Uma viagem pelo Universo;
Considerações filosóficas, ritualísticas, atribuições e
imaginário ligado as colunas zodiacais presentes no Ocidente das lojas
simbólicas do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Charles Evaldo Boller
As colunas zodiacais num templo maçônico do Rito Escocês Antigo e Aceito são doze. Servem como símbolos de demarcação do caminho do maçom em desenvolvimento.
Localizam-se todas no Ocidente e são sinais do crescimento
do aspecto material, moral e ético do iniciado, que durante sua jornada
transcende em sua religação com a divindade. São seis em cada lado do templo, normalmente
engastadas nas paredes e sempre na mesma ordem.
Constituem mais da metade de toda a decoração da loja.
Suas representações gráficas apresentam misturas dos quatro
elementos místicos estudados por Aristóteles da Grécia antiga e sete astros.
Na história humana existem diversos povos que desenvolveram
técnicas astrológicas, entre os mais conhecidos estão: caldeus, chineses,
egípcios, árabes, gregos e astecas. Todas resultantes da necessidade de prever
o resultado da influência da interação de forças gravitacionais, de atração e
repulsão dos corpos celestes e que modificam o meio-ambiente da fina camada da
biosfera com uns seis mil metros de espessura.
Segundo visão recente, esta camada é um imenso ser vivo
global, onde cada ser vivo é parte integrante do todo, distribuída em redes de
relações interdependentes, de complexidade crescente e denominada Gaia.
Não existia tecnologia no passado para definir como os
fenômenos gravitacionais eram sentidos por Gaia, pois ao homem limitado daquela
época era impossível determinar como atuavam fisicamente aquelas linhas de
força invisíveis, então ele desenvolveu especulações de como e o que poderiam
ser e lhes impôs conotação mística e mágica.
Processos empíricos culminaram por desenvolver técnicas de
previsão que geraram imenso cabedal de cultura mística.
A técnica permitia prever fenômenos físicos que influíam na
vida, como o regime das cheias de um rio ou a posição de um astro no céu num
determinado dia do ano. Isto determinou destaque e importância da astrologia
nos governos políticos.
Naquela época, política e religião formavam um conjunto
indissolúvel, o rei, normalmente, também era sacerdote, mágico e até divindade.
Sem as previsões da leitura da posição dos astros era
temerário governar. Na maioria das vezes o diferencial entre vida e morte,
saciedade e fome.
Os detentores do conhecimento da influência dos astros na
biosfera eram considerados mágicos e cercavam sua tecnologia do maior sigilo,
só revelado a iniciados, aos treinados nas técnicas do conjunto de doutrinas
simultaneamente: místicas, astrológicas, alquímicas, mágicas e filosóficas,
atribuídas pelos seus autores da antiguidade greco-latina à inspiração do deus
Hermes Trismegisto, origem da designação Hermetismo e relacionado ao deus
egípcio Thot.
Este conjunto de técnicas influenciou teólogos, alquimistas
e filósofos na Idade Média. E como parecia mágico o que aqueles iniciados
faziam, qualquer coisa que falassem era sempre cercada da maior importância,
até veneração.
Um dos ramos desta cultura mística, mediante observação de
reis e pessoas, procurou determinar uma relação entre o dia do nascimento da
pessoa e seu caráter. O processo empírico com que foi desenvolvido o sistema
partiu do que se conhecia do homem em sentido moral, ético, beleza, força,
determinação, para conectá-lo a posição dos astros. Uma espécie de engenharia
reversa, que parte do resultado para lhe determinar fonte ou origem.
Assim, originaram-se os diversos métodos astrológicos, cujo
objetivo era decifrar a influência dos astros no curso dos acontecimentos
terrestres e na vida das pessoas, em suas características psicológicas e em seu
destino, explicar o mundo e predizer o futuro de povos ou indivíduos. O mais
famoso de todos, segundo especialistas, foi o sistema dos astecas. Com isto se
influenciou o povo em ver nas previsões dos astrólogos a delineação de rumos
para as suas vidas, a semelhança que se dava aos fenômenos naturais
influenciáveis pelas linhas de força da gravitação universal.
Os rituais maçônicos usam os signos, sinais do zodíaco, em
sentido simbólico, não falam em horóscopo, ou em diagrama das posições
relativas dos planetas e dos signos zodiacais num momento específico, como o do
nascimento de uma pessoa ou com a intenção de inferir o caráter e os traços de
personalidade e prever os acontecimentos da vida de alguém ou um mapa astral ou
mapa astrológico. O homem livre dispensa isto quando estuda e evolui.
As bases para a localização das constelações usadas na
astrologia são tão antigas que hoje necessitam de correção astronômica. A razão
de apresentar as colunas dentro de um templo maçônico, naquelas posições e
respectivos aspectos herméticos tem objetivo diferente da adivinhação do futuro
usado no passado. Augusto Comte, que fundou a escola filosófica do positivismo
e criou um conceito de ciência social denominada Sociologia, em suas
postulações e assertivas aniquilou definitivamente a astrologia; e dizem que
com isto deu-se advento ao materialismo e descrença generalizada no poder
místico da astrologia que, até então, era considerada ciência.
Na filosofia maçônica as colunas zodiacais são apenas
símbolos para estudo, destituídas da atribuição de aspectos da predição do
comportamento do homem. É fácil deduzir que sua existência no Rito Escocês
Antigo e Aceito tem finalidade educacional, parte de metodologia de treinamento
específica à semelhança de outros símbolos e ferramentas.
Para o iniciado colocado no plano do templo,
independentemente da posição que ele ocupe no Ocidente, na coluna do Norte ou
do Sul, ele faz parte do centro da loja. Está cercado pelas colunas zodiacais
em qualquer posição que ocupe naqueles quadrantes. Observando o conjunto homem
e colunas apenas sobre o plano definido pelo piso, estas colunas estão
dispostas fisicamente, como resultado do projeto arquitetônico, em alinhamento
com as paredes do templo. Mas em verdade estão dispostas sobre um círculo
imaginário cujo raio é de tal amplitude quanto a imaginação do observador pode
alcançar. O círculo é dividido em doze partes iguais e para cada fragmento de
arco assim definido deu-se o nome usado pelos astrólogos no vaticínio do
destino do homem. Não é circunferência de raio infinito, porque este é apenas
conceito matemático abstrato, pois a abrangência desta observação é limitada às
constelações visíveis da Terra, mesmo que com apoio de instrumentos. O raio é
finito, limitado, assim como o mundo material, mas nada impede de o observador
especular para além deste limite, para algo bem mais amplo, sempre de
abrangência limitada. É por isto que todas as colunas zodiacais ficam no
Ocidente, onde o Universo é limitado e restrito ao mundo material e visível.
A jornada do iniciado revela a existência de outros valores
e segredos só desvelados aos que persistem nos estudos do rito. Assim são as
estórias, as ficções, lendas usadas para transmitir elementos éticos e morais
ao maçom. As colunas presentes nos templos são utilizadas como símbolos para
transmitir e construir aquela lenda e funde-se ela. Elas são lendas também.
Este uso é nobre e aprovado. Imprime valor prático e sevem para a edificação de
homens completos e aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo.
Em Maçonaria o observador sempre é conduzido a olhar uma
composição de símbolos em seu centro, onde está a informação para a qual se
deseja chamar a atenção:
- O delta possui ao centro um olho ou a letra iod;
- A estrela flamígera tem ao centro a letra G;
- Esquadro e compasso têm ao centro o livro da lei.
No centro da loja tem o homem, o obreiro, que de seu ponto
de observação observa o Universo conhecido. Nesta observação desloca-se pelo
cosmos segundo o caminho demarcado pelas colunas zodiacais. Pode começar sua
peregrinação em qualquer posição desta circunferência ao redor do ponto central,
local onde existe menor agitação, e depois vai se afastando cada vez mais em
suas pesquisas da verdade. É um caminho que não tem início nem fim, dando a
conotação de que a especulação é ilimitada e nunca se deve rotular uma Verdade
como absoluta e final. Sem as colunas como referência, demarcando o caminho a
seguir para adentrar ao Universo do iniciado, esta jornada seria, no mínimo,
temerária. Cada coluna representa uma constelação conhecida que serve para
determinar direções para a cognição no estabelecimento da Verdade. A ordem em
que estão colocadas dá a direção a ser seguida por aquele que busca a verdade
alicerçada na filosofia maçônica. Nada têm de mágico porque o conjunto é apenas
suporte para especular detalhes pormenorizados da jornada entre a materialidade
e a espiritualidade, do esquadro ao compasso, da religação individual com a
divindade em cada um.
Depois de perambular pelo Universo conhecido,
maravilhando-se com a obra do Incriado, até onde a vista alcança, até onde a
imaginação o carrega, o homem passa a olhar para si mesmo e caminha ainda mais
para o centro, buscando a paz e a tranquilidade de um local sem agitação. E bem
no centro de si mesmo, ao centro do próprio homem, contempla outra maravilha,
outro Universo, uma miniatura daquele cosmos conhecido e representado pelas
colunas zodiacais que é o seu ser. Este é o centro do Universo da ótica do
iniciado. É quando ele desvela o seu mundo interior, a suprema Verdade do
triunfo humano, a espiritualidade do maçom ou aquilo que ele considera a
representação da mesma. O conjunto aponta o cosmos, de onde é réplica uma
realidade física e transcendental interna de cada iniciado, o seu macrocosmo, o
seu Universo interior, onde ele encontra os vestígios do Grande Arquiteto do
Universo e torna-se homem livre e útil ao propósito divino.
Bibliografia
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título original: Dictionaire des Symboles, tradução: Vera da Costa e Silva,
ISBN 85-03-00257-4, 20ª edição, José Olympio Editora, 996 páginas, Rio de
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