sábado, 9 de abril de 2011

Saudação Maçônica do Oriente

Especulação sobre qual o objeto de saudação no oriente da loja: o delta? O iod? A presença de jeová? A espada flamígera? O venerável mestre? A carta constitutiva?

Charles Evaldo Boller


Nossa sociedade ocidental hodierna tem suas raízes plantadas no humanismo renascentista, de onde também vieram as influências culturais da Maçonaria. O que vivemos em nosso dia-a-dia é o resultado de longo caminho de desenvolvimento cultural. Passou pelo pensamento grego, pelo direito romano e assimilou a filosofia cristã. Ao compreender o mundo no qual se vive entende-se a sociedade em que se está imerso. Deste entendimento depende como cada cidadão se porta e vive em sociedade e a expressão desta é revelada pelos mitos, religiões e filosofias que desenvolve.

Toda a cultura humana está alicerçada no pensamento filosófico e isto era o que os fundadores da Maçonaria do século XVI tinham interesse. Desde então ocorreram enxertos e modificações, algumas linhas de pensamento trouxeram desde longínqua idade do homem influências às quais nada se pode debitar no aspecto evolucionista da Maçonaria. Em essência, a Maçonaria apenas usa das antigas crenças, ciências e religiões o indispensável para auxiliar na formação da cultura maçônica, porque é isto que os adeptos possuem em suas bases culturais ao serem iniciados.

Exemplo de ciência morta é a Astrologia; há muito que os vaticínios desta antiga ciência foram superados pela astronomia e tecnologias. As colunas zodiacais existem em nossos templos como referência para orientação simbólica no Universo; é sabido da física elementar que sem referencial não existe apoio sensorial ao deslocamento pelo Universo, e a loja é uma simulação do Universo tridimensional.

Na religião a influência dos deuses e deusas do antigo Egito na Maçonaria serve de referência e não como deuses a serem venerados, daí excluir qualquer tipo de adoração, inclusive a Jeová, o Deus exclusivo dos judeus e cujo nome a maioria das religiões cristãs não usam. Na Maçonaria criou-se o conceito de Grande Arquiteto do Universo, que não representa o Deus de nenhuma religião. Esta foi uma das grandes invenções dos criadores da Maçonaria, pois possibilita cada crente adaptar o conceito às suas próprias necessidades de adoração e representações antropomórficas ou espiritualistas. No Rito Escocês Antigo e Aceito, em todos os graus, as representações divinas são influenciadas pelas linhas filosóficas do judaísmo e do cristianismo em seu culto a Jeová, expressas pelo iod inserido no delta do oriente da loja simbólica e outros símbolos da filosofia maçônica do Rito.

Se numa loja maçônica não existe culto de adoração a deuses, então o que realmente é saudado pelo maçom no oriente? Certamente não é o iod, a primeira letra do nome de Jeová em aramaico! Nem qualquer outro objeto ou criatura do oriente. Maçonaria não é religião! Por simples exclusão é possível determinar que a saudação seja exclusiva para a representação simbólica da coluna da sabedoria, cujo guardião é o venerável mestre. E se esta é saudada cerimonialmente, o que existe por detrás desta demonstração de respeito marcial. Ali acontece o homem e sua filosofia; o amigo da sabedoria que todo maçom é por definição desde a sua iniciação.

Existem diversas maneiras de interpretar filosofia: atitude de vida individual; conhecimento impossível de provar; conhecimento abstrato e teorias lógicas; modo de ver o Universo e a realidade; representação teórica da ilusão que os sensores induzem ao ser. Em essência, filosofia é apenas conhecimento, certo tipo de conhecimento. É a ciência preocupada com o todo, que vai fundo na revelação especulativa da realidade. Não se trata de matemática, astrologia, astronomia ou medicina; cada ciência destas foi influenciada pelo filosofar, pela busca em profundidade do sentido de totalidade que os gregos denominaram sabedoria, em grego "sophía". O homem que se dedicava a ação do pensamento para discernir o Universo que o cercava era denominado sábio, em grego verbalizado "sophós", ou simplesmente amigo, em grego "phílos"; amigo da sabedoria. A existência dos amigos da sabedoria cunhou o verbete "filosofia". Depois dos gregos, a filosofia passou pela Idade Média e chegou a nossos dias com outra aparência, porque ela mesma passou a ser criticada pelos filósofos. De ciência de todas as coisas, da totalidade, e de suas causas primeiras ela acaba fragmentada em: filosofia experimental ou empírica, reflexão crítica das ciências ou epistemologia, positivismo, filosofia analítica, dialética, e assim por diante. Isto não diz alguma coisa a respeito da diversidade de ritos que a Maçonaria alberga?

Na Maçonaria não interessam os detalhes da divisão da filosofia. A assimilação cultural filosófica maçônica, mesmo dentro da mistura de pensamento grego, direito romano e filosofia cristã possibilita obter rico e explicito conhecimento a respeito da sociedade ocidental e o que esta pensa de si. O filosofar maçônico não visa erudição, antes, provoca seus adeptos a pensarem em temas da sociedade nos quais já estão experimentados e familiarizados, mas impedidos de pensar nestes devido às atividades do dia-a-dia. O sistema humano é cruel quando aprisiona a grande massa em condições de autômatos vivos, sem possibilitar tempo à contemplação e recolhimento. É disso que o maçom foge em suas reuniões. Nestas ocasiões é desperto para assuntos que já são de seu conhecimento, mas jazem sepultos debaixo da busca do sustento e em virtude das vicissitudes que a vida apresenta.

Para tal objetivo são utilizadas filosofias usadas pelas religiões, mas apenas como coadjuvantes ao grande objetivo de conduzir cada maçom ao autoconhecimento visando o bem da sociedade. Não significa proselitismo religioso quando são introduzidos conceitos cristãos - poderia ser budista, hinduísta, vedanta, egípcio, islâmico ou outro. Quando aparentemente defende princípios da Democracia cristã não significa propaganda ideológica - poderia ser Democracia: direta, indireta, representativa presidencialista, semipresidencialista, parlamentarista; ou sistemas oligárquicos como: meritocracia, gerontocracia, plutocracia, tecnocracia etc. Qualquer sistema ideológico político e religioso que respeita liberdade, igualdade e fraternidade é caminho para facilitar a transmissão de conhecimento filosófico alicerçado no que cada maçom já tem em si. O que já é bom torna-se melhor. Nada de perfeição, esta pertence ao Grande Arquiteto do Universo, o maçom busca em suas lojas apenas uma condição aperfeiçoada.

Partindo do princípio que para entrar na Maçonaria o homem já deve ser dotado de luz espiritual, quando se exige dele a crença em Deus para ser iniciado, ocasião em que vem desejoso de ver a luz simbólica do conhecimento, da sabedoria, tornar-se amigo da sabedoria, viver a especulação maçônica, filosofar. Logo depois, na ritualística de suas sessões de trabalho, o que ele saúda no oriente é o fato de ver ali, simbolicamente, a luz do conhecimento que pediu e para o que trabalhará arduamente para dela nutrir-se. Esta é representada simbolicamente pela diminuta coluneta jônica que nunca é deitada e está sempre à disposição. A luz está ali a sua disposição, basta pensar na totalidade dos problemas do agrupamento de seres que vivem em estado gregário ao seu redor e levantar ideias para melhorá-la, que o representado pela coluna do venerável mestre não será apenas visto, mas internalizado. Em um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito aprende-se que a sabedoria não emana do venerável mestre, orador ou vigilantes, a sabedoria está potencialmente dentro de cada coluna que cada obreiro é quando filosofa e melhora a si mesmo.

Sessão maçônica não é mera leitura de atas, expediente e planejamento de festas; a essência do trabalho é o filosofar maçônico. Significa: autoeducação; humanização; fomento e manutenção de amizades fraternas; pratica da beneficência; patriotismo; servir a humanidade; desenvolvimento de empatia; superação de vícios; controle de paixões desenfreadas e degradantes; evitar a maledicência; tudo alicerçado no desenvolvimento do filosofar maçônico; a conquista da luz simbólica do conhecimento maçônico. A busca desta luz é tarefa individual intransferível! Ninguém a dá e constituem os louros da vitória de uma longa jornada, ao final da qual, o maçom dá honra e glorifica a maravilhosa obra criativa do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;

2. BACHL, Hans, Nos Bastidores da Maçonaria, Memórias de um Ex-secretário, Coletânea de Artigos e Traduções, segunda edição, Editora Aurora Limitada, 136 páginas, Rio de Janeiro;

3. D'OLIVET, Antoine Frabre, A Verdadeira Maçonaria e a Cultura Celeste, tradução: Caroline Kazue R. Furukawa, ISBN 85-7374-873-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 150 páginas, São Paulo, 2004;

4. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 308 páginas, São Paulo, 2003;

5. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo Radical a Filosofia e a Construção da Modernidade 1650-1750, Radical Enlighttenment, Philosofy, Making of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6, primeira edição, Madras Editora limitada., 878 páginas, São Paulo, 2009;

6. LARA, Tiago Adão, Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia Ocidental do Renascimento Aos Nossos Dias, segunda edição, Editora Vozes limitada., 176 páginas, Petrópolis, 1986;

7. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural limitada., 320 páginas, São Paulo, 2005;

8. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários Aos Graus Inefáveis do Ritual Escocês Antigo e Aceito, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-035-X, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 192 páginas, Londrina, 1997;

9. PANSANI, João, Cuidado, Maçom! Primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 116 páginas, Londrina, 1992;

10. PUSCH, Jaime, ABC do Aprendiz, segunda edição, 146 páginas, Tubarão Santa Catarina, 1982;

11. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Volume 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 172 páginas, Londrina, 2007;

12. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;

13. RUSSELL, Bertrand Arthur William, A Filosofia Entre a Religião e a Ciência, 16 páginas;

14. SILVA, Roberto Aguilar M. S., A Genealogia do Poder, primeira edição, 4 páginas, Corumbá, 2011;

15. SOUZA FILHO, Ubyrajara de, Cognição e Evolução dos Rituais Maçônicos, ISBN 978-85-7252-278-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 152 páginas, Londrina, 2010;

quarta-feira, 6 de abril de 2011

As Discussões Quentes

Considerações ao irmão que não concorda com o pensamento do outro.

Charles Evaldo Boller


Em qualquer discussão, aquele que concorda com seu interlocutor está apoiando a caminhada, transmitindo energia para a persistência na mesma linha de pensamento. E isto é muito bom! Discordar também é bom e salutar. Ruim é quando o pensamento de alguém é ignorado. É suficiente para deixar qualquer um triste, chateado mesmo! Isto porque, em tal circunstância, conta-se com uma grande perda, algo além do ódio, algo que nem mesmo considera o próximo igual, quanto mais companheiro, irmão. Poderá existir mal maior?

É deveras apreciado quando aportam aqueles que não concordam. A sua interpelação não é considerada ofensa, ao contrário, vê-se nisso uma demonstração de coragem, de profundo amor pelo interlocutor, algo que só o irmão faz.

Compartilho com Elie Wiesel, escritor de nacionalidade Norte-americana e romena: "O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença". Partindo deste pensamento pode-se formular salutar postura diante da crítica construtiva.

Como é importante aquele que discorda que se opõem com ideias e pensamentos que fazem ambos crescerem! Poderá existir bem maior? Existirá demonstração de amor, de carinho maior que este? Que venha! Que desça o malho na cabeça do cinzel e mande para longe as asperezas. Todos crescerão! Críticos e criticados.

O ovo, mesmo não sendo um símbolo da Maçonaria, é reconhecido por ela como o símbolo da vida, a junção entre o masculino e o feminino, o início, o começo de uma nova vida, a fertilidade. O ovo cósmico é considerado o início de todas as coisas e dele deriva o ovo filosófico. O Grande Arquiteto do Universo é um grande escultor, porque lindas são as figuras irregulares que ele cria usando choques irregulares, constantes, às vezes fortes, outras vezes suaves. Uma atividade inconstante no tempo, a semelhança da atuação do malho e do cinzel. Sucessivos choques entre pedras brutas do fundo do rio arrancam pequenas lascas, culminando com o arredondamento das pedras originais, e as transformam em algo belo, irregular, quase sempre semelhante a um ovo. Porque será? É um artista caprichoso! A matemática do Grande Geômetra é complicada! Ele deve ter uma formulação estatística e matemática para orientar estas pancadas que resultam nestas belas obras de arte e que são encontradas em profusão por ai. O que para Ele é matemática, para as suas limitadas criaturas é o caos.

Sabe-se que onde o limitado intelecto humano atua, a linha irregular, devido sua complexa interpretação, muitas vezes é desconsiderada, mormente se a emoção toma conta, aí então, fica difícil pensar.

Partindo da observação da natureza poder-se-ia inferir que discussões acaloradas, onde aportam ideias conflitantes, tem a faculdade de polir as pessoas de uma forma até mais caprichosa que numa outra, onde cada um concorda com a linha de pensamento do outro, e estes debates mais quentes têm a faculdade de abrir caminhos que facilitam a interpretação de temas complicados.

O caos, na Maçonaria, tem relação com a intelectualidade. Poderíamos afirmar que de uma discussão caótica e acalorada, aonde interlocutores se chocam aleatoriamente e reiteradas vezes, podem aportar resultados fascinantes, totalmente novos, poderá vir a dar à luz um "ovo". E deste "ovo", deste novo conceito, a origem de nova verdade, propiciar novo horizonte, induzir à compreensão de antiga verdade com novo formato, mudar a posição do observador para novo e inusitado ângulo.

Numa etapa seguinte, com a visão modificada, o uso do cinzel poderia mudar-lhe a forma para equilibrar a interpretação do calor da discussão emotiva com a frieza do intelecto.

É comum o uso de uma técnica conhecida como "brainstorm", em português "tormenta cerebral", ou ainda, em português bem claro, "torró de parpite". É um recurso para detectar soluções e solucionar problemas muito complicados. Consiste em reunir um grupo de pessoas, tecnicamente aptas e envolvidas na mesma linha de atuação, expor o problema, enunciar soluções já aventadas, para em seguida solicitar que cada um do grupo exponha o que lhe vem à cabeça, por mais ridículo que esta ideia lhe pareça. Estas colaborações são então tabuladas, comparadas, analisadas e sintetizadas pelo mesmo grupo. Repete-se o processo tantas vezes quantas se julgarem necessárias, ou até aportar uma solução satisfatória para o que lhe deu causa. Esta é uma técnica baseada no caos. E funciona!

A discussão acalorada é assim, baseada em choques aleatórios de palpites, de considerações. O que de início parece tolice, agressão ao intelecto, é na verdade a manifestação da intelectualidade. E dela afloram pensamentos inusitados. Esta a razão de valorizar, e enaltecer muito àquele que tem a franqueza, a honestidade, a coragem de levantar e dizer: Eu tenho outro ponto de vista!


Bibliografia

1. KNELLER, Jane, Kant e o Poder da Imaginação, ISBN 978-85-370-0633-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 200 páginas, São Paulo, 2007;

2. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;

3. SCHWARTZ, David J., A Mágica de Pensar Grande, A Força Mágica do Pensamento Construtivo, título original: The Magic of Thinking Big, tradução: Miécio Araújo Jorge Honkis, ISBN 85-01-00199-6, 12ª edição, Editora Record, 284 páginas, Rio de Janeiro, 1994;

4. SEMLER, Ricardo, Virando a Própria Mesa, Uma História de Sucesso Empresarial Made in Brasil, ISBN 85-325-1348-4, primeira edição, Editora Rocco limitada., 232 páginas, Rio de Janeiro, 2002;

5. WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland, O Corpo Fala, A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não-verbal, ISBN 85-326-0208-8, 33ª edição, Editora Vozes limitada., 288 páginas, Petrópolis, 1994;

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Afiando Espadas

Afiando a língua em exercícios de oratória e significado da caminhada ritualística das bolsas em loja.

Charles Evaldo Boller


Pela semelhança de formato, afiada em dois lados, a espada é fisicamente semelhante à língua. Os dois gumes da espada formam dois triângulos unidos pela base, assim como o corte transversal da língua. Expande-se o raciocínio para o pensamento afiado em dois lados, para o bem e para o mal. Assim como o afiar da espada, o que é da língua sem o aguçar da racionalidade que a dirige? Uma espada mal utilizada, mal dirigida pelo cérebro e pelos músculos, ao invés de defender dos inimigos, permite que seu portador venha a ser morto no campo de batalha ou da honra. Os exercícios de esgrima do maçom permanecem na mente, na articulação de novos e inusitados pensamentos e que se expressam formalmente pela ação da língua, uma espada de dois gumes afiada na oratória. Na Maçonaria isto se obtém com debates de temas diversificados e interessantes. Afiam-se a língua, o pensamento, à semelhança de uma espada de dois gumes, para derrubar os pensamentos de déspotas e fanáticos.

Porque afiar o pensamento em dois sentidos? A dualidade é exercitada mais pela filosofia oriental, que vê em cada boa ação a semente para o mal e em cada ação má a semente para o bem. Algo difícil de entender na racionalidade ocidental. Na Maçonaria vemos claramente a manifestação do número dois, da dúvida, do balançar entre duas verdades. Afiar o pensamento para o mal tem por objetivo aprender a discernir o mal e não a praticá-lo. É treinar como afastar-se do mal. A esgrima entre o bem e o mal é obtida pela constante prática, em loja, do exercício de animados debates. A Arte Real é servida na Maçonaria como VITRIOL já na câmara de reflexões - mesmo que a presença da câmara de reflexões não seja utilizada em todos os ritos e obediências -, ocasião em que o maçom é provocado, a partir de então, a permanentemente aparar as rugosidades da pedra bruta. É a visita ao interior de si mesmo, o interior da pedra filosofal de Zoroastro. É o constante exercício do pensamento, reduto e único lugar no Universo aonde cada ser vivo é absolutamente livre. O próprio Grande Arquiteto do Universo nos proveu com uma capacidade que nem ele controla, nem deseja controlar. Se Ele controlasse o pensamento da criatura, Ele estaria corrompendo a perfeição de sua criação. É disto que se deduz ser no pensamento o local onde a criatura é absolutamente livre. Nem mesmo o Criador nela influi. Qualquer modificação só ocorre com o exercício da vontade da criatura. "Conhece-te a ti mesmo", dizia Sócrates - este conhecer é o "Visita Interiorem Terrae Rectificandoque Invenies Occultum Lapidem". Esta é a razão sublime de afiar o pensamento no ambiente onde apenas a própria criatura tem poder de modificar a si mesma em resultado da ação do livre-arbítrio, ação que ocorre dentro da pedra, dentro de si mesmo, por vontade própria.

A estrela de seis pontas definida pela circulação ritualística das bolsas implica em destacar a capacidade de iluminar, fonte de luz. Só ilumina aquele que emite luz. Os dois triângulos entrelaçados e formando uma estrela de seis pontas, que representa a caminhada do maçom naquela dança ritualística, aponta para o desenvolvimento da capacidade de raciocinar, afiar o pensamento para emitir a luz do conhecimento e derramar seu efeito salutar sobre si mesmo, as outras criaturas e meio-ambiente. Estrela é indicador de capacidade espiritual associada à capacidade racional. O homem só é equilibrado quando destina forças equitativas as suas capacidades racional, emocional e espiritual. É a estrela de Salomão, de seis pontas, que representa a sabedoria, por isso o trono de Salomão ser simbolicamente a fonte de onde irradia sabedoria, conhecimento, luz. Os dois triângulos invertidos, da circulação das bolsas, podem ser interpretados como se matéria e energia se misturassem na caminhada ritualística. E se luz é conhecimento, sabedoria, estas capacidades no homem são desenvolvidas em debates, na comunicação verbal. Observe-se a dualidade que os dois triângulos transmitem: o triângulo de ponta para cima representa o bem, o positivo; o outro, o seu inverso, com ponta para baixo, representa o mal. Representam também outras dualidades. Por ora, os triângulos assim dispostos, representam simbolicamente uma estrela, e esta, por sua vez, representa luz; a luz que cada maçom foi pedir na entrada do templo.

O maçom se autoconstrói durante os debates em loja. Sozinho é difícil. Apenas monges que praticam meditação obtém luz sem convivência e comunicação. Quantos maçons, envolvidos na busca diária do pão de cada dia, têm tempo, ou hábito de concentrarem-se em recolhimento ou se submeterem a costumeiro exame interior? Presas do sistema em que vivem quais autômatos, perambulam pelo mundo sem se darem conta que existem. Planeja-se o futuro longe do presente, a única realidade que realmente interessa. Estão ocupados em suas lides nas fábricas e escritórios e comportam-se quais robôs manipuladores e sujeitos a poucos momentos de felicidade, enquanto a sua essência se mantém na mediocridade. Em loja, onde são criadas as condições ideais, o maçom se constrói pela constante provocação que a convivência lhe propicia. Nestas oportunidades, quando um irmão provoca os outros com novos pensamentos, todos afiam suas espadas pela ação da comunicação. Despertam potenciais nunca antes percebidos pelo indivíduo. Isto não tem nada de mágico ou varinha de condão! É resultado de formação e condicionamento de milhões de anos de evolução natural.

Tirando o mágico de lado, a luz é um dos mais profundos segredos do esoterismo, só obtido quando se aprende a emitir luz, quando a pessoa se transforma numa estrela de luz em função de sua sabedoria. O maçom é um construtor social que emite luz quando deixa fluir a intensidade da força de seu intelecto conduzindo a espada com maestria. Luz é conhecimento, o mesmo que espírito, ordenação do caos. O que parece caos ao não iniciado é apenas o resultado da incapacidade de visualizar a Luz do Criador do Universo em sua plenitude. Alguns percebem esta irradiação e alcançam o significado da luz que vem do Criador dos Mundos. Mas sem conhecimento enxerga-se apenas desorganização e confusão. Sem mistificação, o homem sábio que examina sua natureza em profundidade, que afia constantemente a sua espada, sabe que possui a mesma natureza da Luz. Sabe que lá no mais recôndito de seu ser ele nada mais é que energia, uns amontoados ordenados de campos magnéticos, elétricos e gravitacionais, materializados pela velocidade com que tais fenômenos acontecem. A ilusão que confunde a percepção com a solidez da matéria demonstra que cada um é, em essência, da mesma natureza da luz. A matéria é energia, fenômeno oscilatório. Com esta visão, consciente de sua não existência, o maçom que possui uma espada bem afiada aproveita da energia ao seu redor quando vive o presente e se dá conta do aqui e agora. Entende que o receber da Luz não inicia e termina na iniciação. Ao afiar a sua espada o maçom nada mais faz além do dever de adquirir o conhecimento transfigurador; a mudança radical do caráter, transformação espiritual que exalta e glorifica o Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

2. BEHRENS, Marilda Aparecida, Paradigma da Complexidade, Metodologia de Projetos, Contratos Didáticos e Portfólios, ISBN 85-326-3247-5, primeira edição, Editora Vozes limitada., 136 páginas, Petrópolis, 2006;

3. BLASCHKE, Jorge, Somos Energia, o Segredo Quântico e o Despertar das Energia, tradução: Flávia Busato Delgado, ISBN 978-85-370-0643-6, primeira edição, Madras Editora limitada., 172 páginas, São Paulo, 2009;

4. BORGES, Valter da Rosa, A Realidade Múltipla, primeira edição, Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, 420 páginas, Recife, 1995;

5. CAPRA, Fritjof, As Conexões Ocultas, Ciência para a Vida Sustentável, título original: The Hidden Connections, tradução: Marcelo Brandão Cipolla, 13ª edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 296 páginas, São Paulo, 2002;

6. CAPRA, Fritjof, O Ponto de Mutação, A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente, título original: The Turning Point, tradução: Álvaro Cabral, Newton Roberval Eichemberg, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 448 páginas, São Paulo, 1982;

7. COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora limitada., 392 páginas, São Paulo, 1995;

8. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural limitada., 320 páginas, São Paulo, 2005;

9. NALLY, Luis Javier Miranda MC, A Ética no Caos ou Aprendendo com o Caos, ISBN 978-85-7252-271-7, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 176 páginas, Londrina, 2009;

10. SCHURÉ, Edouard, Os Grandes Iniciados, título original: Les Grands Initiés, ISBN 85-7374-620-3, primeira edição, Madras Editora limitada., 352 páginas, São Paulo, 2005.



quinta-feira, 10 de março de 2011

A Justiça das Feras Humanas


Valor da justiça para fomentar a sociabilização do homem.

Pretensão da Maçonaria de produzir uma sociedade mais estável.

Charles Evaldo Boller


Em passado recente a Justiça, por vingança da sociedade, aplicava penas cruéis e terríveis que apenas a prodigiosa mente deturpada e malvada de um ser sanguinário poderia desenvolver; matava-se lentamente para fazer o condenado padecer e o seu aplicador gozar as delícias de uma bizarra malvadez. Existiam penas de morte que matavam com mais rapidez que também primavam por extrema e rebuscada violência. A criatividade das feras humanas, consideradas socialmente equilibradas pela religião e governo, ambas em relação incestuosa com a Justiça, não tinha limites na aplicação de penas de morte extremamente cruéis. Era espetáculo público que muitos assistiam por puro prazer em ver outro ser humano padecer dores e suplício terrível. Toda a judiação tinha por objetivo fazer o condenado sofrer para equilibrar uma hipotética balança da Justiça: era o olho por olho! "De olho por olho e dente por dente o mundo acabará cego e sem dentes", dizia Mahatma Gandhi.

Diversas sociedades procuraram desenvolver as condições ideais para prepararem cidadãos bons que se preocupassem com a coisa pública do ponto de vista moral e que não se corrompessem ao poder político, religioso e econômico: Diógenes, o cínico, andava em plena luz do dia, pelas Ruas da Grécia, com uma lanterna acesa na mão a procura de um homem honesto e incorruptível; Aristóteles intuiu que governantes e juízes deveriam ser moderados, justos e incorruptíveis, destacando as qualidades morais de forma perfeita; a filosofia ao longo dos tempos insiste que os responsáveis pela lei e a coisa pública devem ser puros, bons e honestos; Maquiavel resume bem como o poder judiciário e político é subserviente aos diversos poderes originários da maldade intrínseca da natureza humana; Hobbes coloca a origem da sociedade como resultado de contrato entre pessoas que vivem sem poder e sem organização, onde, em "Leviatã", intui que o homem vive livre desde que atente contra a vida dos que o cercam. Afirmou que o "homem é o lobo do homem", onde o homem ameaça seus semelhantes se não existir um contrato de convivência, a lei, que garanta a sobrevivência dos outros que compartilham o mesmo espaço. Um provérbio brasileiro verte: "Justiça sem a força é impotente; força sem a Justiça é tirania"; acrescente-se: Justiça que demora em ser aplicada, não existe.

Naqueles que cuidam da coisa pública e principalmente da Justiça sempre houve preocupação com o suborno, nepotismo e peculato. Dizem ser esta a principal razão de não existir pena de morte no Brasil.

Assim como alguns sábios da antiguidade tentaram, a Maçonaria tem a pretensão de desenvolver seres humanos para a sociedade que não estejam sujeitos a imoralidade e falta de ética, destacando o julgar-se a si próprio antes de julgar aos outros. A filosofia maçônica renova conhecimentos pré-existentes na mente de cada um e que jazem cauterizados devido à busca incessante de riqueza e conforto. Aos conhecimentos do maçom somam-se novos ensinamentos, cujo objetivo é a pretensão da Ordem Maçônica de mudar o caráter do homem, com ênfase na discrição, fidelidade, disseminação da harmonia entre irmãos, no cuidado ao expressar pensamentos e na segurança do agir; características próprias da sabedoria que deve ser característica do homem que tem a seu cargo julgar a aplicação da lei.

Infelizmente, devido ao crescente número de homens vivendo em condições cada vez mais nefastas, o valor da vida humana tornou-se insignificante; a abundância de criaturas humanas banaliza sua existência. Meliantes matam pessoas apenas por uns trocados, por simples maldade. Homens matam por puro prazer de fazer verter sangue, bem diferente de outras criaturas que matam para saciar a fome e que são denominados pelo homem como bestas. É para modificar a sociedade e livra-la da maldade que a Maçonaria trabalha a mente de seus adeptos para afasta-los da busca de vingança e depositar esta tarefa na balança da Justiça ao encargo do poder público.

Derivado da aplicação da educação maçônica, o maçom experimenta vida com prática do amor fraterno, ao invés de aplicação da lei que tende a beneficiar os que dispõem de mais recursos. A aplicação tendenciosa da lei ocorre em todas as épocas e é notório que a Justiça do Estado privilegia o status social e as posses materiais através da corrupção em todas as esferas do poder. Entre os que vivem o judiciário é comum considerarem que a Justiça apenas condena os três "P" - puta, preto e pobre. Onde o amor fracassa entram em ação os códigos penais; último recurso para possibilitar a convivência pacífica da fera humana - leis podem ser comparadas às lombadas em vias públicas que impedem à força o excesso de velocidade. A lombada funciona porque é incorruptível, já a aplicação da lei não. Em vista da existência da corrupção, o maçom é instado em depositar sempre mais confiança na solução pacifica de impasses de relacionamento; isto é treinado em sua convivência em loja; a lei do amor figura como a única possibilidade de solução de todos os problemas da humanidade sem a necessidade de penas que nada mais são que a institucionalização da vingança exercida pelo corruptível poder judiciário do Estado.

Antes ação que reação. Liberdade que escravidão. O que a lei endurece no coração humano com a aplicação de penas severas demais, como a morte e a reclusão por muitos anos, o amor pode evitar desde que seja colocado em prática na vida; desde que aflore a boa educação voltada à prática do amor fraterno entre todos os homens. A filosofia da Maçonaria declara abertamente que esta certamente é a inclinação para a qual o homem foi projetado e a razão de possuir o dom da vida. O Grande Arquiteto do Universo certamente será glorificado se os homens aprenderem a viver em paz pela lei do amor, caso contrário, se avançar além de seus limites e direitos, o próprio homem o fará padecer debaixo lei, do braço da vingança estatal ao qual se denomina Justiça.


Bibliografia

1. GAVAZZONI, Aluisio, História do Direito, Freitas Bastos Editora, 2005;

2. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários aos Graus Filosóficos do R? E? A? A? 1997;

3. REALE, Giovani e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Editora Paulus, 1990;

4. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade entre os Homens, Editora Escala, 2006;

5. SACADURA ROCHA, José Manuel de, Fundamentos de Filosofia do Direito, Editora Atlas, 2006;

terça-feira, 1 de março de 2011

Horário Exato Para o Início das Sessões

Importância da pontualidade do início das sessões maçônicas.

Charles Evaldo Boller


A régua de 24 polegadas, entre outras características a serem desenvolvidas pelo homem maçom, simboliza a pontualidade. É uma questão de respeito para com os irmãos que chegam no horário. Pontualidade significa nem muito cedo, nem atrasado. É uma consciência de compromisso, uma atitude interior que deve ser disciplinada e treinada.

Em um relato de Mackey este relata que o arquiteto do templo de Jerusalém tinha na pontualidade uma característica extremada, mesmo com detalhes os mais insignificantes, a semelhança de sua capacidade criativa. Ele era criativo mais porque era pontual e cumpridor de seus deveres assumidos que devido ao dom inato. Ser criativo dá trabalho. Homem que não trabalha não enche o celeiro. É pelo trabalho que somos surpreendidos criando algo novo. É importante a pontualidade porque a obra não pode parar. É importante porque está em jogo toda uma autoconstrução em andamento. Construir catedrais é mais fácil que construir seres humanos. É importante porque chegar atrasado pode corromper outros pelo exemplo.

É um insulto chegar atrasado a um compromisso assumido. Existem surpresas no trânsito que eventualmente podem causar atraso. Se ocorrer algum imprevisto, avisar imediatamente aos irmãos. Hoje em dia, com o telefone celular isto é fácil. Ou então, sair mais cedo de onde se está. Chegar atrasado abre um grande leque de possibilidades de dizer ou fazer erros e cometer gafes. Impede que se saiba, por exemplo, que o grão-mestre ou outra autoridade está presente. Cria dificuldades para integrar-se à egrégora e ao clima formado. Normalmente é sessão de pouco proveito pessoal.

Se chegar atrasado é ruim, pior é se devido a isto deixar de frequentar a sessão. Isto desenvolve o vício do absentismo. Cada um se conhece o suficiente para saber que corpo e mente querem facilidades, descanso, principalmente após um dia de labutas. Que a humilhação, ou o nariz torcido de algum irmão por se chegar atrasado sirva de mola propulsora para evitar este proceder.

Chegar no horário para um compromisso assumido é fundamental para adquirir relações humanas de alta qualidade. As pessoas confiam mais numa pessoa que é pontual. Se for pontual com o combinado é pessoa que cumpre outras obrigações com o mesmo denodo e precisão. O Poema Regius ou Documento Halliwell, em um apêndice, acrescentado provavelmente por um sacerdote diz: "O mestre maçom há de assistir com pontualidade as assembleias e reuniões em geral" para desenvolver a disciplina que o Norteará na vida em sociedade.

Grandes líderes cumprem aquilo que falam e são pontuais em sua execução. Tem em sua personalidade a consciência de assumir e cumprir seus compromissos com exatidão. São os mínimos detalhes que fazem a diferença em sua liderança, convencem com mais facilidade, influem e conduzem outros seres humanos porque estes confiam mais em alguém que é pontual, e sabem que se aquele falou vai cumprir.

Homens pontuais em seus compromissos são bem-sucedidos em quaisquer projetos em que se envolvem. São mais felizes em seus relacionamentos familiares, sociais e profissionais. São pessoas com as quais se tem segurança em iniciar uma atividade porque existe uma grande probabilidade de vê-la concluída.

É quando pequeno que esta característica é embutida na personalidade do ser humano. É cedo na vida que o ser social por excelência, o ser humano, descobre que viver em grupo cria compromissos que devem ser cumpridos por todos os elementos do grupo. Quando mais velho ainda é possível mudar esta característica. É mais difícil e exige mais empenho. Ai entra a Maçonaria, dando um papel em branco para o irmão passar a limpo sua vida, treinar novos potenciais para a sua personalidade e fazer a diferença na sociedade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Busca da Felicidade Humana


Considerações filosóficas e fisiológicas da busca da felicidade.

A escola do conhecimento da Maçonaria preconiza a felicidade ampla no cultivo do amor fraterno.

Charles Evaldo Boller


Cada ser humano busca incansavelmente a felicidade. Ao desfrutar de razoável saúde física e emocional, por todos os meios imagináveis, e por vezes inimagináveis, a pessoa procura viver cada minuto como se fosse o último.

Para os vetustos estoicos e epicuristas, e hoje os maçons, a verdadeira felicidade é encontrada obedecendo às limitações impostas pela natureza. Subordinada a qual, é próprio que cada pessoa se conserve, aproprie-se e conheça a si mesmo, para desenvolver todos os recursos que criam inúmeros momentos de felicidade.

No reino vegetal a necessidade é inconsciente. No reino animal existe uma instrução natural que leva à busca de satisfação pelo impulso, ou instinto. Já no homem, mesmo que incluído no reino animal, esta busca está sujeita à interpretação e definição da razão. Com isto a natureza, no homem, aprimora o processo de busca de felicidade e satisfação, submetendo-a ao equilíbrio de uma exigência instintiva, subordinada ao crivo do intelecto, à moderação da emoção e à sabedoria inspirada pela espiritualidade. Este equilíbrio é o que o maçom treina em suas atividades.

Os estoicos tinham como conceito de divindade, uma força criadora e mantenedora do Universo, agindo qual princípio ativo que anima, organiza e guia a matéria, além de determinar a lei moral, o destino e a faculdade racional dos homens, conceito este presente nos ensinamentos da ordem maçônica, como Grande Arquiteto do Universo.

Os epicuristas definiam como "bem a tudo aquilo que conserva e incrementa o nosso ser e, ao contrário, mal para tudo que o danifica e diminui". E o bem moral, na concepção dos estoicos, é tudo aquilo que de alguma forma incrementa, ou melhora a Força Criadora, e mal é o que a prejudica. De onde deduziram que "o verdadeiro bem, para o homem, é somente a virtude; o verdadeiro mal é só o vício".

É assim que a Escola do Conhecimento da Maçonaria procura dirigir o pensamento do maçom; levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício é tarefa diária, mas acrescenta o amor fraterno para iluminar os espaços entre as virtudes.

Seguindo um raciocínio racional, a ordem incute que de alguma forma, cada um tem a capacidade de mudar a si mesmo com base no conhecimento obtido por olhar para dentro de si mesmo e lá encontrar a assinatura da Força Criadora. Isto conduz ao pensamento que a cada um é dada a faculdade de encontrar a felicidade dentro de si mesmo, de um modo absolutamente independente, sem a necessidade de intermediação.

Como cada um tem absoluto controle sobre si mesmo, é ele mesmo a única força do Universo que tem a capacidade de modificar a si próprio. Ao agir em si mesmo segundo o Princípio Criador, estas ações são moralmente corretas e perfeitas, agir ao contrário desta disposição leva ao erro e vício, e consequentemente à infelicidade.

Se é a natureza que impõe o amar a si mesmo, é esta mesma força que impõe o amor aos que geramos e aos que nos geraram. É também esta mesma Força da Natureza que impele ao amar uns aos outros. Esta energia é algo que nos leva a amar, a unir, a desfrutar a vida junto aos outros, aos quais, de alguma forma, também é possível apoiar e ser útil. Esta é a força externa que nos modifica, e a qual grandes sábios, em todas as eras da humanidade, definiram como sendo Amor Fraterno. É aquele amor que diz respeito ao pertencente a irmãos, afetuoso, amigável, cordial. Amor que todo verdadeiro maçom, na convivência em loja, ou fora dela, conhece muito bem.

A experiência e a convivência entre maçons fraternos os levam a derrubar antigos mitos como a nobreza do sangue, superioridade da raça ou eliminação da escravidão e define para cada homem livre um alto potencial de se tornar sábio. E como esta disposição está intimamente ligada ao princípio Criador, que aponta para uma igualdade absoluta entre os homens, o amor fraterno aponta então como caminho único para a felicidade.

Se existe amor entre as pessoas, não há mais necessidade de estudar valores morais e éticos. Não se requer a necessidade do existir da Maçonaria. Só perceptível devido à falta do conhecimento das virtudes e ausência de valores expressa pela sociedade. De forma semelhante, a necessidade de amor só aparece quando este está ausente. Como as virtudes sozinhas não trazem felicidade surge a necessidade do amor fraterno para preencher o vazio entre elas. Um não existe sem a colaboração das outras.

A ética, a moral e as virtudes conduzem ao amor inspirado pela natureza que, por sua vez, propicia obter frequentes momentos de felicidade.

É fácil deduzir que o homem completo e feliz depende do equilíbrio entre suas capacidades físicas, emocionais e espirituais, exatamente nos moldes praticados pela Escola do Conhecimento da Maçonaria.


Bibliografia

1. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;

2. COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora limitada., 392 páginas, São Paulo, 1995;

3. GOLEMAN, Daniel, Inteligência Emocional, A Teoria Revolucionária que Redifine o que é Ser Inteligente, título original: Emotional Intelligence, tradução: Marcos Santarrita, ISBN 85-7302-080-6, 14ª edição, Editora Objetiva limitada., 376 páginas, Rio de Janeiro, 1995;

4. HUNTER, James C., Como se Tornar um Líder Servidor, Os Princípios de Liderança de o Monge e o Executivo, título original: The World's Most Powerful Leadership Principle, tradução: A. B. Pinheiro de Lemos, ISBN 85-7542-210-3, primeira edição, Editora Sextante, 136 páginas, Rio de Janeiro, 2004;

5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007;

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Irmãos Brigam?


Ensaio sobre o "amor ação" que existe entre os maçons.

Contenda no plano das ideias.

Charles Evaldo Boller


Existe uma sociedade onde as pessoas se tratam por irmãos. É uma sociedade onde existe o irmão que raramente aparece, um age mais outro menos, existe o tímido, o retraído, o mais adiantado, o noviço cheio de sonhos, o comumente exaltado e o de ânimo calmo qual ovelha no pasto. Mas todos são irmãos e se amam em ação; com vontade, sabedoria e inteligência.

Significa que, por se autodenominarem irmãos e se amarem profundamente, eles nunca brigam? É claro que não! Estes irmãos debatem sim! Porque não! Podem disputar, afinal são seres humanos inteligentes, livres e de bons costumes. É regra irmãos se desentenderem no plano das ideias! A querela, quando motivada para o bem, para estabelecer limites e promover progresso é atitude positiva - mesmo que os meios não sejam lá satisfatórios, os irmãos que assim agem estão lutando para que prevaleça o bem comum. Ação assim é sinônimo de amor; de amor fraterno. O mesmo amor que grandes iniciados intuíram como a única solução de todos os problemas da humanidade. E toda ação assim dirigida resulta em mudanças com objetivo e não simplesmente mudar pela mudança.

O "amor ação" não é o "amor sentimento" com que aquele é normalmente confundido. É o amor alicerçado na vontade. Quando alguém está cheio de intenção, mas não faz o propósito ser acompanhado de ação, obtém resultado nulo. De outra forma, quando este soma intenção e ação, o resultado é aflorar sua vontade. E vontade é sinônimo de amor porque resulta em ação, o "amor ação". E assim, vontade é força. E onde existe ação entre seres humanos, encontram-se disputas. É por isto que irmãos brigam, mas só o fazem por amor e não por vaidade. Daí a necessidade de equilibrar a vontade com sabedoria e inteligência. Um não existe sem os outros dois.

O destempero entre irmãos aflora sempre? Não! Os irmãos convivem em ambiente com limites claros e definidos, numa sociedade caracterizada por padrões preestabelecidos e onde todos são responsáveis. Na maioria das vezes eles elogiam e apoiam, haja vista o elogio ser uma necessidade essencial nos relacionamentos saudáveis. Irmãos desenvolvem a humildade, que é outra expressão do amor, pois significa que são autênticos, sem arrogância, pretensão ou orgulho.

Em seu progresso pessoal desenvolvem autocontrole; sustentam as escolhas que fazem; dão atenção aos seus irmãos; apreciam e incentivam os outros irmãos; são honestos, forçam evitar o engano; visam satisfazer as necessidades dos outros, não fazem necessariamente o que o outro deseja; seria escravidão, mas o que o outro irmão precisa, o que é convertido em liderança; existe ocasião em que o irmão põem de lado sua própria vontade e necessidade apenas para defender um bem maior para seus irmãos; e acima de tudo, o irmão perdoa. Se houver dano prefere recolher-se, isolar-se por uns tempos, nunca fechando questão a ponto de nunca mais oportunizar reconciliação. Mesmo prejudicado, o irmão desiste do ressentimento. Tudo isto o tempo, o treinamento constante, a convivência frequente, desenvolvem nestes que são irmãos. Explicar isto em palavras é difícil, senão impossível, daí a necessidade da convivência frequente e rotineira.

No passado alguém disse que o Grande Arquiteto do Universo só está onde as pessoas se tratam como irmãos e se amam uns aos outros. Hoje os verdadeiros irmãos que praticam o "amor ação" tudo fazem para que a divindade em cada um esteja presente de fato em todos os momentos de suas vidas. Assim são os irmãos maçons que honram seus juramentos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Infans

Busca de maioridade e iluminação.

Características do maçom que encontra a luz que foi buscar na Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


O cidadão que é iniciado na Maçonaria tem à sua disposição a possibilidade de buscar o esclarecimento de uma série de conhecimentos que definem uma relação entre liberdade e saber.

Partindo do princípio de que o homem é um ser maleável, desde que o queira é possível mudá-lo com o objetivo de fazê-lo progredir e esclarecer. Este esclarecimento foi tratado nas universidades da Alemanha por um reduzido número de filósofos e intelectuais. Mesmo que utópico aqueles defensores do uso da luz da razão para melhorar a condição do homem, introduziu na ordem maçônica a base da educação para adultos que tem por objetivo fazer a humanidade progredir. O sistema é pautado no desenvolvimento da inteligência, do gosto pela teoria, motivar a pessoa a procurar o saber, de teorizar e pesquisar tudo pelo simples prazer da busca do saber pelo simples saber; é a busca da verdade. Este grupo ficou conhecido como iluministas; daí, receber a luz na iniciação da Maçonaria ser um dos primeiros aportes desta filosofia.

Pretende a Maçonaria, por influência do Iluminismo, levar de maneira formal o método de conhecimento para dentro de vida moral pautada pelo viver e pensar de forma clara, de modo a afastar da mente a tendência para a superstição. É seu objetivo eliminar a ignorância, a pior causa de tensões sociais.

Esta filosofia é inútil para o adulto que não deseja estudar, que não faz uso da palavra, não fala, tem dificuldade ou incapacidade de falar, presa de mudez característica da infância, do latim "infans". Isto porque a uma criança que fala praticamente ninguém ouve seriamente. Só é levado a sério aquele que segue a razão e usa regras gramaticais, estilo, lógica e razão.

A Maçonaria pretende tirar o homem adulto de sua infância, de sua escuridão, e projetá-lo dentro da maioridade, definindo para isto uma série de degraus a serem vencidos; meta bem-sucedida para aquele que assim o deseja.

Seu ponto inicial é a introdução da ciência da conduta, a ética. Simplificando, é a inclinação para o bem, onde a conduta do homem tem por objetivo maior a felicidade dele mesmo em resultado da prospecção natural da racionalidade de que é capaz. Normalmente é uma característica que diferencia o não iniciado e lhe propicia oportunidade de ser maçom; uma pessoa boa e de bons costumes que pode ser melhorada.

Numa outra instância busca desenvolver a moral, o caráter, a qualidade da pessoa íntegra, honesta, incorruptível, cujos atos e atitudes são irrepreensíveis. Degrau de difícil escalada, tendo em vista a sociedade permissiva e perversa que a todos circunda. É condição de iniciação que o profano possua bom caráter antes de ser iniciado, apontando para a possibilidade de ser ainda mais polido. Polidez no sentido de virtude, conhecimento, mesmo que insignificante, sem esta todas as outras virtudes não se estabelecem.

Chama cada um à responsabilidade; à capacidade de prever os efeitos do próprio comportamento e corrigi-lo. Na ideia devida a Platão - "cada qual é a causa de sua própria escolha, ela não pode ser imputada à divindade" - se desperta a consciência de que cada um é responsável por sua própria carga, não existe a possibilidade de terceirizar nada do que é colocado às costas.

Devido a uma disciplina rígida o maçom é induzido à prática do respeito às leis e regulamentos. O maçom em hipótese alguma sonega imposto, deixa de pagar seus emolumentos ou falta com a responsabilidade. Nesta busca e rigor da disciplina não falta às sessões, salvo em situações muito especiais; sabe que não comparecer por motivo fútil é sinal que sua menoridade ainda o domina; que a Maçonaria ainda não penetrou nele; que Maçonaria se faz pela convivência; impossível e retirar de livros.

O respeito pelo direito dos demais cidadãos é a mola propulsora. Em todos os tempos, desde sua criação, a instituição maçônica influiu no pensamento do maçom para lutar contra o absolutismo e despotismo. É onde a ordem maçônica mais se destaca. Profanos também o fazem; aonde o maçom é diferente? No modo de agir e pensar.

É induzido ao desejo de superação, de ser ou tornar-se sempre melhor, mais eficiente ou superior em talento, criatividade, capacidade de impressionar, em relação aos outros ou a si mesmo; e isto mantendo a postura de busca da igualdade, destituído de vaidade. Vive numa pequena sociedade igualitária em sua relação dentro da loja, onde não existe distinção de ricos e pobres, fracos e poderosos. Isto falta ao não iniciado! Existem diferenças nos aspectos de cargos e com vistas a rígida disciplina, mas que não colocam nenhum maçom numa posição superior, inclusive, quanto mais o maçom sobe em desempenhos de responsabilidade mais ele é levado a portar-se com humildade e espírito de servidor da confraria.

Em sua disciplina é sempre cobrado pela pontualidade em todos os aspectos; desde o início pontual de seus trabalhos até no cumprimento de prazos na entrega de tarefas que ficam sob sua responsabilidade.

Induz-se o amor ao trabalho, à atividade em busca da satisfação das necessidades humanas. Procura-se apagar aquela imagem antiga induzida pela bíblia judaico-cristã de que trabalho é maldição. Mostra-se que pelo trabalho com sabedoria e força, além de sobrevivência, pode-se desfrutar de estética e beleza. Também se realça a importância ao ócio criativo, perceptível em suas ágapes festivas.

O maçom é homem ao qual é dada a oportunidade de aprender constantemente, de pensar por si próprio e de dividir este comportamento e conhecimento com seus irmãos. São princípios simples que têm por objetivo beneficiar cada um, aos irmãos e toda a sociedade humana. É sua meta desenvolver uma sociedade rica em recursos materiais, emocionais e espirituais.

O homem só é completo quando desenvolve espiritualidade forte, daí a figura do conceito de Grande Arquiteto do Universo na vida do homem racional e emocionalmente equilibrado. O método é balanceado, apoiado num tripé: emoção, razão e espiritualidade.

E principalmente, o conhecimento que cada um trás em si é necessário dividir com todos; não se negligencia a sublime instituição com desperdício de tempo, com o brilho do material, discussão vazia e inoportuna, distinção, honraria e retórica bombástica, isto o remete ao nível do esquadro. O alvo é compasso e esquadro juntos em total equilíbrio com o que está representado em seu centro.

O conceito "Aufklärung", de Kant, "esclarecimento" em português, é a capacidade de andar sozinho, com as próprias pernas, sem a necessidade de quem o conduza, assim como é demonstrado na cerimônia de iniciação do grau de aprendiz maçom. Se não entendida a mensagem da iniciação, mesmo iniciado, o maçom nunca encontrará o esclarecimento e tecnicamente permanece profano. É a busca da luz, porque tanto em alemão como em português, o verbete significa iluminação. É a saída da situação de "infans", é a maioridade. Significa a saída do homem de sua menoridade, da qual o culpado é ele próprio. A menoridade - "infans" - é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é culpado dessa menoridade se sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.

O que estou fazendo por mim?
O que estou fazendo pela família?
O que estou fazendo pela sociedade?
O que estou fazendo pela Maçonaria?
O que a Maçonaria anda fazendo em mim?
Mire na cabeça.
Acerte com pensamentos.
Com eles faça degraus, e juntos,
Conquistaremos o Universo!
Fomente a educação!
Estude para ensinar!
Ande com as próprias pernas!
Divida o conhecimento!
Se és maçom,
E teus irmãos assim te reconhecem,
Esta é tua responsabilidade!


Bibliografia

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario DI Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora limitada., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;

3. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;

4. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, do Humanismo a Kant, Volume 2, título original: Il Pensiero Occidentale Dalle Origini Ad Oggi, ISBN 85-349-0163-5, sexta edição, Paulus, 950 páginas, São Paulo, 1990;

5. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 308 páginas, São Paulo, 2003;

6. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

7. MASI, Domenico de, O Ócio Criativo, tradução: Léa Manzi, ISBN 85-86796-45-X, primeira edição, Sextante, 328 páginas, Rio de Janeiro, 2000;

8. Revista Sociologia, Ciência e Vida, Editora Escala, Ano II, Número 17;

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Liberdade e Fome


Não existe liberdade para quem padece fome.

Mecanismos humanos históricos utilizados para obter equilíbrio entre produção de alimentos e habitantes de regiões do planeta.

Charles Evaldo Boller


Para minimizar os efeitos terríveis da carência de recursos, o único meio de garantir a felicidade e o bem estar das pessoas mais aptas é a redução do número de habitantes humanos do planeta.

Assim como a natureza mata por inanição, o sistema econômico mundial criou mecanismos para matar os menos aptos de forma sutil em busca do equilíbrio; aos mais afortunados explora e suga toda a capacidade vital e depois os descarta como lixo. Uns morrem antes de completar a idade produtiva, grande multidão fenece antes de completar dois anos, outros nem nascem, são abortados. Exemplo recente desta realidade é o fato de se repassarem às instituições financeiras mundiais muitas vezes mais recursos que os suficientes para acabar com toda a carência dos mais pobres do orbe. Quer dizer, faz tempo que já se possui a capacidade de acabar com miséria e fome no mundo. Só não é feito porque não interessa ao sistema capitalista; se acabarem com a fome, vai ficar mais difícil matar pessoas de forma seletiva: os mais pobres, os menos aptos. Já os mais afortunados sobrevivem porque interessam ao sistema econômico mundial, mas também são eliminados tão logo tiverem exauridas suas capacidades produtivas.

É lógico que não se tem o menor interesse em acabar com as vicissitudes dos pobres, qual vampiro o sistema alimenta-se do sangue de todos, de sua força vital, mas quando ameaçado, para sobreviver, não existe outra saída, não hesita, lança mão do assassínio em massa.

Um dos mais eficientes métodos de assassinato em massa em todos os tempos é a fome. Hoje alcançamos o índice nada invejável de um bilhão de pessoas que sofrem de fome crônica no mundo; um em cada seis indivíduos passa fome de forma continuada. Para o sistema econômico mundial a única saída é eliminar os pobres e sem recursos; aqueles que hoje não podem pagar para merecer viver debaixo do sistema capitalista.

Tertuliano (160-240 d. C.) e outros escritores já afirmavam que as pestilências e guerras eram benesses para a sobrevivência de países populosos. Como alternativas de busca do equilíbrio, ao invés de guerra é frequente usar: fome; doença; vício; ausência de princípios; aniquilação de valores; destruição da família; e outros. Tais mecanismos são mais sutis e mais baratos que fabricar culpados, como Adolf Hitler, Sadam Hussein ou Osama Bin Laden.

Só a fome mata vinte e cinco mil pessoas por dia; para que melhor agente de matança? E como o sistema econômico mundial é interativo, ele não tem garantia nenhuma de funcionamento basta-lhe pequena centelha adversa para provocar uma reação em cadeia com resultados catastróficos. Exemplo recente é a crise financeira disparada por especulação imobiliária; quantos irão morrer pelas mais diversas causas devido a este desequilíbrio conjuntural?

O sistema econômico mundial mantém os menos aptos submissos pela falta de educação. No Brasil existem promessas de melhorar esta situação. No Chile está se realizando em passos largos. Mas sempre se confunde educação com aquisição de conhecimentos, o que os diferencia é que um deles apenas transmite conhecimentos para formar pessoal escravo para o sistema enquanto a educação que liberta continua a ser relegada ao descaso e sabotagem. A aquisição de princípios e valores é abortada com demasiada interferência dos Estados na família que emite leis que acabam com a instituição do casamento estável. Em países do hemisfério Sul são estabelecidos pisos para investimento na aquisição de conhecimentos em todos os níveis do poder, mas estes pisos passam a ser utilizados pela administração pública como tetos, e a partir disto, o cidadão não aprende a pensar, fica desqualificado para o mercado de trabalho, não exerce sua capacidade de libertar-se para a vida com qualidade. E como não tem capacidade de alimentar o sistema econômico mundial, ele fenece. Exemplo disto é o fato de existirem em nossos dias milhares de indústrias eficientes que produzem bens para um número cada vez menor de clientes; porque estes não têm condições de comprá-los; daí estas mesmas indústrias demitem ou automatizam cada vez mais e com isto eliminam seus principais clientes que são os funcionários demitidos.

Outra faceta é a daqueles que obtém a possibilidade de levar a vida de uma forma mais confortável e que tomam para si muito mais que o necessário para sua sobrevivência, é o desperdício. Mahatma Gandhi disse que a cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.

Um dia será possível obter liberdade debaixo desta disputa por recursos cada vez mais escassos? Nunca existiu liberdade com a existência de fome. Quando não é o próprio homem destruindo ao outro por ganância, a natureza agredida mata por inanição. É um painel cruel e sanguinário. Os assassínios recrudescem em crueldade crescente. A abundância de vidas humanas disputando e destruindo o ambiente vital não está mais em equilíbrio com a capacidade de recuperação da natureza. Convém ao homem sábio, onde se encaixa o maçom, pensar soluções de curto prazo para encontrar meios de minimizar estes efeitos destrutivos da busca do equilíbrio; com isto estará aplicando o amor fraterno, o único meio de solucionar todos os problemas em consonância com o projeto do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario DI Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora limitada., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. GEORGE, Susan, O Relatório Lugano, Sobre a Manutenção do Capitalismo no Século XXI, título original: The Lugano Report, tradução: Afonso Teixeira Filho, ISBN 85-85934-89-1, primeira edição, Boitempo Editorial, 224 páginas, São Paulo, 1999;

3. MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e lá Concretezza, tradução: Gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;

4. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007;

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Intolerância e Fanatismo Banidos


Considerações sobre espiritualidade e fatores que contribuem ao desenvolvimento da pessoa na Maçonaria;

Linhas de pensamentos e formação eclética do maçom.

Charles Evaldo Boller


Para absorver a capacidade de dominar a tendência natural de tomar a justiça em suas próprias mãos, o maçom desenvolve uma espiritualidade racional que, aliada à inteligência, possibilita aprendizado superior.

É amplamente conhecido que apenas a sociedade educada, que valoriza sua cultura e disposta a dominar os segredos de postura mais tolerante, flexível, desperta para a possibilidade de levar a intolerância e o fanatismo a níveis insignificantes.

O resultado do combate à intolerância é admitir que a tolerância absoluta seja impossível; caso contrário seria o fim dela. Se tudo for tolerado de que serve tolerância? Se aceita que nem sempre algo que é considerado intolerável seja demonstração de intolerância.

A tolerância é elemento basilar da possibilidade de existir da própria ordem maçônica. Nasceu em resultado da ação de homens de visão para propiciar a reunião de pessoas das mais diversas religiões e linhas de pensamentos filosóficos para, em conjunto, desenvolverem soluções para diversos problemas da sociedade, que naquela época eram a crueldade resultante de despotismo, intolerância e fanatismo dos poderes do estado e religião.

Muitos homens e mulheres valorosos foram mortos de forma cruel apenas porque discordaram de um ou outro extremista que de forma absoluta exercia poder tirânico. Para manter-se no poder estes senhores da verdade absoluta e do poder temporal impediam o crescimento em conhecimento do povo, escravizado em sua força de trabalho e submetido a leis que mudavam conforme a vontade do títere que exercia o poder absoluto do Estado. Na Maçonaria descobre-se em maior profundidade que a ninguém, a nenhum ser humano é dado chamar para si a capacidade de possuir a verdade absoluta em qualquer tema. Daí o esforço naqueles tempos para neutralizar o poder absolutista da Igreja Católica Apostólica Romana que forçava o obscurantismo para não perder o poder secular, o qual compartilhava com os governos dos países onde atuava.

Para o maçom a verdade absoluta só pode emanar do Grande Arquiteto do Universo. E quando ele descobre esta limitação, passa a crescer de fato. Não por fingimento ou pelo que o seu grupo social, por coerção social, lhe impinge nas diversas fases da vida. Quando o maçom atinge a maturidade de sua espiritualidade ele dispensa todo e qualquer intermediário entre si e a sua divindade, ou aquilo que ele considera sagrado. Pelo fato de apoiar sua posição num conceito ao qual denomina Grande Arquiteto do Universo, a Maçonaria é religiosa, ela religa o homem a sua divindade, mas não é uma religião. Como acontece isto? Para provar que a afirmação não constitui ambiguidade é necessário buscar apoio no que significa religião, definindo o que a ordem maçônica faz em cada definição:


Culto Prestado a uma Divindade

O maçom nunca inicia qualquer tarefa sem dar glória ao Grande Arquiteto do Universo. A Maçonaria não pratica culto de nenhuma espécie em sua ritualística. Existem duas linhas doutrinárias comuns e ativas na Maçonaria:


Deísmo

Considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada; como define John Locke.


Teísmo

Comum às religiões monoteístas caracterizadas por afirmar a existência de um único Deus, de caráter pessoal e transcendente, soberano do Universo e em intercâmbio com a criatura humana; como define Immanuel Kant.


A única oração, que segue a linha de pensamento teísta, que faz parte oficial da liturgia maçônica é a efetuada pelo venerável mestre no início dos trabalhos e a leitura de um versículo do livro da lei, no caso a bíblia judaico-cristã em lojas de obreiros cristãos; poderia ser qualquer outro livro sagrado, desde que represente a crença da maioria presente.

Platão foi o criador da teologia ocidental, pelo fato de lançar as categorias do imaterial, o que permitiu o pensamento do divino imaterial. A Maçonaria não discute este campo por influência do Iluminismo que não vê nisso nenhum resultado prático, apenas causa de separações e litígio. Para ser maçom impõem-se crença num Princípio Criador e vida após a morte. Fomenta-se o desenvolvimento completo do homem pelo uso da sã racionalidade dirigida por uma espiritualidade não dogmática. Não se discute Deus em sentido teológico, pois o conhecimento de um ser desta magnitude não é concebível ao homem e qualquer tentativa nesta direção leva ao incompreensível, ilógico e intratável pela razão.

Os pensadores da Maçonaria reconhecem o objetivo de fomentar nos homens a capacidade de pensar de forma livre, sem imposições externas e em todos os campos intelectuais e eruditos. Convivem com esotéricos e místicos e interagem entre si de forma proativa. Esta forma de associação de pessoas da Maçonaria provoca cada pessoa em sua própria base de adoração numa busca interna e solitária de sua espiritualidade e conhecimentos.


Crença na Existência de um Ente Supremo Como Causa, Fim ou Lei Universal

Mesmo em resultado de forte influência teísta, em verdade Grande Arquiteto do Universo não é considerado pelos Maçons uma entidade, um ser, é apenas um conceito da existência de um Princípio Criador. Não lhe prestam culto. Qualquer tentativa em confundir o conceito por uma entidade é rechaçada porque só resulta em confusão, como é característica das religiões.

É condição indispensável para a admissão na ordem que o cidadão acredite em um ente supremo e numa vida após a morte - Landemarques 19 e 20 - e Grande Arquiteto do Universo não é o Deus de qualquer religião, é apenas um conceito que cada obreiro materializa conforme sua própria crença. Na verdade, apesar de ser praticado por maioria cristã, é comum este conceito aplicar-se a Deus da Bíblia judaico-cristã, cujo nome hodierno é Jeová, mas o conceito genérico representa qualquer Deus, de qualquer religião, seja ela cristã ou não.


Conceito de Grande Arquiteto do Universo

É um erro denominar a Maçonaria a "Ordem do Grande Arquiteto do Universo", escrever Grande Arquiteto do Universo sem a tripontuação ou outra forma abreviada ou não escrita por extenso - a designação não corresponde a uma entidade, mas estritamente a um conceito.

É induzido no maçom que nenhum homem foi lançado por acaso em meio ao caos e à arbitrariedade ao despertar em si que pertence a uma ordem superior de criaturas, uma maravilhosa sinfonia da vida onde cada um constrói o seu próprio Deus à sua maneira, de acordo com sua herança cultural, de acordo com a sua religião, seja esta uma interpretação antropomórfica ou não.

Grande Arquiteto do Universo é causa, a razão de ser da vida, criador da ordem no Universo, o bem e tem relação com a ordem moral. A concepção mais comum é a que considera Grande Arquiteto do Universo como garante da ordem moral do mundo, onde mesmo como criador da ordem natural, não tem nenhuma responsabilidade sobre a ordem moral que é confiada ao livre-arbítrio da criatura. Se os eventos aleatórios, bons ou maus, o comportamento moral do homem, fossem da vontade do Grande Arquiteto do Universo, Este estaria negando a autenticidade de sua criação, não a teria criado para ter vida e intelecto independente e gozando de livre-arbítrio.

Na prática veem-se manifestações dentro da ordem maçônica que oscilam entre o Deísmo de John Locke e o teísmo de Immanuel Kant, estas diferenças são toleradas, podem até ser invocadas, porém nunca discutidas ou veneradas, algo impensável em qualquer religião.


Conjunto de Dogmas e Práticas Próprias de uma Confissão Religiosa

Apesar das leis basilares emanadas dos Landemarques 19 e 20 constituírem dogmas; crença num ente supremo e numa vida futura, estes dogmas não sofrem nenhum tipo de adoração ou tradução em ato de fé.

Os místicos que fazem parte da ordem maçônica introduziram miríades de conceituações e rituais que não são parte integrante da base da ritualística e liturgia maçônica. Inconveniente que Albert Pike, em 1871, considerou como "em muitos aspectos também corrompidos pelo tempo, desfigurados por adições modernas e por interpretações absurdas", referindo-se às modificações que aos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceito foram submetidos.

É do entendimento maçônico a especulação de que o corpo não morrerá e que continuará perpetuamente vivo, onde a vida continua, haja vista que todos têm moléculas em comum com o restante dos seres viventes da biosfera, bem como guardam entre si os princípios básicos da organização vital. A mente encarnada leva à dedução da espiritualidade também fazer parte do corpo, porque os conceitos e metáforas estão profundamente misturados neste caldeirão de vida da biosfera. Todos os seres vivos pertencem ao Universo no qual estão em sua própria residência, e o perceber desta realidade, deste fazer parte de um projeto gigante e complexo dá um profundo sentido a vida. O espírito, o sopro da vida que mora em cada um, é o que todos têm em comum com os seres viventes. É esta que alimenta a todos e os mantêm vivos. Uns mais evoluídos outros menos, mas todos pertencentes a um ser vivo imenso composto de uma imensa variedade de seres individuais, interdependentes entre si. A relação existe desde as criaturas monocelulares até o homem no topo da cadeia evolucional.


Manifestação de Crença por Meio de Doutrinas e Rituais Próprios

Não existe na Maçonaria doutrina de profissão fé, apenas o desenvolvimento de princípios morais e de conduta em resultado de estórias, ficções, que representam princípios morais a serem cultivados; não são praticados rituais de adoração, apenas de circulação, respeito e posicionamento.

O que existe são influências de quatro linhas do pensamento: o místico e o esotérico que praticam cerimoniais vindos de antigas escolas místicas ou práticas de magia; a autêntica e a antropológica que seguem rigorosamente posição neutra em relação à adoração, dogmas, proselitismo e religiões; praticam a Maçonaria como preconizada por seus autores que visavam obter independência dos poderes eclesiásticos para evoluir o homem em humanismo, ciência e racionalidade; estas duas últimas são as principais vertentes evolutivas da ordem maçônica.

Mesmo que as linhas de pensamento místico e o esotérico fossem enxertados na ritualística maçônica especulativa depois do advento da Maçonaria no século XVI, todas são necessárias para permitir a evolução daqueles que estão agarrados ao materialismo ou fantasias de Deuses e dogmas impossíveis de compreender pela sã racionalidade. As tendências misturam-se e cada linha de pensamento expõem seus pensamentos aos demais resultando uma mistura de pensamentos que oscilam em todas as direções, algo impensável em qualquer religião ou estado. Mesmo que um maçom de orientação mecanicista não alcance o pensamento do irmão místico ou esotérico, não surgem maiores problemas de convívio e todos se complementam; o que falta em um o outro conclui ou melhora. É como diz o provérbio brasileiro "cada um puxa a brasa para a sua sardinha" e sem ferir susceptibilidades.


Filiação a um Sistema Específico de Pensamento ou Crença que Envolve uma Posição Filosófica, Ética, Metafísica

Estuda-se filosofia em sentido lato, de qualquer origem, eclética, para extrair o que existe de bom em cada uma e formar bons princípios; existe uma ética própria, como em qualquer classe profissional, haja vista a ordem maçônica derivar de antigas organizações de talhadores de pedra; obedece aos conceitos metafísicos do platonismo que infere uma libertação total para o campo da ideia, racional; perceptível com a mente e imperceptível aos sentidos. Dependendo da escola de pensamento que o maçom segue este raciocínio se inverte, existindo aqueles que desenvolvem mais os sentidos, sensibilidades em detrimento da racionalidade. É um caldeirão efervescente de pensamentos onde todos gozam da mais ampla liberdade de expressão.

Cada maçom já possui sua própria forma de adoração; o cristão torna-se melhor cristão, o maometano um melhor maometano. A própria cerimônia de iniciação na Maçonaria é um ensaio para a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos e que conduz para uma madureza revelada pela luz, a sabedoria. Onde esta minoridade é a incapacidade de usar a própria capacidade intelectual sem a orientação de outro. O iniciando é vendado e conduzido o tempo todo por um guia. E essa minoridade será debitada a cada um se não for causada por deficiência da capacidade de pensar por si próprio, por falta de decisão, falta de coragem para utilizar do intelecto como seu guia, ou ainda por simples indolência.

Os maçons são permanentemente provocados a ousarem a utilização de seus próprios intelectos; alguns assim agem, outros, mesmo no decurso de muitos anos ainda remanescem adormecidos na minoridade. Então, não basta ser iniciado na ordem maçônica, a verdadeira iniciação ocorre dentro do intelecto e emocionalidade, e para isto há necessidade de estudar, discutir, pensar, enfim, honrar o avental e trabalhar muito.


Quadro Final

O maçom evoluído busca o equilíbrio consigo, com os outros e o meio-ambiente. É dotado de motivação para a prática de virtudes, não por obrigação, mas por sentimento de dever cumprido. Não demonstra receio de punições num mundo após sua morte, se faz algo, certo ou errado, está consciente que tanto a recompensa como o castigo o alcançarão enquanto estiver vivo. Aplaca paixões desenfreadas a níveis insignificantes. Equilibra e libera suas paixões dentro de limites que tornem a vida bela e prazerosa. É moderado até no falar e expor suas ideias, sem ser subserviente, arrogante, ou adulador oportunista. Fala com franqueza e clareza sempre contando com a indulgência de seus pares para os momentos em que seu pensamento seguir veredas de pensamentos ilógicos e até incongruentes. Nunca existe espaço para Intolerância e fanatismo.

Em função de sua condição e estado neurofisiológico é cordial não só com seus irmãos em loja, mas com toda a coletividade, mesmo que sua reação contra a violência e o mal demonstrem o contrário; com a ignorância, o fanatismo e a intolerância não existe comiseração - o maçom usa de sua espada, a sua língua e do escudo da verdade para destruir os títeres que surgem e almejam escravizar o homem. Expressa fora da Maçonaria a atuação de sua condição de vida melhorada para a população ao seu redor e alicerçado nos princípios que absorveu na ordem. É moderado, discreto e tem como objetivo principal da vida a busca de um espírito desenvolvido para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.


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