Especulação sobre qual o objeto de saudação no oriente da
loja: o delta? O iod? A presença de jeová? A espada flamígera? O venerável
mestre? A carta constitutiva?
Charles Evaldo Boller
Nossa sociedade ocidental hodierna tem suas raízes plantadas
no humanismo renascentista, de onde também vieram as influências culturais da
Maçonaria. O que vivemos em nosso dia-a-dia é o resultado de longo caminho de
desenvolvimento cultural. Passou pelo pensamento grego, pelo direito romano e
assimilou a filosofia cristã. Ao compreender o mundo no qual se vive entende-se
a sociedade em que se está imerso. Deste entendimento depende como cada cidadão
se porta e vive em sociedade e a expressão desta é revelada pelos mitos,
religiões e filosofias que desenvolve.
Toda a cultura humana está alicerçada no pensamento
filosófico e isto era o que os fundadores da Maçonaria do século XVI tinham
interesse. Desde então ocorreram enxertos e modificações, algumas linhas de
pensamento trouxeram desde longínqua idade do homem influências às quais nada
se pode debitar no aspecto evolucionista da Maçonaria. Em essência, a Maçonaria
apenas usa das antigas crenças, ciências e religiões o indispensável para
auxiliar na formação da cultura maçônica, porque é isto que os adeptos possuem
em suas bases culturais ao serem iniciados.
Exemplo de ciência morta é a Astrologia; há muito que os
vaticínios desta antiga ciência foram superados pela astronomia e tecnologias.
As colunas zodiacais existem em nossos templos como referência para orientação
simbólica no Universo; é sabido da física elementar que sem referencial não
existe apoio sensorial ao deslocamento pelo Universo, e a loja é uma simulação
do Universo tridimensional.
Na religião a influência dos deuses e deusas do antigo Egito
na Maçonaria serve de referência e não como deuses a serem venerados, daí
excluir qualquer tipo de adoração, inclusive a Jeová, o Deus exclusivo dos
judeus e cujo nome a maioria das religiões cristãs não usam. Na Maçonaria
criou-se o conceito de Grande Arquiteto do Universo, que não representa o Deus
de nenhuma religião. Esta foi uma das grandes invenções dos criadores da
Maçonaria, pois possibilita cada crente adaptar o conceito às suas próprias
necessidades de adoração e representações antropomórficas ou espiritualistas.
No Rito Escocês Antigo e Aceito, em todos os graus, as representações divinas
são influenciadas pelas linhas filosóficas do judaísmo e do cristianismo em seu
culto a Jeová, expressas pelo iod inserido no delta do oriente da loja
simbólica e outros símbolos da filosofia maçônica do Rito.
Se numa loja maçônica não existe culto de adoração a deuses,
então o que realmente é saudado pelo maçom no oriente? Certamente não é o iod,
a primeira letra do nome de Jeová em aramaico! Nem qualquer outro objeto ou
criatura do oriente. Maçonaria não é religião! Por simples exclusão é possível
determinar que a saudação seja exclusiva para a representação simbólica da
coluna da sabedoria, cujo guardião é o venerável mestre. E se esta é saudada
cerimonialmente, o que existe por detrás desta demonstração de respeito
marcial. Ali acontece o homem e sua filosofia; o amigo da sabedoria que todo
maçom é por definição desde a sua iniciação.
Existem diversas maneiras de interpretar filosofia: atitude
de vida individual; conhecimento impossível de provar; conhecimento abstrato e
teorias lógicas; modo de ver o Universo e a realidade; representação teórica da
ilusão que os sensores induzem ao ser. Em essência, filosofia é apenas
conhecimento, certo tipo de conhecimento. É a ciência preocupada com o todo,
que vai fundo na revelação especulativa da realidade. Não se trata de
matemática, astrologia, astronomia ou medicina; cada ciência destas foi
influenciada pelo filosofar, pela busca em profundidade do sentido de
totalidade que os gregos denominaram sabedoria, em grego "sophía". O
homem que se dedicava a ação do pensamento para discernir o Universo que o
cercava era denominado sábio, em grego verbalizado "sophós", ou
simplesmente amigo, em grego "phílos"; amigo da sabedoria. A
existência dos amigos da sabedoria cunhou o verbete "filosofia".
Depois dos gregos, a filosofia passou pela Idade Média e chegou a nossos dias
com outra aparência, porque ela mesma passou a ser criticada pelos filósofos.
De ciência de todas as coisas, da totalidade, e de suas causas primeiras ela
acaba fragmentada em: filosofia experimental ou empírica, reflexão crítica das
ciências ou epistemologia, positivismo, filosofia analítica, dialética, e assim
por diante. Isto não diz alguma coisa a respeito da diversidade de ritos que a
Maçonaria alberga?
Na Maçonaria não interessam os detalhes da divisão da
filosofia. A assimilação cultural filosófica maçônica, mesmo dentro da mistura
de pensamento grego, direito romano e filosofia cristã possibilita obter rico e
explicito conhecimento a respeito da sociedade ocidental e o que esta pensa de
si. O filosofar maçônico não visa erudição, antes, provoca seus adeptos a
pensarem em temas da sociedade nos quais já estão experimentados e
familiarizados, mas impedidos de pensar nestes devido às atividades do
dia-a-dia. O sistema humano é cruel quando aprisiona a grande massa em
condições de autômatos vivos, sem possibilitar tempo à contemplação e
recolhimento. É disso que o maçom foge em suas reuniões. Nestas ocasiões é
desperto para assuntos que já são de seu conhecimento, mas jazem sepultos
debaixo da busca do sustento e em virtude das vicissitudes que a vida
apresenta.
Para tal objetivo são utilizadas filosofias usadas pelas
religiões, mas apenas como coadjuvantes ao grande objetivo de conduzir cada
maçom ao autoconhecimento visando o bem da sociedade. Não significa
proselitismo religioso quando são introduzidos conceitos cristãos - poderia ser
budista, hinduísta, vedanta, egípcio, islâmico ou outro. Quando aparentemente
defende princípios da Democracia cristã não significa propaganda ideológica -
poderia ser Democracia: direta, indireta, representativa presidencialista,
semipresidencialista, parlamentarista; ou sistemas oligárquicos como:
meritocracia, gerontocracia, plutocracia, tecnocracia etc. Qualquer sistema
ideológico político e religioso que respeita liberdade, igualdade e
fraternidade é caminho para facilitar a transmissão de conhecimento filosófico
alicerçado no que cada maçom já tem em si. O que já é bom torna-se melhor. Nada
de perfeição, esta pertence ao Grande Arquiteto do Universo, o maçom busca em
suas lojas apenas uma condição aperfeiçoada.
Partindo do princípio que para entrar na Maçonaria o homem
já deve ser dotado de luz espiritual, quando se exige dele a crença em Deus
para ser iniciado, ocasião em que vem desejoso de ver a luz simbólica do
conhecimento, da sabedoria, tornar-se amigo da sabedoria, viver a especulação
maçônica, filosofar. Logo depois, na ritualística de suas sessões de trabalho,
o que ele saúda no oriente é o fato de ver ali, simbolicamente, a luz do
conhecimento que pediu e para o que trabalhará arduamente para dela nutrir-se.
Esta é representada simbolicamente pela diminuta coluneta jônica que nunca é
deitada e está sempre à disposição. A luz está ali a sua disposição, basta
pensar na totalidade dos problemas do agrupamento de seres que vivem em estado
gregário ao seu redor e levantar ideias para melhorá-la, que o representado
pela coluna do venerável mestre não será apenas visto, mas internalizado. Em um
dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito aprende-se que a sabedoria não emana
do venerável mestre, orador ou vigilantes, a sabedoria está potencialmente
dentro de cada coluna que cada obreiro é quando filosofa e melhora a si mesmo.
Sessão maçônica não é mera leitura de atas, expediente e planejamento
de festas; a essência do trabalho é o filosofar maçônico. Significa:
autoeducação; humanização; fomento e manutenção de amizades fraternas; pratica
da beneficência; patriotismo; servir a humanidade; desenvolvimento de empatia;
superação de vícios; controle de paixões desenfreadas e degradantes; evitar a
maledicência; tudo alicerçado no desenvolvimento do filosofar maçônico; a
conquista da luz simbólica do conhecimento maçônico. A busca desta luz é tarefa
individual intransferível! Ninguém a dá e constituem os louros da vitória de
uma longa jornada, ao final da qual, o maçom dá honra e glorifica a maravilhosa
obra criativa do Grande Arquiteto do Universo.
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