Especulação a respeito da função das colunas Booz e Jaquin
com uso da Física Quântica.
Charles Evaldo Boller
O significado simbólico maçônico das duas colunas é
controverso e confuso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã, em I
Reis 7:13-22. Em essência elas decoram e demarca a entrada do templo, o portal
do iniciado no caminho da Luz, do conhecimento gradativo do eu, de seu
interior, do seu templo, da sua espiritualidade.
Pesquisando diversos autores maçônicos respeitados, eles
também têm inúmeras explicações que conduzem a um intrincado labirinto de
justificativas aonde algumas delas são baseadas em postulações herméticas ocas,
tão vazias como o próprio interior das colunas, inaceitáveis ao cético e
filósofo que adota o princípio heurístico da pesquisa científica que concebe a
natureza como máquina, que debita tudo à matemática e casualidades estatísticas
previsíveis. Entretanto, esta visão mecanicista do século passado aos poucos
vai cedendo espaço a teoria da física quântica. A cada instante novos conceitos
antigos desabam na presença de novos conceitos e provas científicas que, da
mesma forma em que o mecanicismo derrubou velhas crendices místicas, este mesmo
mecanicismo é hoje criticado e tem seus conceitos derrubados na edificação de
novas conceituações científicas da física quântica. Porque não reunir todo o
conhecimento antigo e o novo? As duas colunas não estariam colocadas à vista
dentro do templo maçônico exatamente para materializar a possibilidade de novo
salto do pensamento?
Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta
de entrada para o conhecimento, desconsideradas as características que lhe
desejam debitar os que defendem interpretações místicas, alquímicas e mágicas,
as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do
templo. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, e é
importante, de um lado o mundo profano e do outro o templo, a representação de
algo maior, que o iniciado vai garimpar com suas bateias mentais dentro de si
mesmo.
Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original
descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no
símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas
especulações dos livres pensadores e nada disso deve configurar verdade
absoluta, final. Assim como a física quântica desbanca o mecanicismo e este
derrubou o misticismo. Cada elemento da composição artística do símbolo está
aberto para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada
maçom. Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e
impor ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas
próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que
decoram a entrada do templo, o seu próprio templo. Ademais, o obreiro é quem
mais conhece daquele corpo, daquele templo, pois o usa como receptáculo de seu
próprio sopro de vida.
Para lojas, como as do Rito Escocês Antigo e Aceito das grandes lojas brasileiras, onde as colunas Booz e Jaquin estão locadas dentro do
templo, no extremo Ocidente, cerca de dois metros da porta, onde existe este
espaço, sua locação é comumente confundida com as colunas Norte e Sul. A
interpretação mais usual da ação de ficar entre colunas é considerada postar-se
entre as colunas Booz e Jaquin, e isto é uma interpretação incorreta. Ficar
entre colunas é postar-se entre as colunas Norte e Sul, entre irmãos, entre
pessoas de carne e ossos, sobre uma linha imaginária que une o altar do
primeiro vigilante com o do segundo vigilante e no local onde cruza com o eixo
longitudinal do templo. A abrangência de encontrar-se entre as colunas Norte e
Sul só termina no primeiro degrau que separa oriente do Ocidente. Ali o obreiro
tem a certeza que não será interrompido em sua oratória e seus irmãos têm
certeza que tudo o que for dito é a verdade da ótica daquele que fala, pois uma
mentira ali tem graves consequências. Estar locado entre colunas, entre irmãos,
obriga o obreiro a responder todas as perguntas que lhe forem dirigidas com
sinceridade, sem omissão, sem reserva mental.
A loja maçônica não é representação real, maquete, cópia
fiel do Templo de Jerusalém, e, sim, representação simbólica de alguns aspectos
físicos daquele. Estarem as colunas Booz e Jaquin no átrio ou dentro do templo
seria indiferente, não fosse o propósito a que servem. Na bíblia judaico-cristã
elas são designadas como colunas vestibulares, de vestíbulo, algo locado entre
a rua e a entrada do edifício, portanto, colocadas fora da edificação, ao lado
das portas, formando portal de acesso ao interior. No templo real é assim, mas
no simbólico isto não se aplica. Se for para colocar rigidez neste raciocínio
de fidedignidade com o templo real, que se retirem de dentro da loja maçônica
as colunas zodiacais, a mobília, altares, balaustrada, pisos, diferença de
nível entre oriente e Ocidente, decoração do teto, sólio, enfim, tudo o que não
existe no templo de Jerusalém; podem ser levantadas especulações as mais
diversas, mas o lugar das colunas num templo maçônico é em seu interior. Por
questão de coerência com a bíblia judaico-cristã elas poderiam ficar fora do
templo, mas elas devem estar locadas dentro do templo porque todos os objetos e
elementos decorativos em loja no Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade
educacional. Participam dinamicamente da metodologia para ensinar aos obreiros
as verdades necessárias para sua escalada na construção de sociedade justa.
Colocar as colunas Booz e Jaquin fora de vista não faz sentido propedêutico na
instrução maçônica. Considerando a utilização como instrumentos de trabalho, as
ferramentas devem estar à vista do estudante, do obreiro que trabalha na pedra
bruta. Principalmente se na parte oca das colunas Booz e Jaquin estão guardadas
outras ferramentas de trabalho.
As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm
significado simbólico, são parte da lenda materializada como método iniciático,
propedêutico, introdução ao caminho que cada maçom deve encetar para entender o
que a filosofia da Maçonaria deseja incutir em sua mente. As colunas fazem
parte da ficção inventada ao redor da vida de Hiram Abif, figura referenciada
na bíblia judaico-cristã, cuja estória constitui lenda dentro da Maçonaria. É
ficção, mas transmite conceitos profundos de moral e ética até para pessoas sem
formação escolar básica, que não têm vivência com o abstrato. Esta limitação do
trabalhador da pedra com respeito ao abstrato é o que exige a presença física
das colunas dentro do templo. Com isto a Maçonaria transmite conceitos
filosóficos profundos para qualquer pessoa, independentemente de sua formação
intelectual. É o princípio da igualdade em ação. É dentro do templo que o maçom
procura ser amigo da sabedoria, "phílos" + "sophía", filosofia
que visa o desenvolvimento do filósofo especulador simples e não o erudito ou
homem de instrução vasta e variada. Ao maçom basta o conhecimento que propicie
liberdade independente de formação ou berço. O resultado almejado é a geração
de sociedade onde a fraternidade, mesmo em presença de rusgas características
das relações interpessoais, é de fato praticada indistintamente por todos os
seus membros.
Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé e
acreditar no inexistente; este não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com
veemência. Reportar-se às colunas de bronze Booz e Jaquin fora de vista é o
mesmo que dizer: - Acreditem, elas existem lá fora! - Ou ainda: - irmão
aprendiz vá lá fora buscar maço e cinzel para trabalhar na pedra bruta. - Todas
as ferramentas devem estar dentro do templo depois que a loja estiver aberta.
Ninguém sai ou entra no templo sem uma razão muito forte depois que os
trabalhos começaram. Não é lógico o pedreiro adentrar a oficina sem suas
ferramentas. Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua existência
em algo assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus fiéis para
forçá-los a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem lógica, ou
realmente são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela informa
claramente, explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a materialização
de ficção para fins exclusivamente educacionais. As colunas Booz e Jaquin são
verdadeiras e físicas dentro da loja e devem estar lá para objetivo que pode
numa primeira instancia fugir ao entendimento. Será que elas não têm outros
significados que simplesmente albergar as ferramentas e suportar romãs e
globos?
Todos os símbolos usados pela pedagogia da ritualística
maçônica devem ficar ao alcance da vista para permitirem sua utilização
material e propiciarem, a partir disto, a construção, a concepção de
pensamentos abstratos sem adentrar na seara pantanosa dos dogmas; apresentar
algo duvidoso como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas
aceitem sem questionar. No passado, quando não existia explicação para
determinado fenômeno, creditava-se este a influências misteriosas e mágicas, o
mesmo ocorre com um símbolo fora da vista em qualquer era. Os homens são
limitados por seus sensores e em função de sua clausura no planeta Terra.
Na escola primária, na fase concreta dos métodos de ensino,
os conceitos abstratos são transmitidos via materialização, por exemplo: como
explicar o zero para uma criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois se
subtrai estes da visão, ficando o nada, definindo o vazio; gravando na mente o
conceito de zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa
primeira instância; depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se
encarrega de completar o que fica invisível aos olhos.
A ciência avança nas áreas da física quântica, cosmologia,
psicologia transpessoal e revela continuamente a existência e ação de energias,
verdades e realidades que colocam em xeque crenças e ideias a respeito do
Universo. É isto que a Maçonaria visa com sua motivação à autoeducação e o
despertar dos imensos potenciais que até o momento existem apenas em resultado
de experiências empíricas transmitidas pelos sentidos. Aos poucos, os maçons de
formação mecanicista, influenciados pelos místicos e sensitivos passam a
entender ou absorver o funcionamento destas energias, não como mágica, mas com
alicerce científico. Partindo da especulação incutida pela física quântica
especula-se em torno das possibilidades de sentir e usar das energias que
constituem o Universo ou Universos. É a razão de manter as colunas Booz e
Jaquin dentro do templo, como modelo de dipolo energético de campos elétricos,
magnéticos e gravitacionais, ou quem sabe, portal para outros Universos, talvez
concentradores das energias da cosmologia quântica de que o homem é feito. É o
mesmo que ensinar o conceito do zero para as crianças do jardim da infância, há
necessidade de manter o modelo, o inspirador de novos pensamentos até o
instante em que o mais cético venha a entender o que os outros irmãos sentem e
interpretam de forma empírica. Os exercícios especulativos podem então inspirar
novos modelos e, quem sabe, surjam novas ciências e conhecimentos que projetem
o homem ao encontro de seu futuro.
Ao passar pelas colunas Booz e Jaquin o obreiro entra na
oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à Luz, a sabedoria
necessária para burilar a pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma
linda e bem formada pedra cúbica polida, isto é o resultado da polidez e
educação maçônica que honra o Grande Arquiteto do Universo e que toma seu lugar
de destaque na sociedade humana.
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