terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Infans

Busca de maioridade e iluminação.

Características do maçom que encontra a luz que foi buscar na Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


O cidadão que é iniciado na Maçonaria tem à sua disposição a possibilidade de buscar o esclarecimento de uma série de conhecimentos que definem uma relação entre liberdade e saber.

Partindo do princípio de que o homem é um ser maleável, desde que o queira é possível mudá-lo com o objetivo de fazê-lo progredir e esclarecer. Este esclarecimento foi tratado nas universidades da Alemanha por um reduzido número de filósofos e intelectuais. Mesmo que utópico aqueles defensores do uso da luz da razão para melhorar a condição do homem, introduziu na ordem maçônica a base da educação para adultos que tem por objetivo fazer a humanidade progredir. O sistema é pautado no desenvolvimento da inteligência, do gosto pela teoria, motivar a pessoa a procurar o saber, de teorizar e pesquisar tudo pelo simples prazer da busca do saber pelo simples saber; é a busca da verdade. Este grupo ficou conhecido como iluministas; daí, receber a luz na iniciação da Maçonaria ser um dos primeiros aportes desta filosofia.

Pretende a Maçonaria, por influência do Iluminismo, levar de maneira formal o método de conhecimento para dentro de vida moral pautada pelo viver e pensar de forma clara, de modo a afastar da mente a tendência para a superstição. É seu objetivo eliminar a ignorância, a pior causa de tensões sociais.

Esta filosofia é inútil para o adulto que não deseja estudar, que não faz uso da palavra, não fala, tem dificuldade ou incapacidade de falar, presa de mudez característica da infância, do latim "infans". Isto porque a uma criança que fala praticamente ninguém ouve seriamente. Só é levado a sério aquele que segue a razão e usa regras gramaticais, estilo, lógica e razão.

A Maçonaria pretende tirar o homem adulto de sua infância, de sua escuridão, e projetá-lo dentro da maioridade, definindo para isto uma série de degraus a serem vencidos; meta bem-sucedida para aquele que assim o deseja.

Seu ponto inicial é a introdução da ciência da conduta, a ética. Simplificando, é a inclinação para o bem, onde a conduta do homem tem por objetivo maior a felicidade dele mesmo em resultado da prospecção natural da racionalidade de que é capaz. Normalmente é uma característica que diferencia o não iniciado e lhe propicia oportunidade de ser maçom; uma pessoa boa e de bons costumes que pode ser melhorada.

Numa outra instância busca desenvolver a moral, o caráter, a qualidade da pessoa íntegra, honesta, incorruptível, cujos atos e atitudes são irrepreensíveis. Degrau de difícil escalada, tendo em vista a sociedade permissiva e perversa que a todos circunda. É condição de iniciação que o profano possua bom caráter antes de ser iniciado, apontando para a possibilidade de ser ainda mais polido. Polidez no sentido de virtude, conhecimento, mesmo que insignificante, sem esta todas as outras virtudes não se estabelecem.

Chama cada um à responsabilidade; à capacidade de prever os efeitos do próprio comportamento e corrigi-lo. Na ideia devida a Platão - "cada qual é a causa de sua própria escolha, ela não pode ser imputada à divindade" - se desperta a consciência de que cada um é responsável por sua própria carga, não existe a possibilidade de terceirizar nada do que é colocado às costas.

Devido a uma disciplina rígida o maçom é induzido à prática do respeito às leis e regulamentos. O maçom em hipótese alguma sonega imposto, deixa de pagar seus emolumentos ou falta com a responsabilidade. Nesta busca e rigor da disciplina não falta às sessões, salvo em situações muito especiais; sabe que não comparecer por motivo fútil é sinal que sua menoridade ainda o domina; que a Maçonaria ainda não penetrou nele; que Maçonaria se faz pela convivência; impossível e retirar de livros.

O respeito pelo direito dos demais cidadãos é a mola propulsora. Em todos os tempos, desde sua criação, a instituição maçônica influiu no pensamento do maçom para lutar contra o absolutismo e despotismo. É onde a ordem maçônica mais se destaca. Profanos também o fazem; aonde o maçom é diferente? No modo de agir e pensar.

É induzido ao desejo de superação, de ser ou tornar-se sempre melhor, mais eficiente ou superior em talento, criatividade, capacidade de impressionar, em relação aos outros ou a si mesmo; e isto mantendo a postura de busca da igualdade, destituído de vaidade. Vive numa pequena sociedade igualitária em sua relação dentro da loja, onde não existe distinção de ricos e pobres, fracos e poderosos. Isto falta ao não iniciado! Existem diferenças nos aspectos de cargos e com vistas a rígida disciplina, mas que não colocam nenhum maçom numa posição superior, inclusive, quanto mais o maçom sobe em desempenhos de responsabilidade mais ele é levado a portar-se com humildade e espírito de servidor da confraria.

Em sua disciplina é sempre cobrado pela pontualidade em todos os aspectos; desde o início pontual de seus trabalhos até no cumprimento de prazos na entrega de tarefas que ficam sob sua responsabilidade.

Induz-se o amor ao trabalho, à atividade em busca da satisfação das necessidades humanas. Procura-se apagar aquela imagem antiga induzida pela bíblia judaico-cristã de que trabalho é maldição. Mostra-se que pelo trabalho com sabedoria e força, além de sobrevivência, pode-se desfrutar de estética e beleza. Também se realça a importância ao ócio criativo, perceptível em suas ágapes festivas.

O maçom é homem ao qual é dada a oportunidade de aprender constantemente, de pensar por si próprio e de dividir este comportamento e conhecimento com seus irmãos. São princípios simples que têm por objetivo beneficiar cada um, aos irmãos e toda a sociedade humana. É sua meta desenvolver uma sociedade rica em recursos materiais, emocionais e espirituais.

O homem só é completo quando desenvolve espiritualidade forte, daí a figura do conceito de Grande Arquiteto do Universo na vida do homem racional e emocionalmente equilibrado. O método é balanceado, apoiado num tripé: emoção, razão e espiritualidade.

E principalmente, o conhecimento que cada um trás em si é necessário dividir com todos; não se negligencia a sublime instituição com desperdício de tempo, com o brilho do material, discussão vazia e inoportuna, distinção, honraria e retórica bombástica, isto o remete ao nível do esquadro. O alvo é compasso e esquadro juntos em total equilíbrio com o que está representado em seu centro.

O conceito "Aufklärung", de Kant, "esclarecimento" em português, é a capacidade de andar sozinho, com as próprias pernas, sem a necessidade de quem o conduza, assim como é demonstrado na cerimônia de iniciação do grau de aprendiz maçom. Se não entendida a mensagem da iniciação, mesmo iniciado, o maçom nunca encontrará o esclarecimento e tecnicamente permanece profano. É a busca da luz, porque tanto em alemão como em português, o verbete significa iluminação. É a saída da situação de "infans", é a maioridade. Significa a saída do homem de sua menoridade, da qual o culpado é ele próprio. A menoridade - "infans" - é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é culpado dessa menoridade se sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.

O que estou fazendo por mim?
O que estou fazendo pela família?
O que estou fazendo pela sociedade?
O que estou fazendo pela Maçonaria?
O que a Maçonaria anda fazendo em mim?
Mire na cabeça.
Acerte com pensamentos.
Com eles faça degraus, e juntos,
Conquistaremos o Universo!
Fomente a educação!
Estude para ensinar!
Ande com as próprias pernas!
Divida o conhecimento!
Se és maçom,
E teus irmãos assim te reconhecem,
Esta é tua responsabilidade!


Bibliografia

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario DI Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora limitada., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;

3. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;

4. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, do Humanismo a Kant, Volume 2, título original: Il Pensiero Occidentale Dalle Origini Ad Oggi, ISBN 85-349-0163-5, sexta edição, Paulus, 950 páginas, São Paulo, 1990;

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7. MASI, Domenico de, O Ócio Criativo, tradução: Léa Manzi, ISBN 85-86796-45-X, primeira edição, Sextante, 328 páginas, Rio de Janeiro, 2000;

8. Revista Sociologia, Ciência e Vida, Editora Escala, Ano II, Número 17;

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