Charles Evaldo Boller
Uma Leitura Filosófica à Luz de Deepak Chopra e Sir John Eccles.
A tradição esotérica da Maçonaria convida seus iniciados a uma constante jornada de autoconhecimento e de compreensão dos mistérios do universo. A máxima "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses" ressoa, no templo maçônico, como um chamado interior à integração entre o microcosmo e o macrocosmo. Essa mesma unidade entre o homem e o Universo é uma das teses centrais de Deepak Chopra, em sua obra "Você é o Universo" (2017), onde afirma que o ser humano e o cosmos não são entidades distintas, mas faces de uma mesma consciência. Essa perspectiva, ecoada por pensadores como Sir John Eccles, convida-nos a revisar os conceitos de realidade, percepção e existência, sob um prisma que encontra ressonância no simbolismo e na doutrina maçônica.
Na visão de Chopra, o homem e o universo, são um. O Universo
não é uma realidade objetiva separada do observador. Ao contrário, ele é
formado a partir da consciência humana. "Você não está no universo. Você é o universo", afirma o autor,
propondo que aquilo que percebemos como mundo externo nada mais é do que
reflexo da própria consciência em interação com a vastidão do ser. Essa
proposição, embora possa parecer radical do ponto de vista científico
tradicional, não é alheia à tradição iniciática da Maçonaria. No Rito Escocês
Antigo e Aceito, o maçom é constantemente lembrado de que o templo a ser
construído não é apenas de pedras, mas interior, espiritual e cósmico.
A união entre o homem e o Universo revela-se no conceito de
Grande Arquiteto do Universo, que na filosofia maçônica é o princípio ordenador
de toda a criação. Contudo, esse conceito não é externo ou alheia ao homem, mas
imanente, participando da constituição de cada ser humano, cuja centelha divina
é capaz de refletir a luz do Criador de todas as coisas. Chopra, ao dizer que
"a consciência é o campo unificado",
aproxima-se desse conceito, propondo que todos os seres são manifestações de
uma consciência cósmica única, que se individualiza sem se fragmentar.
Na Maçonaria, essa construção simbólica da realidade é refletida
na cerimônia de Iniciação. O neófito, com os olhos vendados, está privado da
visão sensorial, e apenas após a retirada da venda ele passa a "ver" o templo sob a luz do Oriente.
Essa "luz", no simbolismo
esotérico, é a consciência iluminada que revela a verdadeira realidade, não
mais dependente de impressões sensoriais, mas de uma percepção interior e
espiritual.
A Luz, símbolo de primeira importância na Maçonaria, adquire um
sentido ainda mais profundo à luz das reflexões de Chopra. O autor de "Você é o Universo" pergunta: "Como a luz solar é convertida em visão pela
criatura"? Ele responde com base na neurociência: a luz solar não é
visível por si só; ela interage com o sistema visual humano e é interpretada
como imagem, cor e forma. A visão, portanto, é uma experiência da consciência,
não uma cópia fiel de um mundo externo.
Sir John Eccles corrobora essa ideia afirmando que "o mundo real" que percebemos é, na
verdade, uma projeção cerebral. O cérebro interpreta impulsos eletromagnéticos
e gera uma realidade fenomenológica que é subjetiva. Na prática maçônica, esse
conhecimento tem implicações profundas. O processo de elevação nos graus
simbólicos pode ser lido como uma escalada de estados de consciência, onde o
maçom aprende a ver além da aparência, buscando o que está oculto sob os véus
da matéria.
Quando um maçom diz que busca a "Luz", ele não está falando da luz física, mas da capacidade de
discernir a Verdade através da consciência desperta, ver "Iluminação", de Kant. É uma visão
que se afina com a concepção quântica da realidade proposta por Chopra, na qual
o observador é co-criador do universo.
Se tudo o que vemos, ouvimos, sentimos e cheiramos é projeção da
consciência humana, pergunta Chopra: o nome mais apropriado para o Universo seria
o de "universo humano"?
Afinal, este é o único Universo que conhecemos, pois é aquele que podemos
perceber. Essa proposição pode parecer antropocêntrica, mas, na verdade, ela
desloca o centro do Universo para a consciência, não para o corpo humano. O
universo, enquanto manifestação da consciência, emerge do diálogo entre a
realidade potencial e a consciência que a observa. A Maçonaria trabalha com
esse paradigma simbólico. O templo, por exemplo, é construído segundo
proporções cósmicas, mas sua significação é interna. A orientação das colunas,
o zodíaco do teto, o pavimento mosaico, tudo remete a uma relação entre o
Universo externo e a construção interna do maçom. O templo é miniatura
do universo, mas também é espelho da alma do maçom. Assim, podemos considerar
plausível, no contexto simbólico e filosófico, que o Universo que habitamos
seja de fato o "universo humano",
não por ego, mas por limitação e configuração da nossa própria consciência.
A partir dessas reflexões, surge uma questão fundamental para o
maçom: como extrair de tudo isso a consciência de que cada ser é uno com o
Grande Arquiteto do Universo? Em primeiro lugar, reconhecendo que a realidade
material é impermanente e condicionada. O verdadeiro templo é invisível aos
olhos físicos e só pode ser edificado com as ferramentas da mente e do
espírito. A ideia de que o Universo responde a como pensamos e sentimos,
proposta por Chopra e corroborada por experiências quânticas, como o
experimento da dupla fenda, sugere que a mente do homem tem poder cocriador.
Essa é a essência do trabalho do maçom: não apenas observar o mundo, mas
transformá-lo simbolicamente, e, por extensão, espiritualmente.
Sir John Eccles, ao afirmar que o mundo não possui qualidades
intrínsecas, mas que estas derivam da mente, está dizendo, em linguagem científica,
o mesmo que a tradição esotérica tem dito por milênios: que o mundo é um
espelho da alma. E se isso é verdade, a busca maçônica pela Verdade, pela
justiça e pela beleza não é utopia, mas um caminho real de transformação da
realidade através do aperfeiçoamento do ser.
A convergência entre a filosofia de Deepak Chopra, a
neurociência de Sir John Eccles e os ensinamentos da Maçonaria revela uma
profunda e atualíssima interseção entre espiritualidade, ciência e simbolismo.
A ideia de que o homem e o Universo são um só, de que a realidade é construída
pela consciência e de que o mundo exterior nada mais é do que um reflexo da
nossa mente, ressoa poderosamente nos rituais e ensinamentos maçônicos. Ao
integrar essas reflexões ao seu trabalho interior, o maçom não apenas
compreende melhor o mundo, mas realiza o verdadeiro objetivo da Arte Real: a
edificação de um templo perfeito, que é, ao mesmo tempo, individual e
universal.
Bibliografia
1.
Chopra, Deepak, Você é o Universo, Descubra Seu
Lugar no Mundo e o Poder de Transformá-lo, São Paulo, Alaúde, 2017;
2. Eccles, John C., The Self and Its Brain,
An Argument for Interactionism, Springer, 1977;
3.
Geertz, Clifford, A Interpretação das Culturas,
Rio de Janeiro, LTC, 1989;
4.
Grande Loja do Paraná, Ritual do Grau de Aprendiz
Maçom;
5.
Jung, Carl G., O Homem e Seus Símbolos, Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 2008;
6.
Leadbeater, C. W., A Vida Interna, São Paulo,
Pensamento, 1992;
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