Metacognição, que é a capacidade de pensar sobre a maneira de resolver problemas e reagir com rapidez aos processos de mudança cada vez mais rápidos da tecnologia e de aspectos culturais. Com isso o maçom obtém valores nos campos espiritual, financeiro, social e na maneira de conduzir a vida. Ao mudar a si mesmo ele muda àqueles que com ele se relacionam, e os outros só mudam depois que ele se modifica, e, assim, torna feliz a humanidade pelo amor.

O que se faz na loja é o trabalho constante em si mesmo ao cavar masmorras aos vícios, algo dentro de cada um que prejudica e que apenas o próprio autor consegue remover. As masmorras também são escritas no plural, porque a ação vem de dentro, mas a influência pode vir de fora, do modelo e do desejo de ser aprovado pelo grupo para sentir-se bem. Um maçom ajuda o outro a cavar cárceres para aprisionar os próprios defeitos, e, com isso, influencia os demais a fazerem o mesmo. Isso cria um ambiente fraterno onde o amor realiza a grande mágica que faz aqueles homens, que já são bons, a se aperfeiçoarem ainda mais, de acordo com o projeto criativo do Grande Arquiteto do Universo.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Fidelidade e Simpatia

Fidelidade é amar aquele que não nos ama.

Charles Evaldo Boller


Fidelidade é o atributo de quem é fiel. É o irmão maçom que se mantêm fiel e persevera nos valores e promessas feitas. Na política é o vínculo entre o membro do partido e suas doutrinas e orientações. Na religião é manter-se fiel às linhas de pensamento e dogmas de sua igreja. Na cultura é a manutenção dos preceitos e das ideias, mesmo que estas sofram mudanças em função da dinâmica cultural. Entre duas pessoas leva às relações de confiança que determinam perseverantes relações de fé afetuosa e sentimental. Na Maçonaria é a qualidade de continuar fiel aos juramentos proferidos solenemente em todas as iniciações e a estrita observância de conduta ilibada dentro daquilo que é exigido e prescrito nos juramentos. É a constância em manter o juramento, um ato espiritual que invoca Deus como testemunha e constitui como vingador e juiz de uma falha a própria consciência.

O contrário é o perjuro, aquele que falta para com o seu juramento, o infiel. Mas quem é tão perfeito que não falta com seu juramento em pequenas coisas? Eventualmente todos erram. Só que há necessidade de precaver-se, pois quem erra no pouco erra no bastante, daí a necessidade da rígida disciplina desenvolvida nos templos da Maçonaria.

Devido aos múltiplos interesses dos homens é comum alguns se considerarem amigos, mas a sua fidelidade é rara, pois com frequência há necessidade de tolerar pequenas infidelidades para manter o amigo próximo ao coração. Para tanto há necessidade de premiar a lealdade com espírito de justiça. Se o amigo falhou deve-se deixar que expie pela falta, para que possa levantar-se fortalecido, se foi fiel deve ser recompensado seja lá como for. Acobertar a falha do amigo é infidelidade para com o juramento, para consigo mesmo, e isto é irreparável. O maçom ajuda seu irmão até o limite de sua consciência, caso contrário é cego guiando outro cego, ambos cairão na mesma cova.

Amar ao irmão que nos ama é fácil! Difícil é amar o irmão que se declara inimigo. Mas este, observadas certa circunstancias, é o melhor irmão, porque é franco e honesto em demonstrar isto. Muito difícil mesmo é aquele irmão que bajula e usa a amizade apenas para dar vazão a sua vaidade, tirar vantagens e colocar-se acima dos outros. É aquele irmão que na hora de trabalhar está cheio de compromissos pessoais inadiáveis e urgentes, e na hora de colher o resultado do trabalho quer ser o primeiro da fila para receber o aumento de salário. Sentir-se usado por aquele que se diz amigo é muito pior que sentir-se odiado por aquele que se diz inimigo. O contrário de amor não é ódio, é indiferença. Amor e ódio são sentimentos paralelos, que podem ser usados para o bem e para o mal. Tudo depende de como são usados. Daí é preferível, e mais fácil até amar ao inimigo que ao amigo oportunista e infiel. É o inimigo que nos mantém alertas e constitui o melhor professor para nos manter fiéis à promessa feita. Conquistar este tipo de inimigo é muito mais vantajoso que manter um amigo fingido que se aproveita da amizade para tirar, sempre que possível, vantagens pessoais.

A simpatia, afinidade moral, similitude no sentir e no pensar que aproxima duas ou mais pessoas, é outra qualidade desejada no maçom. E não só para com outros maçons. O irmão verdadeiro busca afinidades, fazer despertar sentimentos que atraem espontaneamente para si qualquer tripulante desta linda nave espacial chamada Terra. Disto não tem como escapar, haja vista o que nos conecta a todos os outros seres viventes da biosfera, o espírito de vida, o sopro de vida, a energia vital que une todos os seres viventes e nos mantém vivos. É esta interação, esta interdependência, o que faz aflorar a simpatia. Os seres viventes podem ser compostos de materiais e elementos químicos diferentes, mas em espírito são todos iguais, emanam todos da vida, do mesmo princípio definido pelo Grande Arquiteto do Universo.

Ninguém é melhor que o outro ou mais importante; isto é vaidade. O maçom vive uma sociedade igualitária. Sem igualdade não existe liberdade nem fraternidade. A fidelidade mantém os maçons irmanados numa mesma ideologia de fazer o bem à humanidade e a simpatia os mantém unidos por relações de amizade prazerosa, para fazer da dádiva da vida, do privilégio de viver, uma permanente expressão do amor fraterno, a única solução para todos os problemas da humanidade.


Bibliografia

1. BENOÎT, Pierre; VAUX, Roland de, A Bíblia de Jerusalém, título original: La Sainte Bible, tradução: Samuel Martins Barbosa, primeira edição, Edições Paulinas, 1663 páginas, São Paulo, 1973;

2. CAPRA, Fritjof, A Teia da Vida, Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos, título original: The Web of Life, a New Scientific Understandding Ofliving Systems, tradução: Newton Roberval Eichemberg, ISBN 85-316-0556-3, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 256 páginas, São Paulo, 1996;

3. CLAUSEN, Henry C., Comentários Sobre Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América, 1974;

4. DUMÊT, Eliana Bittencourt; SHINYASHIKI, Roberto T., Amar Pode Dar Certo, ISBN 85-85247-02-9, 109ª edição, Editora Gente, 172 páginas, São Paulo, 1998;

5. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural limitada., 320 páginas, São Paulo, 2005;

6. MCGRAW, Phillip C., Estratégias de Vida, Fazendo o que dá Certo, Fazendo o que Importa, título original: Life Strategies, tradução: Max Altman, ISBN 85-87122-04-5, segunda edição, Editora Alegro, 262 páginas, São Paulo, 1999;

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Ativando o Maçom

Ser tolerante com equilíbrio e espírito de justiça.

Charles Evaldo Boller


Para tornar-se ativo, o maçom é levado a descobrir, em sua evolução, que devido à característica humana inclinada ao que mais desperta prazer imediato, revela a necessidade de permanente vigilância em todos os relacionamentos com outras pessoas, e, principalmente, sobre si mesmo, onde vícios e paixões desvirtuam bons princípios.

A ordem maçônica mostra caminhos para transformar o maçom em um homem equilibrado e justo. O instrui para que se afaste de inclinação natural de ser justiceiro, de usar da força para eliminar os que, de alguma forma, não concordam com suas ideias, crenças ou posturas. Pelo estudo é incentivado a exercitar a tolerância em doses proporcionais e condicionadas a cada caso e circunstância. Com isto, não exerce o ímpeto da vingança, mas atrela-se aos ditames das leis vigentes em cada fase histórica. A vingança é observada como a tendência do aspecto selvagem, da incapacidade de raciocinar com equilíbrio para desenvolver critérios que resultem em desenvolver, nas pessoas, princípios morais sem destruí-las, sem ter que matá-las. A vingança sempre foi observada como algo até pior que o mal cometido pelo criminoso, e que só a tolerância, mesmo que esta não exista em termos absolutos, ativa o maçom a conviver em paz e obter melhores resultados em seus empreendimentos.

Em sua jornada educacional com respeito à justiça, o iniciado é levado a observar que a mesma deve ser espalhada sobre todos os cidadãos, sejam eles justos ou injustos, independentemente de sua condição social, cor da pele, religião ou política. A ação da justiça recompensa o bom e pune o mau. Todo crime é punido e o castigo para o criminoso é certo. Caso contrário, aumenta a sensação de impunidade, os níveis de violência e da desobediência civil. Eliminar o perjuro é intolerância, mas é a única forma de justificar a própria existência da tolerância, devidamente limitada por princípios morais, demonstrando que o mal não reina e é devidamente castigado pela justiça.

Outra faceta que é traduzida das simbologias e estórias contadas é a de que o maçom deve comportar-se qual cavaleiro ao defender os oprimidos dos abusos dos opressores. Os instrumentos espalhados nas oficinas maçônicas transmitem a postura dos cavaleiros medievais, inspirando a conduta na retidão da régua, perfeitamente reta e equilibrada como um esquadro, enérgica, forte, dura e firme como o malho. A dureza do malho é a intolerância contra o mal. É a Justiça aplicada conforme orienta a retidão do esquadro e da régua. O fato de desenvolver princípios morais com o uso de seus instrumentos e ferramentas leva àquele assim educado a nunca tomar a justiça em suas próprias mãos, e, em hipótese alguma incentivar ou mobilizar-se para a vingança. Isto significa que o malfeitor será caçado e destruído, excluído da sociedade. É a intolerância contra o mal de que a Justiça deve cuidar.

O maçom está devidamente ativado quando usa da tolerância com equilíbrio e espírito de justiça.

As Colunas Booz e Jaquim

 A promoção do maçom ao passar de uma coluna para a outra.

Charles Evaldo Boller


Salomão mandou chamar Hiram de Tiro, filho de uma viúva da tribo de Neftali e cujo pai era natural de Tiro e trabalhava em bronze. Era dotado de grande habilidade, talento e inteligência para executar qualquer trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus trabalhos. Fundiu duas colunas de bronze; a altura era de dezoito côvados (8,23m) e sua circunferência media-se com um fio de doze côvados (perímetro de 5,49m = diâmetro de 1,75m); assim também era a segunda coluna. Fez dois capitéis de bronze fundido, colocando-os no topo das colunas; um capitel tinha cinco côvados (2,29m) de altura e a altura do outro era a mesma. Fabricou duas redes para cobrir os dois colos dos capitéis que encimavam as colunas, uma rede para cada capitel. Fez as romãs; havia duas fileiras de romãs em torno de cada rede, quatrocentas ao todo, aplicadas no centro que ficava por detrás das redes; havia duzentas romãs em torno de um capitel, e o mesmo número em torno do outro. Os capitéis que encimavam as colunas eram em forma de flores. Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual deu o nome de Iaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou-a Booz. Assim ficou pronto o serviço das colunas. I Reis 7:13-22.

O significado simbólico maçônico das duas colunas é controverso e confuso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã. Em essência elas decoram e demarcam a entrada do templo, o portal do iniciado no caminho da luz, do conhecimento gradativo de seu eu, de seu interior, do seu templo, da sua espiritualidade.

Pesquisando diversos autores maçônicos respeitados, eles também têm inúmeras explicações que conduzem a um intrincado labirinto de justificativas onde algumas delas são baseadas em postulações herméticas já provadas ocas, tão vazias como o próprio interior das colunas.

Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta de entrada para o conhecimento, desconsideradas as características que lhe desejam debitar os que defendem interpretações místicas, alquímicas e mágicas, as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do templo. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, e é importante, de um lado o mundo profano e do outro o templo, a representação de algo maior, que o iniciado vai garimpar com suas bateias mentais dentro de si mesmo.

Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas especulações dos livres pensadores e nada disso deve configurar verdade absoluta, final. Cada elemento da composição artística do símbolo está aberto para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada maçom. Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e impor uma ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que decoram a entrada do templo, o seu próprio templo. Ademais, o obreiro é quem mais conhece daquele corpo, daquele templo, pois o usa como receptáculo de seu próprio sopro de vida.

Para as lojas, como as do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde as colunas Booz e Jaquim estão locadas dentro do templo, no extremo Ocidente, cerca de 1,5m da porta, onde existe este espaço, sua locação é comumente confundida com as colunas Norte e sul. A interpretação mais usual da ação de ficar entre colunas é considerado postar-se entre as colunas Booz e Jaquim, e isto é interpretação incorreta da ritualística. Ficar entre colunas é postar-se entre as colunas Norte e sul, entre irmãos, entre pessoas de carne e ossos, sobre uma linha imaginária que une o altar do primeiro vigilante com o do segundo vigilante e no local onde cruza com o eixo longitudinal do templo. Ali o obreiro tem a certeza que não será interrompido em sua oratória e seus irmãos têm certeza que tudo o que for dito é a verdade da ótica daquele que fala, pois uma mentira ali tem graves consequências. Estar locado entre colunas, entre irmãos, obriga o obreiro a responder todas as perguntas que lhe forem dirigidas com sinceridade, sem omissão, sem reserva mental.

Estarem as colunas no átrio, ou dentro do templo seria indiferente, não fosse o propósito ao qual servem. Podem ser levantadas especulações as mais diversas. Por questão de coerência com a bíblia judaico-cristã elas poderiam ficar fora do templo, mas elas podem estar locadas dentro do templo porque todos os objetos e elementos decorativos em uma loja no Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade educacional. Participam dinamicamente da metodologia para ensinar aos obreiros as verdades necessárias para sua escalada na construção de uma sociedade justa e com homens aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo. Colocar as colunas Booz e Jaquim fora da vista não faz sentido, considerando sua utilização como instrumentos de trabalho, as ferramentas devem estar a vista dos estudantes, dos obreiros, que trabalham na pedra bruta. Principalmente se na parte oca das colunas Booz e Jaquim estão guardadas as outras ferramentas de trabalho.

As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm significado simbólico, são parte da lenda materializada como método propedêutico, como introdução ao caminho que cada maçom deve encetar para entender o que a filosofia da Maçonaria deseja incutir em sua mente. As colunas fazem parte da ficção inventada ao redor da vida de Hiram Abif e transmitem conceitos profundos de moral e ética até para pessoas sem formação escolar básica, que não têm vivência com o abstrato. Com isto a Maçonaria transmite conceitos filosóficos profundos para qualquer pessoa, independentemente de sua formação secular. É o princípio da igualdade em ação. É o conhecimento que propicia a liberdade para todos e independente de formação ou berço. O resultado é a geração de uma sociedade onde a fraternidade é de fato praticada indistintamente por todos os seus membros.

Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé, acreditar no inexistente; este não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com veemência. Reportar-se às colunas Booz e Jaquim fora de vista seria o mesmo que dizer: - Acredite, elas existem lá fora! Ou ainda: - Irmão aprendiz vá lá fora buscar maço e cinzel para trabalho na pedra bruta. Todas as ferramentas devem estar dentro do templo depois que a loja estiver aberta. Ninguém sai ou entra no templo sem uma razão muito forte depois que os trabalhos começaram. Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua existência em algo assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus fiéis para forçá-los a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem lógica, ou realmente são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela informa claramente, explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a materialização de uma ficção para fins exclusivamente educacionais.

Todos os símbolos usados pela pedagogia ritualística maçônica devem ficar ao alcance da vista para permitirem sua utilização material e propiciarem a partir disto a construção, a concepção de pensamentos abstratos sem adentrar na seara pantanosa dos dogmas, apresentando algo duvidoso como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar. No passado, quando não existia explicação para determinado fenômeno, creditava-se este a influências misteriosas e mágicas, o mesmo ocorre com um símbolo fora da vista em qualquer era. Os homens são limitados.

Na escola primária, na fase concreta dos métodos de ensino, os conceitos abstratos são transmitidos via materialização, por exemplo: como explicar o zero para uma criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois subtrai-se estes da visão, ficando o nada, definindo o vazio; gravando na mente o conceito de zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa primeira instância; depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se encarrega de completar o que fica invisível aos olhos.

Ao passar pelas colunas Booz e Jaquim o obreiro entra na oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à luz, a sabedoria necessária para burilar a pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma linda e bem formada pedra cúbica polida, que honra o Grande Arquiteto do Universo e que toma seu lugar de destaque na sociedade humana.


Bibliografia

1. BENOÎT, Pierre; VAUX, Roland de, A Bíblia de Jerusalém, título original: La Sainte Bible, tradução: Samuel Martins Barbosa, primeira edição, Edições Paulinas, 1663 páginas, São Paulo, 1973;

2. BLAVATSKY, Helena Petrovna, Glossário Teosófico, título original: The Theosophical Glossary, tradução: Sílvia Sarzana, ISBN 85-7187-071-3, terceira edição, Editora Grund limitada., 777 páginas, São Paulo, 1995;

3. BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Segundo as Regras da Simbólica Esotérica e Tradicional, título original: La Symbolique Maçonnique, tradução: Frederico Ozanam Pessoa de Barros, ISBN 85-315-0625-5, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 400 páginas, São Paulo, 1979;

4. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;

5. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;

6. GHEERBRANT, Alain; CHEVALIER, Jean, Dicionário de Símbolos, Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores, Números, título original: Dictionaire des Symboles, tradução: Vera da Costa e Silva, ISBN 85-03-00257-4, 20ª edição, José Olympio Editora, 996 páginas, Rio de Janeiro, 1982;

7. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 308 páginas, São Paulo, 2003;

8. MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e la Concretezza, tradução: Gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Altar Maçônico

Porque existe um altar no templo da loja?

Charles Evaldo Boller


Nas diversas religiões, altares é lugar de sacrifício, expiação e comunhão com a divindade. Altares são normalmente encontrados em lugares sagrados, como santuários, templos e igrejas. Todas as grandes religiões como cristianismo, judaísmo, Budismo, hinduísmo, Xintoísmo, Taoísmo etc. Têm altares. Historicamente, um altar é um lugar elevado, pedestal ou estrutura ante aos quais são realizadas cerimônias religiosas ou sacrifícios são oferecidos a deuses. Tanto o altar como seus utensílios são considerados sagrados, e os sacerdotes usam coletes e lavam as mãos antes de tocá-los. Mesmo ao remover cinzas dele. As escrituras hebraicas e cristãs registram que os homens erigiram altares ao deus Jeová. O próprio Deus Jeová ordenara a construção de altares em diversas passagens das escrituras hebraicas e gregas. Naquelas ocasiões Jeová especificou o material, o tamanho e as ferramentas que poderiam ser utilizadas em sua construção.

O altar maçônico dentro de uma loja maçônica, sobre o qual repousa o livro da lei, é símbolo de lugar sagrado. Não tem a conotação das religiões: serve apenas como referência moral aceita por todos os irmãos que participam da sessão. Maçons cristãos usam a Bíblia Judaico-cristã, maçons judeus usam a Torá; pode ser qualquer livro símbolo que represente os valores morais respeitados pelos presentes. O lugar sagrado onde está o altar em loja maçônica não é local onde se faz presente o deus de cada um, apenas refere-se aos princípios morais exarados daquele código que repousa no altar. Se deus estivesse presente admitir-se-ia que a Maçonaria é religião; e isto ela não é! Maçonaria NÃO é religião.


Porque o local é sagrado?

Porque representa o interior do homem; tudo representa o homem dentro de um templo maçônico. O templo é o próprio homem que se oferece ao Grande Arquiteto do Universo; à grande obra de construção. O conteúdo do altar representa aquilo que cada presente aceita como o mais sagrado de si próprio; seu espírito ou sopro de vida; que alguns denominam alma.


Adora-se o homem dentro de um templo maçônico?

De forma alguma! O templo maçônico não é local de adoração, à semelhança de uma igreja. É o local sagrado onde o homem se lapida qual pedra. Simbolicamente ele é uma pedra. O objetivo do maçom é polir a pedra até que venha a refletir a luz que vem do Grande Arquiteto do Universo. A Iluminação chega a um ponto em que a pedra, que é o maçom, passa a emitir luz. Polidez significa erudição, conhecimento, comportamento adequado. O maçom é um homem que se poliu dentro do templo; adquiriu conhecimento que o arma de recursos para combater o obscurantismo e a escravidão na sociedade onde está imerso.

O altar maçônico dentro da loja maçônica representa simbolicamente a santidade do altar de incensos dentro do Santo dos Santos ou Sanctum Sanctorum, no templo do rei Salomão.

Na busca para comunicar-se com o Criador, mesmo sem possuir altar maçônico, o maçom busca ser agradável aos olhos do Grande Arquiteto do Universo e, portanto, digno como homem para receber suas bênçãos. Neste aspecto o maçom efetua religação com a divindade sem efetuar nenhum cerimonial de adoração no local. O ritual maçônico é diferente dos dogmas das igrejas, assim como os dogmas tratados nos templos religiosos são diferentes uns dos outros. O desejo de colher a abundância das bênçãos de deuses é universal. O maçom não é exceção. Como cada um dos antepassados, o altar maçônico é simbólico da busca para comungar com o Criador. Não é local de oferta, muito menos de sacrifícios.


Altar Maçônico

Todos os altares, incluindo o altar maçônico são mesas do Senhor.

Altares das religiões são lugares sobre os quais são oferecidos sacrifício, expiação e comunhão reverente para a divindade. O altar maçônico é apenas símbolo da comunhão reverente ante o Grande Arquiteto do Universo, o Olho que Tudo Vê.

Anexo a ele, o incenso é símbolo das orações de comunhão levantados ao Grande Arquiteto do Universo, sem Lhe prestar culto ou ato de adoração.

Alegria de Mestre Maçom

Consideração ideal ressaltando o que motiva o mestre maçom em sua arte de facilitador de treinamento em loja.

Charles Evaldo Boller


O mestre maçom tem compromisso fundamental para com a Humanidade: servir como facilitador ao crescimento de seus irmãos.

Esta séria responsabilidade faz dele multiplicador dos fundamentos que a ordem maçônica pretende com toda a sua estrutura filosófica voltada para a evolução humana. A grande alegria do mestre maçom está ligada diretamente à sua consciência de concorrer para o objetivo comum, com as perspectivas de desenvolvimento permanente dos que estão ao seu lado, em loja.

O ânimo do mestre maçom é resultado de trabalho entusiástico junto a seus irmãos, onde aplica critérios para obter a Verdade que alimenta necessidades metafísicas, com vistas a progredir em sentido lato. Sempre disposto a ouvir mais que falar, sua mente encontra-se aberta para escutar novas e inusitadas propostas filosóficas de seus pares. Está consciente que a sociedade humana carece de novas ideias para orientar-se, e que ele e seus irmãos têm a possibilidade de desenvolverem pensamentos de novas e inusitadas ideias para a evolução humana.

Em loja o mestre maçom desenha ideias na prancha de traçar, de onde podem eclodir novas propostas intelectuais depois de submetidas ao crivo da razão. Nessa linha ele se confronta com argumentações diversas, o que anima o ambiente de forma lúdica. Em loja questiona-se tudo para propiciar a obtenção de novos horizontes na iluminação dos sentidos e da razão no objetivo de elucidar o porquê da existência do Universo e do seu papel nesse drama cósmico.

O mestre maçom não é professor.

Tem o dever de ensinar fazendo os outros pensarem. O modelo vem de Sócrates e sua maiêutica, onde ele efetuava perguntas e provocações verbais de modo a induzir aquele que com ele conversava a descobrir, pela razão, a sua própria verdade adormecida na mente. O objetivo era apenas despertar as ideias ou, como afirmava o sábio, "parir" novos pensamentos. O uso da técnica socrática fica evidente numa das definições do Rito Escocês Antigo e Aceito, quando este é descrito como um sistema de numerosos graus, dentro do qual o ensino é permanente, não pelas palavras do presidente ou do orador, mas principalmente pelo trabalho intelectual árduo desenvolvido pelo adepto. O mestre maçom é apenas o facilitador que assiste ao "parto" das novas ideias.

A partir dessa base o adepto precisa saber o motivo que o leva a aprender alguma coisa e qual o ganho pessoal que advirá desse esforço. O maçom em processo evolutivo justifica o esforço em aprender quando o assunto liga-se a situações reais do cotidiano. Fica mais interessado em obter Conhecimento se o aprendizado trata de valores intrínsecos de autoestima, desenvolvimento pessoal e possibilidade de melhoria da qualidade de vida. Sócrates discutia em diálogos, os mestres maçons o fazem em grupo, em loja, o que potencializa os resultados e o interesse em pensar com liberdade. Usam dicotomias para encontrar soluções práticas que permitam aos presentes melhorarem como pessoa. Assim, em múltiplas fases de tese, antítese e síntese desenvolvidas em loja o método é exemplo aperfeiçoado de ensino que, inclusive, serve de exemplo para as instituições de ensino superior e de adultos na sociedade.

Não é método pedagógico onde o treinando não participa da construção do currículo nem da formação do conteúdo, portanto passivo, mas usa de técnica que ensina e estimula o obreiro a pensar com discernimento e em assunto do seu interesse, com conteúdo, nível e ritmo ditado pelos próprios participantes da sessão. O facilitador fornece o tema e orienta os trabalhos sem participar dos debates nem apoiar um dos lados, preferencialmente deixa os presentes conduzirem o assunto e só atua para trazer o assunto de volta ao tema em casos de desvios. O facilitador pode ser qualquer mestre maçom da loja, não necessariamente luzes ou dignidades.

O mestre maçom é facilitador por excelência para transmitir e adquirir conhecimentos numa via de mão dupla onde o facilitador e os presentes numa sessão transmitem conhecimentos uns para os outros. Em sentido lato o sistema ensina basicamente a viver bem e de acordo com valores e princípios de disciplina e moralidade elevadas. O maçom evoluído dentro desse sistema ensina a desfrutar a vida em equilíbrio com a Natureza onde ele acaba por viver em harmonia dentro da sociedade o que retorna para ele de diversas formas positivas.

A grande alegria do mestre maçom facilitador é a sua probabilidade de encaminhar outros para a plenitude humanitária: aquela que treina a consciência apurada enquanto pessoa. Isso não é possível se o maçom não colocar o espírito acima da matéria, o que constitui um dos princípios basilares do aprendizado e da vida: sem isso o método não funciona. A espiritualidade proporciona a paz dentro do homem e conduz à prática de Justiça, prudência e serenidade que levam o adepto a viver sua liberdade conquistada.

Essa liberdade é incutida no maçom desde seus primeiros passos na cerimônia de iniciação, ocasião em que, de cego conduzido passa a obter visão para combater sua heteronomia, caracterizada pelo medo de tomar conta da própria vida ou falta de coragem de livrar-se da imposição da vontade de outrem. Quando finalmente vê a Luz ele passa a cultivar o valor da autonomia. Assim, ele obtém orientação para livrar-se do materialismo que leva o cidadão a se escravizar por objetos, vícios degradantes, apego ao brilho de joias e desejos que conspurcam o magnífico templo que é seu corpo em todas as suas dimensões. Dessa forma o mestre maçom distingue-se dos demais cidadãos, o que pode durar pelo resto de seus dias de multiplicador de laços de amor. Ele entende a lição onde aquele que ama a instrução também ama o Conhecimento.

O amor dá ênfase de viver os dias em equilíbrio com a Natureza. Nessa liberdade que convive com outras liberdades: metafísica, política, moral, econômica e outras, o mestre maçom obtém alegria ao desfrutar da liberdade como possibilidade, onde ele pode decidir-se por caminhos diferentes que conduzem ao mesmo fim e a tornar-se livre em sentido lato. A liberdade é para o maçom uma questão de escolha por motivação orientada para o bem. Não se trata de autodeterminação absoluta, de tudo ou nada, mas de problemas onde ele é chamado a decidir a medida, a condição ou qual o caminho seguir para garantir liberdade continuada. Algo que pode ser considerado causa em si mesma e garantida dentro de certas possibilidades que aumentam conforme treina e especializa as percepções sutis com o desenvolvimento equilibrado de racionalidade e espiritualidade.

Desperta a alegria que nutre a satisfação de estar vivo, mesmo que debaixo do perigoso sistema de coisas que o homem inventou para seu próprio prejuízo. A liberdade desperta a alegria que leva o mestre maçom a desempenhar seu ofício apenas pelo prazer de abrir novos e inusitados caminhos, marcado por possibilidades, haja vista o estado progressivamente selvagem da sociedade que o cerca. Surge a Fraternidade, o ambiente repleto de afeto que o leva a propósitos acertados e conduzidos por consciência treinada no convívio com outros maçons. O ambiente de confiança cria um espaço energeticamente positivo ao fortalecimento espiritual, disciplinado, erudito onde o mestre maçom não tem compromisso com o erro e abre sua mente para despejar seus pensamentos ao grupo. Não existe o medo de passar vergonha diante dos outros porque vigora a tolerância ao seu pensamento.

O alimento para a alegria do mestre maçom facilitador vem da satisfação de ver seus irmãos usufruindo da vida pela aprendizagem que faz sentido para o bem viver, onde a razão leva à compreensão do sentido da vida. O maçom evolui e a sociedade progride, sai da progressiva barbárie em andamento.

O mestre maçom facilitador alegra-se ao ver o irmão crescer de todas as formas e se fortalece para avançar pela estrada das virtudes por seus próprios méritos. Ele entende que o maçom em evolução, depois que lhe foi dada a luz, é responsável para dirigir seus passos e tomar decisões na sua vida. Desta forma o homem estudioso conquista para si o tratamento que lhe permite ser visto pelos outros com respeito e afirma o quanto é autônomo e capaz de dirigir-se através de seu próprio discernimento.

A alegria do facilitador fundamenta-se essencialmente no crescimento que ele pode levar ao seu irmão e onde o Conhecimento se torna rocha e fortaleza. É impossível de retratar para aquele que ainda não experimentou em si mesmo a felicidade de ver o outro evoluir com ética, envolvido e comprometido em cuidados para si mesmo, sua família e a sociedade. É indescritível o júbilo resultante daquilo que a ação propicia ao fazer outros responderem com estudo e criatividade para as demandas de um mundo em permanente mudança. Heráclito argumentou que "tudo se move", "tudo escorre", "nada permanece imóvel e fixo", "tudo muda e se transmuta", até mesmo a rocha é fluída em seu tempo relativo, quanto mais o pensamento do homem. O mundo muda constantemente e o homem treinado tem mais chance de sobreviver com qualidade mesmo se o ambiente é hostil ao cidadão honesto e correto. Pela experiência da felicidade que promove para os outros o facilitador vai se desconstruindo e reconstruindo constantemente: seu pensamento possui a fluidez do átomo e a tenacidade do aço.

A Maçonaria "empurra" o maçom a encontrar recursos dentro de si mesmo onde absorveu o Conhecimento que o torna versátil e engenhoso para escapar às armadilhas do sistema humano. Ao observar o panorama ao seu redor, decorrente de seu sucesso, o facilitador sente prazer em conhecer o sentido da vida porque está munido com o escudo analítico e a espada da crítica. Sua alegria é resultado do fato de garantir seu futuro apoiado na garantia de haver propiciado futuro melhor para outros. Essa consciência o faz servir a humanidade enquanto serve sua própria vida.

A Maçonaria tem por alvo a ação moral dentro da meta de cada adepto manter-se livre e de bons costumes. Os temas que debatem em loja estão usualmente ligados com a vida criada pelo Grande Arquiteto do Universo. Assuntos que não despertam interesse são evitados para não perder tempo. Se o mestre maçom facilitador não simplifica o entendimento de seu irmão com sua própria alma é certo que aquele que recebe a instrução não o fará com entusiasmo. Conhecimento que não desperta interesse de nada serve!

O estudo sério e sereno tem necessidade de alegrar quem participa do processo de aprendizagem. Convém usar de metodologia e didática que ressaltem a formação ética e despertem valores adormecidos dentro do maçom em evolução. A sociedade, infelizmente, a todos condiciona para servirem quais escravos. O conhecimento desenvolvido em grupo, em loja, desenvolve-se porque oportuniza e cria o ambiente apropriado para lidar com questões de valores que servem para a vida e desenvolvimento de competências às quais se atribui valor. Principalmente valores que permitem ao adepto tomar conta de sua vida como pessoa livre, com qualidade, e repleta de reais valores humanos.

O ambiente de estudo é sério, mas também lúdico e agradável, anima a assimilação de conteúdos e facilita a compreensão e o estudo. O facilitador fica extasiado quando obtém sucesso em passar Conhecimento que seja colocado logo em prática e facilita a vida dos irmãos. Principalmente se os resultados venham em resultado do despertar moral que conduz a progresso espiritual e material.

A experiência de vida do maçom em crescimento é base do aprendizado. Todos os maçons possuem inteligência e desenvoltura que precisa ser compartilhada. Disso o facilitador se aproveita para obter das diferenças individuais a dinâmica de grupo que possibilita o treinamento eficiente e lúdico de onde vem o sucesso dos irmãos e constitui o grande prêmio do facilitador! Dá-lhe significado à vida e trabalho dentro do objetivo político-social da Maçonaria. Valoriza seu trabalho assumido como missão e vocação. O resultado prático é para o facilitador uma massagem para a alma e regozijo ao coração. É a sua forma de alegrar-se porque cresce a possibilidade de contribuir para a edificação de sociedade melhor e justa. Tirar o homem selvagem da barbárie de uma sociedade em progressiva degradação e conduzi-lo a um estado evoluído é sublime, pois vai ao encontro dos desígnios do Grande Arquiteto do Universo.

O maçom aprende melhor quando os conceitos e Conhecimentos em que está trabalhando estejam relacionados com alguma aplicação prática e que de alguma forma lhe sejam úteis. O facilitador se alegra quando o seu irmão melhora porque consegue aplicar o Conhecimento na prática, tornando-se mais humano e por suas qualidades se destaca na sociedade.

O facilitador motivado e alegre não dá aulas. Ele passa informações assimiláveis e práticas porque o maçom que estuda não é gravador ou máquina é um ser que pensa, processa informações. O dever do facilitador é contribuir com a formação do outro de modo que aquele possa tornar-se pessoa melhor. O maçom em formação apenas deseja saber, obter o Conhecimento com o qual possa trabalhar em seu ofício e de replicar esse mesmo Conhecimento para outros, funcionando assim como multiplicador de maravilhosa filosofia de vida.

Colocado em prática o Conhecimento conduz os irmãos a serem mais humanos. Predispõem ao desenvolvimento do ambiente fraterno onde se encontra o afeto que a sociedade não supre. Alimenta a convivência em paz e trato amistoso onde vigoram preceitos de tolerância aos seus pensamentos e crenças. Com isso desenvolve-se a única força no Universo capaz de resolver todos os problemas humanos: o Amor Fraterno.

A tolerância possibilita aceitar os outros irmãos assim como são e isso eleva a autoestima de todos os envolvidos no processo de desenvolvimento do Conhecimento. Tal ambiente especial desenvolve a confiança e a fé que responde ao desejo do facilitador elevar-se à plenitude de sua missão de ensinar. O facilitador alegre não aplica lições aos demais, apenas facilita a passagem daqueles que escalam os mesmos graus em direção ao Conhecimento que liberta. Sua grande lição é a alegria em deduzir que dessa lide toda o que ele mais aprende é conhecer a si mesmo para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Abertura do Livro da Lei

Pesquisa a respeito do procedimento ritualístico de abertura do livro da lei nas sessões maçônicas.

Charles Evaldo Boller


Razão para abrir o livro da lei

A abertura do livro da lei, no Rito Escocês Antigo e Aceito, em lojas onde prevalece a orientação cristã, em todas as circunstâncias e oportunidades, segue o pensamento de Albert Galatin Mackey (1807-1881). Nesse arrazoamento, a Bíblia Judaico-cristã nas lojas deveria permanecer sempre aberta, mesmo nos intervalos. Quando a loja é colocada em família para debates o conjunto deveria permanecer aberto e montado porque representa a influência da Grande Luz que ilumina os pensamentos. Só se desmontaria a cobertura do esquadro e do compasso, em presença de profanos e em intervalos de uma sessão e até isso pode ser considerado desnecessário, pois o símbolo composto é conhecido universalmente nos meios de comunicação e em diversas formas de mídia.

O temor de manter o livro da lei montado é compartilhado por minoria maçônica que apresenta como única justificativa a possibilidade remota de a Grande Loja Unida da Inglaterra deixar de reconhecer a obediência. Entretanto, essa mesma grande loja permite que suas atividades litúrgicas sejam filmadas e apresentadas na Internet e nestas o símbolo composto aparece em sua íntegra.

Paul Naudon (1915-2001), oferecendo sugestão para a solução das controvérsias suscitadas na França, escreve:

"O que conta, essencialmente, é a presença da Bíblia, mesmo fechada, como expressão da vontade revelada de Deus".

A Maçonaria anglo-saxônica exige que o livro da lei permaneça aberto e esteja coberto pelo esquadro e pelo compasso.

Albert Galatin Mackey (1807-1881) afirma que se trata de antigo uso da fraternidade que quer o livro da lei sempre aberto na loja. Como em tudo na Maçonaria, há nisto um simbolismo apropriado. O livro da lei é a grande luz da Maçonaria. Fechá-lo seria interceptar os raios da luz divina que dele emanam. Estando aberto indica que a loja não está nas trevas, mas sob a influência de um poder iluminativo; de uma emanação energética transcendental, divina.


Textos a Serem Lidos nos Diversos Graus

O livro da lei não está aberto a esmo. Para cada grau há passagens alusivas à finalidade do grau ou algum trecho do seu ritual, por isto o livro deve estar aberto naquelas passagens.

Usos maçônicos nem sempre são constantes e universais a respeito das passagens que devem ser lidas em cada grau.

Nos Estados Unidos da América, no primeiro grau, a bíblia judaico-cristã abre-se na eloquente descrição da beleza do amor fraternal, e, por esta razão, muito mais apropriada para ilustrar uma sociedade cuja existência depende daqueles nobres princípios.

"Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre." Salmos 133:1-3.

No segundo grau é feita alusão evidente ao prumo, emblema importante daquele grau:

"Mostrou-me também isto: eis que o Senhor estava sobre um muro levantado a prumo; e tinha um prumo na mão. O Senhor me disse: Que vês tu, Amós? Respondi: Um prumo. Então, me disse o Senhor: Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo de Israel; e jamais passarei por ele." Amós 7:7,8.

No terceiro grau a descrição da velhice e da morte é aplicada, apropriadamente, ao sagrado objetivo do grau:

"Melhor é a boa fama do que o unguento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento. Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato. Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade. Verdadeiramente, a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração." Eclesiastes 7:1-7.

No Brasil, as grandes lojas adotaram o sistema da Maçonaria Norte-americana, relativamente à abertura da bíblia e à leitura dos versículos apropriados a cada grau, o mesmo faz o Grande Oriente do Brasil. Nem sempre foi assim nos Estados Unidos da América. Outrora, a Bíblia Judaico-cristã era aberta em outras passagens como: Para primeiro grau, trata da divisão com outrem do que se possuir:

"Este era, outrora, o costume em Israel, quanto a resgates e permutas: o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro; assim se confirmava negócio em Israel." Rute 4:7.

Em Gênesis 28, que se refere à visão da Escada de Jacó:

"Partiu Jacó de Berseba e seguiu para Harã. Tendo chegado a certo lugar, ali passou a noite, pois já era sol-posto; tomou uma das pedras do lugar, fê-la seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. E sonhou: Eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Perto dele estava o Senhor e lhe disse: Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência. A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Eis que eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo que te hei referido." Gênesis 28:10-15.

Em Gênesis 22 onde é narrado o sacrifício de Isaac:

"Chegaram ao lugar que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele dispôs a lenha, amarrou Isaque, seu filho, e o deitou no altar, em cima da lenha; e, estendendo a mão, tomou o cutelo para imolar o filho. Mas do céu lhe bradou o Anjo do Senhor: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho. Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho." Gênesis 22:9-13.

Para o segundo grau, foi adotada a passagem de 2 Crônicas como uma alusão à igualdade:

"Levantou as colunas diante do templo, uma à direita, e outra à esquerda; a da direita, chamou-lhe Jaquim, a da esquerda, Boaz." 2 Crônicas 3:17.

E também em que há referência à escada em caracol e ao segundo andar do templo:

"São estes os seus nomes: Ben-Hur, nas montanhas de Efraim;" 1 Reis 4:8.

Para o terceiro grau, em que há referência à estrela de um Deus, que não é bastante compreensível:

"Apresentastes-me, vós, sacrifícios e ofertas de manjares no deserto por quarenta anos, ó casa de Israel? Sim, levastes Sicute, vosso rei, Quium, vossa imagem, e o vosso deus-estrela, que fizestes para vós mesmos." Amós 5:25,26.

Também:

"Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;" Eclesiastes 12:1; "e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu." Eclesiastes 12:7.

E também:

"E disse: Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus como tu, nos céus e na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti; que cumpriste para com teu servo Davi, meu pai, o que lhe prometeste; pessoalmente, o disseste e, pelo teu poder, o cumpriste, como hoje se vê. Agora, pois, ó Senhor, Deus de Israel, faze a teu servo Davi, meu pai, o que lhe declaraste, dizendo: Não te faltará sucessor diante de mim, que se assente no trono de Israel, contanto que teus filhos guardem o seu caminho, para andarem na lei diante de mim, como tu andaste. Agora, também, ó Senhor, Deus de Israel, cumpra-se a tua palavra que disseste a teu servo Davi. Mas, de fato, habitaria Deus com os homens na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei. Atenta, pois, para a oração de teu servo e para a sua súplica, ó Senhor, meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que faz o teu servo diante de ti. Para que os teus olhos estejam abertos dia e noite sobre esta casa, sobre este lugar, do qual disseste que o teu nome estaria ali; para ouvires a oração que o teu servo fizer neste lugar. Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo de Israel, quando orarem neste lugar; ouve do lugar da tua habitação, dos céus; ouve e perdoa." 2 Crônicas 6:14-21.

Na Inglaterra, a escolha é diferente, sendo, no primeiro grau:

"Este era, outrora, o costume em Israel, quanto a resgates e permutas: o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro; assim se confirmava negócio em Israel." Rute 4:7.

No segundo grau, Juízes que alude à atenção e astúcia:

"Foi o número dos que lamberam, levando a mão à boca, trezentos homens; e todo o restante do povo se abaixou de joelhos a beber a água." Juízes 7:6.

No terceiro grau 1 Reis se refere a Hiram:

"Enviou o rei Salomão mensageiros que de Tiro trouxessem Hirão. Era este filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro que trabalhava em bronze; Hirão era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência para fazer toda obra de bronze. Veio ter com o rei Salomão e fez toda a sua obra." 1 Reis 7:13,14.

Na França, algumas lojas abrem o livro da lei na primeira página do Evangelho de São João, considerado o Evangelho do Espírito, como o faziam antigamente. Várias lojas mesmo leem os primeiros versículos deste evangelho, quando da abertura dos trabalhos. Outras, porém, abrem o livro da lei em 1 Reis 6 ou em Crônicas 2 e 3, pelas alusões simbólicas que lá são feitas sobre a construção do Templo.

"A casa que o rei Salomão edificou ao Senhor era de sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura. O pórtico diante do templo da casa media vinte côvados no sentido da largura do Lugar Santo, contra dez de fundo. Para a casa, fez janelas de fasquias fixas superpostas. Contra a parede da casa, tanto do santuário como do Santo dos Santos, edificou andares ao redor e fez câmaras laterais ao redor. O andar de baixo tinha cinco côvados de largura, o do meio, seis, e o terceiro, sete; porque, pela parte de fora da casa em redor, fizera reentrâncias para que as vigas não fossem introduzidas nas paredes. Edificava-se a casa com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro se ouviu na casa quando a edificavam. A porta da câmara do meio do andar térreo estava ao lado Sul da casa, e por caracóis se subia ao segundo e, deste, ao terceiro. Assim, edificou a casa e a rematou, cobrindo-a com um tabuado de cedro. Os andares que edificou contra a casa toda eram de cinco côvados de altura, e os ligou com a casa com madeira de cedro." 1 Reis 6:2-10.

A definição de qual texto bíblico deve ser lido em cada grau do Rito Escocês Antigo e Aceito passou por evolução e adaptação ao longo do tempo. Assim como acontece com os rituais, leis e regulamentos de cada obediência todos sempre foram modificados. O conservador está inclinado a se utilizar dos textos mais antigos, o liberal é de opinião que tudo se modifica na linha do tempo e nada permanece igual, nem mesmo o rio, cujas águas passam por baixo da ponte: é sempre outro rio e são outras águas. No que diz respeito aos textos bíblicos que inspiram os trabalhos e têm sua leitura recomendada aplica-se o mesmo princípio: basta estudar sua história.

Todas as escrituras sagradas, em suas mais diversas vertentes ideológicas e religiosas, devem servir de inspiração ao diligente maçom que busca a Luz. Não apenas aqueles textos e versículos recomendados e aplicados na atividade do filosofar maçônico, mas todos os livros sábios dos quais verte a Luz da sabedoria são aplicáveis e possuem potencial de motivação para o bem. Nenhuma parte do livro da lei, independente de qual seja, deve ser excluído de leitura do estudioso maçom. Na interpretação de homens espiritualizados é recomendado que, mesmo em presença de compilações de livros elaboradas pelas mãos de homens, o pensamento, a energia sutil que os gerou possui a inspiração do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, ISBN 978-85-311-1134-1, Sociedade Bíblica do Brasil, 1268 páginas, Baruerí, 2009;

2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 414 páginas, São Paulo, 2001;

3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 143 páginas, Londrina, 2003;

4. COUTO, Sérgio Pereira, Dicionário Secreto da Maçonaria, Decifrando a Maçonaria, ISBN 85-99187-17-1, primeira edição, Universo dos Livros Limitada, 128 páginas, São Paulo, 2006;

5. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Limitada, 550 páginas, São Paulo, 1989;

6. GHEERBRANT, Alain; CHEVALIER, Jean, Dicionário de Símbolos, Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores, Números, título original: Dictionaire des Symboles, tradução: Vera da Costa e Silva, ISBN 85-03-00257-4, 20ª edição, José Olympio Editora, 996 páginas, Rio de Janeiro, 1982;

domingo, 8 de outubro de 2023

A Salvação do Homem Livre

Esperança na existência de uma razão para a vida.

Charles Evaldo Boller


O principal objetivo do maçom é causar seu próprio "nascimento", apreender a morrer para viver melhor: para isso ele filosofa. No Rito Escocês Antigo e Aceito ele encontra sentido existencial e obtém a sua "salvação", dependente da liberdade de pensar para "renascer". Nas suas ressureições simbólicas sucessivas ele efetua jornadas de autorrealização com alegria e envereda por sendas pacíficas que tornam a sua vida feliz. É à sua maneira de atingir o objetivo maçônico de tornar feliz a humanidade pelo amor.

O bem-estar e a felicidade não são seus únicos objetivos na vida de maçom, mas, principalmente, a liberdade como ideal e realização. A sua religião até o acalma em suas angústias existenciais ao pintar a morte com cores de ilusões, porém, isso é feito com a perda da liberdade de pensamento, preço que ele não está mais disposto a pagar. Por comodidade o crente pode até se ver suprido de serenidade, mas o preço a pagar é abandonar o uso da razão e dar lugar à fé cega. A fé raciocinada livra o maçom da submissão às religiões e ao domínio materialista das ciências e poderes estatais que, juntos, constituem um sistema de poder escravocrata. Ao filosofar, o maçom utiliza-se da arte da liberdade de pensar que revela sentido e razão de ser da vida. Levanta a possibilidade de construir o conhecimento de si mesmo com autoimagem e autoestima aceitáveis para enfrentar a angústia da morte. Em presença da certeza da finitude da vida e respectivas crises existenciais, os grandes avatares do pensamento universal, cujos pensamentos estão presentes ao longo da jornada maçônica no Rito Escocês Antigo e Aceito, são unânimes ao considerarem que as virtudes mais preciosas são liberdade de pensamento e amor fraterno.

O filosofar do maçom fica acima da crença. Não é questão de bem viver fora da religião, mas a busca de "salvação" alinhada à sua capacidade de livre-pensar as questões mais polêmicas que referenciem o universo imanente, apenas referente ao mundo, com componentes transcendentes, que se situam além da física, na metafísica. Não é tão somente a prática diária do bem pensar, possuir agudo espírito crítico, refletir sobre assuntos polêmicos e obter a autonomia individual, conforme inspira a cerimônia de iniciação. O maçom tem certezas relativas a respeito da possibilidade de haver uma forma de vida após a morte. Claro que não a mesma manifestação como a existência presente, mas plausível em termos energéticos, não interessando os detalhes ainda velados aos limitados sentidos humanos. A "salvação" ocorre em termos de serenidade na finitude da vida e isso resulta em liberdade.

Em suas reuniões filosóficas em todos os graus o maçom propicia frequentes oportunidades de convivência sem conflitos, onde investe em alvos necessários e em equilíbrio com a Natureza. Obtém a liberdade para se sentir exclusivo sem se alienar ao vil e massificador sistema humano. Supre sua necessidade de relacionamento social e sente-se em união com outros. Ao livra-se de paixões e vícios vence a sua angústia existencial ao entender a função da filosofia maçônica e respectiva doutrina acima de simples definições de comportamento moral.

Todas as filosofias caminham no sentido de promover a "salvação" do homem do sofrimento em vida, preocupado com a morte ou da solidão eterna.

A filosofia maçônica acena com a esperança numa vida futura sem detalhar como isso se dará.

Não é esperança no "não visto", mas a certeza racional do homem livre que deduz que a sua vida tem uma justificativa de ser.