sábado, 25 de outubro de 2025

O Conatus e o Motor do Ser na Jornada Maçônica

 Charles Evaldo Boller

Esta peça de arquitetura explora o conceito filosófico de Conatus, formulado por Baruch Spinoza, em sua aplicação simbólica e ética dentro da filosofia maçônica.

Examina-se a tensão entre o desejo que impulsiona o homem e a razão que o liberta, propondo que o iniciado deve dominar as paixões sem extinguir o impulso vital que o move à evolução.

A Maçonaria é apresentada como laboratório do Conatus iluminado, onde fraternidade, afetividade e autoconhecimento convertem o desejo em virtude e serviço.

A luz maçônica emerge, assim, como expressão espiritual do esforço humano de perseverar e aperfeiçoar-se continuamente.

Entre o Desejo e a Liberdade

O Conatus é o fio invisível que liga a filosofia à Maçonaria, a natureza à ética, o desejo à Luz. É o fogo que, quando disciplinado, ilumina; quando desregrado, destrói. O maçom é o artífice que aprende a manejar esse fogo, nem o apaga, nem o deixa consumir o templo interior. Assim, perseverar no ser é continuar a construir-se, e construir-se é servir.

Eis o segredo do Conatus maçônico.

O Motor do Ser e o Conatus na Senda Maçônica

O homem é movido por uma chama que jamais se apaga. Essa chama, invisível, mas real, foi nomeada por Baruch de Spinoza como Conatus: a tendência inerente a todo ser de perseverar em sua existência e de buscar sua perfeição. É o princípio vital que sustenta o ser humano em sua luta contra a inércia, o esquecimento e o caos interior. No entanto, o mesmo fogo que impulsiona pode consumir; a energia que ilumina pode também cegar.

É neste paradoxo que a Maçonaria propõe ao iniciado o desafio maior: frear o motor do desejo sem matar o impulso de existir, encontrar o equilíbrio entre o entusiasmo e a serenidade, entre o ímpeto e a sabedoria.

Desde o primeiro rito de passagem, a cerimônia da primeira iniciação, o neófito é confrontado com a dualidade do desejo: o medo de seguir e o anseio de conhecer. O ritual simbólico, que o conduz das trevas à Luz, é um ensaio dramático da própria filosofia do Conatus: o homem que deseja viver com plenitude, mas precisa dominar suas paixões para não se tornar escravo delas. Assim, o Conatus é tanto o motor da vida quanto o instrumento de libertação espiritual.

A filosofia maçônica se estrutura sobre essa tensão fecunda. Ela não exige a anulação do desejo, mas sua lapidação; não pede o apagamento das paixões, mas sua transmutação em virtudes. Como o alquimista que transforma o chumbo em ouro, o maçom transforma a energia bruta do Conatus em luz interior, o Lumen Philosophicum[1], que ilumina sua consciência e o mundo ao redor.

O Conatus na Filosofia Clássica e Moderna

O Conatus é uma herança antiga, embora tenha recebido forma conceitual plena em Spinoza. Os estoicos já falavam do horme[2], o impulso vital que orienta cada ser à sua conservação em harmonia com a razão universal (logos). Em Aristóteles, encontra-se a ideia de entelecheia[3], o princípio de atualização pelo qual cada ser busca realizar sua essência. Ambas as noções antecipam o sentido que Spinoza aplicou ao Conatus: viver é perseverar, e perseverar é agir conforme a natureza da própria alma.

Spinoza, no Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras, define: "cada coisa, enquanto existe, esforça-se por perseverar em seu ser; e esse esforço, enquanto referido ao espírito e ao corpo simultaneamente, é a própria essência do homem". Essa perseverança não é passiva, mas ativa; não é resistência inerte, mas potência de agir. O homem vive enquanto age, e age enquanto deseja, mas o desejo deve ser iluminado pela razão, sob pena de converter-se em paixão destrutiva.

Thomas Hobbes, contemporâneo de Spinoza, utiliza o mesmo termo Conatus em outro registro. Para ele, é o movimento mínimo que antecede a ação corporal; é impulso natural de autopreservação que, descontrolado, desemboca na "guerra de todos contra todos". Spinoza, ao contrário, vê no Conatus a semente da liberdade racional, desde que o homem reconheça suas causas internas e externas.

Na tradição cristã, Tomás de Aquino e os neoplatônicos conceberam a vida como retorno à fonte divina, um conatus ad Deum[4]. A alma busca naturalmente sua origem; e o pecado, entendido filosoficamente, é apenas o desvio dessa energia em direção ao efêmero. A Maçonaria, herdeira simbólica dessa síntese entre filosofia e teologia, transforma o conatus ad Deum em conatus ad Lucem[5]: o esforço de ascender à luz do Grande Arquiteto do Universo pela prática da virtude e do conhecimento.

A Luta Interior do Iniciado: o Drama do Desejo e da Submissão

O primeiro contato do iniciado com a simbologia maçônica é uma descida ao mundo interior. Vendado, o iniciando é conduzido entre obstáculos, ruídos e interrogações: deseja prosseguir? Está disposto a morrer para o profano e renascer para o sagrado? A cada resposta afirmativa, o Conatus afirma-se como vontade de ser, como impulso que vence o medo e a ignorância. O ritual é uma dramatização da filosofia de Spinoza: o homem movido por seu desejo de existir, mas disciplinado pela consciência.

O Conatus manifesta-se, portanto, como motor duplo, um dínamo que tanto pode conduzir à liberdade quanto à servidão. Quando guiado pelo desejo cego, torna-se vício, orgulho, ganância; quando guiado pela razão e pela virtude, converte-se em sabedoria, fraternidade e amor.

A Maçonaria propõe ao homem a arte de canalizar a energia do desejo, transformando paixões em virtudes. Assim como o fogo forja o ferro, o desejo disciplinado forja o caráter.

Essa luta interna é a essência da vida espiritual. Não se trata de negar o corpo ou a emoção, mas de integrá-los. O Conatus é a força da alma que, como o Sol Invictus[6], ressurge após cada eclipse. O homem que compreende esse dinamismo não teme suas sombras; ele as reconhece e as transfigura.

Nos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, essa dialética se expressa na imagem da pedra bruta e da pedra polida. Lapidar-se é dominar o Conatus sem extingui-lo, pois, se o desejo morre, a alma se petrifica.

O Conatus e a Autoconstrução Maçônica

A Loja Maçônica é o laboratório do Conatus. Nela o homem exercita a liberdade racional por meio da convivência, do estudo e do trabalho coletivo. A cada sessão, o maçom é convidado a agir e refletir; a colocar em movimento suas faculdades intelectuais e morais. O Conatus, nesse contexto, torna-se energia construtiva, vontade de edificar a si mesmo e o mundo.

O que diferencia o desejo profano do desejo iluminado é a direção que se lhe imprime. O desejo vulgar busca o prazer efêmero; o desejo iluminado busca a plenitude. O maçom aprende que a vida não é um consumo de desejos, mas um cultivo de significados. O banquete ritual, o debate filosófico, o silêncio meditativo, tudo serve para reorientar a energia vital do Conatus para fins superiores.

Nas reuniões fraternas, o maçom experimenta o poder da afetividade. A alegria compartilhada não é mero entretenimento: é método iniciático. Cada sorriso, cada palavra, cada gesto fraterno alimenta o Conatus coletivo da Loja, essa energia espiritual que Spinoza chamaria de potentia multitudinis[7], a força da comunidade.

O maçom que se isola adoece; aquele que participa renova-se. A Loja é o templo onde o Conatus se torna comunhão.

Em termos práticos, isso implica promover atividades que alimentem o entusiasmo e o discernimento: estudos simbólicos, conferências, música, arte, debates morais. O Conatus se fortalece quando encontra sentido e beleza. O maçom é, pois, jardineiro da própria alma e da alma coletiva: cultiva o bem, poda os excessos, rega o espírito com a luz da razão.

Afetividade e Fraternidade: a Energia que Sustenta a Perseverança

A Teoria da Afetividade[8], reinterpretada pela instrução maçônica, mostra que o Conatus não é apenas força individual, mas também social. O homem só persevera plenamente quando encontra apoio e amor nos outros. A fraternidade não é uma exigência moral exterior; é condição ontológica da existência.

Como ensinou Aristóteles na Ética a Nicômaco, "o amigo é outro eu". Na Maçonaria, o irmão é o espelho da própria alma em processo de aperfeiçoamento.

A afetividade transforma o desejo em virtude. O que em estado bruto é paixão egoísta, em ambiente fraterno torna-se caridade, compreensão, serviço. O Conatus do maçom é amplificado pela comunhão, pela convivência alegre e respeitosa, pela empatia que dissolve os egoísmos.

Por isso a fraternidade maçônica é a antítese da submissão. Não há hierarquia despótica, mas ordem funcional; não há servilismo, mas cooperação. A fraternidade liberta porque distribui a energia vital entre os irmãos, equilibrando forças e neutralizando os abusos.

É nessa dinâmica que o Conatus se converte em instrumento ético: o maçom deseja não apenas existir, mas existir bem; deseja não apenas viver, mas viver com os outros em liberdade.

Quando Espinosa afirma que "a alegria é a passagem do homem de uma perfeição menor para uma maior", ele descreve o que a Loja proporciona: o gozo espiritual da amizade, o prazer da busca compartilhada pela Luz.

Liberdade e Livre-arbítrio: a Dialética do Conatus

A confusão entre liberdade e livre-arbítrio é uma das causas da servidão moderna. Spinoza distingue claramente: o livre-arbítrio é ilusão, a crença de que o homem é causa de si mesmo sem reconhecer as determinações que o movem; a liberdade, ao contrário, é o conhecimento dessas determinações.

O homem livre é aquele que compreende as causas de seus desejos e age de acordo com a razão. O homem escravo é aquele que imagina escolher, mas é movido por paixões inconscientes.

A Maçonaria retoma essa distinção em sua instrução simbólica. A liberdade maçônica não é licença para fazer o que se quer, mas poder de fazer o que é justo.

O iniciado aprende que cada ato tem causas e consequências, que a autonomia nasce da autoconsciência. O Conatus, quando guiado pelo discernimento, é liberdade; quando guiado pela ignorância, é servidão.

O livre-arbítrio, visto sob o prisma esotérico, é o estágio do homem profano, aquele que ainda crê ser independente de leis universais. O homem livre é o iniciado que reconhece no Universo uma ordem e nela se integra voluntariamente.

A liberdade maçônica é, portanto, harmonia com o Todo, não rebeldia contra ele. É o saber que liberta do fanatismo e do dogma, como ensina a tradição hermética: "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses."

Conatus e Violência: a Domesticação das Paixões

O estudo do Conatus também revela a origem da violência. Em seu aspecto negativo, ele é o impulso de dominar, de acumular, de subjugar. Hobbes via nisso o germe da guerra permanente; Spinoza, o efeito da ignorância das verdadeiras causas do desejo.

A Maçonaria combate essa tendência por meio do autoconhecimento e da ética da igualdade. O homem que reconhece sua própria sombra não a projeta sobre o outro; aquele que conhece seu poder não precisa humilhar ninguém.

A violência social, em termos simbólicos, é a expressão coletiva do Conatus descontrolado. É o desejo tornado máquina, a paixão transformada em sistema. O capitalismo predatório, a política do ódio, a competição sem ética, tudo isso são sintomas da mesma doença espiritual: a hipertrofia do desejo sem direção racional.

O maçom, por outro lado, busca o equilíbrio. Ele reconhece que não há evolução sem desejo, mas há ruína sem medida.

Sua tarefa é a de um engenheiro da alma, que regula a potência de agir com a sabedoria da moral. O maço e o cinzel, símbolos do trabalho sobre a pedra bruta, são instrumentos dessa engenharia espiritual: o primeiro representa a força do Conatus, o segundo, a razão que o orienta.

A Experiência Espiritual do Conatus Iluminado

Quando o Conatus é purificado pela razão e pela virtude, transforma-se em luz espiritual. O maçom que o domina torna-se mestre servidor, irradiando energia e serenidade.

Sua alma, lapidada pela prática do bem, torna-se espelho do Grande Arquiteto do Universo. Ele já não busca glória exterior, pois compreende que os símbolos de poder, colares, aventais, insígnias, medalhas, são apenas sombras da luz interior.

Esse estado de iluminação é descrito em todas as tradições esotéricas. Os hermetistas o chamavam de opus interior[9], os cabalistas de Tikkun[10], os alquimistas de Rubedo[11].

No Rito Escocês Antigo e Aceito, é o ápice da jornada simbólica: o homem que domina seu Conatus torna-se Sublime Príncipe do Real Segredo, aquele que encontrou em si mesmo o motor do Universo.

Mas a iluminação não é fuga do mundo, é serviço. O iniciado desce pela escada de Jacó para auxiliar seus irmãos, levando a Luz aos que ainda caminham nas sombras.

A energia do Conatus o impele a agir, mas agora o faz com consciência e amor. Ele é o sol que brilha para todos, sem distinção.

Aplicações Práticas na Vida Contemporânea

O Conatus pode ser vivido no cotidiano de forma concreta.

No trabalho profissional, ele se manifesta como persistência criativa; no âmbito familiar, como paciência e ternura; na vida social, como compromisso ético.

Frear o motor do desejo não significa resignação, mas domínio de si. O maçom aprende a distinguir entre o desejo que liberta e o que escraviza: o primeiro nasce da alegria de existir, o segundo da carência e da inveja.

A sociedade atual, dominada pela aceleração e pela aparência, precisa urgentemente desse ensino. A cultura do consumo transformou o Conatus em compulsão; o prazer substituiu o sentido. A Maçonaria, ao cultivar a reflexão, o silêncio e o estudo simbólico, devolve ao homem o tempo do espírito.

Nas oficinas, o maçom é chamado a praticar a lentidão consciente, o otium sacrum[12] dos antigos, onde o pensamento amadurece e a alma se pacifica.

Em um exemplo prático: quando um irmão é tentado pela vaidade de dominar a Loja, o mestre o recorda de que o poder é servir. Quando a inveja ameaça dividir, a fraternidade oferece o bálsamo do diálogo. Quando a apatia se insinua, o trabalho coletivo reacende o Conatus comum.

Assim se constrói o Templo da humanidade.

O Conatus como Chama Eterna do Templo Vivo

O Conatus é a centelha divina que anima cada maçom em sua jornada. Frear o motor do desejo sem extinguir o fogo da vida é o grande desafio do iniciado.

Spinoza ensina que "o homem livre é aquele que vive sob a condução da razão". A Maçonaria acrescenta: "o homem livre é aquele que vive para o bem de seus irmãos".

Razão e fraternidade são, portanto, os dois pilares do Conatus iluminado. O maçom que compreende esse ensinamento não teme a decadência do mundo, pois sabe que a evolução é interior. Ele é construtor de si mesmo, artífice de sua alma, obreiro do templo eterno.

Sua vida torna-se oração silenciosa e ação consciente, em harmonia com o Universo.

Assim, o Conatus é mais que desejo de viver: é desejo de servir.

E servir é a forma suprema de liberdade.

Bibliografia Comentada

1.      AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Integra razão e fé, mostrando que o desejo humano tende naturalmente a Deus. A Maçonaria adapta esse princípio ao símbolo do Grande Arquiteto;

2.      ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trata da virtude como hábito racional orientado ao bem e da amizade como fundamento da vida política e moral. Suas ideias inspiram a ética fraterna maçônica;

3.      BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. Analisa o sentido do fogo, da pedra e da luz como metáforas do dinamismo interior do maçom, aproximando-as do conceito de Conatus;

4.      BRUNO, Giordano. De la causa, principio et uno. Afirma a infinitude da energia divina em todas as coisas. Sua visão cosmológica inspira a Maçonaria em sua crença no homem como microcosmo;

5.      CASTELLANI, José. O Homem, o Símbolo e a Maçonaria. Autor maçônico contemporâneo que aborda o aprimoramento moral como exercício de liberdade consciente, aproximando-se da visão espinosista do Conatus;

6.      HOBBES, Thomas. Leviatã. Discute o Conatus como impulso natural de autopreservação e origem da sociedade civil. Sua visão pessimista sobre a natureza humana serve de contraponto à concepção positiva de Spinoza;

7.      JUNG, Carl Gustav. Símbolos da Transformação. Interpreta o desejo como energia psíquica (libido) capaz de metamorfose espiritual. O Conatus encontra aqui leitura psicológica moderna;

8.      KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Estabelece a autonomia da razão prática e o imperativo categórico. Suas ideias dialogam com a autodeterminação spinozana e com a ética maçônica;

9.      NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência e Assim Falou Zaratustra. Propõe a superação de si mesmo (Übermensch) como expressão do impulso vital. Um eco moderno do Conatus, embora sem sua dimensão racionalizante;

10.  PIKE, Albert. Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry. Explora o simbolismo do trabalho interior e da luz como resultado da disciplina da vontade. Traduz o Conatus em linguagem místico-maçônica;

11.  SPINOZA, Baruch. Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras. Obra central para o entendimento do Conatus. Spinoza descreve o esforço de perseverar como essência da alma humana e base da liberdade racional. Fundamental para compreender a distinção entre desejo, paixão e ação iluminada;

12.  WIRTH, Oswald. O Livro do Aprendiz e O Livro do Companheiro. Revela a dimensão psicológica do trabalho maçônico e a importância de dominar as paixões como instrumento de progresso espiritual;



[1] "Lumen Philosophicum" não se refere a uma única obra ou conceito, mas foi usado historicamente para descrever a busca e a descoberta do conhecimento pelos filósofos, muitas vezes em analogia com a luz física. O termo, que significa "luz filosófica" em latim, pode ser encontrado em textos mais antigos relacionados à ciência e à filosofia, especialmente em discussões sobre fenômenos naturais;

[2] Em filosofia estoica, hormé (ou hormê) refere-se à tendência, impulso ou desejo que nos move a agir. Os estoicos entendiam que a hormé é uma força natural e racional, porém precisa ser moldada pela razão para que se alinhe com a natureza e a virtude. Os impulsos (hormé) são uma força inata, mas cabe à razão guiar o que é conveniente e o que deve ser evitado, diferenciando o que está sob nosso controle (nossos pensamentos e ações) do que não está (eventos externos);

[3] Em Aristóteles, entelequia é a realização plena e completa de uma tendência, potencialidade ou propósito inerente a um ser. É o ser "em ato", em oposição ao ser "em potência", representando a perfeição e o fim para o qual algo se move em seu desenvolvimento. Um exemplo é a semente que, ao se tornar uma planta totalmente desenvolvida, atinge sua entelequia;

[4] "Conatus ad Deum" significa "esforço em direção a Deus". A expressão está ligada a conceitos teológicos e filosóficos que tratam da inclinação natural da alma humana para a divindade;

[5] "Conatus ad Lucem", latim, que se traduz como "esforço para a Luz" ou "impulso em direção à Luz";

[6] "Sol Invictus" refere-se ao deus do sol romano, "Sol Invicto", promovido como divindade oficial pelo imperador Aureliano em 274 d. C. A divindade romana, associada à vitória e renovação, tem uma ligação com o solstício de inverno, celebrado em 25 de dezembro, data que mais tarde seria associada ao Natal;

[7] "Potentia multitudinis" significa a potência da multidão, um conceito em Benedictus de Spinoza que se refere à capacidade coletiva de uma multidão de agir e se conservar, especialmente quando guiada por uma consciência comum, como na frase "Potentia multitudinis, quae uma velutiment educitur"; "A potência da multidão, que é conduzida como por uma única mente". Para Spinoza, essa potência está ligada ao seu conceito de potência, que difere do poder, e é a base para a formação de uma sociedade política;

[8] A teoria da afetividade, desenvolvida principalmente por Henri Wallon, defende que o desenvolvimento humano é um processo contínuo e integrado, onde os aspectos afetivos, cognitivos e motores estão intrinsecamente ligados e influenciam uns aos outros. Outros autores como Piaget e Vygotsky também contribuíram, vendo a afetividade como a força motriz da cognição e como um componente essencial para o desenvolvimento integral;

[9] No hermetismo, a expressão "opus interior" se refere ao processo interno de transformação e desenvolvimento espiritual que o indivíduo deve empreender. É uma analogia direta à Magnum Opus (Grande Obra) da alquimia, que, na perspectiva hermética, não é a produção de ouro material, mas sim a transmutação do "chumbo" interior (o eu imperfeito e denso) no "ouro" (o eu superior e iluminado);

[10] "Tikkun" na Cabala é um conceito central que significa "correção" ou "retificação". Refere-se ao propósito espiritual de cada alma de restaurar a harmonia cósmica e pessoal através do aperfeiçoamento interior, da conexão com a Luz Divina e da reparação do mundo. No contexto da Cabalá luriânica, o Tikkun Olam (conserto do mundo) é alcançado por meio de ações que reúnem as "faíscas divinas" caídas e as almas aprisionadas, como a oração, o cumprimento dos mandamentos (mitzvot) e a prática de exercícios espirituais;

[11] Rubedo é a fase final da alquimia, que significa "vermelhidão" em latim e simboliza a iluminação e a conclusão da Grande Obra. Ocorre após a purificação (Albedo) e representa a união dos opostos, a realização do ouro alquímico (que pode ser interpretado como a Pedra Filosofal ou a iluminação espiritual do indivíduo) e a renovação;

[12] "Otium sacrum" significa um tempo de descanso sagrado e não um ócio inútil, mas sim um período dedicado à reflexão, contemplação, atividades intelectuais e espirituais. O termo em latim combina "otium" (lazer, tempo livre, descanso) e "sacrum" (sagrado), o que o contrapõe ao "negotium" (ocupação, trabalho);

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