terça-feira, 24 de outubro de 2023

O que se Faz na Loja?

O que o maçom faz dentro do templo.

Charles Evaldo Boller


Para o obreiro tornar-se motivado deve agir da forma como Domenico de Masi afirmou, agir como se "não sabe se está trabalhando, aprendendo ou se divertindo". Onde trabalho é parte importante da vida, fornecendo sustento financeiro e oportunidades de crescer profissionalmente; onde estudar é jornada contínua que ocorre ao longo da vida; onde a diversão desempenha papel importante para manter a saúde mental e emocional; onde se destaca a importância de equilibrar essas três atividades para desfrutar da vida com qualidade. Visto a partir dessa ótica, na Maçonaria, é interessante que o trabalho dentro da oficina maçônica, torne-se atividade lúdica, onde no maçom desperta o desejo de se fazer presente em todas as oportunidades para trabalhar em si mesmo.

A influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo estudado na Psicologia Social, Sociologia e Antropologia, onde a origem dessa inclinação natural, comumente é debitada a várias teorias e conceitos como: a Psicologia Social, onde os indivíduos tendem a se conformar com as normas e expectativas de um grupo, mesmo que isso signifique ir contra suas próprias crenças ou julgamentos; a Identidade de Grupo que parte da teoria da identidade social, onde as pessoas categorizam a si mesmas e derivam parte de sua identidade e autoestima; a Polarização do Grupo que influi nos membros de um grupo a compartilharem opiniões ou atitudes semelhantes; onde as Normas Sociais aplicam regras que regem o comportamento aceitável do indivíduo dentro de um grupo ou sociedade; e a Pressão Social sobre o indivíduo que se manifesta de diversas formas, incluindo aprovação, desaprovação, elogios, críticas e até mesmo coerção. Assim, as pessoas, muitas vezes, cedem à pressão social para evitar conflitos ou para sentirem-se aceitas. A Teoria da Psicologia Evolutiva explica que a tendência de os seres humanos serem influenciados pelo grupo tem raízes na própria evolução das sociedades. A cooperação do indivíduo dentro de grupos sociais conferiu vantagens adaptativas ao longo da história da evolução humana, assim, a influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo afetado por interação de fatores psicológicos, sociais e culturais. A compreensão desses fatores é essencial para entender por que os maçons acabam adotando comportamentos, crenças e valores conforme à loja a qual pertencem, e, assim, aprendem e se influenciam uns com os outros.

Quem ensina que a raiz quadrada de 4 é igual a 2 é o professor de escola, mas quem ensina na Maçonaria é o próprio obreiro. Não existe a figura do professor na Maçonaria. Todos são autodidatas. Dessa forma, a Maçonaria promove a autoeducação a partir do autoconhecimento e potencial de cada um. Em presença do livre arbítrio, no Universo inteiro, apenas o próprio indivíduo muda a si mesmo, se assim ele o desejar. E isso acontece dentro da loja que o maçom frequenta aproveitando-se da característica natural interna gravada no seu DNA, em milênios de evolução social. Cada loja é uma célula independente, onde cada maçom se autoconstrói e evolui segundo a sua vontade e conforme a sua capacidade intelectual. É dentro da oficina que se levantam templos à virtude, no plural, porque um obreiro influencia o outro e todos crescem juntos. Cada um é professor de si mesmo e dos outros. Como cada maçom é internamente um templo, o processo de mudança individual exige a presença dos outros templos, que são os outros irmãos. A atividade é coletiva, realizada em conjunto. Um depende do outro, daí a criação do ambiente próprio dentro do templo onde a mudança ocorre, tudo dependendo da vontade individual. E assim acontecem fenômenos de mudança que parecem magia, mas é resultado da simples convivência em ambiente apropriado e mediante o debate da filosofia maçônica. O que cada maçom cria nesse meio é extremamente cativante e motivador, pois, como afirmava Domenico de Masi, "a criatividade baseia-se na incerteza: o criativo erra muitas vezes, mas quando acerta, revoluciona"!

O valor agregado nas sessões maçônicas onde o maçom filosofa produz aprendizagem com aplicação prática diária. Em sendo adulto, aprende o que realmente precisa e quer saber; um homem assim vai diretamente ao ponto que o interessa. A atividade ritualística e intelectual o leva ao processo denominado Metacognição, que é a capacidade de pensar sobre a maneira de resolver problemas e reagir com rapidez aos processos de mudança cada vez mais rápidos da tecnologia e de aspectos culturais. Com isso o maçom obtém valores nos campos espiritual, financeiro, social e na maneira de conduzir a vida. Ao mudar a si mesmo ele muda àqueles que com ele se relacionam, e os outros só mudam depois que ele se modifica, e, assim, torna feliz a humanidade pelo amor.

O que se faz na loja é o trabalho constante em si mesmo ao cavar masmorras aos vícios, algo dentro de cada um que prejudica e que apenas o próprio autor consegue remover. As masmorras também são escritas no plural, porque a ação vem de dentro, mas a influência pode vir de fora, do modelo e do desejo de ser aprovado pelo grupo para sentir-se bem. Um maçom ajuda o outro a cavar cárceres para aprisionar os próprios defeitos, e, com isso, influencia os demais a fazerem o mesmo. Isso cria um ambiente fraterno onde o amor realiza a grande mágica que faz aqueles homens, que já são bons, a se aperfeiçoarem ainda mais, de acordo com o projeto criativo do Grande Arquiteto do Universo.

2 comentários:

Wagner Wurlitzer disse...

Muito boa a apresentação do maçom, do indivíduo como um "micro templo", aperfeicoando-se e auxiliando no aperfeiçoamento dos demais templos, e relacionando este paralelo à presença constante e participativa de cada membro de uma Loja. Como sempre, reflexões interessantes e edificantes Irmão Charles! Parabéns.

Charles Evaldo Boller disse...

O Universo é representado no teto do templo da loja para nos inspirar a ideia que estamos dentro de nós mesmos, trabalhando arduamente na construção do nosso templo, que não é de carne e ossos, mas formado das mais diversas formas de energia, onde uma dessas forças mantém acesa a capacidade de viver como parte de um Todo no Universo.