Charles Evaldo Boller
Inúmeras obras antimaçônicas foram escritas no passado.
Algumas com consequências mortais, instigando a perseguição de parte dos
fundamentalistas políticos e religiosos. São exemplos: a perseguição na
Alemanha, por Adolf Hitler; na Espanha, Francisco Franco; diversos papas
católicos e líderes de outras miríades de religiões fundamentalistas. Milhares
de maçons foram assassinados em consequência destas obras escritas apenas para
público profano desejoso de conhecer os "terríveis segredos da
Maçonaria". Outros tinham por alvo disseminar mentira e instigar à
discriminação racial, guerras ideológicas e sanguinárias, como no caso de
"Os Protocolos dos Sábios de Sião".
Houve obras antimaçônicas que causaram até bem para a ordem
maçônica porque trouxeram mais informação útil que alguns livros maçônicos
escritos com o objetivo de auxiliar, ou registrar fundamentos, filosofias e sua
história ou liturgia. Existem obras de autores maçônicos causadores de danos
graves; são os escritos por pessoas de pouco ou nenhum conhecimento técnico
histórico. Inventaram estórias e dados inconsistentes que, de tanto serem
replicadas, alcançaram até status de verdade, mas alimentam as baterias dos
detratores. Existem casos onde os fatos relatados têm mínima chance diante de
uma pesquisa superficial; é pura ficção, de pouco ou nenhum suporte. Obras que
não respeitam a inteligência dos antimaçons, e certamente, muito menos ainda, a
dos maçons. O observador arguto deduz prontamente que, os piores inimigos estão
dentro da Maçonaria, constituído de "irmãos" oportunistas e astutos
na preparação de ardis, que à luz da pesquisa desmoronam, revelando sórdidos
objetivos comerciais. Estes sim expõem a Maçonaria Universal a ridículo e
perigo; geram a munição que os detratores da instituição maçônica buscam para
carregar suas armas insidiosas.
Apenas um ano após a aparição da primeira constituição
maçônica, quando, em 1724, foi escrito o Livro das Constituições de James
Anderson, surgiu em Londres, de autor anônimo e edição de Willian Wilmont, um
pequeno impresso com o título "Revelado o Grande Mistério dos
Maçons". Tudo leva a crer que o autor foi um covarde maçom, cujo único
objetivo foi vender informações maçônicas ao maior número de pessoas. Depois
surgiu "Toda a Instituição Maçônica", revelando até sinais e
palavras. Foram muitos os textos que surgiram na época, alguns até plágio dos
primeiros, mas todos com o objetivo de fazer dinheiro à custa da curiosidade
profana. A partir de 1730 surgiram obras antimaçônicas de vulto e impacto:
"A Maçonaria Dissecada" de Samuel Prichard. Em 1744, o abade Perau
publicou o livro: "A Ordem dos Franco-maçons Traída e Seus Segredos
Revelados". Neste mesmo ano, Luiz Traveno publicou diversos livros
versando sobre Maçonaria, sempre expondo assuntos internos, no claro objetivo
de apenas vender livros e fazer dinheiro. Em 1760 foi editado um livro de autor
desconhecido, "As Três Batidas Distintas". Em 1762 apareceu o livro
"Jaquim e Boaz". Depois surgiu "Memórias do Jacobismo", do
padre Augustinho Barruel, o qual é considerado, de fato, o pai da
antimaçonaria, pois sua criatividade criou fábulas tão verossímeis que estas
ainda hoje prejudicam os maçons.
De todos estes autores podemos aceitar até motivação por
ódio e oportunismo comercial contra a Maçonaria, pois não eram maçons.
Entretanto, o maior mestre do engodo, de todos os tempos, foi o aprendiz maçom
Leo Taxil, este causou estragos terríveis à ordem maçônica. Depois deste "irmão"
surgiu frei Boaventura em seu livro "A Maçonaria no Brasil", também
pretendia contar os "segredos" dos homens que se reuniam a portas
fechadas em confrarias fraternas.
O supremo campeão é sem dúvidas "Os Protocolos dos
Sábios de Sião", obra ficcional na qual foram baseadas as invenções de
alguns detratores e principalmente de parte do padre Barruel, dando conta de
uma suposta "Conspiração Maçônica", e onde foram dramatizadas
situações sem fundamento que muitos males causaram aos maçons ao longo do tempo;
nem as dramatizações de Leo Taxil e todos os anteriores ao padre Barruel
causaram tanto mal. Mesmo escrevendo diversos livros dos dramas e problemas
proporcionados, não se esgota o assunto da antimaçonaria.
Na Internet encontram-se inúmeros sites contendo informações
desencontradas da organização e ação da Maçonaria que carecem até de algum
discernimento para perceber o engodo nelas contido. Em sua maioria são
produções que usam os livros já citados e até da bíblia judaico-cristã como
plataforma da calúnia e raciocínio falso. Todo extremismo, todo fundamentalismo
religioso e político tem estas características; quando não consegue convencer
pelo argumento lógico e claro, apela para a mentira e fantasia, torce o sentido
das palavras de seus livros sagrados para denegrir qualquer obstáculo que lhes
embarace o caminho aos negócios bilionários ou caça ao poder efêmero.
Felizmente a instituição maçônica provê abertura para debate
de amplo leque. Maçonaria não se faz com templos, livros, grandes lojas,
grandes orientes, sinais, palavras de passe ou palavras sagradas! Estas são
apenas ferramentas, utensílios que facilitam o raciocínio, abrem o
entendimento. Maçonaria se faz dentro da mente e no coração! Todo o resto é
ilusão! Nem mágica ou Misticismo colaboram, antes denigrem e municiam os
inimigos com argumentação para quebrar e hegemonia da Maçonaria Universal. Não
fossem a pequenez e fragilidade humana, as ferramentas, obediências, ritos e
locais de reunião seriam até desnecessárias! A Maçonaria seria dispensável!
Tentar revelar os "segredos" da ordem maçônica é seguramente um vão
esforço dos detratores de alcançarem o vento na corrida! Grandes pensadores já
intuíram em tempos idos que, onde existirem pessoas que se tratam como irmãos e
demonstram profundo amor entre si, com certeza ali estará o espírito do Grande
Arquiteto do Universo e se pratica a verdadeira Maçonaria; independente se as
pessoas forem ou não iniciadas. A iniciação verdadeira ocorre no coração. É
dádiva divina! Resultado de sã racionalidade, lógica e espiritualidade,
equilibrados.
Um dos mais fantásticos insights proporcionados pela
Maçonaria é o autoconhecimento; "o conhece-te a ti mesmo", de
Sócrates; a viagem interior que afasta da mente todo apego estrito à palavra
escrita ou falada e revela a espiritualidade; o lugar onde está o Deus, onde
cada um tem o Deus criado a partir de antropomorfismo que é característica do
homem comum. O maçom sequer discute ou gera Deuses à sua imagem e semelhança,
porque seres desta magnitude não cabe dentro da lógica e apenas gera separação
e ranger de dentes, daí usar apenas do conceito de um Princípio Criador, ao
qual denomina Grande Arquiteto do Universo. É a razão da paz encontrada entre
as colunas das lojas dos maçons.
É o conhecimento da verdade relativa em todas as questões
que conduz ao crescimento pessoal e espiritualidade avançada; o maçom que
possui o conhecimento da Maçonaria em si não é idólatra, materialista ou
medíocre. O fundamentalismo de qualquer espécie terá muito trabalho para manter
a cegueira que subjuga por uns tempos, já que a evolução espiritual e do
autoconhecimento do maçom promovem o discernimento que conduz à sabedoria e
liberdade.
O livre pensador torna-se independente de intermediários na
busca de sua espiritualidade. O Deus que busca está perto para o iniciado e
muito longe ao cego escravizado, num hipotético céu, em virtude de estar
submetido a dogmas e fantasias dos inimigos da liberdade. As religiões querem
escravos do pensamento para manter seu poder temporal efêmero, algo do que a
Maçonaria liberta seus homens e, devido a isto, as religiões odeiam a ordem
maçônica criando mentiras. O mesmo faz o poder político absolutista,
ditatorial.
Vencer aos detratores da Maçonaria é a razão do maçom
cauterizar e envolver sua mente de forte couraça de aço. Aprende a usar da
espada numa mão, que é sua língua manejada com maestria na derrubada das
mentiras ou raciocínios ilógicos e, na outra mão, porta a trolha com a qual
constrói e apazigua uma sociedade livre de obscurantismo.
O corpo do maçom, que constitui seu templo, o seu lugar de
adoração sagrado, permanece puro, imaculado da perfídia imunda do obscurantismo
gerados por religiões e ideologias políticas que conspurca a sociedade humana.
Porque o Deus que reside no maçom é tão verdadeiro como aquele que reside em
qualquer outra criação do Universo. A Maçonaria promove nos homens por ela
treinados a mais ampla liberdade; a suprema liberdade do pensamento; é onde
qualquer ser racional é absolutamente livre por característica de projeto
devido ao Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia
1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da
Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN
85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São
Paulo, 2004;
2. BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Editora Pensamento,
1979;
3. CARVALHO, Francisco de Assis, O Avental Maçônico e Outros
Estudos, número 6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 160
páginas, Londrina, 1989;
4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria,
Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora
Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;
5. PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33 do
Brasil, Volume 1, 1832 a 1927, primeira edição, Kosmos, 405 páginas, Rio de
Janeiro, 1981;
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