Considerações filosóficas e fisiológicas da busca da
felicidade.
A escola do conhecimento da Maçonaria preconiza a felicidade
ampla no cultivo do amor fraterno.
Charles Evaldo Boller
Cada ser humano busca incansavelmente a felicidade. Ao
desfrutar de razoável saúde física e emocional, por todos os meios imagináveis,
e por vezes inimagináveis, a pessoa procura viver cada minuto como se fosse o
último.
Para os vetustos estoicos e epicuristas, e hoje os maçons, a
verdadeira felicidade é encontrada obedecendo às limitações impostas pela
natureza. Subordinada a qual, é próprio que cada pessoa se conserve,
aproprie-se e conheça a si mesmo, para desenvolver todos os recursos que criam
inúmeros momentos de felicidade.
No reino vegetal a necessidade é inconsciente. No reino
animal existe uma instrução natural que leva à busca de satisfação pelo
impulso, ou instinto. Já no homem, mesmo que incluído no reino animal, esta
busca está sujeita à interpretação e definição da razão. Com isto a natureza,
no homem, aprimora o processo de busca de felicidade e satisfação, submetendo-a
ao equilíbrio de uma exigência instintiva, subordinada ao crivo do intelecto, à
moderação da emoção e à sabedoria inspirada pela espiritualidade. Este
equilíbrio é o que o maçom treina em suas atividades.
Os estoicos tinham como conceito de divindade, uma força
criadora e mantenedora do Universo, agindo qual princípio ativo que anima,
organiza e guia a matéria, além de determinar a lei moral, o destino e a
faculdade racional dos homens, conceito este presente nos ensinamentos da ordem
maçônica, como Grande Arquiteto do Universo.
Os epicuristas definiam como "bem a tudo aquilo que
conserva e incrementa o nosso ser e, ao contrário, mal para tudo que o danifica
e diminui". E o bem moral, na concepção dos estoicos, é tudo aquilo que de
alguma forma incrementa, ou melhora a Força Criadora, e mal é o que a
prejudica. De onde deduziram que "o verdadeiro bem, para o homem, é
somente a virtude; o verdadeiro mal é só o vício".
É assim que a Escola do Conhecimento da Maçonaria procura
dirigir o pensamento do maçom; levantar templos à virtude e cavar masmorras ao
vício é tarefa diária, mas acrescenta o amor fraterno para iluminar os espaços
entre as virtudes.
Seguindo um raciocínio racional, a ordem incute que de
alguma forma, cada um tem a capacidade de mudar a si mesmo com base no
conhecimento obtido por olhar para dentro de si mesmo e lá encontrar a
assinatura da Força Criadora. Isto conduz ao pensamento que a cada um é dada a
faculdade de encontrar a felicidade dentro de si mesmo, de um modo
absolutamente independente, sem a necessidade de intermediação.
Como cada um tem absoluto controle sobre si mesmo, é ele
mesmo a única força do Universo que tem a capacidade de modificar a si próprio.
Ao agir em si mesmo segundo o Princípio Criador, estas ações são moralmente
corretas e perfeitas, agir ao contrário desta disposição leva ao erro e vício,
e consequentemente à infelicidade.
Se é a natureza que impõe o amar a si mesmo, é esta mesma
força que impõe o amor aos que geramos e aos que nos geraram. É também esta
mesma Força da Natureza que impele ao amar uns aos outros. Esta energia é algo
que nos leva a amar, a unir, a desfrutar a vida junto aos outros, aos quais, de
alguma forma, também é possível apoiar e ser útil. Esta é a força externa que
nos modifica, e a qual grandes sábios, em todas as eras da humanidade,
definiram como sendo Amor Fraterno. É aquele amor que diz respeito ao
pertencente a irmãos, afetuoso, amigável, cordial. Amor que todo verdadeiro
maçom, na convivência em loja, ou fora dela, conhece muito bem.
A experiência e a convivência entre maçons fraternos os
levam a derrubar antigos mitos como a nobreza do sangue, superioridade da raça
ou eliminação da escravidão e define para cada homem livre um alto potencial de
se tornar sábio. E como esta disposição está intimamente ligada ao princípio
Criador, que aponta para uma igualdade absoluta entre os homens, o amor
fraterno aponta então como caminho único para a felicidade.
Se existe amor entre as pessoas, não há mais necessidade de
estudar valores morais e éticos. Não se requer a necessidade do existir da
Maçonaria. Só perceptível devido à falta do conhecimento das virtudes e
ausência de valores expressa pela sociedade. De forma semelhante, a necessidade
de amor só aparece quando este está ausente. Como as virtudes sozinhas não
trazem felicidade surge a necessidade do amor fraterno para preencher o vazio
entre elas. Um não existe sem a colaboração das outras.
A ética, a moral e as virtudes conduzem ao amor inspirado
pela natureza que, por sua vez, propicia obter frequentes momentos de
felicidade.
É fácil deduzir que o homem completo e feliz depende do
equilíbrio entre suas capacidades físicas, emocionais e espirituais, exatamente
nos moldes praticados pela Escola do Conhecimento da Maçonaria.
Bibliografia
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3. GOLEMAN, Daniel, Inteligência Emocional, A Teoria
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Editora Objetiva limitada., 376 páginas, Rio de Janeiro, 1995;
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85-7542-210-3, primeira edição, Editora Sextante, 136 páginas, Rio de Janeiro,
2004;
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