quinta-feira, 28 de setembro de 2023

As Colunas Zodiacais

Uma viagem pelo Universo;

Considerações filosóficas, ritualísticas, atribuições e imaginário ligado as colunas zodiacais presentes no Ocidente das lojas simbólicas do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Charles Evaldo Boller


As colunas zodiacais num templo maçônico do Rito Escocês Antigo e Aceito são doze. Servem como símbolos de demarcação do caminho do maçom em desenvolvimento.

Localizam-se todas no Ocidente e são sinais do crescimento do aspecto material, moral e ético do iniciado, que durante sua jornada transcende em sua religação com a divindade. São seis em cada lado do templo, normalmente engastadas nas paredes e sempre na mesma ordem.

Constituem mais da metade de toda a decoração da loja.

Suas representações gráficas apresentam misturas dos quatro elementos místicos estudados por Aristóteles da Grécia antiga e sete astros.

Na história humana existem diversos povos que desenvolveram técnicas astrológicas, entre os mais conhecidos estão: caldeus, chineses, egípcios, árabes, gregos e astecas. Todas resultantes da necessidade de prever o resultado da influência da interação de forças gravitacionais, de atração e repulsão dos corpos celestes e que modificam o meio-ambiente da fina camada da biosfera com uns seis mil metros de espessura.

Segundo visão recente, esta camada é um imenso ser vivo global, onde cada ser vivo é parte integrante do todo, distribuída em redes de relações interdependentes, de complexidade crescente e denominada Gaia.

Não existia tecnologia no passado para definir como os fenômenos gravitacionais eram sentidos por Gaia, pois ao homem limitado daquela época era impossível determinar como atuavam fisicamente aquelas linhas de força invisíveis, então ele desenvolveu especulações de como e o que poderiam ser e lhes impôs conotação mística e mágica.

Processos empíricos culminaram por desenvolver técnicas de previsão que geraram imenso cabedal de cultura mística.

A técnica permitia prever fenômenos físicos que influíam na vida, como o regime das cheias de um rio ou a posição de um astro no céu num determinado dia do ano. Isto determinou destaque e importância da astrologia nos governos políticos.

Naquela época, política e religião formavam um conjunto indissolúvel, o rei, normalmente, também era sacerdote, mágico e até divindade.

Sem as previsões da leitura da posição dos astros era temerário governar. Na maioria das vezes o diferencial entre vida e morte, saciedade e fome.

Os detentores do conhecimento da influência dos astros na biosfera eram considerados mágicos e cercavam sua tecnologia do maior sigilo, só revelado a iniciados, aos treinados nas técnicas do conjunto de doutrinas simultaneamente: místicas, astrológicas, alquímicas, mágicas e filosóficas, atribuídas pelos seus autores da antiguidade greco-latina à inspiração do deus Hermes Trismegisto, origem da designação Hermetismo e relacionado ao deus egípcio Thot.

Este conjunto de técnicas influenciou teólogos, alquimistas e filósofos na Idade Média. E como parecia mágico o que aqueles iniciados faziam, qualquer coisa que falassem era sempre cercada da maior importância, até veneração.

Um dos ramos desta cultura mística, mediante observação de reis e pessoas, procurou determinar uma relação entre o dia do nascimento da pessoa e seu caráter. O processo empírico com que foi desenvolvido o sistema partiu do que se conhecia do homem em sentido moral, ético, beleza, força, determinação, para conectá-lo a posição dos astros. Uma espécie de engenharia reversa, que parte do resultado para lhe determinar fonte ou origem.

Assim, originaram-se os diversos métodos astrológicos, cujo objetivo era decifrar a influência dos astros no curso dos acontecimentos terrestres e na vida das pessoas, em suas características psicológicas e em seu destino, explicar o mundo e predizer o futuro de povos ou indivíduos. O mais famoso de todos, segundo especialistas, foi o sistema dos astecas. Com isto se influenciou o povo em ver nas previsões dos astrólogos a delineação de rumos para as suas vidas, a semelhança que se dava aos fenômenos naturais influenciáveis pelas linhas de força da gravitação universal.

Os rituais maçônicos usam os signos, sinais do zodíaco, em sentido simbólico, não falam em horóscopo, ou em diagrama das posições relativas dos planetas e dos signos zodiacais num momento específico, como o do nascimento de uma pessoa ou com a intenção de inferir o caráter e os traços de personalidade e prever os acontecimentos da vida de alguém ou um mapa astral ou mapa astrológico. O homem livre dispensa isto quando estuda e evolui.

As bases para a localização das constelações usadas na astrologia são tão antigas que hoje necessitam de correção astronômica. A razão de apresentar as colunas dentro de um templo maçônico, naquelas posições e respectivos aspectos herméticos tem objetivo diferente da adivinhação do futuro usado no passado. Augusto Comte, que fundou a escola filosófica do positivismo e criou um conceito de ciência social denominada Sociologia, em suas postulações e assertivas aniquilou definitivamente a astrologia; e dizem que com isto deu-se advento ao materialismo e descrença generalizada no poder místico da astrologia que, até então, era considerada ciência.

Na filosofia maçônica as colunas zodiacais são apenas símbolos para estudo, destituídas da atribuição de aspectos da predição do comportamento do homem. É fácil deduzir que sua existência no Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade educacional, parte de metodologia de treinamento específica à semelhança de outros símbolos e ferramentas.

Para o iniciado colocado no plano do templo, independentemente da posição que ele ocupe no Ocidente, na coluna do Norte ou do Sul, ele faz parte do centro da loja. Está cercado pelas colunas zodiacais em qualquer posição que ocupe naqueles quadrantes. Observando o conjunto homem e colunas apenas sobre o plano definido pelo piso, estas colunas estão dispostas fisicamente, como resultado do projeto arquitetônico, em alinhamento com as paredes do templo. Mas em verdade estão dispostas sobre um círculo imaginário cujo raio é de tal amplitude quanto a imaginação do observador pode alcançar. O círculo é dividido em doze partes iguais e para cada fragmento de arco assim definido deu-se o nome usado pelos astrólogos no vaticínio do destino do homem. Não é circunferência de raio infinito, porque este é apenas conceito matemático abstrato, pois a abrangência desta observação é limitada às constelações visíveis da Terra, mesmo que com apoio de instrumentos. O raio é finito, limitado, assim como o mundo material, mas nada impede de o observador especular para além deste limite, para algo bem mais amplo, sempre de abrangência limitada. É por isto que todas as colunas zodiacais ficam no Ocidente, onde o Universo é limitado e restrito ao mundo material e visível.

A jornada do iniciado revela a existência de outros valores e segredos só desvelados aos que persistem nos estudos do rito. Assim são as estórias, as ficções, lendas usadas para transmitir elementos éticos e morais ao maçom. As colunas presentes nos templos são utilizadas como símbolos para transmitir e construir aquela lenda e funde-se ela. Elas são lendas também. Este uso é nobre e aprovado. Imprime valor prático e sevem para a edificação de homens completos e aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo.

Em Maçonaria o observador sempre é conduzido a olhar uma composição de símbolos em seu centro, onde está a informação para a qual se deseja chamar a atenção:

  • O delta possui ao centro um olho ou a letra iod;
  • A estrela flamígera tem ao centro a letra G;
  • Esquadro e compasso têm ao centro o livro da lei.

No centro da loja tem o homem, o obreiro, que de seu ponto de observação observa o Universo conhecido. Nesta observação desloca-se pelo cosmos segundo o caminho demarcado pelas colunas zodiacais. Pode começar sua peregrinação em qualquer posição desta circunferência ao redor do ponto central, local onde existe menor agitação, e depois vai se afastando cada vez mais em suas pesquisas da verdade. É um caminho que não tem início nem fim, dando a conotação de que a especulação é ilimitada e nunca se deve rotular uma Verdade como absoluta e final. Sem as colunas como referência, demarcando o caminho a seguir para adentrar ao Universo do iniciado, esta jornada seria, no mínimo, temerária. Cada coluna representa uma constelação conhecida que serve para determinar direções para a cognição no estabelecimento da Verdade. A ordem em que estão colocadas dá a direção a ser seguida por aquele que busca a verdade alicerçada na filosofia maçônica. Nada têm de mágico porque o conjunto é apenas suporte para especular detalhes pormenorizados da jornada entre a materialidade e a espiritualidade, do esquadro ao compasso, da religação individual com a divindade em cada um.

Depois de perambular pelo Universo conhecido, maravilhando-se com a obra do Incriado, até onde a vista alcança, até onde a imaginação o carrega, o homem passa a olhar para si mesmo e caminha ainda mais para o centro, buscando a paz e a tranquilidade de um local sem agitação. E bem no centro de si mesmo, ao centro do próprio homem, contempla outra maravilha, outro Universo, uma miniatura daquele cosmos conhecido e representado pelas colunas zodiacais que é o seu ser. Este é o centro do Universo da ótica do iniciado. É quando ele desvela o seu mundo interior, a suprema Verdade do triunfo humano, a espiritualidade do maçom ou aquilo que ele considera a representação da mesma. O conjunto aponta o cosmos, de onde é réplica uma realidade física e transcendental interna de cada iniciado, o seu macrocosmo, o seu Universo interior, onde ele encontra os vestígios do Grande Arquiteto do Universo e torna-se homem livre e útil ao propósito divino.


Bibliografia

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