Charles Evaldo Boller
O grau 11 do Rito Escocês Antigo e Aceito,
intitulado Sublime Cavaleiro Eleito dos Doze, constitui-se como um momento de
profundidade filosófica e moral dentro da trajetória do maçom nos graus complementares.
Este grau acentua valores de justiça, fidelidade, sabedoria e reparação, sendo
associado à figura simbólica dos doze cavaleiros escolhidos para exercer um
julgamento justo e consciente. O rito, nesse nível, passa a exigir do iniciado
não apenas o domínio simbólico dos conhecimentos, mas a aplicação prática dos
princípios na vida cotidiana, especialmente na maturidade adulta.
A partir desse referencial, é possível destacar os
valores de relevância prática que se conectam à filosofia do grau 11,
contemplando aspectos como liberdade, autonomia, economia, ética, liderança,
família, inteligência, livre-pensamento, cultura, educação emocional, ciências
humanas, espiritualidade e Andragogia. Este texto visa oferecer uma reflexão
sobre esses valores, articulando-os com a simbologia e os ensinamentos do grau,
além de seus impactos na vida profana do iniciado.
Justiça Como Pilar do Grau 11 e sua Aplicação Ética e Moral
O grau 11 propõe a construção de um ser ético e
moral através da prática da justiça. Ao evocar os doze cavaleiros encarregados
de julgar e corrigir atos injustos, o rito chama o maçom à responsabilidade de
exercer discernimento e equidade. Essa justiça, entretanto, não se limita ao
âmbito ritualístico, mas se projeta para a vida profana.
Na vida adulta, esse princípio se manifesta na
capacidade de tomar decisões pautadas na retidão, na honestidade e na
imparcialidade. O ser ético constrói-se pela reflexão constante sobre suas
ações e impactos, agindo com integridade nas esferas familiar, profissional,
comunitária e social. A edificação moral ampla torna-se, assim, um processo
contínuo e consciente, não um estado fixo.
A justiça, no contexto empresarial, é valor
decisivo para lideranças conscientes. Proprietários e gestores devem se
comprometer com práticas justas, que respeitem colaboradores, parceiros e
consumidores, promovendo ambientes mais humanos e sustentáveis.
Liberdade e Autonomia: a Base para o Livre Pensamento
A busca pela liberdade, elemento central em todos
os graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, ganha uma nuance especial no grau
11. Aqui, a liberdade se associa à consciência da responsabilidade individual e
coletiva diante das decisões morais. É a liberdade não como anarquia, mas como
autodeterminação esclarecida.
O desenvolvimento da autonomia, neste grau, liga-se
à capacidade do adulto de viver segundo princípios escolhidos livremente, a
partir do amadurecimento intelectual e emocional. A autonomia é uma conquista
progressiva e se revela no controle financeiro, na autodisciplina, na
autogestão dos desejos e dos impulsos, sendo condição para a liderança
autêntica e para o exercício do livre-pensamento.
Este é o grau onde o maçom se compromete mais
ativamente com a construção de sua própria consciência — caminho de ruptura com
dogmatismos e de abertura para um pensamento livre, crítico e compassivo, que
busca sentido na vida e contribui para o bem coletivo.
Liderança, Vida Empresarial e Responsabilidade Social
A filosofia do grau 11 valoriza a liderança não
autoritária, mas ética e solidária. O Sublime Cavaleiro é aquele que, investido
de poder simbólico, compreende que toda autoridade deve servir à justiça e ao
progresso comum.
No mundo dos negócios, isso se traduz no
comportamento do empresário ou gestor que prioriza a dignidade humana em vez do
lucro a qualquer custo. O maçom desse grau deve ser modelo de conduta,
exercendo influência positiva na cultura corporativa, promovendo justiça
distributiva e equilíbrio financeiro sustentável.
Além disso, a liderança no contexto familiar é
igualmente importante. O adulto iniciado deve cultivar o diálogo, o respeito
mútuo e o amor como princípios estruturantes da vida com a esposa, filhos e
demais entes queridos, contribuindo para o desenvolvimento humano dentro do
lar.
Inteligência, Educação Emocional e Livre-pensamento
O grau 11 exige do iniciado a integração entre
razão e sensibilidade, entre inteligência lógica e emocional. Essa conjugação é
fundamental para a vida adulta, pois promove relações mais saudáveis, escolhas
mais conscientes e um sentido mais profundo de realização pessoal.
A inteligência, nesse contexto, não se restringe à
cognição, mas envolve também a sabedoria emocional e a intuição espiritual. O
domínio das emoções permite ao indivíduo agir com equilíbrio, evitando
julgamentos precipitados, agressividade ou omissão diante de conflitos morais.
Além disso, o livre-pensamento, sustentado por uma
inteligência crítica e sensível, é instrumento de libertação. Ele permite ao
maçom investigar, questionar, inovar e dialogar com as ciências humanas, com as
tradições religiosas e filosóficas, sem perder seu próprio centro ético.
Cultura, Vida Acadêmica e Ciências Humanas
A cultura é o campo simbólico por excelência onde o
maçom do grau 11 deve atuar. Leitura, arte, filosofia, história, política,
sociologia e espiritualidade são fontes de sabedoria que alimentam o pensamento
crítico e a expansão da consciência.
No meio acadêmico e científico, o maçom pode
contribuir para o avanço do conhecimento por meio da pesquisa, da docência ou
do apoio a projetos educativos. Sua formação maçônica o capacita a compreender
o ser humano em suas múltiplas dimensões, fazendo ponte entre saberes e
práticas.
As ciências humanas, em particular, dialogam intensamente
com os ideais maçônicos ao abordarem temas como justiça, liberdade,
desigualdade, ética, religião, cultura e subjetividade. O maçom do grau 11 é
chamado a estudar e refletir sobre esses campos para melhor agir no mundo.
Andragogia, Educação Contínua e Transformação Interna
No contexto da educação do adulto, a Andragogia representa
um princípio fundamental. O iniciado deste grau compreende que o aprendizado
não termina com a juventude, mas é contínuo e experiencial. A filosofia do grau
11 encoraja o autodesenvolvimento, o estudo constante e a aplicação prática do
conhecimento adquirido.
A educação em geral, especialmente voltada ao
adulto, deve considerar sua autonomia, bagagem de vida e interesses pessoais. O
maçom atua como educador de si mesmo e dos outros, promovendo debates,
reflexões filosóficas e estudos em loja que contribuam para o crescimento
coletivo.
Essa educação, no entanto, só tem pleno sentido se
resultar em transformação interna. O progresso na Maçonaria está diretamente
ligado ao despertar da consciência e ao refinamento espiritual do indivíduo. No
grau 11, a vivência dos rituais e símbolos propicia esse despertar e convida o
iniciado a transcender as limitações do ego e a servir causas mais elevadas.
Espiritualidade e o Despertar do Ser Sagrado
O elemento espiritual do grau 11 está intimamente
ligado à ideia de reparação e de purificação do ser. O Sublime Cavaleiro não
busca vingança, mas justiça iluminada pela compaixão e pela transcendência.
Isso o coloca diante do mistério do sagrado, convidando-o a reconhecer em si a
centelha divina e a vivê-la cotidianamente.
O despertar do ser sagrado implica a vivência de
valores como perdão, amor fraterno, humildade e serviço. Essa espiritualidade
não é dogmática, mas aberta, integradora e experiencial, aproximando-se das
religiões comparadas e do diálogo inter-religioso como formas de ampliar a
consciência.
O maçom que trilha o caminho do grau 11 reconhece
que a transformação do mundo começa pela transformação de si mesmo. Essa
espiritualidade ativa o leva a agir com compaixão, justiça e sabedoria,
inspirando aqueles ao seu redor e servindo como exemplo de evolução humana.
Conclusão
O grau 11 do Rito Escocês Antigo e Aceito é uma
etapa crucial na jornada maçônica, exigindo do iniciado não apenas conhecimento
esotérico, mas sobretudo coerência ética, sensibilidade social e compromisso
com a transformação do mundo. A figura simbólica dos doze cavaleiros representa
a consciência coletiva que zela pela justiça, e o maçom que atinge esse grau
torna-se guardião desses valores.
Na vida adulta, isso se traduz em uma prática
constante dos princípios da liberdade, autonomia, ética, justiça, liderança e
espiritualidade. O maçom é chamado a ser exemplo no lar, na empresa, na sociedade,
na academia e nas instituições. Sua vida deve ser um testemunho vivo da
sabedoria iniciática, que não se encerra nos templos, mas floresce nos campos
da existência profana.
Assim, o grau 11 não é apenas um título honorífico,
mas uma responsabilidade: ser, em meio ao mundo, um construtor de pontes entre
o visível e o invisível, entre a razão e a fé, entre o eu e o outro. Um
verdadeiro Cavaleiro da Luz.
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