O Rito Escocês Antigo e Aceito, com seus trinta e três graus,
estrutura-se como uma escada simbólica de ascensão da consciência. Cada degrau representa não apenas um
estágio de aprendizado ritualístico, mas um nível de depuração moral e
intelectual que conduz o maçom à compreensão mais ampla de si mesmo e do
universo. Cada grau possibilita obter inúmeros níveis de consciência em progressão,
através das provocações extraídas dos rituais. O propósito último desse
percurso pelos graus é, como ensina a filosofia maçônica, a construção de um
homem melhor, para que, pela soma dos homens aperfeiçoados, a humanidade
encontre a felicidade pelo amor.
O grau 14, denominado "Grande
Eleito, Perfeito e Sublime Maçom", encerra o ciclo dos chamados Graus
de Perfeição, e nele o iniciado alcança a síntese do caminho anterior que vem
desde o primeiro grau. Este grau não representa o fim, mas o princípio de um
novo estágio: o da sabedoria. A perfeição aqui não é entendida como
ausência de defeitos, mas como plenitude de consciência,
o estado em que o homem se percebe obra inacabada do Grande Arquiteto do
Universo e, por isso, eternamente perfectível. A busca do maçom torna-se,
assim, metafísica: ultrapassa o mundo sensível e projeta-se no
domínio do espírito.
A liberdade, no contexto deste grau, transcende o plano
político ou civil e assume dimensão espiritual. Ser livre é ser senhor de si mesmo, dominar os impulsos
inferiores, libertar-se das paixões cegas e das crenças dogmáticas. A liberdade
não é dom concedido, mas construção ética: edifica-se na disciplina, na
responsabilidade e no amor à Verdade. Assim como a pedra bruta é talhada pelo
trabalho paciente do cinzel, a alma do maçom é lapidada pelo exercício da
virtude.
Na filosofia maçônica, a liberdade é o coroamento da razão e o
princípio da moral. Para Kant, o homem é livre quando age segundo a lei que ele mesmo dá a si, guiado pela razão prática e pelo
dever moral. O grau 14 eleva essa noção à sua expressão espiritual: o maçom
torna-se livre quando reconhece que sua vontade é reflexo da vontade divina,
e que servir à humanidade é participar ativamente da obra do Grande Arquiteto
do Universo.
O grau 14 é mais que uma etapa do rito, é um arquétipo da perfeição possível. Nele o iniciado compreende que
a elevação não se mede pela hierarquia, mas pela profundidade da consciência;
que o templo não é apenas a loja física, mas o próprio coração purificado;
e que o amor é o instrumento supremo de
aperfeiçoamento. O "Perfeito
e Sublime Maçom" é aquele que, tendo vencido a si mesmo, ergue o
compasso do espírito sobre o esquadro da razão e, equilibrando-os, torna-se
coautor da harmonia universal.
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