Charles Evaldo Boller
Considerações filosóficas e ritualísticas do uso de indumentária própria e uniforme pelo maçom.
Porque todos iguais?
Não é muito mais bonita a variedade?
Qualquer observador que olhe a natureza e sua diversidade concluirá que nela reina o caos. E é de fato uma confusão de sistemas que se interconectam em redes, e de tal maneira que tudo na biosfera da Terra está intimamente interligada pulsando vida. A entropia pode ser tomada como uma espécie avaliação desta desordem. Mas ao atentar para o detalhe de cada um destes sistemas que se interligam, chega-se a conclusão que existe uma forte tendência à padronização. Existe na natureza uma substancial orientação de tudo evoluir de um estado de desordem para a ordem e em graus de complexidade sempre crescentes. Senão, como seria possível reproduzir um ser humano a partir do código genético de seus genitores? Isto exige uma forte e inflexível tendência à padronização. Sem a replicação baseada em padrões a concepção de vida é impossível. Se a natureza é baseada em padrões, porque não aplicar tão sábio discernimento à maneira como cada conjunto de obreiros se apresenta? A natureza levou bilhões de anos para determinar os padrões existentes em todo o Universo, então porque não copiar simplesmente aquilo que funciona? Porque não definir um padrão de vestimenta para ser usado em loja? Cada potência maçônica define um padrão mínimo de uniformidade da indumentária, mas cada loja é independente em determinar qual sua opção de vestimenta, ao menos em decidir se adota balandrau, terno, ou ambos.
Em se tratando de uma instituição disciplinada e ordeira é importante o uniforme, entretanto, o mais importante é o comportamento de cada um dentro da roupa que veste. Se existem aqueles que desejam mudar a vestimenta por baixo do avental para padrões mais modernos e adaptados ao clima de região equatorial ou tropical, que os impede? Mas ao mudar, deve ser roupa que valorize o que significa o avental. O propósito do avental como insígnia do trabalho induz seu portador a agir e ouvir mais que falar, além de distintivo de honra e tem outras razões de existir.
Um uniforme faz referência a um traje especial usado por alguém que pertence a uma organização ou que faz parte de algum movimento. O maçom pode ser reconhecido pela sociedade através da vestimenta, e esta distinção se faz por uma nova personalidade baseada em: humildade mental, longanimidade, benignidade, a mais profunda compaixão, e acima de tudo pela prática do amor, do magnífico amor fraternal que desenvolve junto com seus companheiros de trabalho, e que eles sabem ser a única solução para todos os problemas da humanidade.
O uniforme é a representação simbólica da sociedade igualitária de que fazem parte, bem como das características que o novo homem maçom irradia. Partindo do princípio que nem balandrau nem o traje a rigor são trajes maçônicos, conclui-se que estes servem apenas para identificar que aquele cidadão vestido de preto faz parte de uma sociedade igualitária e distinta da humanidade.
O uniforme do maçom é o avental, mas por uma questão de dignificação de sua atuação na sociedade e em si mesmo, deve usar sempre da melhor vestimenta como complemento. Sempre é noite de gala, sessão magna, depende apenas do que cada um acha de sua atividade no burilar da pedra bruta. Como o trabalhar em si mesmo é uma tarefa sublime e sagrada porque não representar e dignificar tal tarefa com indumentária a altura desta ação.
Nascemos nus e nada mais necessitamos para cobrir nosso corpo que seja diferente de nossa pele, entretanto, os códigos de convivência exigem o cumprimento de aspectos de etiqueta que dignificam cada ação de nossa vida. Não comparecemos mal trajados numa cerimônia de casamento ou em outra ocasião magna. Se o fato de trabalhar em si mesmo tem a importância de uma ocasião magna, então há necessidade de trajar-se para ocasião de festa. Maçom que se preza usa sempre o traje a rigor porque sempre está burilando o que existe de mais sagrado para ele mesmo - o seu templo interior. E do brilho resultante do homem integral glorifica-se a obra do Grande Arquiteto do Universo.
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