domingo, 12 de outubro de 2025

Filosofia como Arte de Viver e Instrumento Iniciático

 Charles Evaldo Boller

A filosofia, quando compreendida em sua plenitude, não é mera especulação intelectual nem simples acumulação de saber. Ela é arte de viver, uma via de aperfeiçoamento interior que une pensamento e ação, razão e sentimento, corpo e espírito. O filósofo, tal como o maçom, busca na reflexão um modo de vida coerente com o bem, a verdade e a beleza. Essa união de saber e prática caracteriza o que podemos chamar de resgate consciente do sentido da existência: o esforço contínuo de compreender o Universo e o lugar do homem nele, para agir com lucidez e propósito.

Desde Sócrates, a filosofia é apresentada como exercício espiritual. O mestre ateniense, ao proclamar "conhece-te a ti mesmo", inaugurou uma revolução interior: a sabedoria não é posse de respostas, mas arte do questionamento. Essa arte, aplicada ao caminho maçônico, revela-se na prática do autoconhecimento, no domínio das paixões e na constante lapidação da "pedra bruta", metáfora do ser humano inacabado que busca tornar-se templo digno da Verdade. Assim, filosofia e Maçonaria coincidem como processos de iluminação: ambas elevam o homem do plano das aparências ao da consciência, convidando-o a participar da obra do Grande Arquiteto do Universo.

Na perspectiva metafísica, a filosofia capta o princípio organizador que permeia todas as coisas, o Logos, a Razão universal. A mente humana, microcosmo dessa ordem cósmica, é instrumento da manifestação desse princípio. O filósofo, ao pensar, participa da inteligência divina. O maçom, ao meditar e agir com retidão, faz o mesmo. A metafísica, portanto, não é fuga do mundo, mas reconhecimento de sua sacralidade: viver bem é viver de acordo com o ser, isto é, harmonizar pensamento e ação com as leis universais.

Na filosofia da mente, o pensamento torna-se ponte entre o visível e o invisível. A consciência é o "fogo oculto" que anima a matéria e transforma o homem em ser criador. Por isso, o filosofar maçônico é também técnica de ensino, arte de despertar mentes adormecidas. Ensina a pensar, duvidar, discernir, virtudes que, em loja, se traduzem em diálogo, reflexão e construção coletiva da sabedoria.

Assim, captar e transmitir a arte de viver é tarefa iniciática. O filósofo e o maçom são jardineiros do espírito: cultivam o solo da alma para que floresça a verdade. Em ambos, o pensar é um ato de amor: amor à Luz, ao bem e ao eterno aperfeiçoamento do ser.

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