Valor da justiça para fomentar a sociabilização do homem.
Pretensão da Maçonaria de produzir uma sociedade mais
estável.
Charles Evaldo Boller
Em passado recente a Justiça, por vingança da sociedade,
aplicava penas cruéis e terríveis que apenas a prodigiosa mente deturpada e
malvada de um ser sanguinário poderia desenvolver; matava-se lentamente para
fazer o condenado padecer e o seu aplicador gozar as delícias de uma bizarra
malvadez. Existiam penas de morte que matavam com mais rapidez que também
primavam por extrema e rebuscada violência. A criatividade das feras humanas,
consideradas socialmente equilibradas pela religião e governo, ambas em relação
incestuosa com a Justiça, não tinha limites na aplicação de penas de morte
extremamente cruéis. Era espetáculo público que muitos assistiam por puro
prazer em ver outro ser humano padecer dores e suplício terrível. Toda a
judiação tinha por objetivo fazer o condenado sofrer para equilibrar uma
hipotética balança da Justiça: era o olho por olho! "De olho por olho e
dente por dente o mundo acabará cego e sem dentes", dizia Mahatma Gandhi.
Diversas sociedades procuraram desenvolver as condições
ideais para prepararem cidadãos bons que se preocupassem com a coisa pública do
ponto de vista moral e que não se corrompessem ao poder político, religioso e
econômico: Diógenes, o cínico, andava em plena luz do dia, pelas Ruas da
Grécia, com uma lanterna acesa na mão a procura de um homem honesto e
incorruptível; Aristóteles intuiu que governantes e juízes deveriam ser
moderados, justos e incorruptíveis, destacando as qualidades morais de forma
perfeita; a filosofia ao longo dos tempos insiste que os responsáveis pela lei
e a coisa pública devem ser puros, bons e honestos; Maquiavel resume bem como o
poder judiciário e político é subserviente aos diversos poderes originários da
maldade intrínseca da natureza humana; Hobbes coloca a origem da sociedade como
resultado de contrato entre pessoas que vivem sem poder e sem organização,
onde, em "Leviatã", intui que o homem vive livre desde que atente
contra a vida dos que o cercam. Afirmou que o "homem é o lobo do
homem", onde o homem ameaça seus semelhantes se não existir um contrato de
convivência, a lei, que garanta a sobrevivência dos outros que compartilham o
mesmo espaço. Um provérbio brasileiro verte: "Justiça sem a força é
impotente; força sem a Justiça é tirania"; acrescente-se: Justiça que
demora em ser aplicada, não existe.
Naqueles que cuidam da coisa pública e principalmente da
Justiça sempre houve preocupação com o suborno, nepotismo e peculato. Dizem ser
esta a principal razão de não existir pena de morte no Brasil.
Assim como alguns sábios da antiguidade tentaram, a
Maçonaria tem a pretensão de desenvolver seres humanos para a sociedade que não
estejam sujeitos a imoralidade e falta de ética, destacando o julgar-se a si
próprio antes de julgar aos outros. A filosofia maçônica renova conhecimentos
pré-existentes na mente de cada um e que jazem cauterizados devido à busca
incessante de riqueza e conforto. Aos conhecimentos do maçom somam-se novos
ensinamentos, cujo objetivo é a pretensão da Ordem Maçônica de mudar o caráter
do homem, com ênfase na discrição, fidelidade, disseminação da harmonia entre
irmãos, no cuidado ao expressar pensamentos e na segurança do agir;
características próprias da sabedoria que deve ser característica do homem que
tem a seu cargo julgar a aplicação da lei.
Infelizmente, devido ao crescente número de homens vivendo
em condições cada vez mais nefastas, o valor da vida humana tornou-se
insignificante; a abundância de criaturas humanas banaliza sua existência.
Meliantes matam pessoas apenas por uns trocados, por simples maldade. Homens
matam por puro prazer de fazer verter sangue, bem diferente de outras criaturas
que matam para saciar a fome e que são denominados pelo homem como bestas. É
para modificar a sociedade e livra-la da maldade que a Maçonaria trabalha a
mente de seus adeptos para afasta-los da busca de vingança e depositar esta
tarefa na balança da Justiça ao encargo do poder público.
Derivado da aplicação da educação maçônica, o maçom
experimenta vida com prática do amor fraterno, ao invés de aplicação da lei que
tende a beneficiar os que dispõem de mais recursos. A aplicação tendenciosa da
lei ocorre em todas as épocas e é notório que a Justiça do Estado privilegia o
status social e as posses materiais através da corrupção em todas as esferas do
poder. Entre os que vivem o judiciário é comum considerarem que a Justiça
apenas condena os três "P" - puta, preto e pobre. Onde o amor
fracassa entram em ação os códigos penais; último recurso para possibilitar a
convivência pacífica da fera humana - leis podem ser comparadas às lombadas em
vias públicas que impedem à força o excesso de velocidade. A lombada funciona
porque é incorruptível, já a aplicação da lei não. Em vista da existência da
corrupção, o maçom é instado em depositar sempre mais confiança na solução
pacifica de impasses de relacionamento; isto é treinado em sua convivência em
loja; a lei do amor figura como a única possibilidade de solução de todos os
problemas da humanidade sem a necessidade de penas que nada mais são que a
institucionalização da vingança exercida pelo corruptível poder judiciário do
Estado.
Antes ação que reação. Liberdade que escravidão. O que a lei
endurece no coração humano com a aplicação de penas severas demais, como a
morte e a reclusão por muitos anos, o amor pode evitar desde que seja colocado
em prática na vida; desde que aflore a boa educação voltada à prática do amor
fraterno entre todos os homens. A filosofia da Maçonaria declara abertamente
que esta certamente é a inclinação para a qual o homem foi projetado e a razão
de possuir o dom da vida. O Grande Arquiteto do Universo certamente será
glorificado se os homens aprenderem a viver em paz pela lei do amor, caso
contrário, se avançar além de seus limites e direitos, o próprio homem o fará
padecer debaixo lei, do braço da vingança estatal ao qual se denomina Justiça.
Bibliografia
1. GAVAZZONI, Aluisio, História do Direito, Freitas Bastos
Editora, 2005;
2. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários aos
Graus Filosóficos do R? E? A? A? 1997;
3. REALE, Giovani e ANTISERI, Dario, História da Filosofia,
Editora Paulus, 1990;
4. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade entre os
Homens, Editora Escala, 2006;
Nenhum comentário:
Postar um comentário