segunda-feira, 18 de setembro de 2023

É Possível Definir a Maçonaria?

Revelando um pouco do que é a Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


Encontram-se na literatura diversos tipos e níveis de definições para o que é Maçonaria. Algumas se prendendo a aspectos formais de sua estrutura, organização e objetivos pragmáticos, outras realçando sua dimensão jurídica e institucional, e também as que se ocupam mais estritamente de sua dimensão transcendental, filosófica e iniciática.

Em sentido lato a Maçonaria é escola de deveres, formação cívica e moral, embora sejam resultados inerentes e recorrentes da ação maçonicamente orientada para ajudar a atingir a perfeição da sociedade humana na arquitetura do Universo.

É ciência que objetiva a busca da verdade divina e material, instituição cujo fim é dispersar a ignorância, combater o vício e inspirar amor fraterno à humanidade.

É instituição essencialmente filosófica e também filantrópica  e progressista.

Seus membros acreditam em Deus, na imortalidade da alma, praticam virtudes, estudam moral, ética, ciências e artes.

Altamente espiritualizada.

Não é religião.

Em suas salas de reuniões, denominadas templos, aprende-se a investigar a verdade como fonte de ação transformadora do mundo através da atividade consciente e racional dos homens.

Um grande salto da inteligência humana, onde princípios iluministas e o conhecimento universal propiciam a convivência harmoniosa de pessoas das mais variadas religiões e facções políticas discutindo assuntos que auxiliam na estruturação da sociedade.

Como instituição busca e cultiva a verdade e a justiça pelas leis do amor, porque é de sua base filosófica que só o amor fraterno é capaz de transformar os homens e o mundo: de movê-los de forma justa e perfeita.

Maçonaria é essencialmente uma fraternidade universal. Para tanto, os homens desejados em seus quadros de pessoal são aqueles que são pacíficos, mas não subservientes. Devem ser livres, principalmente no pensamento.

Para desenvolver o amor fraterno, algo que tem mais possibilidade de existir entre pessoas de uma família, o maçom trata o companheiro como irmão: caminho encontrado para derrubar as barreiras agressivas da sociedade competitiva e cruel. Maçom é pontífice, construtor de pontes que vencem os abismos que separam os homens. Em seu meio o maçom desenvolve uma sociedade igualitária mesmo na presença das desigualdades.

O comportamento ético e moral do maçom, assim como suas atividades operativas são limitados pelo nível de conhecimento que detém e do comprometimento individual com sua ação na sociedade. Não raro encontram-se pessoas sem formação acadêmica alguma praticando a Maçonaria. O fato de possuírem apenas instrução elementar não limita seu desenvolvimento na ordem maçônica: existem inúmeros exemplos de pessoas que se destacam como possuidores de inata capacidade de liderar e elevada sabedoria decorrente da convivência e esforço em melhorar-se.

Viver a Maçonaria implica em vida abnegada prazerosamente ao estudo. Sem polir-se nenhum iniciado maçom integra com garbo a construção do suposto templo universal: a sociedade onde ele vive e onde é simbolicamente pedra angular desta edificação. Maçom que não estuda e lê, não progride. Para ele seria mais inteligente e divertido frequentar um clube social que ocupar a cabeça com a resolução de problemas da humanidade.

A Maçonaria tem simbologia mística e segredos. Detém as espirais do conhecimento transcendental, de simbologia que enriquece a percepção a cada passo que se conquista na busca do conhecimento destes segredos. É simbologia hermética, fechada, esotérica, transcendental e infinita: quanto mais portas são abertas, outras tantas se apresentarão.

Não é secreta!

Apenas tem segredos como a atuação de qualquer categoria profissional ou empresa da sociedade. Para simplificar, basta citar que uma loja maçônica tem estatutos e regimentos legais regularmente inscritos em cartório de registro público de documentos.

As suas informações esotéricas apenas se revelam na medida em que o indivíduo torna-se merecedor deste conhecimento. Quando ele mesmo o descobre em si mesmo. Conforme se abrem coração e mente. Quando evolui no conhecimento do universo transcendental, do não visto e apenas percebido pelos sentidos.

Este processo não é passível de acesso senão ao iniciado que prossegue em sua jornada junto de outros iguais, frequentando todas as reuniões.

Isto demanda tempo!

Nestas reuniões o indivíduo é modificado pelo poder do grupo, da mesma forma como se manifesta este poder modificador desde os tempos das cavernas, quando a tribo reunia-se ao redor da fogueira. A convivência é a única forma de entender e aprender o significado da linguagem simbólica do maçom. Razão da inutilidade em ocultá-la porque ela nunca se revela sem a devida provocação. Não existe meio de ser revelada, menos ainda, de ser compreendida se a intuição não se originar do pensamento de outra pessoa. Os hipotéticos segredos são perceptíveis apenas por aquele a quem foi desvelado o "pórtico" que demarca o início do caminho, e que, depois, vive sua condição de iniciado perseverante e faz seu trabalho da melhor forma possível, malgrado as imperfeições, pelo resto de sua existência.

Metaforicamente, quem conhece os sinais e símbolos esotéricos da Maçonaria compreende a inutilidade de comunicá-los aos que não os conhecem: é experiência idiossincrática e transcendental. Cada iniciado apenas poderá sentir o que é capaz de suportar e compreender, alicerçado em seus próprios referenciais e limitações.

Livrarias disponibilizam livros que expõem os "segredos" mais íntimos da Maçonaria e, ainda assim, não revelam o conhecimento: alcançável apenas pela constante convivência.

Durante a efêmera vida, cada um só colhe o que planta: por isso é recomendado apenas plantar da semente boa. Não em qualquer solo, mas em terra boa e fértil, assim como o ensinam os grandes sábios da história da evolução do conhecimento universal.

A Maçonaria escolhe na sociedade aqueles que já possuem bons e fecundos terrenos de semeadura. Não acolhe pessoa que se submete em servir outra pessoa de forma humilhante, ovelha passível de se conduzir facilmente aos redis da escravidão. Os escolhidos portam mente desenvolvida, fraterna e independente. O maçom é resultado da heresia, da dúvida, da vontade de evoluir. Pessoas com tal característica têm dificuldade em se modificarem, e nisto encontra-se a grande máxima da Maçonaria: o amor fraterno. O fenômeno social oferece o meio de possibilitar ambiente certo para que o adepto modifique a si mesmo. Por mais obstinado que seja! Só assim existe possibilidade de solucionar os problemas da humanidade. A sociedade dos maçons visa Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Do equilíbrio destas, verte a oportunidade dele mudar a si mesmo, e de onde, propositalmente, surge a possibilidade de modificar a sociedade que o rodeia.

Da dúvida o maçom busca extrair a verdade. E como a verdade nem sempre é doce e afável, existem casos onde ela é o chicote que, em ação, é amargo, rude e áspero, daí a necessidade do aporte da disciplina e obediência assemelhada àquelas encontradas nas forças armadas. A base cultural maçônica sofreu forte influência dos hábitos e costume de antigas ordens da cavalaria. Deste constante treinamento de obediência o maçom torna-se bom líder na vida em sociedade, pois é de conhecimento geral que a civilização está sempre em perigo quando o direito de comandar é concedido àquele que nunca aprendeu a obedecer. Os líderes que nunca se saíram bem quando estiveram sob alguma autoridade tendem a ser rígidos, orgulhosos, sem noção, com tendência a exercer o poder de forma ilimitada e absoluta, e isto, a Maçonaria combate.

Na ordem maçônica a boa liderança é exercida por homens que buscam obter a compreensão do mundo em que vive o liderado. Isto porque todo trabalho é sempre realizado por líderes servidores. São voluntários que, submetidos à lei do amor, obedecem à lei escrita no papel e ao uso da razão. Isto cria ambiente pacífico para, da convivência saudável e fraterna, possibilitar que as pessoas se modifiquem para o bem. E como os homens sempre apresentam uma ou outra condição imperfeita, existe sempre a possibilidade de construção e reconstrução interna do maçom, o que aponta ao fato de a prática da Maçonaria nunca acabar.

Maçonaria abre caminhos. Hipotéticas "portas" invisíveis, apenas perceptíveis, dedutíveis, intuitivas. Os homens mais toscos e demasiadamente ambiciosos e vaidosos entendem este "abrir de portas" como o acesso a gabinetes de maçons colocados em cargos importantes na sociedade humana. Quem entra na Maçonaria para abrir este tipo de "portas", para fazer contatos importantes, ganhar dinheiro e influência de poder vai perder seu tempo e se decepcionar. Melhor que nem peça a sua iniciação.

É lógico que a maioria dos destacados maçons da sociedade possivelmente chegaram onde estão devido ao treinamento de liderança que desenvolveram com auxílio da metodologia da Maçonaria. Mas o esforço sempre foi deles próprios e não o resultado de barganha ou tráfico de influência. O maçom pertence a um grupo de homens de escol que tem alta possibilidade de sucesso em resultado de valores desenvolvidos ao longo de sua vida e possivelmente aprimorados na convivência maçônica.

Um maçom só defende ao outro quando for justo. Não existe qualquer acordo em defender àquele que fez algo ilegal, ou de facilitar acesso a cargo para o qual não tem qualificação.

O "abrir de portas" está estreitamente ligado à evolução da pessoa humana, eliminação da ignorância, do inculto, da aspereza, na formação de vínculos de amizade profunda com outros seres. Aí sim, abrem-se portas materiais de acesso a gabinetes de pessoas importantes, pois aquele que segue o caminho de busca da perfeição tem, por merecimento, todas as portas deste tipo abertas para si.

A Maçonaria é filantrópica porque seu profundo amor à humanidade não se restringe ao aliviar da fome e frio dos necessitados e desvalidos, mas em mostrar caminhos e construir pontes que unem os seres humanos. A maior obra beneficente da ordem maçônica é aquela em que, no calor das reuniões, constroem-se seres humanos melhorados, e não aquela em que se dá o pão ao próximo para aliviar a fome por mais um dia, onde, na maioria das vezes, geram-se mais dependentes ou acomodados.

Auxiliar os carentes é o exercício que desenvolve os sentimentos e eleva a autoestima do maçom. É parte de seu aprendizado. É o exercício de bondade, benevolência e caridade. Se estas não forem as molas propulsoras da beneficência, então a atividade não passa de hipocrisia. A benemerência bem orientada e eficiente é aquela onde o maçom aprende a "pescar" o bom peixe que o nutrirá, proporciona qualidade de vida e, por consequência, levam-no a ensinar outros a "pescar" igualmente.

A Maçonaria não se reduz a conceitos. As definições interessam apenas àqueles que buscam o conhecimento superficial e genérico. Ao afirmar-se que "é uma instituição essencialmente iniciática" indica-se que este conceito apenas aponta o "umbral", o limite da instituição em relação ao Universo e ao mundo social. Por isso é difícil e embaraçoso expressar o que seja Maçonaria.

É "escola", caminho, método, para um mundo justo, perfeito e verdadeiro.

Caminho difícil, mas doce.

Caminho aberto para todos os homens de sensibilidade e de boa vontade.

Se alguém soubesse definir com precisão o que é a Maçonaria, com certeza não é maçom: é apenas curioso!

Agora que o senhor já conhece um pouco do que é Maçonaria, resta incentivar que siga em frente, busque conhecer-se, seja bom cidadão, porque é a única maneira de ser visto por um maçom que o represente dentro da ordem maçônica e defenda sua entrada na instituição.

Não se trata de sociedade na qual o senhor manifesta a vontade de entrar, paga a joia de um título de sócio proprietário, continua pagando mensalidade de manutenção, e, a partir disto, torna-se maçom! Mesmo depois que o senhor obtiver quem o defenda lá dentro, existe um intrincado e complexo processo investigatório de sua vida em sociedade cujo conjunto de hábitos deverá pautar pela honra, amor, honestidade e outras virtudes.

Não é dado a ninguém revelar quem são os maçons da comunidade, porque o maçom deve ser precavido na escolha de meus companheiros, haja vista a Maçonaria ser feita da convivência entre pessoas que dispõem da orientação mental de combater absolutismo, injustiça, vaidade, ditadura, e outras, e isto não se faz sem expor-se a uma série de perigos devidos aos soberbos, poderosos e opressores.

Se buscar a felicidade da humanidade é a disposição que orienta sua mente, se esta inclinação é honesta e verdadeira, o senhor já é maçom, falta-lhe apenas conquistar o símbolo de trabalho do homem que trabalha na pedra: o avental. O senhor já é maçom sem avental!

Continue em levar a vida reta e justa para que, um dia, um maçom da Sublime Ordem Maçônica Universal da Maçonaria, em sua comunidade, descubra no senhor os valores e qualidades exigidos de homem livre e de bons costumes e lhe recomende à iniciação.

Mas não pense, meu caro senhor, que a vida de maçom é um "mar de rosas"! Ela pode ser senda repleta de perigos e constrangimentos. Isto porque não se combate maldade, ignorância, vaidade e intolerância do mundo real sem expor-se ao perigo de cruéis inimigos, onde o pior adversário é o senhor mesmo.

Adicionalmente, considere que todos os maçons são homens imperfeitos em busca da perfeição, e que entre eles certamente encontrarás alguns que lhe trarão desalento, característica de qualquer associação humana. Mas o fato deles gastarem seu tempo e recurso para reunirem-se com seus iguais com regularidade já os torna merecedores e dignos de confiança para caminhar em direção a uma condição aperfeiçoada.

Mesmo com prováveis percalços é importante perseverar, conviver e deixar irradiar a própria luz sobre justos e injustos, cultos e incultos, bons e maus, despóticos e liberais. Tudo o que se aprende na Maçonaria de nada vale se não for colocado em prática, compartilhado. O aprendizado em atividade, aplicado, demonstra sabedoria e irradiará como um luzeiro, qual Sol, sobre aqueles que convivem em comunidade.

Se a intenção de entrar na ordem maçônica for curiosidade, vaidade ou valores materiais, não aceite a iniciação. O senhor vai se decepcionar! Ademais, a responsabilidade é imensa! A experiência movida pela curiosidade será frustrada numa inútil perda de tempo e de recursos financeiros.

Ser maçom exige denodada vida preconizada pela dedicação a si mesmo, à família, ao trabalho, ao próximo, e isto, custa: tanto em valores monetários como em tempo, paciência, obediência e outros.

Se apesar destas advertências e esclarecimentos o senhor ainda persiste em tornar-se maçom, então, que Deus o proteja e guarde! Siga em frente, vá ombrear com outros maçons os sublimes objetivos da Maçonaria Universal, não importa onde.

Nenhum comentário: