Charles Evaldo Boller
O grau 3 do Rito Escocês Antigo e Aceito, também
conhecido como o grau de Mestre Maçom, representa o ápice simbólico da
Maçonaria Simbólica e encerra a tríade fundamental dos graus azuis. Este grau,
carregado de simbolismo fúnebre e de renascimento, estabelece uma transição
ontológica[1]
para o maçom: a morte simbólica do profano e o nascimento do verdadeiro
buscador da Luz. Não se trata apenas de um rito iniciático, mas de uma profunda
jornada interior em busca da transcendência, da autonomia moral e do propósito
existencial. A filosofia do grau 3 é, assim, o solo fértil onde os valores de
maior relevância prática para o adulto se enraízam, se desenvolvem e
frutificam.
Busca pela Liberdade e Livre-pensar
O Mestre Maçom é, por excelência, um
livre-pensador. A liberdade, neste grau, não é apenas um ideal político ou
civil, mas uma condição interna conquistada por meio da morte do ego, do dogma
e das amarras que o subjugam na sociedade. A liberdade interior, a mais difícil
de ser alcançada, exige coragem moral e discernimento. O maçom aprende a não
mais reagir por impulso ou tradição, mas a agir conforme sua razão iluminada e
sua consciência desperta. Tal perspectiva liberta o adulto de condicionamentos
culturais e permite a construção de uma vida pautada por escolhas conscientes,
éticas e autênticas.
Desenvolvimento da Autonomia e Liderança
A filosofia do grau 3 propõe um ideal de maturidade
emocional e ética. O Mestre Maçom não mais se apoia em guias externos, mas
assume responsabilidade plena sobre sua existência. A autonomia, neste
contexto, é tanto intelectual quanto espiritual, implicando a capacidade de
decidir, julgar e agir com base em princípios sólidos, adquiridos pelo estudo e
pela reflexão. Essa maturidade se converte também em liderança: não uma
liderança hierárquica autoritária, mas aquela que inspira, orienta e
transforma. Seja no ambiente empresarial, como gestor ou colaborador, seja na
família, o Mestre é chamado a ser exemplo.
Ética Como Pilar Existencial
A construção do ser ético é um objetivo central da
Maçonaria e se intensifica no grau 3. A ética maçônica não se reduz ao
cumprimento de regras, mas se expressa como integridade, retidão e fidelidade
aos princípios universais do bem. O Mestre compreende que o bem coletivo supera
o interesse individual e, por isso, age com equidade, respeito e justiça. Essa
ética é aplicável tanto na vida privada quanto na atuação profissional,
promovendo relações humanas mais justas e conscientes.
Edificação Moral e Transformação Interior
No cerne do grau 3 está o mito de Hiram Abif, cuja
morte simbólica representa a necessidade de "morrer para o mundo
profano" e "renascer" para uma nova dimensão da existência. Esse
simbolismo exige do maçom um compromisso com a edificação de sua própria
personalidade moral. A construção do templo interior envolve o abandono de
vícios, egoísmos e paixões inferiores. É um processo contínuo de burilamento do
caráter, onde a prática da virtude substitui o instinto e o desejo desordenado.
Aspectos Econômicos e Controle Financeiro
A liberdade também se conquista no domínio material.
O grau 3 encoraja o maçom a conquistar sua independência econômica, promovendo
uma relação consciente e equilibrada com os bens materiais. A simbologia do
trabalho e da construção remete à importância da disciplina, da diligência e da
gestão financeira ética. Um Mestre não deve ser escravo do consumo, da dívida
ou da especulação, mas senhor de sua economia pessoal. A sabedoria na
administração financeira permite não apenas a sobrevivência digna, mas a
generosidade e o suporte à família, à comunidade e à própria Ordem.
Desenvolvimento da Inteligência e da Educação Contínua
O grau 3 exige que o maçom busque incessantemente a
luz do conhecimento. Não há estagnação possível para o Mestre. O aprendizado
contínuo, segundo os princípios da Andragogia, é fundamental. O adulto é
estimulado a aprender pela experiência, pela reflexão crítica e pelo diálogo
com o saber. A inteligência é vista como instrumento da sabedoria, e a cultura
como ponte entre o homem e sua essência. A leitura, a pesquisa, o estudo
comparado das religiões, das ciências humanas e das filosofias são meios para o
autoconhecimento e o progresso intelectual.
Educação Emocional e Relações Humanas
A elevação maçônica não se limita ao plano
intelectual, mas exige o amadurecimento emocional. O grau 3 propicia o
reconhecimento das próprias fragilidades, dos medos, das perdas e das dores
existenciais. O Mestre é chamado a lidar com a morte, o luto e o sofrimento
como oportunidades de crescimento espiritual. A educação emocional, nesse
contexto, permite desenvolver empatia, resiliência e equilíbrio afetivo. Tais
competências são fundamentais nas relações interpessoais, na família e no
ambiente profissional.
Família, Humanismo e Desenvolvimento Pessoal
O Mestre Maçom, em sua jornada, não caminha
isolado. Ele compreende que seu progresso se reflete em sua atuação como
esposo, pai, irmão, cidadão. O desenvolvimento humano integral exige que o
maçom se dedique à sua família com amor, responsabilidade e presença. Ele é
orientador de seus filhos, parceiro de sua esposa e modelo de conduta ética. O
humanismo maçônico ensina que o templo a ser construído não é apenas interior,
mas também familiar, comunitário e social.
Aplicações Profissionais na Empresa e Sociedade
No ambiente empresarial, o Mestre deve ser agente
de transformação. Como proprietário, funcionário ou gestor, aplica os valores maçônicos
para promover justiça, dignidade e responsabilidade social. Ele entende a
empresa como extensão de sua vocação para servir e construir. Lidera com ética,
promove a cooperação e valoriza o ser humano como fim e não como meio. Também
se destaca como profissional íntegro, transparente e competente, valorizando o
mérito e a excelência.
Vida Acadêmica, Científica e Social
A filosofia do grau 3 também dialoga com a vida
acadêmica e científica. A busca da Verdade, princípio fundamental da Maçonaria,
exige espírito crítico, método e abertura ao novo. O Mestre deve contribuir com
o progresso do saber, seja como pesquisador, professor ou estudante,
valorizando a interdisciplinaridade e o diálogo entre saberes. Na esfera
social, participa ativamente da construção de uma sociedade mais justa,
democrática e inclusiva, comprometendo-se com causas nobres e com o bem-estar
coletivo.
Diálogo Inter-religioso e Ciências Humanas
O estudo comparado das religiões e das ciências
humanas integra a sabedoria do grau 3. O maçom compreende que não há um único
caminho para o sagrado e que a espiritualidade é busca plural, marcada pela
diversidade cultural e simbólica. O respeito às religiões e a valorização da
espiritualidade como experiência transcendente enriquecem sua visão de mundo.
Da mesma forma, o conhecimento antropológico, filosófico, sociológico e
psicológico oferece ferramentas para compreender o ser humano em sua
complexidade.
Despertar da Consciência e Transformação Maçônica
O Mestre vive em estado de vigilância. Ele não está
mais adormecido nas ilusões do mundo profano, mas desperto para sua missão, sua
identidade e sua eternidade. A consciência desperta é a luz que guia o caminho.
A transformação maçônica não é mera formalidade ritualística, mas processo
interior de iluminação. Cada símbolo, cada palavra, cada gesto do grau 3 aponta
para um novo modo de ser e de existir. A Maçonaria torna-se, assim, escola de
alma, forja de consciência e laboratório de humanidade.
O Ser Sagrado e o Desenvolvimento Espiritual
O grau 3 revela a dimensão sagrada do ser. O Mestre
é aquele que, tendo enfrentado a morte simbólica, reencontra o divino em si
mesmo. A espiritualidade não é dogmática, mas vivencial. É o silêncio do templo
interior, a meditação, a oração, a contemplação do mistério. O maçom
espiritualizado reconhece a presença do Grande Arquiteto do Universo em todas
as coisas, e sua vida torna-se oferenda, serviço e louvor. Seu caminho não é
apenas ético e racional, mas também místico e transformador.
Considerações Finais
O grau 3 do Rito Escocês Antigo e Aceito, ao propor
a morte simbólica e o renascimento do Mestre Maçom, oferece ao adulto moderno
um itinerário de valores práticos e existenciais. Liberdade, autonomia, ética,
inteligência, liderança, espiritualidade, educação contínua, responsabilidade
familiar e compromisso social compõem a tessitura filosófica deste grau.
Trata-se de um método de aprendizagem iniciático que, ao iluminar o caminho do
indivíduo, repercute em toda a sua rede de relações e influencia positivamente
a sociedade.
A filosofia do grau 3 convida o adulto a ser mais
que mero espectador da vida: a ser construtor consciente de si mesmo, servidor
do bem comum e buscador do sagrado.
Bibliografia
1.
BOURDIEU, Pierre, A reprodução, elementos para
uma teoria do sistema de ensino, Lisboa, Vega, 1970;
2.
CAMINO, Caio Júlio, A Sabedoria da Tradição
Maçônica, São Paulo, Madras, 2014;
3.
DELORS, Jacques, Educação, um tesouro a
descobrir, São Paulo, Cortez, 2006;
4.
KNOWLES, Malcolm, Andragogia, A Educação de
Adultos, Rio de Janeiro, LTC, 2020;
5.
LÉVI-STRAUSS, Claude, O Pensamento Selvagem, São
Paulo, Companhia das Letras, 1996;
6.
PIEPER, Josef, As Virtudes Fundamentais, São
Paulo, Quadrante, 2001;
7.
WAITE, Arthur Edward, A New Encyclopedia of
Freemasonry, London, Wings Books, 1996;
8.
WIRTH, Oswald, O Simbolismo Maçônico, São Paulo,
Pensamento, 2000;
[1]
Em filosofia, ontológico refere-se ao estudo do ser, da existência e da
realidade. Trata-se de investigar o que existe, como as coisas existem e qual a
natureza da existência;
Nenhum comentário:
Postar um comentário