Ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.
Charles Evaldo Boller
No Rito Escocês Antigo e Aceito é explicado ao neófito que o
Tronco de Solidariedade arrecada dinheiro, denominado metais, que serão
distribuídos depois aos necessitados. O obreiro coloca seu óbolo na mão e a
fecha, coloca-a dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e solta sua
doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus dedos,
energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e a retira fechada. Ao retirar a
mão fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração,
também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os
necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do
quadro.
Existem relatos que creditam a origem deste procedimento
como remanescente ao tempo em foi construído o templo de Salomão, onde
ferramentas, projetos, documentos e pagamento dos obreiros eram colocados
dentro das colunas do templo, que eram ocas exatamente para esta finalidade. O
pagamento de companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do
interior do tronco das colunas o salário a que faziam jus.
Mas a origem mais convincente e lógica é francesa, pois
naquela língua a palavra "tronc" pode ser usada tanto para tronco
humano como para caixa de esmolas. Guarda-se apenas a simbologia deste
procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais são meras figuras
simbólicas e não são ocas.
A circulação ritualística da bolsa de solidariedade obedece
ao formato de duas estrelas de seis pontas, que por sua vez são compostas cada
uma por dois triângulos um dentro do outro, em posição invertida.
A marcha inicia no Ocidente, entre colunas, em direção ao
oriente. O irmão hospitaleiro coloca a bolsa colada a sua cintura, ao lado
esquerdo do corpo e inicia a marcha. Sem olhar para o que é depositado na bolsa
vai passando por todos os obreiros em loja. O venerável mestre, primeiro
vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador, secretário
e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na primeira
estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos mestres e
oficiais da coluna do Sul e pelos mestres e oficiais da coluna do Norte,
definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor externo
formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela. E por fim, o cobridor
externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa,
retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas.
Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do
que deve fazer em seguida.
Normalmente o hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar
do tesoureiro e ambos conferem o valor coletado. Em seguida o tesoureiro
comunica ao venerável mestre o valor arrecadado. Durante a circulação da bolsa
nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo. Normalmente é momento em que os
obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois o ato de
doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como culto ao
conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um. Para tornar o momento
mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas
suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela
sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.
O retirar de metais não ocorre no instante em que o obreiro
retira a mão da bolsa, mas é solicitado ao venerável mestre que determinará a
seu critério mandar efetuar sindicâncias, para só então fornecer os recursos
financeiros ao irmão em necessidade. Normalmente sequer é o beneficiado quem
faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do hospitaleiro, mas
pode ser qualquer outro irmão do quadro.
O irmão que não consegue pagar suas contas tem direito ao
uso destes recursos? Não! Isto não é situação válida para obter recurso deste
fundo. O obreiro teve sua casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu
de forma inesperada, pode ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência?
Sim! À critério do venerável mestre e da loja.
Sempre precisa haver razão válida, de real valor humanitário
para se efetuar algum socorro. E esta ajuda é feita muitas vezes de tal maneira
que o beneficiado sequer sabe de onde vem o recurso, é feita também de tal
forma que não humilhe aquele; tem somente o objetivo de amenizar o sofrimento
de quem realmente necessita. É por isto também conhecido como tronco da viúva,
onde os filhos da viúva são os maçons.
Quando os fundos do tronco dos pobres ou da viúva atingem
valor razoável, parte dele é destinado para obras de beneficência. Nunca é
totalmente gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver
necessidade de socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.
Não colaborar com o ato litúrgico do tronco de solidariedade
é o mesmo que fugir da prática da caridade e torna o maçom indigno de exercer
todos os demais privilégios maçônicos. E se possuir posses que lhe permitam
fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo, pois poderá ser
ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa. Se não colabora
por vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha
algo errado consigo mesmo. Dar esmola não significa mixaria, ninharia,
insignificância; é melhor que não coloque nada e arque com as consequências que
sua consciência lhe exigir.
É pela beneficência que o verdadeiro maçom se torna digno na
procura de alcançar a glória de merecer de parte daquilo que ele considera o
Grande Arquiteto do Universo, o seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação
da sociedade.
Em sendo tão séria esta disposição então porque abusar da
sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe o que o amanhã reserva?
Bibliografia
1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de
Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN 85-7252-158-5, segunda edição, Editora
Maçônica a Trolha limitada., 1270 páginas, Londrina, 2003;
2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN
85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São
Paulo, 2001;
3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C,
Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora
Maçônica a Trolha limitada., 143 páginas, Londrina, 2003;
4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 550 páginas, São Paulo, 1989;
5 comentários:
Garimpando artigos e obras a respeito do tronco da beneficência, o artigo traz uma reflexão sobre a condição de se encontrar em necessidade, auxílio. O orgulho de não se achar em auxílio, leva a pessoa a seguir outros caminhos que talvez poderiam ser amenizados quando pedimos ajuda. Cabe a solidariedade e atenção dos irmãos em socorrer a quem precisa de auxílio.
Eu José Bartolomeu Correia de Mendonça GLOMEAL.e Delegado do Grão Mestre para o 5º Distrito, parabeniso o Poderoso Irmão pelo brilhate trabalho literário, muita paz e sabedoria para vós e para os que lhe são caros.
Eu acredito que o monento da ritualistica do tronco da viuva é magico e tem seus misterios. e que devemos acreditar que o melhor devemos depositar para que também possamos esperar o melhor do univeso. Pois é dando que se recebe. materializamos o verdadeiro amor quando entendemos que o verdadeiro Amir estar no sacrifício. Pois não tem como amar sem sacrificar. e dessa forma entendemos que o ato de sermos apegado com a matéria so ponto de não faser valer esse momento único da seção. Nos fais ignorantes ao ponto de não e voluirmos para a prosperidade.
Muito bom
Eu acredito que o monento da ritualistica do tronco da viuva é magico e tem seus misterios. e que devemos acreditar que o melhor devemos depositar para que também possamos esperar o melhor do univeso. Pois é dando que se recebe. materializamos o verdadeiro amor quando entendemos que o verdadeiro Amir estar no sacrifício. Pois não tem como amar sem sacrificar. e dessa forma entendemos que o ato de sermos apegado com a matéria so ponto de não faser valer esse momento único da seção. Nos fais ignorantes ao ponto de não e voluirmos para a prosperidade.
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