sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Oposição à Maçonaria e Livros Antimaçônicos

Análise resumida da perseguição religiosa e política aos maçons pelo mundo e o que realmente se faz dentro dos templos da Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


Inúmeras obras antimaçônicas foram escritas no passado. Algumas com consequências mortais, instigando a perseguição de parte dos fundamentalistas políticos e religiosos. São exemplos: a perseguição na Alemanha, por Adolf Hitler; na Espanha, Francisco Franco; diversos papas católicos e líderes de outras miríades de religiões fundamentalistas. Milhares de maçons foram assassinados em consequência destas obras escritas apenas para público profano desejoso de conhecer os "terríveis segredos da Maçonaria". Outros tinham por alvo disseminar mentira e instigar à discriminação racial, guerras ideológicas e sanguinárias, como no caso de "Os Protocolos dos Sábios de Sião".

Houve obras antimaçônicas que causaram até bem para a ordem maçônica porque trouxeram mais informação útil que alguns livros maçônicos escritos com o objetivo de auxiliar, ou registrar fundamentos, filosofias e sua história ou liturgia. Existem obras de autores maçônicos causadores de danos graves; são os escritos por pessoas de pouco ou nenhum conhecimento técnico histórico. Inventaram estórias e dados inconsistentes que, de tanto serem replicadas, alcançaram até status de verdade, mas alimentam as baterias dos detratores. Existem casos onde os fatos relatados têm mínima chance diante de uma pesquisa superficial; é pura ficção, de pouco ou nenhum suporte. Obras que não respeitam a inteligência dos antimaçons, e certamente, muito menos ainda, a dos maçons. O observador arguto deduz prontamente que, os piores inimigos estão dentro da Maçonaria, constituído de "irmãos" oportunistas e astutos na preparação de ardis, que à luz da pesquisa desmoronam, revelando sórdidos objetivos comerciais. Estes sim expõem a Maçonaria Universal a ridículo e perigo; geram a munição que os detratores da instituição maçônica buscam para carregar suas armas insidiosas.

Apenas um ano após a aparição da primeira constituição maçônica, quando, em 1724, foi escrito o Livro das Constituições de James Anderson, surgiu em Londres, de autor anônimo e edição de Willian Wilmont, um pequeno impresso com o título "Revelado o Grande Mistério dos Maçons". Tudo leva a crer que o autor foi um covarde maçom, cujo único objetivo foi vender informações maçônicas ao maior número de pessoas. Depois surgiu "Toda a Instituição Maçônica", revelando até sinais e palavras. Foram muitos os textos que surgiram na época, alguns até plágio dos primeiros, mas todos com o objetivo de fazer dinheiro à custa da curiosidade profana. A partir de 1730 surgiram obras antimaçônicas de vulto e impacto: "A Maçonaria Dissecada" de Samuel Prichard. Em 1744, o abade Perau publicou o livro: "A Ordem dos Franco-maçons Traída e Seus Segredos Revelados". Neste mesmo ano, Luiz Traveno publicou diversos livros versando sobre Maçonaria, sempre expondo assuntos internos, no claro objetivo de apenas vender livros e fazer dinheiro. Em 1760 foi editado um livro de autor desconhecido, "As Três Batidas Distintas". Em 1762 apareceu o livro "Jaquim e Boaz". Depois surgiu "Memórias do Jacobismo", do padre Augustinho Barruel, o qual é considerado, de fato, o pai da antimaçonaria, pois sua criatividade criou fábulas tão verossímeis que estas ainda hoje prejudicam os maçons.

De todos estes autores podemos aceitar até motivação por ódio e oportunismo comercial contra a Maçonaria, pois não eram maçons. Entretanto, o maior mestre do engodo, de todos os tempos, foi o aprendiz maçom Leo Taxil, este causou estragos terríveis à ordem maçônica. Depois deste "irmão" surgiu frei Boaventura em seu livro "A Maçonaria no Brasil", também pretendia contar os "segredos" dos homens que se reuniam a portas fechadas em confrarias fraternas.

O supremo campeão é sem dúvidas "Os Protocolos dos Sábios de Sião", obra ficcional na qual foram baseadas as invenções de alguns detratores e principalmente de parte do padre Barruel, dando conta de uma suposta "Conspiração Maçônica", e onde foram dramatizadas situações sem fundamento que muitos males causaram aos maçons ao longo do tempo; nem as dramatizações de Leo Taxil e todos os anteriores ao padre Barruel causaram tanto mal. Mesmo escrevendo diversos livros dos dramas e problemas proporcionados, não se esgota o assunto da antimaçonaria.

Na Internet encontram-se inúmeros sites contendo informações desencontradas da organização e ação da Maçonaria que carecem até de algum discernimento para perceber o engodo nelas contido. Em sua maioria são produções que usam os livros já citados e até da bíblia judaico-cristã como plataforma da calúnia e raciocínio falso. Todo extremismo, todo fundamentalismo religioso e político tem estas características; quando não consegue convencer pelo argumento lógico e claro, apela para a mentira e fantasia, torce o sentido das palavras de seus livros sagrados para denegrir qualquer obstáculo que lhes embarace o caminho aos negócios bilionários ou caça ao poder efêmero.

Felizmente a instituição maçônica provê abertura para debate de amplo leque. Maçonaria não se faz com templos, livros, grandes lojas, grandes orientes, sinais, palavras de passe ou palavras sagradas! Estas são apenas ferramentas, utensílios que facilitam o raciocínio, abrem o entendimento. Maçonaria se faz dentro da mente e no coração! Todo o resto é ilusão! Nem mágica ou Misticismo colaboram, antes denigrem e municiam os inimigos com argumentação para quebrar e hegemonia da Maçonaria Universal. Não fossem a pequenez e fragilidade humana, as ferramentas, obediências, ritos e locais de reunião seriam até desnecessárias! A Maçonaria seria dispensável! Tentar revelar os "segredos" da ordem maçônica é seguramente um vão esforço dos detratores de alcançarem o vento na corrida! Grandes pensadores já intuíram em tempos idos que, onde existirem pessoas que se tratam como irmãos e demonstram profundo amor entre si, com certeza ali estará o espírito do Grande Arquiteto do Universo e se pratica a verdadeira Maçonaria; independente se as pessoas forem ou não iniciadas. A iniciação verdadeira ocorre no coração. É dádiva divina! Resultado de sã racionalidade, lógica e espiritualidade, equilibrados.

Um dos mais fantásticos insights proporcionados pela Maçonaria é o autoconhecimento; "o conhece-te a ti mesmo", de Sócrates; a viagem interior que afasta da mente todo apego estrito à palavra escrita ou falada e revela a espiritualidade; o lugar onde está o Deus, onde cada um tem o Deus criado a partir de antropomorfismo que é característica do homem comum. O maçom sequer discute ou gera Deuses à sua imagem e semelhança, porque seres desta magnitude não cabe dentro da lógica e apenas gera separação e ranger de dentes, daí usar apenas do conceito de um Princípio Criador, ao qual denomina Grande Arquiteto do Universo. É a razão da paz encontrada entre as colunas das lojas dos maçons.

É o conhecimento da verdade relativa em todas as questões que conduz ao crescimento pessoal e espiritualidade avançada; o maçom que possui o conhecimento da Maçonaria em si não é idólatra, materialista ou medíocre. O fundamentalismo de qualquer espécie terá muito trabalho para manter a cegueira que subjuga por uns tempos, já que a evolução espiritual e do autoconhecimento do maçom promovem o discernimento que conduz à sabedoria e liberdade.

O livre pensador torna-se independente de intermediários na busca de sua espiritualidade. O Deus que busca está perto para o iniciado e muito longe ao cego escravizado, num hipotético céu, em virtude de estar submetido a dogmas e fantasias dos inimigos da liberdade. As religiões querem escravos do pensamento para manter seu poder temporal efêmero, algo do que a Maçonaria liberta seus homens e, devido a isto, as religiões odeiam a ordem maçônica criando mentiras. O mesmo faz o poder político absolutista, ditatorial.

Vencer aos detratores da Maçonaria é a razão do maçom cauterizar e envolver sua mente de forte couraça de aço. Aprende a usar da espada numa mão, que é sua língua manejada com maestria na derrubada das mentiras ou raciocínios ilógicos e, na outra mão, porta a trolha com a qual constrói e apazigua uma sociedade livre de obscurantismo.

O corpo do maçom, que constitui seu templo, o seu lugar de adoração sagrado, permanece puro, imaculado da perfídia imunda do obscurantismo gerados por religiões e ideologias políticas que conspurca a sociedade humana. Porque o Deus que reside no maçom é tão verdadeiro como aquele que reside em qualquer outra criação do Universo. A Maçonaria promove nos homens por ela treinados a mais ampla liberdade; a suprema liberdade do pensamento; é onde qualquer ser racional é absolutamente livre por característica de projeto devido ao Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

2. BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Editora Pensamento, 1979;

3. CARVALHO, Francisco de Assis, O Avental Maçônico e Outros Estudos, número 6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 160 páginas, Londrina, 1989;

4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;

5. PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33 do Brasil, Volume 1, 1832 a 1927, primeira edição, Kosmos, 405 páginas, Rio de Janeiro, 1981;

6. WESTCOTT, William Wynn, Maçonaria e Magia, título original: Tha Magical Mason, tradução: Joaquim Palácios, ISBN 85-315-0384-1, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 240 páginas, São Paulo, 1983;

Alegoria e Parábola

Pesquisa genérica sobre o significado de alegorias e parábolas.

Charles Evaldo Boller


Parábola na literatura é nome dado pelos retóricos gregos a uma ilustração literária, cuja verossimilhança se realiza estabelecendo um vínculo entre a ficção narrada e a realidade a qual remete. Método de interpretação aplicado por pensadores gregos (pré-socráticos, estoicos etc.) aos textos homéricos, por meio do qual se pretendia descobrir ideias ou concepções filosóficas embutidas figurativamente nas narrativas mitológicas. Texto filosófico escrito de maneira simbólica, utilizando-se de imagens e narrativas com intuito de apresentar tropologicamente ideias e concepções intelectuais [Autores como Platão (427 a. C. -348 a. C.) ou, na filosofia moderna, Nietzsche (1844-1900) recorreram a esta forma de expressão.]

A Maçonaria é definida através das instruções maçônicas inglesas, como um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos.

"A Maçonaria é um sistema de moralidade desenvolvido e inculcado pela ciência do simbolismo. Este caráter peculiar de instituição simbólica e também a adoção deste método genuíno de instrução pelo simbolismo, emprestam à Maçonaria a incolumidade de sua identidade e é também a causa dela diferir de qualquer outra associação inventada pelo engenho humano. É o que lhe confere a forma atrativa que lhe tem assegurado sempre a fidelidade de seus discípulos e a sua própria perpetuidade." De fato, a Maçonaria adotou o método de instrução, ela não o inventou." (Albert Galatin Mackey)

O simbolismo é a ciência mais antiga do mundo e o método de instrução dos homens primitivos. É graças a ele que tomamos conhecimento hoje, da sabedoria dos povos antigos e dos filósofos. O acervo religioso, cultural e folclórico da humanidade está preservado através do simbolismo, desde a pré-história.

O princípio do pensamento simbolista está fincado em uma época anterior à história, nos fins do período paleolítico. Os mestres da humanidade primitiva podem ser facilmente localizados, através de estudos sobre gravações epigráficas.

A Maçonaria é legítima herdeira espiritual das sociedades iniciáticas da antiguidade, porque perpetua o tradicional método de instrução, no ensinamento de suas doutrinas.

"O Simbolismo transforma os fenômenos visíveis em uma ideia, e a ideia em imagem, mas de tal forma que a ideia continua a agir na imagem, e permanece, contudo, inacessível; e mesmo se for expressa em todas as línguas, ela permanece inexprimível. Já a Alegoria, transforma os fenômenos visíveis em conceito, o conceito em imagem, mas de tal maneira, que esse conceito continua sempre limitado pela imagem, capaz de ser inteiramente apreendido e possuído por ela, e inteiramente exprimido por essa imagem." (Johann Wolfgang von Goethe)

"O simbolismo é a linguagem da ascese. Para além do tempo e do espaço, liga a dimensão individual quotidiana, psicológica à escala cósmica, supra individual. Pode variar na sua expressão, nas suas representações exteriores, mas os seus fundamentos permanecem imutáveis". (Jean-Pierre Bayard)

"Os símbolos não são simples imagens passivas, transformadores de energia psíquica, modificam a natureza secreta do homem. O símbolo não é um conceito sábio, em entidade abstrata, mas sim uma lei profunda, que exerce o seu poder sobre a natureza interior do ser humano. O símbolo permite a transmissão da mensagem, veicula o elemento central da ideia, para além das diferenças de cultura e de civilização. Ele é intemporal." (Jean-Pierre Bayard)

"O símbolo oferece-se em silêncio àquele cujos olhos do coração estão abertos". (André Pothier)

1. Símbolos místicos e religiosos tradicionais:

  • Evocação da ideia de Deus, representada pelo Triângulo, Delta Luminoso ou por Três Pontos;
  • Sol, representado pelo Círculo com um ponto central;

2. Símbolos da arte da construção:

  • Medida na pesquisa, representada pelo Compasso;
  • Retidão na ação, representada pelo Esquadro;
  • Vontade na aplicação, representada pelo Malho;
  • Discernimento na investigação, representado pelo Cinzel;

3. Símbolos herméticos e alquímicos:

  • Os quatro elementos herméticos, representados pelo Ar, Terra, Água, Fogo;

4. Símbolos com significado particular:

  • A união entre os Maçons, representada pela Romã;
  • A união fraternal, representada pela Cadeia de União;

5. Outros símbolos tradicionais:

  • Pitagóricos, representados pelos números;
  • Cabalísticos, representados pelas sefirotes;
  • Geométricos, religiosos e muitos outros que servem a um significado maçônico.

Bibliografia

1. Dicionário Eletrônico Houais;

2. Enciclopédia Microsoft Encarta;

3. MACKEY, Albert Galatin, Encyclopedia of Freemasonry.

A Prática da Dinâmica de Grupo na Maçonaria

O debate em sessão maçônica é poderosa ferramenta de transferência de conhecimentos.

Charles Evaldo Boller


É no debate, na atividade em grupo que o ser humano, considerando seus valores e princípios, acumula conhecimentos em resultado da experiência da vida em grupo. Esta experiência de vida em comum com as pessoas tem caráter de transmitir complicados processos de pensamento em resultado da reciprocidade dos processos da comunicação humana. Isto acontece na divisão do trabalho e na organização social, e principalmente numa sessão maçônica, onde os homens se reúnem para discutir temas e com certeza sempre saem de uma reunião com pensamentos individuais melhorados. Sobressai o patrimônio cultural da comunidade e cada indivíduo é enriquecido de forma surpreendente. Todos os participantes se beneficiam do esforço intelectual de cada membro do grupo.

Uma analogia simples é comparar as atividades do pensamento ao fato de vivenciar que é da reunião de pequenas poupanças que surge o desenvolvimento social. São exemplos: as instituições bancárias, as empresas de investimento, cooperativas, sociedades anônimas, e outras. Basta estender este raciocínio para o trabalho em grupo de um debate bem dirigido. Os debates da Maçonaria funcionam qual cooperativa intelectual; todos ganham dividendos imediatos em resultado de sua produção em equipe. Somam-se as experiências individuais e cada participante passa a ser depositário do conhecimento dos demais participantes.

Quando se cria em loja um processo sistemático de transmissão de experiência, além de transformar os momentos de reunião em algo prazeroso ela se torna rentável até em termos financeiros porque os dividendos do investimento intelectual ocorrem imediatamente se a experiência acumulada em resultado do somatório das experiências individuais for colocada em prática. É onde o maçom torna-se homem de ação e progride em seu meio social. Desenvolver os processos mentais não é tarefa individual, algo que se possa efetuar com sucesso longe do convívio social: o acumulo de conhecimentos é um processo coletivo e sua aplicação é individual; dependendo apenas de como cada participante aceita mudar a si próprio; é a prática do famoso "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates.

O interessante destes procedimentos é a ascensão de uma nova era de transmissão de experiências. Com isto desaparece a figura do professor, do ministro, do sábio, e prevalece a força do grupo sem a ocorrência de desperdícios da experiência acumulada. O coordenador de um grupo de debate não é professor ou chefe. Os debates devem nivelar a loja; todos os degraus e balaustradas devem sumir para que aconteça a igualdade do grupo. O coordenador é quem menos fala, mas pode ser aquele que detém maior conhecimento sobre o assunto em pauta. Quem debate são os membros do grupo, o coordenador é mero participante em pé de igualdade e tem autoridade apenas para ceder a palavra ou retornar o debate ao tema quando eventualmente ocorre desvio. Com a participação ativa de cada membro no debate, os participantes passam a gostar cada vez mais das atividades culturais porque é a essência do ócio criativo defendido por Domenico de Masi.

No debate desaparecem as cercas divisórias incutidas pela divisão do trabalho da sociedade que dá aos participantes classificações como: engenheiro, médico, balconista, arquivista e outros. Estas designações funcionam como etiquetas que são afixadas a cada cidadão e muitas vezes os fazem despercebidos no meio social em que vivem, como é o caso das atividades mais humildes, mas extremamente importantes como por exemplo: garis, faxineiros, copeiros garçons, e outros. O debate em loja tem o objetivo de eliminar estas diferenças e propiciar a participação de todos em pé de igualdade. Vale o poder do pensamento. E é desta diferença cultural que o grupo de debate se vale para melhorar cada um de seus participantes. São eliminadas as estereotipadas diferenças burocráticas e enaltecidos os valores de cada indivíduo.

Todos os maçons são cultos na base experimental de valores e princípios. Todo homem é culto. Por vezes o mais humilde participante de um grupo de debate é o que mais contribui com experiência ao tema que está em discussão. Frequentemente é dos calados e humildes que afloram as melhores soluções ao tema que está em discussão. Dai um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito afirmar que o conhecimento não é questão do cargo, mas resultado do espírito colaborativo que surge num grupo de debates. Num debate ninguém dorme. Não existem as aulas ministeriais, desaparece a figura do doutor e do professor; todos são iguais conforme estipulado pelo dístico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Comparando a atividade oratória numa palestra com um vibrante debate entre diversos irmãos: com cinco minutos de oratória as mentes dos ouvintes iniciam um processo de divagação, em sete minutos desvio para outros pensamentos, em dez minutos acontece bloqueio total das palavras do orador, o ouvinte pode chegar até a dormir; resultado: pouco é aproveitado por tratar-se de atividade passiva. Num debate isto não acontece. Todos ficam ligados ao debate porque podem ser acionados a qualquer momento a se pronunciarem sobre o assunto e só esta expectativa mantém todos vigilantes a ativos; resultado: muito do conhecimento compartilhado é aproveitado pelos elementos do grupo.

Numa loja maçônica existe o ambiente propício para o desenvolvimento de debates produtivos e motivadores porque as sessões estão pautadas em:

  • Disciplina treinada de falar um de cada vez, sem apartear o orador que está com a palavra;
  • O princípio da autoridade calcada na hierarquia que todos respeitam e obedecem;
  • Não degeneração em sufocação da liberdade ou coação;
  • A hierarquia não impede que os membros se considerem pessoas livres e questionem ordens - sem questionamento desaparece a responsabilidade;
  • Homens motivados em serem amigos da sabedoria ("Philos" e "Sóphia"), o filosofar maçônico que faz a todos crescerem muito além daquilo que cada um tem em si antes de adentrar ao templo; personalização do indivíduo - são construídos homens diferentes de instrumentos de uma linha de produção ou simples executores de ordens;
  • Conscientização da necessidade de participação de indivíduos menos cultos;
  • Grupo que desenvolve um ambiente amoroso e fraterno;
  • Princípio da igualdade;
  • Obediência às leis e regulamentos; e outras.

As sessões com debates atraem as pessoas porque cada obreiro sai fortalecido e renovado da reunião para suas atividades do cotidiano. Torna-se mais astuto na convivência com outras pessoas, fugindo às demandas improdutivas e com isto cresce no meio social. Tal disposição mental é resultado da convivência e do treinamento a que se sujeita dentro da loja em debates onde sua capacidade intelectual vive em constante desafio para montar o pensamento para o bem da comunidade. E como construtor da sociedade o maçom obtém sucesso em seu meio social e dá honra e glória ao Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;

2. BERKENBROCK, Volney J., Dinâmicas para Encontros de Grupo, ISBN 978-85-326-2916-6, primeira edição, Editora Vozes limitada., 148 páginas, Petrópolis, 2008;

3. LIMA, Lauro de Oliveira, Dinâmicas de Grupo, na Empresa, no Lar e na Escola, Grupos de Treinamento para a Produtividade, ISBN 85-326-3151-7, primeira edição, Editora Vozes limitada., 310 páginas, Petrópolis, 2005;

4. MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e lá Concretezza, tradução: Gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;

5. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

6. MASI, Domenico de, O Ócio Criativo, tradução: Léa Manzi, ISBN 85-86796-45-X, primeira edição, Editora Sextante, 328 páginas, Rio de Janeiro, 2000;

7. RUSSELL, Bertrand Arthur William; MASI, Domenico de; LAFARGE, Paul, A Economia do Ócio, ISBN 85-86796-87-5, primeira edição, Editora Sextante, 184 páginas, Rio de Janeiro, 2001;

O Maçom e o Trabalho

 Símbolo de força e trabalho.

Charles Evaldo Boller


O homem vê o trabalho como atividade em que se autorrealiza e com o qual transforma a natureza. E só começa a realizar um serviço depois de haver pensado e planejado intencionalmente a tarefa. Não existe trabalho sem o uso conjunto da força e do intelecto, ambas se complementam. Enquanto o projeto é uma ação passiva, o trabalho é uma ação ativa. O resultado é a realização prática de algo.

A ferramenta que representa o trabalho nas oficinas maçônicas é o malho. Este representa a força bruta, a vontade que executa. Sem a vontade do malho o cinzel não poderia exercer seu livre arbítrio. E, longe de ser destituído de racionalidade, algo embrutecido e aleatório, ele representa a intenção por trás da ação. Não é apenas um aglomerado metálico, pesado e violento, muito menos sinônimo de obstinação ou teimosia.

Baseado na maneira como o malho atua, batendo vez após vez, denota-se que sua atividade é firme e perseverante. Ele não executa todo o trabalho de uma só vez, mas em pequenos avanços, firmes e objetivos. Age de forma descontinua, num esforço inconstante, em pancadas, pois se exercesse pressão continua sobre o cinzel, este perderia todo o rigor na execução da obra final. Como o conjunto não é aparato de criação, mas de desbaste, sempre arrancando e nunca acrescentando, impõe-se disciplina, levando aquele que o empunha a alterar sua visão de mundo e principalmente de si mesmo.

Sem o malho o maçom não poderia trabalhar a pedra bruta e não teria como se autoproduzir; porque é ele mesmo quem trabalha a sua "pedra" interior. Esta deve ficar plana e esquadrejada; obtendo com isto uma condição aprovada, que lhe permita fazer parte da estrutura do grande templo. Ao desbastar a pedra bruta, dela são arrancadas as superficiais e grosseiras arestas da personalidade, sendo que a sua atuação deve ser forte, resoluta e pode até ser dolorosa. O malho é o emblema do trabalho, é quem fornece a força material, para de forma figurada aplainar a pedra bruta e culminar em educação, polindo a silvestre e inculta personalidade para uma vida e obra superior. O acabamento de um trabalho assim conduzido resulta em amarrar intimamente a energia que age e a determinação moral. O resultado é fina educação ou polidez, e os produtos desta associação são belos, sutis e delicados, revelando o intelecto que atua por traz da ação.

Sem o uso do malho com mestria e vigor, o maçom não poderia derrubar obstáculos e superar dificuldades, haja vista que é na constância e na determinação que desenvolve habilidade e imaginação. O seu uso o leva a aprender e conhecer as forças da natureza e a desafiá-las; leva-o a conhecer as próprias forças e limitações; relaciona-o com os companheiros e leva-o a viver o afeto desta relação.

O malho é sempre empunhado pela mão direita, o lado ativo, ele também é a insígnia do comando, da direção. Simboliza a vontade ativa, a energia, a decisão, o aspecto ativo da consciência do maçom, a força e a vontade. É o indutor da iniciativa, da perseverança, é, enfim, o símbolo da inteligência que age e persevera, que dirige o pensamento.


Bibliografia

1. BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Segundo as Regras da Simbólica Esotérica e Tradicional, título original: La Symbolique Maçonnique, tradução: Frederico Ozanam Pessoa de Barros, ISBN 85-315-0625-5, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 400 páginas, São Paulo, 1979;

2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;

3. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;

O Templo Deve Ser Respeitado

Cada um se dá o valor que acha valer.

Charles Evaldo Boller


O templo não é local exclusivo para fazer ordem-unida, marchar, bater continência, apresentar armas, formar fileira, ler a ordem do dia e cumprir ritual de forma impecável. É local sagrado! Sim! É o espaço tridimensional físico mais sagrado que o maçom possui: ele mesmo! O templo é o local onde ele se percebe em união com o Todo.

É inaceitável comportamento inadequado dentro do templo que representa o homem símbolo no universo. Não se trata do templo físico feito de cimento, areia e tijolos: isso é matéria. O templo é outro. Feito de carne, ossos, nervos, e, principalmente, intelecto e espírito. A loja representa o homem. Feita para o homem. Simbolicamente é um homem deitado de costas com a cabeça no oriente. Adentrar ao templo significa que se está penetrando o local mais recôndito de si mesmo: representação viva do que cada um é. O maçom esclarecido e espiritualizado entra no templo consciente que está caminhando dentro em si mesmo. Local onde prospecta por virtudes, valores e mudanças em todas as dimensões.

É na aparência externa que o outro reconhece imediatamente aquele que já se iniciou maçom. Uma coisa é iniciar alguém, isso é simbólico, outra é iniciar a si mesmo, isso é sublime, real! A iniciação simbólica é trabalhada no grau de aprendiz maçom; a iniciação real acontece depois, em surdina, no íntimo de cada um. Inicialmente burila-se o lado externo da pedra: mundo da aparência, da fantasia, dos sentidos, daquilo que parece ser. Subsequentemente trabalha-se o interior da pedra, da realidade, daquilo que os outros não veem: que representa o maçom no universo. Este é o maçom de fato e em sentido lato. Aquele que já se iluminou enxerga dentro de si mesmo, vê dentro da pedra. O que passou pela cerimônia da iniciação pode até camuflar sua aparência externa que os outros veem, mas é impossível camuflar de si o que ele é por dentro.

A transposição das colunas vestibulares separa dois universos: macro e microcosmo; no macrocosmo está o homem que parece ser: corresponde à sala dos passos perdidos, átrio etc.; no microcosmo o homem real, que é: sua essência, existência, realidade, consciência, espírito, templo etc. Tudo no Universo é energia. O homem é energia. O pensamento é energia. A Mecânica Quântica já caminha em direção da obtenção de explicações razoáveis desta manifestação. Místicos reportam-se a algo denominado por eles como Egrégora, uma força coletiva que se manifesta em condições especiais de colaboração e fusão espiritual. Até associam a manifestação do espírito de pessoas mortas na criação desta manifestação etérea. Mesmo ao incrédulo da manifestação energética dos mortos em tais ocasiões há de considerar, no mínimo, a presença das pessoas vivas que colaboram com a criação de um campo energético concentrado. É física! O homem já está quase lá! Por ora apenas intuímos e percebemos tal possibilidade sentida, mas em futuro próximo haverá comprovação científica desta manifestação energética.

Isto dá sustentação para a necessidade de preparar o templo material de pedra, de modo a tornar-se eficiente para concentrar energias. Entrar no templo antes do que se definiu por consenso, ritualística e regulamentação é uma forma de conspurcar um local sagrado preparado para lidar com variadas formas de energia. Entrar antes de o ambiente estar preparado é desobediência, rebeldia, brutalidade. Pode-se até entrar antes do permitido! Quem impede ao embrutecido de fazer estragos? Apenas ele mesmo! Desobedecer ao acordado a priori certamente altera o espaço físico onde se formará o homem-símbolo espiritual que cada um é; respeitar tal dispositivo no mínimo acata o direito dos demais usuários do local. A falta de respeito ao local sagrado altera a essência espiritual coletiva dos irmãos reunidos em assembleia. Por empatia, com sentimento fraterno deve-se reverenciar o sentimento dos irmãos recolhidos dentro de si mesmos em presença do Grande Arquiteto do Universo! Maçonaria não é religião, o templo maçônico não é local de adoração, mas o mais sagrado dos templos que cada um é. Este local é sagrado, inefável, deve ser tratado com respeito porque assim cada um respeita a si mesmo. O templo de pedra é apenas a sua representação simbólica, mas quem o desrespeita e o conspurca com sua presença ao entrar antes da hora está desrespeitando primeiro a si próprio, depois a todos os outros irmãos que compartilham do mesmo espaço.

Entrar no templo é entrar no lugar mais sagrado do Universo para cada um: é adentrar em si mesmo. E nesta ocasião cada um se dá o respeito que acha que deve; se dá a importância que acha pertinente. Cada um entra em seu local mais sagrado trajando-se interna e externamente da forma em que se dá importância. Toda sessão em loja é magna para aquele que se respeita. Certo seria trajar-se sempre para evento de importante envergadura, ocasião magna. O ritual recomenda: terno, gravata, sapato, cinto, meias pretas e camisa branca. Qualquer diferença é apenas aceitável, tolerável, afinal cada um se dá o valor que acha possuir. Como falar de amor com alguém que nunca foi amado? Como poderá amar a si mesmo aquele que nunca foi amado? O bruto que não respeita a si mesmo nunca foi amado. Se o maçom em formação ainda não despertou e não se dá valor, pode entrar de forma contumaz, com a indumentária com que se sente melhor trajado para comparecer diante de si mesmo, dentro de si mesmo, diante do universo, perante o Grande Arquiteto do Universo: isto é pessoal, é intransferível. Cada um se dá o valor que acha que deve.

O templo é lugar sagrado que recebe a cada um naquilo que é em sentido lato, não tem como escamotear a própria percepção de realidade de si mesmo, da sua consciência e memória.

À glória do Grande Arquiteto do Universo, o templo deve ser respeitado!


Bibliografia

1. CAPRA, Fritjof, O Ponto de Mutação, A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente, título original: The Turning Point, tradução: Álvaro Cabral, Newton Roberval Eichemberg, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 448 páginas, São Paulo, 1982;

2. GOSWAMI, Amit, O Universo Autoconsciente, como a Consciência Cria o Mundo Material, tradução: Ruy Jungmann, ISBN 85-01-05184-5, segunda edição, Editora Rosa dos Tempos, 358 páginas, Rio de Janeiro, 1993;

3. KEATING, Kathleen, A Terapia do Amor, título original: The Love Therapy Book, tradução: Terezinha Batista dos Santos, ISBN 85-315-0797-9, 11ª edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 98 páginas, São Paulo, 1999;

4. ZOHAR, Danah, O Ser Quântico, Uma Visão Revolucionária da Natureza Humana e da Consciência, Baseada na Nova Física, tradução: Maria Antônia van Acker, primeira edição, Editora Best Seller, 186 páginas, 1990;

A Busca de Valores

A busca da felicidade e o sistema de regras na base moral.

Charles Evaldo Boller


O maçom busca a verdade em suas relações no alicerce moral. Esta base moral sustenta o sistema de regras que lhe trazem imediata felicidade. E em decorrência desta felicidade obtém sucesso nas áreas: profissional, familiar, social e política.

A busca da verdade não é tarefa fácil, algo como assistir a uma série de palestras ou debates. Não existe felicidade sem o aporte de conhecimento. A busca de conhecimento é tarefa árdua que deve ser encetada no dia-a-dia. Sem o saber não há existência, apenas vida vegetativa. A felicidade não é alcançável sem harmonia, sem um ambiente fraterno de convivência. A harmonia é algo que vem de dentro, da própria consciência, do meio em que se vive, do amigo de quem se gosta.

Partindo da base em que a felicidade é egoísta, o maçom obtém a vitória quando decide ajudar aos seus irmãos a encontrarem a própria felicidade. E esta felicidade deve ser exatamente como aquele irmão entende a própria felicidade que procura, sem impor o próprio conceito de felicidade ao outro. Se a felicidade está dentro de si mesmo, então cada um tem uma maneira diferente de busca e manutenção de estado de felicidade. E como esta não é o ter ou conquistar e sim no doar-se, sem sombra de dúvidas a felicidade resulta do estender a mão, do compartilhamento. Uma vez que se doe algo ao irmão que resulte em felicidade isto reage como doce perfume que o doador passa ao outro, e sem dúvida, um pouco do cheiro fica no doador.

Este é o ambiente propício ao desenvolvimento do ambiente fraterno base para a moral e consequente encontro de verdades que antes estavam ocultas. Nasce a Ética. O maçom aprende da convivência a Ética onde as necessidades morais são definidas como a afirmação e reinvindicação de direitos: de reconhecimento, de ser amado e de tornar-se participativo.

Assim o maçom afirma valores que culminam na formação de comportamento ético em virtude da permanente busca de valores morais. O maçom vigia sobre suas ações de modo que vença a vaidade e mantenha-se com o orgulho dominado nos limites em que apenas expresse a justa medida da confiança que tem em si mesmo.

Aprende que vaidade e orgulho andam juntos e constituem a soberba, a falta de manter-se em níveis de humildade que não o tornem subserviente ou até covarde.

Os valores são exercitados dentro dos limites estabelecidos pela razão. Um pouco de orgulho faz bem a autoimagem, ao sentimento de pertencer a uma nação. Adicionalmente, se bem dimensionado, o orgulho é uma das mais potentes formas de realização criativa. Mas se o orgulho for aplicado nas relações interpessoais, principalmente em relação aos mais humildes, torna-se manifestação do mais horrendo erro ético.

Faz muito bem a aplicação de vaidade na maneira de apresentar-se bem apessoado, em resultado de ações bem feitas que melhorem a própria imagem ou do grupo onde se está inserido. Já a soberba é totalmente descartada porque se constitui da falta total de humildade. Tudo dentro dos devidos limites. Nada exacerbado.

O maçom aprende do bem e do mal, assim lhe fica possibilitada a passagem pelo uso de costumes que, mantidos devidamente equilibrados, somam valores ao homem e melhoram seus relacionamentos no meio em que vive.

Perde terreno aquele que não obtém esta visualização do uso de vaidade, orgulho e humildade que, em demasia, não são interessantes para se viver bem. O fato de não se analisar as fronteiras sem se confundir pode levar a pessoa ao fanatismo, um dos aspectos das relações humanas que a Maçonaria combate. Isto porque o fanatismo restringe a análise dos limites e faz com que se estabeleçam moldes dentro dos quais os déspotas mais truculentos forçam as pessoas a se adaptarem.

As necessidades são satisfeitas e limitadas às demandas das necessidades sociais quando visam à ordem social, como: saúde, educação, moradia e segurança. Assim, o maçom trabalha na prática da caridade e na exaltação das virtudes para fomento do caráter moral das necessidades sociais. Acrescenta às necessidades sociais aquelas de expressão imaterial e espiritual como: expressão pessoal, de mudança e de inovação. Solidifica-se na fidelidade ao dever para consigo mesmo, família, irmãos, amigos, Pátria e humanidade. Torna-se homem melhor, pois entende os caminhos para atendimento das necessidades sociais sem pervertê-las, desnaturando-as. Em virtude da ética maçônica, usa da satisfação das necessidades sociais sem que se tornem instrumento de dependência e exploração.

Sem valores morais os bens materiais perdem totalmente seu valor. O alicerce do valor material reside na força moral, nos valores morais.

Este é um dos caminhos da busca de valores para tornar-se homem saudável e equilibrado e que vive de acordo com o projeto elaborado pelo Grande Arquiteto do Universo.

Abóbada Celeste da Loja

Curta interpretação dos elementos decorativos da abóboda celeste representada no teto de uma loja maçônica simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Charles Evaldo Boller


O teto do templo, de forma abobadada, é pintado e representa o firmamento, cuja tonalidade, azul-claro no oriente, vai gradativamente escurecendo em direção ao Ocidente, entremeado de nuvens.

O Sol, com raios dourados, aparece um pouco à frente do trono.

Sobre o altar do primeiro vigilante, encontra-se a Lua prateada, em quarto crescente, sobre o altar do segundo vigilante uma estrela branca de cinco pontas".

Fornece detalhes de cada constelação e estrelas num total de trinta e cinco figuras.

Cada elemento deste céu tem seu significado particular.

Inicialmente utilizado para demonstrar o interesse pela astronomia dos maçons antigos; para o maçom moderno seu simbolismo ficou restrito à definição do tamanho do templo espiritual que é erigido por ocasião da abertura dos trabalhos, mesmo que cada elemento tenha explicada sua presença de diversas formas.

Referindo-se a tamanho físico do templo, seu comprimento é do oriente ao Ocidente; sua largura, do Norte ao sul, sua profundidade, da superfície ao centro da Terra, e sua altura, da Terra ao céu. A loja é representada deste modo, numa vasta extensão para simbolizar a universalidade da instituição e para mostrar que a caridade do maçom não tem limites, a não ser os ditados pela prudência.

A abobada decorada com corpos celestes simboliza a abertura que a consciência do espírito do homem deve tomar para alcançar o absoluto de suas aspirações transcendentais. O céu decorado não está limitado ao circunscrito pelos astros ali representados, mas tende a um finito plausível, limitado apenas pelo alcance da imaginação de cada um. Para o maçom em sua busca pela plenitude do espírito, este céu é como se fosse a união do espírito mundial que eleva a mente dele em sua crença em um Ser Supremo, o conceito de um Grande Arquiteto do Universo.

O maçom não discute este Ser Supremo porque é aquilo que a nenhum ser vivente e mortal é possível definir; se existem tentativas, estas são vãs e conduzem apenas a discussões vazias e especulações infindas que só conduzem a disputas e separações. Este céu é símbolo da transcendência de cada um à sua maneira e daquilo que lhe é sagrado e poderoso.

A transcendência é colocada acima, para o alto, porque é onde normalmente o homem, desde os primórdios de sua história, dirige-se em busca de sua espiritualidade, entretanto, ao longo do tempo, e do crescimento do maçom, ele descobre que aquele céu sobre sua cabeça tem um equivalente em seu interior; é o reconhecimento de um Universo interior, o macrocosmo, de que é composto o seu corpo físico à semelhança do Universo representado pelos desenhos; ao contemplar o céu pela ilustração da abóbada pintada no teto do templo, em verdade o maçom está olhando para dentro de si próprio.

Esta abobada celeste atende às necessidades básicas de introspecção; sejam deístas ou teístas, até o ateísta a usa em seu materialismo para reconhecer sua insignificância frente ao Universo; a absoluta maioria dos maçons tem nesta representação a dimensão do transcendental, de como ela é finita, e por isso não a consideram a representação total do homem, mas uma parte importante, sem a qual o homem é um ser incompleto. É dada para cada um a possibilidade de imaginar o cosmos, cujo significado original é colocar ordem em algo, de colocar beleza naquilo que cada um considera importante para a sua construção interna e transcendental. É o local das coisas elevadas, aquilo que o iniciado busca em lugares baixos para que lhe seja possível encontrar coisas insignificantes em lugares altos.


Bibliografia

1. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;

2. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 308 páginas, São Paulo, 2003;

3. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural limitada., 320 páginas, São Paulo, 2005;

4. RODRIGUES, Raimundo, Templo de Salomão, As Origens Históricas do Templo de Salomão e Outras Histórias Interessantes, ISBN 85-7252-203-4, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 184 páginas, Londrina, 2005;

Tronco de Solidariedade

Considerações a respeito do Tronco de beneficência ou de solidariedade;

Ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.

Charles Evaldo Boller


No Rito Escocês Antigo e Aceito é explicado ao neófito que o Tronco de Solidariedade arrecada dinheiro, denominado metais, que serão distribuídos depois aos necessitados. O obreiro coloca seu óbolo na mão e a fecha, coloca-a dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e solta sua doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus dedos, energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e a retira fechada. Ao retirar a mão fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração, também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do quadro.

Existem relatos que creditam a origem deste procedimento como remanescente ao tempo em foi construído o templo de Salomão, onde ferramentas, projetos, documentos e pagamento dos obreiros eram colocados dentro das colunas do templo, que eram ocas exatamente para esta finalidade. O pagamento de companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do interior do tronco das colunas o salário a que faziam jus.

Mas a origem mais convincente e lógica é francesa, pois naquela língua a palavra "tronc" pode ser usada tanto para tronco humano como para caixa de esmolas. Guarda-se apenas a simbologia deste procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais são meras figuras simbólicas e não são ocas.

A circulação ritualística da bolsa de solidariedade obedece ao formato de duas estrelas de seis pontas, que por sua vez são compostas cada uma por dois triângulos um dentro do outro, em posição invertida.

A marcha inicia no Ocidente, entre colunas, em direção ao oriente. O irmão hospitaleiro coloca a bolsa colada a sua cintura, ao lado esquerdo do corpo e inicia a marcha. Sem olhar para o que é depositado na bolsa vai passando por todos os obreiros em loja. O venerável mestre, primeiro vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador, secretário e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na primeira estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos mestres e oficiais da coluna do Sul e pelos mestres e oficiais da coluna do Norte, definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor externo formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela. E por fim, o cobridor externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa, retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas. Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do que deve fazer em seguida.

Normalmente o hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar do tesoureiro e ambos conferem o valor coletado. Em seguida o tesoureiro comunica ao venerável mestre o valor arrecadado. Durante a circulação da bolsa nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo. Normalmente é momento em que os obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois o ato de doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como culto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um. Para tornar o momento mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.

O retirar de metais não ocorre no instante em que o obreiro retira a mão da bolsa, mas é solicitado ao venerável mestre que determinará a seu critério mandar efetuar sindicâncias, para só então fornecer os recursos financeiros ao irmão em necessidade. Normalmente sequer é o beneficiado quem faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do hospitaleiro, mas pode ser qualquer outro irmão do quadro.

O irmão que não consegue pagar suas contas tem direito ao uso destes recursos? Não! Isto não é situação válida para obter recurso deste fundo. O obreiro teve sua casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu de forma inesperada, pode ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência? Sim! À critério do venerável mestre e da loja.

Sempre precisa haver razão válida, de real valor humanitário para se efetuar algum socorro. E esta ajuda é feita muitas vezes de tal maneira que o beneficiado sequer sabe de onde vem o recurso, é feita também de tal forma que não humilhe aquele; tem somente o objetivo de amenizar o sofrimento de quem realmente necessita. É por isto também conhecido como tronco da viúva, onde os filhos da viúva são os maçons.

Quando os fundos do tronco dos pobres ou da viúva atingem valor razoável, parte dele é destinado para obras de beneficência. Nunca é totalmente gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver necessidade de socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.

Não colaborar com o ato litúrgico do tronco de solidariedade é o mesmo que fugir da prática da caridade e torna o maçom indigno de exercer todos os demais privilégios maçônicos. E se possuir posses que lhe permitam fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo, pois poderá ser ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa. Se não colabora por vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha algo errado consigo mesmo. Dar esmola não significa mixaria, ninharia, insignificância; é melhor que não coloque nada e arque com as consequências que sua consciência lhe exigir.

É pela beneficência que o verdadeiro maçom se torna digno na procura de alcançar a glória de merecer de parte daquilo que ele considera o Grande Arquiteto do Universo, o seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação da sociedade.

Em sendo tão séria esta disposição então porque abusar da sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe o que o amanhã reserva?


Bibliografia

1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN 85-7252-158-5, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 1270 páginas, Londrina, 2003;

2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;

3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 143 páginas, Londrina, 2003;

4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;

Ritualística e sua Utilidade

Ritualística é portadora de mensagens subliminares e provocação esotérica.

Charles Evaldo Boller


Diversidade

Até o momento, ao longo da história da Maçonaria universal, estão compilados mais de duzentos ritos maçônicos diferentes, cada um com sua própria ritualística. Considere-se que rito nada mais é que uso e costume aprovado ou submissão a regramento externo imposto como forma de obediência. Albert Galatin Mackey analisou o assunto e, da origem grega do verbete deduziu que significa um caminho a ser trilhado, ou, por metáfora, um costume a ser seguido.

Para se entender uso e costume atrelado a rito é bom observar que, nas mais variadas sociedades espalhadas pelo mundo surgiram ritos como de: passagem de uma casta para a outra, gravidez, nascimento, parto, coragem do púbere, casamento, noivado, funerais etc. De prática social, os ritos passaram a impor moralidades impostas pela religião, com o objetivo de controlar o grupo social e seus rituais. A partir de confissões de fé a religião sugere a prece cujo rito passa por encantamento, promessa, adoração e oferenda.


Luz Maçônica e Individuação

Na Maçonaria o rito é procedimento para despertar Luz maçônica através da passagem por séries de graus, que, ao afinal, se reduz a método que verte do governo do rito. Essa Luz é algo que liberta. Tem o condão de transmitir conhecimentos para a obtenção da Individuação, necessidade humana estudada por gigantes pensadores da ciência da Psicologia e que trata de conceitos básicos para dar ao indivíduo sentido prático e útil à vida em grupo.

De formas diferentes, cada rito maçônico visa a felicidade geral da humanidade e colabora para a saúde psicológica do adepto. Essa busca por saúde é resposta à pressão interna de unidade e identidade para sentir-se bem. Uma das formas é o suprimento de visão da Verdade, apartada da cegueira do fanatismo e do obscurantismo. Naturalmente ocorre equilíbrio dinâmico entre o indivíduo e o meio social. A Individuação suporta a estrutura e funcionamento de sua individualidade e estabelece limites para cada fase da vida. Para o iniciado, essa saúde psicológica que orienta para a liberdade é focada desde os primeiros passos de sua vida maçônica quando, num lance dramático, lhe oferecem Luz para o entendimento e motivação para desenvolver sua Individuação.

É bela a perspectiva de desenvolver inúmeros momentos de felicidade e saúde psicológica na prática dos rituais maçônicos. A ritualística não oferece espaço para discussão vazia e desperdício de tempo útil com detalhes e implicâncias insignificantes. Ela é utilizada para preparar o ambiente para os objetivos nobres de espargir a Luz resultante de filosofar, debater e instruir. A ritualística é simples uso e costume, codificação de cerimônias apropriadas para estabelecer o ambiente respeitoso, particular, cerimonial e impregnar o subconsciente com poder e eficiência real na obtenção da Luz. O cerne da ritualística bem conduzida é a base para absorver a Luz, para a luta pela liberdade das cadeias que a sociedade impõe cuja alforria leva naturalmente ao exercício da Individuação.


Ritualística

A ritualística de cada rito é regulada por autoridade hierárquica própria. Cada maçom a ela se submete por força de juramento, leis e atos emanados de seus superiores. São instrumentos de obediência obrigatória aos maçons de cada obediência. Não é ato tomado à revelia ou de boa vontade, é obrigação! A História relata que, toda vez em que ocorreu rompimento do respeito à ritualística surgiram cismas e ranger de dentes.

A ritualística caracteriza cada rito e não pode se fundir a outros sem renunciar aos seus próprios usos e costumes. A legislação das potências permite a cada loja a escolha do seu rito, independentemente do número de graus de funcionamento e com a condição de que este rito seja praticado com reverência e perfeição. Pretende-se obter unidade de doutrina em cada rito. Cada loja é independente no que diz respeito a suas formalidades administrativas e cíveis, mas é submissa a executar com precisão a ritualística de seu rito. A formalização e o cuidado com a qualidade da ritualística uniforme numa jurisdição prende-se a detalhes como: identificar a qualidade dos iniciados; proteger os sentidos ocultos de cada grau; propor ações uteis à moral; aplicar doutrina e as regras para disciplinar o cultivo da fraternidade; e, principalmente, ações com o objetivo de proteger e uniformizar os ritos debaixo de sua jurisdição. Ressalte-se que os rituais podem passar por revisões e modificações, conforme a vontade e a critério das autoridades da jurisdição, mas é prática que gradualmente tende a buscar apoio nos rituais mais antigos e na evolução tecnológica, sem prejuízo do conteúdo esotérico. Nas grandes lojas brasileiras existem esforços da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil para obter rituais uniformes em todos os estados da federação.


Ritos

Quatro são os ritos regulares mais praticados e tidos como universais: simbólico ou azul; York ou moderno inglês; Schröder; e Rito Escocês Antigo e Aceito. No Brasil predomina o Rito Escocês Antigo e Aceito com seus 33 graus, dividido em cinco séries de graus: simbólicos, 1-3; inefáveis ou de perfeição, 4-14; capitulares ou históricos, 15-18; Kadosh ou filosóficos, 19-30; administrativos ou consistório, 31-33. Existe divisão de obediências entre os graus simbólicos 1-3, subordinadas às grandes lojas e os demais graus, 4-33 do rito, são administrados por obediência separada e subordinado a um Supremo Conselho.

A diversidade de mais de duzentos ritos da Maçonaria implica em sérias dificuldades para definir a origem da ordem maçônica. Existem historiadores e autores que atribuem a origem a colégios de arquitetos e pedreiros romanos de 715 a. C. Outros o debitam aos essênios e judeus na construção do templo de Jerusalém. Existem vertentes que o creditam a Zoroastro e até mesmo a Adão.


Complexidade que Divide

Que o tumulto de informações controversas não confunda a cabeça do obreiro recém-chegado à porta do templo. Exemplificando: em tempo recente houve cisão maçônica na Inglaterra entre Modernos e Antigos. O desentendimento estava relacionado à divergências a respeito de detalhes ritualísticos. As querelas chegaram a tal ponto que culminou na criação de nova grande loja onde os causadores do rompimento foram detalhes como: omissão das preces; descristianização do ritual, provado pelas Constituições de Anderson; ignorar os diáconos; afastamento do antigo método de arrumar a loja; ignorância e negligência dos dias santos com a realização das posses e das festas em dias que não eram os de São João; omissão da preparação do candidato segundo o costume; abreviação do ritual; negligência com as instruções; eliminação da espada flamejante na cerimônia de iniciação; acabar com a cerimônia esotérica da instalação de venerável mestre; etc. Aconteceu a separação. Passou o tempo. Hoje a Maçonaria inglesa reconciliou-se, mas daquela cisão resultaram os Maçons Antigos Livres e Aceitos, qualificação adotada hoje pelos membros de diversas obediências maçônicas.


Rito Escocês Antigo e Aceito

Quanto ao Rito Escocês Antigo e Aceito, este tem em sua origem múltiplas controvérsias. Há historiadores que negam sua origem prussiana, templária ou anterior. Seria mais acertada a assertiva que debita a base fundamental ao Rito de Perfeição, de 25 graus criado em Paris, em 1756, no Capítulo de Imperadores do Oriente e do Ocidente. Entre diversas guinadas foi levado aos Estados Unidos da América. Reunidos em Charleston, Carolina do Sul, distribuíram cargos, aumentaram os graus de 25 para 33, concentraram a administração, e, em 31 de maio de 1801, fundaram o primeiro Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Em presença de tanta controvérsia fica difícil ver ordem no caos. Para padronizar um ritual é justo e desejável que o mesmo seja perfeito e igual em toda parte. Considerando a diversidade da Maçonaria é natural que isto seja impossível, daí a ritualística ser profundamente afetada e diferente para o mesmo rito em países diferentes e até em jurisdições assemelhadas como nas grandes lojas do Brasil. Mesmo com todas essas realidades, embora as cerimônias ou o ritual variar em diferentes períodos e em diversos países, a ciência, a filosofia e o simbolismo continuam firmes em tornar feliz a humanidade pelo amor.


Templo

O templo maçônico é local místico, cerimonioso e sagrado, haja vista que foi ritualisticamente inaugurado. Não se confunda esse sagrado com a sagração de um templo religioso. O maçom venera e respeita o templo porque este representa o micro e o macrocosmo do homem em sentido lato. Dentro do templo ocorrem cerimônias onde fluem energias cósmicas ou telúricas, de Terra, do latim tellus, recebidas do Universo e que influenciam o planeta e sua biosfera. A própria Terra gera energias cuja frequência são composição de inúmeras fontes e beneficiam o homem. Os segredos esotéricos escondidos nos rituais conduzem ao raciocínio de que basta entrar em ressonância com essas frequências benéficas e absorve-las para manter a saúde psicológica e espiritual, e, consequentemente, evoluir para estágios melhorados em si mesmo.


Utilidade da Ritualística

Albert Galatin Mackey, em sua enciclopédia, define ritualística como o modo de abrir e fechar a loja, de conferir graus, de instalar e desempenhar outros deveres e de constituir o sistema de cerimônias extraído do ritual. Grande parte do ritual, independente do rito, é esotérica, e, por isso, não deve ser transcrito, transmitindo-se o Conhecimento por instrução oral. O ritual é apenas a forma externa e extrínseca do rito, a doutrina da Maçonaria é a mesma, o corpo é invariável e permanece sempre e em toda parte o mesmo. O ritual é o traje externo que cobre o corpo e está sujeito a constante variação de acordo com a evolução tecnológica e social.

Independente do rito, a importância da ritualística é vital ao desenvolvimento do maçom. Fazer-se presente à sessão é a oportunidade individual de construir espaços repletos de energias que carregam a consciência e o conhecimento de si mesmo. Trata-se de fenômeno que só pode ser sentido, impossível de ser escrito ou explicado em palavras. Prodígio que acontece naturalmente quando diversas pessoas se reúnem para o objetivo de serem felizes e distribuírem felicidade aos outros. O maçom iniciado internamente reconhece a importância em participar de cada reunião do grupo, maravilha que o motiva para a vantagem prazerosa de consumir os frutos salutares da convivência que alimenta a alma e modifica o ser. O júbilo de obter conhecimento é tanto que, após a sessão, é normal desejarem continuar juntos para apreciar ágape festiva que fortalece os laços de união.

O lado excelente e a utilidade da variedade de ritos são óbvias: trata-se de forma natural para atender aos anseios da enorme massa heterogênea e complexa de maçons que querem praticar o bem para a humanidade. Considere-se que "toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar." (Nelson Rodrigues, 1912-1980). As divisões em ritos e obediências são indício seguro que o maçom não é indiferente com a humanidade e lhe deseja o melhor e nessa direção vale que "o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença." (Elie Wiesel, 1928-1986).

Para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo, a diversidade agrega valor para a atuação da Maçonaria em todos os cantos do mundo, porque alimenta o espírito de todo homem desejoso de mudar a si mesmo em busca da Individuação, e essa o modifica internamente. Com a sua própria evolução o maçom modifica a sociedade para o bem.


Bibliografia

1. CASTELLANI, José, O Rito Escocês Antigo e Aceito, História, Doutrina e Prática, Cadernos de Estudos Maçônicos, 04, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 340 páginas, Londrina, 1988;

2. PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33 do Brasil, Volume 1, 1832 a 1927, 1ª edição, Kosmos, 405 páginas, Rio de Janeiro, 1981;

3. QUEIROZ, Álvaro de, A Maçonaria Esotérica, Rito Escocês Antigo e Aceito, 1ª edição, Madras Editora Limitada, 158 páginas, São Paulo, 2016;

Leis do Hermetismo na Maçonaria

Uma referência esotérica.

Charles Evaldo Boller


O Hermetismo ostenta sete leis básicas as quais pretendem orientar todas as coisas nas mais se baseiam as diversas realidades:


Lei de Correspondência

Revela no Hermetismo a cegueira da criatura em virtude da prisão planetária a que está sujeita. Ocorre em relação às referências fora da percepção. A Filosofia Hermética o designa por instâncias do imensamente grande como "em cima" e o infinitamente pequeno como "embaixo". O problema é ver, ou perceber os fenômenos fora da faixa sensível, pois não existem instrumentos adequados que ampliem a capacidade de percepção do observador.

O Universo e suas manifestações são estritamente energéticos.

Microcosmo – "embaixo" - e macrocosmo – "em cima" - é uma coisa só. Um está no outro.

Física e mecânica quântica não respondem todas as questões "em cima" e "embaixo". Tocam apenas a superfície das instâncias mais sutis. Em níveis mais elementares existem ordens de "inteligência espiritual" que organizam os fenômenos. Pensar que tudo acontece por acidentes e desequilíbrios aleatórios, num sem número de tentativas de acerto e erro, não é lógico.

Existe uma "inteligência espiritual".

Existe um Princípio Criador.


Lei do Mentalismo

No livro "O Gene Egoísta", Richard Dawkins confronta o leitor com uma aplicação do conhecimento da "inteligência interna" do DNA no tratamento de doenças. Onde o corpo parte na fabricação de enzimas com o objetivo de reparar tecido ou órgão afetado por doença. Parte do princípio que o DNA tem "inteligência" de reparar-se em busca de estados onde a energia circule livremente.

Daí existir uma percepção "inteligente" que pode ser influenciada para curar doenças. O que é traduzido como milagre debitado a divindades externas é a simples manifestação da "inteligência interior" controlada pela mente onde o divino está dentro do DNA da criatura.

Corpo e mente como uma coisa só.

Mente - software, inteligência - orienta a forma de canalizar a energia do corpo - hardware.

Na lei hermética do Mentalismo "tudo é mente".

O próprio Universo é mente ou "inteligência espiritual".

Pode-se deduzir a partir disso que a força da oração orientada pela mente canalize energias que produzem enzimas reparadoras. Algo parecido quando diversas pessoas pensam, vibram numa mesma direção harmoniosa, conseguirem influenciar no processo de cura, não apenas de si mesmas, mas até de outra pessoa em local distante.

É tudo energia vibrando e sintonizada para organizar o Universo.

Cada fenômeno em sua frequência.

Em diversificadas instâncias existenciais.

A receita para aprender com as leis do Hermetismo é "menos Prozac e mais Platão".

Os símbolos estão espalhados pela loja. Quem os vê? Pode ser comparado aos crentes que se dirigem aos santuários de Lourdes ou Fátima em busca de cura. Voltam curados? A maioria volta exatamente como foi. Quantos alcançam a graça de obter o nível de consciência que cura doenças? Poucos.

A potencialidade que se utiliza da "inteligência espiritual" está disponível em todos, dentro de cada ser, basta aprender a usá-los. Considerando que os cientistas ainda estão engatinhando no mundo quântico, é provável que os simples mortais ainda continuem, por muito tempo, em meras especulações intelectuais.


Lei da Vibração

A constatação da capacidade de cura fora do comum sem a participação da medicina e largamente experimentada por miríades de pessoas e remete à lei da vibração do hermetismo: "nada está parado, tudo vibra" - porque é tudo energia.

Energia é movimento oscilatório.

A criatura é enganada pelos seus sensores porque está no meio, entre o "em cima" e o "embaixo". Ancorada no planeta Terra. Em estados da matéria, que, como agora aventam os cientistas, possui algo em torno de 500 estados diferentes.

A investigação das partículas atômicas engatinha.

Os mais de 500 estados da matéria traduzem apenas graus de complexidade crescente de formação do Universo. Revela o quanto desconhecemos de nosso próprio corpo e de seus potenciais. 500 é pouco!


Lei da Polaridade

Nada concebemos se não existir desequilíbrio. Tudo tem seu oposto, senão não existe ou não o percebemos.

A lei da polaridade do hermetismo afirma a existência de dois polos em tudo. Não existe verdade quando se está limitado entre o "em cima" e o "embaixo". Até o momento ainda não encontraram no Universo um único monopolo sequer. Dualidade é presente nas manifestações das emoções, da luz, no som, na eletricidade, em tudo.


Lei de Causa e Efeito

A casualidade existe, mas é submetida a esta lei. Não existe acaso. Tudo tem propósito, é provocado e tem consequências. Inteligentemente concebido para organizar o Universo. Se algo é feito, há retorno, o que torna responsável seu autor.


Lei do Ritmo

O que sobe também desce. É criação e destruição. Debaixo desta lei os contrários movem-se em círculos de eternas modificações. Os orientais traduzem isto tão bem em sua filosofia.


Lei do Gênero

Masculino e feminino é manifestação da "inteligência espiritual" encontrada no âmago dos planos do Princípio Criador. Nada é totalmente masculino ou feminino. O yin e o yang representam bem a energia receptiva feminina e a energia projetiva masculina.

Dois são necessários para dar continuidade ao que define a "inteligência espiritual" existem em si. Polo algum produz sem a colaboração do oposto.


Hierarquia das Leis Herméticas

O homem é energia que varia a todo o momento; depende no que interage. Quanto mais desenvolve atividades para o bem mais energia aporta. A doença física diminui a energia a valores mínimos. Isto é representado pela pirâmide das necessidades de Maslow em seu último estágio, o da autorrealização, fase em que a pessoa não se preocupa tanto com aquisição e manutenção de bens materiais. O fim último do maçom deve ser o de alcançar o último nível das necessidades quando pratica o bem sem atentar a quem ou visar qualquer tipo de benefício próprio.

Mas os conhecimentos esotéricos estão fora de moda!

O conhecimento esotérico desaparece porque os homens prendem-se ao detalhamento e rigidez ritualística, realizando gestos e rotinas mecanicamente sem entender seu significado sutil. Assim como as religiões perdem influência modificadora, os mistérios esotéricos perdem sua capacidade de sedução para melhorar o maçom.

Poucos usufruem da benesse oferecida pela Maçonaria na transmissão de conhecimentos herméticos para provocar novos e inusitados pensamentos para alcançar o último degrau das necessidades humanas. Tais ensinamentos são passados como obrigação regimental para subir de grau como se a loja fosse degradada numa escola pública de periferia.

No simbolismo, o encanto logo desaparece na apatia com que os temas eruditos do hermetismo são degradados. Ao continuar a jornada pelos graus filosóficos existe para o maçom mais uma chance de obter um pouco deste conhecimento que influencia para o bem.

Utilizando da simbologia da pedra: a maioria vê apenas uma pedra arrancada da pedreira. O que é arrancado dela como cascalho. As imperfeições, os pedriscos arrancados pelo cinzel servem apenas para pavimentar lugares estagnados pelo vício e que devem ser esquecidos ao invés de mudar paradigmas e regulamentar o caminho ao interior da pedra.

Erros são experiências que não podem ser esquecidos para que não voltem a se repetir. A falta de filosofia impede a penetração na pedra. Não se busca a essência, a "inteligência espiritual" que reside no mais recôndito do ser, na sua essência. É lá que os símbolos fazem seu trabalho na mente. Os símbolos estão lá!

O sistema humano de coisas compete dentro da pedra, saturando-a de publicidade com modelos que se parecem com ela e com os quais ela se identifica para tornar-se igual, passando a consumir e praticar falsos valores. A pedra é educada para o esquecimento. Nada de ócio criativo e reflexivo que permite alimentar a mente com a energia necessária para bem cumprir com sua função reguladora. O despertar da mente inicia quando a profundidade do céu passa a ser parte da pedra, onde a profundidade insondável não está mais do lado de fora, mas dentro de si. A lei do Mentalismo se manifesta quando surge a percepção de que a pedra se conscientiza que ela é a experiência e não que ela apenas vive uma experiência.

O conhecimento esotérico não pode ser distribuído se espremido em formas, como padrões.

O buscador não deve ser forçado a aceitar velhas fórmulas ditadas por sábios de antanho. Ou só ser aceito no círculo esotérico quando atingir certos sinais externos e evolução em direção ao padrão definido pelos antigos.

As leis do hermetismo são genéricas, amplas e apenas uma das coadjuvantes na formação do maçom. O ritual apenas fomenta o aporte do conhecimento esotérico. O interesse de penetração nos mistérios é do buscador. A "inteligência espiritual" é parte de um diálogo íntimo, dentro da pedra cúbica. Daí a importância de reservar tempo para escutar o corpo.

As leis do hermetismo ajudam na caminhada por esta experiência que se assemelha a um sonho como rezavam os Upanishads. Despertar para o significado das leis do hermetismo é o conhecimento natural a ser trabalhado pela mente para restaurar o corpo. O objetivo é o autoconhecimento e deixar de viver a inércia do cotidiano como se este fosse a única realidade existente. Todos os grandes iniciados recomendam a obrigação de exercícios de introspecção para estimular a mente em sintonizar as energias que se deslocam pelo corpo físico de modo a curá-lo e orientá-lo a atingir os desígnios desenhados pelo Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

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2. MONTEIRO, Eduardo Carvalho, A Maçonaria e as Tradições Herméticas, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-144-5, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 174 páginas, Londrina, 2002;

3. PARANÁ, Grande Loja do, Ritual do Grau 01, Aprendiz Maçom, Rito Escocês Antigo e Aceito, 1ª edição, Grande Loja do Paraná, 126 páginas, Curitiba, 2013;

4. PUSCH, Jaime, ABC do Aprendiz, 2ª edição, 146 páginas, Tubarão Santa Catarina, 1982;

5. RAGON, José Marie, Ortodoxia Maçônica, a Maçonaria Oculta, a Iniciação Hermética, tradução: Ziéde Coelho Moreira, ISBN 85-370-0154-6, 1ª edição, Madras Editora Limitada, 476 páginas, São Paulo, 2006;

6. SOUTO, Élcio, O Iniciado, Drama Cósmico Maçônico, ISBN 85-7374-331-X, 1ª edição, Madras Editora Ltda., 106 páginas, São Paulo, 2001;