domingo, 17 de setembro de 2023

Virtudes e Sabedoria

Bom viver do iniciado.

Charles Evaldo Boller


Quando as atividades humanas são pautadas pela rígida disciplina e racionalidade, afloram virtudes que estabelecem maneiras de portar-se ao longo da vida, calcado em regras pessoais intransferíveis no discernimento do que é bom e mau. A sabedoria está conectada rigidamente com a capacidade de analisar racionalmente, com a força do próprio pensamento, sem a interferência de emoção, resultando em ações que conduzem a vida da maneira mais amena possível.

Não deve ser confundido com a absorção de conhecimentos, técnicas ou ciências, muito menos do que diz respeito ao divino e elevado. A sabedoria, apesar de sua importância, está rebaixada aos assuntos meramente humanos, de como este lida em seu dia-a-dia na tomada de decisões que visam exclusivamente o bom viver. A sabedoria que o homem tem a capacidade de colocar em ação em sua vida, diz respeito ao conjunto de virtudes tornados hábitos práticos e racionais que se referem ao que ele realiza de bom.

Considerando a capacidade do homem de mudar a cada instante em resultado de sua cognição, e, principalmente, por estar imerso numa sociedade, esta sabedoria muda também. Tudo depende de como se age. Apesar de, na definição de sabedoria filosófica, se determinar que as virtudes sejam imutáveis, a sua aplicação prática muda de indivíduo para outro e de instante a instante.

O homem que não pratica virtudes não é sábio e deste os vícios se apoderam e escravizam de formas diversas.

É da sabedoria que nascem virtudes, e esta constatação leva a decretar que a mesma é mais importante que a filosofia, pois enquanto esta última debate o conhecimento numa base especulativa, a sabedoria é resultado da ação e posicionamento pessoal para o bem, influindo diretamente no estabelecimento de muitos momentos de felicidade do homem na vida diária. Depois de a filosofia vagar pelos meandros de pensamentos impossíveis de provar, abstrações de intuito absoluto e eterno, a sabedoria faz o homem voltar para a sua realidade, ao seu mundo real, ao qual sempre presta contas pelo que ele é, o que faz e aonde vai, de modo a justificar o seu ser.

Alguns estudiosos consideram a sabedoria como aplicação denodada da prudência, ou a capacidade de frear-se, de pensar antes de agir. Sabedoria é a maneira correta buscar conselho da razão antes de qualquer atitude. É o condicionamento mental de perscrutar todas as virtudes e maneiras corretas de aplicá-las. Ao se marcar um alvo e a vontade concordar com a ação, então, na aplicação de considerações virtuosas, o resultado sempre será satisfatório. É a maneira de conduzir a vida de forma saudável, feliz e agradável.

Em todas as atividades humanas há espaço para aplicação da sabedoria, sem o que, os vícios tomam conta. Assim, a sabedoria pode ser observada como a aplicação do saber prático e inteligente. É a capacidade de identificar a maneira mais prática, eficiente e precisa de se obter resultados que conduzem ao bem.

As virtudes são tendências de fazer sempre o melhor em qualquer atividade. É lógico pensar que existem sempre duas maneiras de efetuar um trabalho: bem ou mal feito - tanto para fazer mal feito, como para fazer bem feito, leva-se quase o mesmo tempo e gastam-se quase os mesmos recursos - então que se faça bem feito!

O uso nobre de virtudes está ligado à possibilidade de desenvolver capacidades morais e éticas. Onde a aplicação continuada e intensa acaba por conduzir à sabedoria, onde esta última é a aplicação de virtudes o tempo todo, com persistência.

Um ato moral não é virtude, mas as virtudes desenvolvem atos que preconizam pela moralidade, que levam a conduzir a vida dentro de preceitos morais. A sabedoria surge então como a virtude das quais todas as outras descendem, daí a afirmação de ser esta a mãe de todas as virtudes. A sabedoria como virtude leva o homem a discernir de quais vícios deve fugir e quais virtudes perseguir para tornar sua vida neste Universo a mais prazerosa possível, sem se escravizar a nenhuma ideologia, hábito ou droga. É a capacidade de avaliar a medida certa de se submeter às paixões, para que não advenha nenhum prejuízo. É a disposição inteligente do homem de produzir felicidade.

O homem que aplica virtudes com sabedoria, age, vive e conserva em si excelentes decisões com orientação da razão prática e útil, equilibrada com emoção e espiritualidade. De nada adiantam ao homem ser apenas racional sem que sua ação contenha valores emocionais, os quais o alimentam e movem à ação, pois o que não é feito por afeição, por amor, não é nem bem nem mal. Algo só pode ser caracterizado como bem quando existe uma emoção ou afeição que a coloque em movimento.

O homem, por ser um ser social por excelência, tem a sua ação no Universo impulsionada pela emoção. Ao alimentar sua emoção o homem torna-se bom para si mesmo, desenvolve autoestima, ama a si mesmo e só então tem capacidade de amar ao próximo, de fazer o bem ao próximo - a suprema sabedoria que conduz ao amor fraterno, a única solução de todos os problemas da humanidade, a reta final a que chega o maçom por utilizar-se da filosofia desta escola do conhecimento denominada Maçonaria.

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