Charles Evaldo Boller
O Coração da Vida Maçônica
A sessão maçônica deve ser, antes de tudo, motivadora. Mais do
que tratar de assuntos administrativos, ela é o espaço em que os irmãos
realimentam a alma, renovam sua disposição e se lapidam mutuamente. Quando
reduzida a mera formalidade burocrática, a sessão se torna monótona e
desmotivadora, levando mestres ao desânimo e aprendizes à perda de entusiasmo.
Uma sessão motivadora, ao contrário, é banquete espiritual:
nela, ideias são compartilhadas, debates se acendem e a chama da busca pela
verdade se mantém viva.
Filosofia Como Inspiração
A filosofia clássica ajuda a entender esse ideal.
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Sócrates nos lembra que o diálogo é caminho para
o autoconhecimento. Assim também deve ser a sessão: perguntas, reflexões,
debates.
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Platão fala da caverna: sessões sem reflexão são
sombras, enquanto as motivadoras são Luz.
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Aristóteles ensina que a felicidade está na
prática da virtude. Debates fraternos são prática de virtude em ato.
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Agostinho mostra que a inquietação interior é
motor da fé; sessões motivadoras devem inquietar, não adormecer.
·
Tomás de Aquino harmoniza fé e razão, como a
Maçonaria deve equilibrar emoção, lógica e espiritualidade.
·
Descartes valoriza a dúvida; sessões motivadoras
são laboratórios da dúvida construtiva.
·
Kant proclama: sapere aude, ousa pensar! É o que
se deve cultivar em loja.
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Nietzsche critica a apatia; precisamos de
sessões dionisíacas, vibrantes, criativas.
·
Heidegger lembra que somos "seres-no-mundo"; logo, as reflexões
devem dialogar com os problemas reais da sociedade.
Áreas da Filosofia Aplicadas à Loja
·
Metafísica: a sessão lembra que o templo
exterior é reflexo do templo interior.
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Epistemologia: debate é busca de conhecimento
coletivo.
·
Ética: dilemas atuais devem ser discutidos em
loja, formando cidadãos conscientes.
·
Política: a loja é micro-república, exemplo de
cidadania e Democracia.
·
Estética: a beleza está no entusiasmo e na
harmonia dos trabalhos.
·
Lógica: o debate motiva quando exercita o
raciocínio rigoroso e evita falácias.
·
Linguagem: a palavra é espada e cinzel; sessões
são oficinas da linguagem.
·
Mente: mentes despertas, não adormecidas, são
pedras vivas na construção do templo humano.
Andragogia e Participação Ativa
Segundo Malcolm Knowles, adultos aprendem melhor quando são
protagonistas. Assim deve ser a sessão maçônica: participativa, dialogada,
dinâmica. Glasser já demonstrava que aprendemos mais quando ensinamos e
debatemos. Logo, a sessão motivadora é aquela em que cada irmão fala, ouve,
interage e se vê desafiado a refletir.
A Metáfora das Pedras Roladas
Assim como pedras no fundo de rios se tornam lisas pelo atrito,
também os maçons se aperfeiçoam pelo confronto de ideias. O polimento exige
contato contínuo: debates, divergências, acordos e novas perspectivas. Não há
pedra perfeita, mas há pedras cada vez mais harmoniosas.
Espaços Vivos de Reflexão
A sessão motivadora é orquestra viva: cada irmão é músico, cada
ideia é nota, o venerável mestre é maestro, o facilitador que harmoniza a
melodia coletiva. Quando há entusiasmo, todos dançam juntos na sinfonia do
pensamento, saindo do templo com a "mochila
cheia" de ideias, inspirações e forças renovadas.
A Maçonaria só cumpre sua missão quando transforma suas sessões
em espaços vivos de reflexão, fraternidade e espiritualidade. Somente assim
cada obreiro, como pedra viva, contribuirá para a construção do grande templo
da humanidade.
Um Espaço de Filosofia Viva
A sessão maçônica motivadora é mais do que um ritual ou um
momento administrativo; ela é o coração pulsante da vida em loja. Seu propósito
último não é a burocracia, nem a manutenção fria de regras, mas a realimentação
da alma por meio de atividades que promovem a autoeducação, a reflexão e o
crescimento coletivo. Ela deve ser, antes de tudo, um espaço de filosofia viva,
de andragogia aplicada, de lapidação das pedras brutas em movimento harmonioso.
Quando o maçom atravessa as colunas para adentrar o templo, não
busca apenas solenidade, mas sobretudo uma atmosfera que lhe devolva entusiasmo
pela vida e pela construção de si mesmo. A sessão motivadora é, portanto, um
banquete espiritual no qual cada irmão partilha
o alimento do pensamento e recebe, em troca, novas luzes para guiar sua
caminhada.
Filosofia Antiga: o Nascimento do Debate Como Exercício da Alma
A filosofia antiga, especialmente em Sócrates, Platão e
Aristóteles, nos ensina que a vida não examinada não merece ser vivida.
Sócrates fazia do diálogo sua espada e seu cinzel, lapidando consciências por
meio da maiêutica. Uma sessão motivadora é, em essência, um exercício socrático
dentro do templo. Não se trata de impor dogmas, mas de fazer perguntas,
provocar inquietações, expor as contradições, permitindo que cada irmão "dê à luz" suas próprias verdades.
Platão, por sua vez, na República, descreve a metáfora da
caverna: homens presos a sombras, incapazes de ver a luz. Sessões maçônicas
desmotivadoras assemelham-se a essa prisão: repetições mecânicas, ausência de
Luz, um ritual sem alma. A sessão motivadora é a saída
da caverna: nela, os irmãos viram-se para a Luz, compartilham
reflexões e despertam-se uns aos outros.
Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, ensina que o bem supremo
é a Eudaimonia, a felicidade alcançada pela prática da virtude e pelo cultivo
da razão. Em loja, o cultivo da razão se manifesta nos debates motivadores, e a
prática da virtude no respeito fraterno entre diferentes pontos de vista. A
sessão motivadora, nesse sentido, é o espaço em que se constrói uma comunidade
de busca pela felicidade no sentido aristotélico, um espaço de virtude em
ato.
Filosofia Medieval: Entre Fé e Razão
O período medieval foi marcado pela tensão entre fé e razão,
simbolizada em figuras como Santo Agostinho e Tomás de Aquino. Santo Agostinho
nos lembra que a inquietação da alma é sinal de sua busca pelo divino: "Inquietum est cor nostrum donec requiescat
in Te". Uma sessão maçônica motivadora deve, assim, despertar a
inquietação dos corações, pois a mente adormecida é como templo vazio.
Tomás de Aquino, por sua vez, harmonizou fé e razão, mostrando
que o debate filosófico não anula a espiritualidade, mas a fortalece. Da mesma
forma, as sessões maçônicas motivadoras não são apenas exercícios racionais: elas
integram a razão, a emoção e a espiritualidade, equilibrando a tríade do ser
humano.
Se a sessão se torna mera formalidade, a fé se esvazia e a
razão adormece. Mas quando se promove a motivação pelo estudo, a instrução e a
reflexão, então a loja se torna uma universidade medieval, onde se busca a
unidade do saber, a integração do humano com o divino.
Filosofia Moderna: a Autonomia da Razão
O período moderno inaugura o primado da razão autônoma.
Descartes, com seu "cogito ergo sum",
ensina que a certeza nasce do exercício da dúvida. Sessões maçônicas
motivadoras devem ser laboratórios de dúvidas construtivas, onde os irmãos são
desafiados a questionar certezas e a reconstruir fundamentos.
Kant, em sua obra Crítica da Razão Pura e no célebre ensaio
Resposta à pergunta: "o que é o Iluminismo?", afirma que a maioridade
do homem consiste em ousar pensar por si mesmo (sapere aude). Eis o núcleo da
sessão motivadora: não aceitar verdades prontas, mas ousar pensar, ousar
debater, ousar expor-se ao atrito das ideias. O mestre maçom que não se
motiva para instruir renuncia ao ideal kantiano da autonomia; torna-se refém de
uma passividade infantilizada.
Espinosa, por sua vez, com seu conatus, descreve a força
interior que impele cada ser a perseverar em sua essência. A sessão motivadora
é o espaço que reacende esse conatus no maçom, renovando sua energia vital e
sua disposição para construir o bem no mundo profano.
Filosofia Contemporânea: Crítica, Linguagem e Existência
A filosofia contemporânea amplia o debate para além da razão
pura. Nietzsche critica a apatia das massas e propõe o espírito dionisíaco,
criativo e afirmador da vida. Uma sessão maçônica desmotivadora é apolínea em
excesso: fria, formal, repetitiva. Já a sessão motivadora deve equilibrar Apolo
e Dioniso, razão e vida, lógica e entusiasmo.
Heidegger nos lembra que o homem é um ser-no-mundo, lançado ao
tempo e à história. Sessões maçônicas que ignoram o contexto histórico e social
tornam-se irrelevantes. A motivação vem de discutir os problemas reais da
sociedade: ética, política, ciência, cultura.
Wittgenstein, por sua vez, ao refletir sobre os jogos de
linguagem, mostra que o sentido nasce do uso. Sessões maçônicas motivadoras são
aquelas em que a linguagem não é formalidade vazia, mas expressão viva de
experiências e significados compartilhados. O ritual, quando esvaziado, é
jogo de palavras sem sentido; quando revitalizado pelo debate, torna-se
linguagem significativa.
As Grandes Áreas da Filosofia Aplicadas à Sessão Motivadora
Metafísica
A Metafísica pergunta pelo ser e pela realidade última. Sessões
motivadoras recordam que o templo não é apenas pedra e madeira, mas símbolo do
templo interior. A Metafísica se manifesta na busca da essência: quem somos
nós como maçons? Qual é a realidade que construímos juntos?
Epistemologia
A epistemologia questiona como conhecemos. Sessões motivadoras
são laboratórios epistemológicos: aprendemos uns com os outros, debatemos
fontes, distinguimos opinião de conhecimento. O mestre não é dono da
verdade, mas facilitador do processo coletivo de conhecer.
Ética
A ética é central. Sessões motivadoras discutem dilemas morais
do presente: corrupção, justiça social, fraternidade, liberdade. É no debate
ético que a Maçonaria cumpre seu papel de formar cidadãos conscientes.
Filosofia Política
A loja é uma micro-república. Sessões motivadoras cultivam a
cidadania, mostrando que a Democracia em loja deve irradiar-se para a
sociedade. Debater temas políticos (não partidários) é parte essencial da
formação do maçom.
Estética
A estética do templo não é apenas ritual: é beleza em ação. Sessões
motivadoras são belas porque despertam emoção, harmonia e inspiração. A beleza
da filosofia em movimento é o que emociona os irmãos.
Lógica
Toda sessão é também exercício lógico: argumentar,
contra-argumentar, evitar falácias, treinar o raciocínio rigoroso. Sem
lógica, o debate se perde; com lógica, ele se eleva.
Filosofia da Linguagem
A palavra é espada e cinzel. Sessões motivadoras são oficinas
da linguagem: aprender a falar com clareza, ouvir com atenção, interpretar com
caridade. O verbo cria realidades.
Filosofia da Mente
A mente adormecida é pedra bruta. Sessões motivadoras
despertam a mente, trabalham a atenção, a memória, a imaginação. São
exercícios de consciência, onde razão, emoção e espírito se integram.
A Andragogia Como Método
Aplicando a andragogia, podemos afirmar: adultos aprendem
melhor quando são protagonistas do processo. Sessões motivadoras, portanto,
devem ser participativas, dinâmicas, cheias de diálogo. Não se trata de um
mestre falando e outros ouvindo, mas de todos
aprendendo uns com os outros.
Assim como Glasser descreve em sua pirâmide de aprendizagem,
aprendemos mais quando debatemos e ensinamos. A sessão motivadora, portanto,
deve privilegiar atividades que promovam participação ativa, não passividade.
A Crítica Construtiva
É necessário reconhecer com coragem: muitas lojas têm se
tornado desmotivadoras. Mestres adormecidos, aprendizes mais ativos que
veteranos, ausência de debates, excesso de formalismo. Essa crítica não é para
destruir, mas para reconstruir. O que se propõe é um retorno às origens
especulativas: a Maçonaria como academia de pensamento, espaço de reflexão
crítica, polimento mútuo das pedras.
A Orquestra da Motivação
A sessão motivadora é como uma orquestra. Cada irmão é músico,
cada ideia é nota, cada debate é harmonia. Quando o maestro organiza e todos
participam, surge uma melodia capaz de elevar a alma. O templo torna-se espaço
de vida, não de sono; de entusiasmo, não de apatia.
O maçom sai da sessão motivadora com sua mochila cheia de
reflexões, preparado para enfrentar o mundo profano com coragem, lucidez e
fraternidade. A Ordem, assim, cumpre seu verdadeiro papel: formar homens
melhores para construir uma sociedade mais justa e iluminada.
Bibliografia Comentada
1.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Fundamenta a
ideia de que o bem supremo está na prática das virtudes, aplicável ao exercício
das sessões motivadoras;
2.
DESCARTES. Meditações Metafísicas. Fundamenta a
importância da dúvida metódica, chave para o debate motivador;
3.
ESPINOSA. Ética. O conceito de conatus inspira a
ideia de motivação como perseverança na essência do ser;
4.
GLASSER, William. Choice Theory. Fonte da
pirâmide de aprendizagem, que valoriza a aprendizagem ativa e participativa;
5.
HEIDEGGER. Ser e Tempo. Fundamenta a noção de
que o maçom é um ser-no-mundo, e a sessão deve dialogar com a realidade
histórica;
6.
KANT. Resposta à pergunta: o que é o
Iluminismo?. Base do sapere aude, essencial para sessões que incentivam a
autonomia do pensamento;
7.
KNOWLES, Malcolm. The Modern Practice of Adult
Education. Obra de referência em andragogia, aplicável às práticas educativas
maçônicas;
8.
NIETZSCHE. O Nascimento da Tragédia. A tensão
entre Apolo e Dioniso ilumina a necessidade de equilibrar formalismo e
vitalidade;
9.
PIKE,
Albert. Morals and Dogma. Texto fundamental da filosofia maçônica, que
ressalta a importância do estudo e da reflexão como essência da Ordem;
10. PLATÃO.
A República. Clássico da filosofia antiga, cuja metáfora da caverna ilustra bem
a diferença entre sessões desmotivadoras (sombras) e motivadoras (luz);
11. SANTO
AGOSTINHO. Confissões. Inspira a noção de inquietação interior, fundamental
para a motivação espiritual em loja;
12. TOMÁS
DE AQUINO. Suma Teológica. Defende a integração entre razão e fé, em paralelo à
harmonia entre debate racional e espiritualidade maçônica;
13. WITTGENSTEIN.
Investigações Filosóficas. A teoria dos jogos de linguagem mostra como o ritual
só ganha sentido se enraizado em experiências vivas;
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