quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Alegria de Mestre Maçom

Consideração ideal ressaltando o que motiva o mestre maçom em sua arte de facilitador de treinamento em loja.

Charles Evaldo Boller


O mestre maçom tem compromisso fundamental para com a Humanidade: servir como facilitador ao crescimento de seus irmãos.

Esta séria responsabilidade faz dele multiplicador dos fundamentos que a ordem maçônica pretende com toda a sua estrutura filosófica voltada para a evolução humana. A grande alegria do mestre maçom está ligada diretamente à sua consciência de concorrer para o objetivo comum, com as perspectivas de desenvolvimento permanente dos que estão ao seu lado, em loja.

O ânimo do mestre maçom é resultado de trabalho entusiástico junto a seus irmãos, onde aplica critérios para obter a Verdade que alimenta necessidades metafísicas, com vistas a progredir em sentido lato. Sempre disposto a ouvir mais que falar, sua mente encontra-se aberta para escutar novas e inusitadas propostas filosóficas de seus pares. Está consciente que a sociedade humana carece de novas ideias para orientar-se, e que ele e seus irmãos têm a possibilidade de desenvolverem pensamentos de novas e inusitadas ideias para a evolução humana.

Em loja o mestre maçom desenha ideias na prancha de traçar, de onde podem eclodir novas propostas intelectuais depois de submetidas ao crivo da razão. Nessa linha ele se confronta com argumentações diversas, o que anima o ambiente de forma lúdica. Em loja questiona-se tudo para propiciar a obtenção de novos horizontes na iluminação dos sentidos e da razão no objetivo de elucidar o porquê da existência do Universo e do seu papel nesse drama cósmico.

O mestre maçom não é professor.

Tem o dever de ensinar fazendo os outros pensarem. O modelo vem de Sócrates e sua maiêutica, onde ele efetuava perguntas e provocações verbais de modo a induzir aquele que com ele conversava a descobrir, pela razão, a sua própria verdade adormecida na mente. O objetivo era apenas despertar as ideias ou, como afirmava o sábio, "parir" novos pensamentos. O uso da técnica socrática fica evidente numa das definições do Rito Escocês Antigo e Aceito, quando este é descrito como um sistema de numerosos graus, dentro do qual o ensino é permanente, não pelas palavras do presidente ou do orador, mas principalmente pelo trabalho intelectual árduo desenvolvido pelo adepto. O mestre maçom é apenas o facilitador que assiste ao "parto" das novas ideias.

A partir dessa base o adepto precisa saber o motivo que o leva a aprender alguma coisa e qual o ganho pessoal que advirá desse esforço. O maçom em processo evolutivo justifica o esforço em aprender quando o assunto liga-se a situações reais do cotidiano. Fica mais interessado em obter Conhecimento se o aprendizado trata de valores intrínsecos de autoestima, desenvolvimento pessoal e possibilidade de melhoria da qualidade de vida. Sócrates discutia em diálogos, os mestres maçons o fazem em grupo, em loja, o que potencializa os resultados e o interesse em pensar com liberdade. Usam dicotomias para encontrar soluções práticas que permitam aos presentes melhorarem como pessoa. Assim, em múltiplas fases de tese, antítese e síntese desenvolvidas em loja o método é exemplo aperfeiçoado de ensino que, inclusive, serve de exemplo para as instituições de ensino superior e de adultos na sociedade.

Não é método pedagógico onde o treinando não participa da construção do currículo nem da formação do conteúdo, portanto passivo, mas usa de técnica que ensina e estimula o obreiro a pensar com discernimento e em assunto do seu interesse, com conteúdo, nível e ritmo ditado pelos próprios participantes da sessão. O facilitador fornece o tema e orienta os trabalhos sem participar dos debates nem apoiar um dos lados, preferencialmente deixa os presentes conduzirem o assunto e só atua para trazer o assunto de volta ao tema em casos de desvios. O facilitador pode ser qualquer mestre maçom da loja, não necessariamente luzes ou dignidades.

O mestre maçom é facilitador por excelência para transmitir e adquirir conhecimentos numa via de mão dupla onde o facilitador e os presentes numa sessão transmitem conhecimentos uns para os outros. Em sentido lato o sistema ensina basicamente a viver bem e de acordo com valores e princípios de disciplina e moralidade elevadas. O maçom evoluído dentro desse sistema ensina a desfrutar a vida em equilíbrio com a Natureza onde ele acaba por viver em harmonia dentro da sociedade o que retorna para ele de diversas formas positivas.

A grande alegria do mestre maçom facilitador é a sua probabilidade de encaminhar outros para a plenitude humanitária: aquela que treina a consciência apurada enquanto pessoa. Isso não é possível se o maçom não colocar o espírito acima da matéria, o que constitui um dos princípios basilares do aprendizado e da vida: sem isso o método não funciona. A espiritualidade proporciona a paz dentro do homem e conduz à prática de Justiça, prudência e serenidade que levam o adepto a viver sua liberdade conquistada.

Essa liberdade é incutida no maçom desde seus primeiros passos na cerimônia de iniciação, ocasião em que, de cego conduzido passa a obter visão para combater sua heteronomia, caracterizada pelo medo de tomar conta da própria vida ou falta de coragem de livrar-se da imposição da vontade de outrem. Quando finalmente vê a Luz ele passa a cultivar o valor da autonomia. Assim, ele obtém orientação para livrar-se do materialismo que leva o cidadão a se escravizar por objetos, vícios degradantes, apego ao brilho de joias e desejos que conspurcam o magnífico templo que é seu corpo em todas as suas dimensões. Dessa forma o mestre maçom distingue-se dos demais cidadãos, o que pode durar pelo resto de seus dias de multiplicador de laços de amor. Ele entende a lição onde aquele que ama a instrução também ama o Conhecimento.

O amor dá ênfase de viver os dias em equilíbrio com a Natureza. Nessa liberdade que convive com outras liberdades: metafísica, política, moral, econômica e outras, o mestre maçom obtém alegria ao desfrutar da liberdade como possibilidade, onde ele pode decidir-se por caminhos diferentes que conduzem ao mesmo fim e a tornar-se livre em sentido lato. A liberdade é para o maçom uma questão de escolha por motivação orientada para o bem. Não se trata de autodeterminação absoluta, de tudo ou nada, mas de problemas onde ele é chamado a decidir a medida, a condição ou qual o caminho seguir para garantir liberdade continuada. Algo que pode ser considerado causa em si mesma e garantida dentro de certas possibilidades que aumentam conforme treina e especializa as percepções sutis com o desenvolvimento equilibrado de racionalidade e espiritualidade.

Desperta a alegria que nutre a satisfação de estar vivo, mesmo que debaixo do perigoso sistema de coisas que o homem inventou para seu próprio prejuízo. A liberdade desperta a alegria que leva o mestre maçom a desempenhar seu ofício apenas pelo prazer de abrir novos e inusitados caminhos, marcado por possibilidades, haja vista o estado progressivamente selvagem da sociedade que o cerca. Surge a Fraternidade, o ambiente repleto de afeto que o leva a propósitos acertados e conduzidos por consciência treinada no convívio com outros maçons. O ambiente de confiança cria um espaço energeticamente positivo ao fortalecimento espiritual, disciplinado, erudito onde o mestre maçom não tem compromisso com o erro e abre sua mente para despejar seus pensamentos ao grupo. Não existe o medo de passar vergonha diante dos outros porque vigora a tolerância ao seu pensamento.

O alimento para a alegria do mestre maçom facilitador vem da satisfação de ver seus irmãos usufruindo da vida pela aprendizagem que faz sentido para o bem viver, onde a razão leva à compreensão do sentido da vida. O maçom evolui e a sociedade progride, sai da progressiva barbárie em andamento.

O mestre maçom facilitador alegra-se ao ver o irmão crescer de todas as formas e se fortalece para avançar pela estrada das virtudes por seus próprios méritos. Ele entende que o maçom em evolução, depois que lhe foi dada a luz, é responsável para dirigir seus passos e tomar decisões na sua vida. Desta forma o homem estudioso conquista para si o tratamento que lhe permite ser visto pelos outros com respeito e afirma o quanto é autônomo e capaz de dirigir-se através de seu próprio discernimento.

A alegria do facilitador fundamenta-se essencialmente no crescimento que ele pode levar ao seu irmão e onde o Conhecimento se torna rocha e fortaleza. É impossível de retratar para aquele que ainda não experimentou em si mesmo a felicidade de ver o outro evoluir com ética, envolvido e comprometido em cuidados para si mesmo, sua família e a sociedade. É indescritível o júbilo resultante daquilo que a ação propicia ao fazer outros responderem com estudo e criatividade para as demandas de um mundo em permanente mudança. Heráclito argumentou que "tudo se move", "tudo escorre", "nada permanece imóvel e fixo", "tudo muda e se transmuta", até mesmo a rocha é fluída em seu tempo relativo, quanto mais o pensamento do homem. O mundo muda constantemente e o homem treinado tem mais chance de sobreviver com qualidade mesmo se o ambiente é hostil ao cidadão honesto e correto. Pela experiência da felicidade que promove para os outros o facilitador vai se desconstruindo e reconstruindo constantemente: seu pensamento possui a fluidez do átomo e a tenacidade do aço.

A Maçonaria "empurra" o maçom a encontrar recursos dentro de si mesmo onde absorveu o Conhecimento que o torna versátil e engenhoso para escapar às armadilhas do sistema humano. Ao observar o panorama ao seu redor, decorrente de seu sucesso, o facilitador sente prazer em conhecer o sentido da vida porque está munido com o escudo analítico e a espada da crítica. Sua alegria é resultado do fato de garantir seu futuro apoiado na garantia de haver propiciado futuro melhor para outros. Essa consciência o faz servir a humanidade enquanto serve sua própria vida.

A Maçonaria tem por alvo a ação moral dentro da meta de cada adepto manter-se livre e de bons costumes. Os temas que debatem em loja estão usualmente ligados com a vida criada pelo Grande Arquiteto do Universo. Assuntos que não despertam interesse são evitados para não perder tempo. Se o mestre maçom facilitador não simplifica o entendimento de seu irmão com sua própria alma é certo que aquele que recebe a instrução não o fará com entusiasmo. Conhecimento que não desperta interesse de nada serve!

O estudo sério e sereno tem necessidade de alegrar quem participa do processo de aprendizagem. Convém usar de metodologia e didática que ressaltem a formação ética e despertem valores adormecidos dentro do maçom em evolução. A sociedade, infelizmente, a todos condiciona para servirem quais escravos. O conhecimento desenvolvido em grupo, em loja, desenvolve-se porque oportuniza e cria o ambiente apropriado para lidar com questões de valores que servem para a vida e desenvolvimento de competências às quais se atribui valor. Principalmente valores que permitem ao adepto tomar conta de sua vida como pessoa livre, com qualidade, e repleta de reais valores humanos.

O ambiente de estudo é sério, mas também lúdico e agradável, anima a assimilação de conteúdos e facilita a compreensão e o estudo. O facilitador fica extasiado quando obtém sucesso em passar Conhecimento que seja colocado logo em prática e facilita a vida dos irmãos. Principalmente se os resultados venham em resultado do despertar moral que conduz a progresso espiritual e material.

A experiência de vida do maçom em crescimento é base do aprendizado. Todos os maçons possuem inteligência e desenvoltura que precisa ser compartilhada. Disso o facilitador se aproveita para obter das diferenças individuais a dinâmica de grupo que possibilita o treinamento eficiente e lúdico de onde vem o sucesso dos irmãos e constitui o grande prêmio do facilitador! Dá-lhe significado à vida e trabalho dentro do objetivo político-social da Maçonaria. Valoriza seu trabalho assumido como missão e vocação. O resultado prático é para o facilitador uma massagem para a alma e regozijo ao coração. É a sua forma de alegrar-se porque cresce a possibilidade de contribuir para a edificação de sociedade melhor e justa. Tirar o homem selvagem da barbárie de uma sociedade em progressiva degradação e conduzi-lo a um estado evoluído é sublime, pois vai ao encontro dos desígnios do Grande Arquiteto do Universo.

O maçom aprende melhor quando os conceitos e Conhecimentos em que está trabalhando estejam relacionados com alguma aplicação prática e que de alguma forma lhe sejam úteis. O facilitador se alegra quando o seu irmão melhora porque consegue aplicar o Conhecimento na prática, tornando-se mais humano e por suas qualidades se destaca na sociedade.

O facilitador motivado e alegre não dá aulas. Ele passa informações assimiláveis e práticas porque o maçom que estuda não é gravador ou máquina é um ser que pensa, processa informações. O dever do facilitador é contribuir com a formação do outro de modo que aquele possa tornar-se pessoa melhor. O maçom em formação apenas deseja saber, obter o Conhecimento com o qual possa trabalhar em seu ofício e de replicar esse mesmo Conhecimento para outros, funcionando assim como multiplicador de maravilhosa filosofia de vida.

Colocado em prática o Conhecimento conduz os irmãos a serem mais humanos. Predispõem ao desenvolvimento do ambiente fraterno onde se encontra o afeto que a sociedade não supre. Alimenta a convivência em paz e trato amistoso onde vigoram preceitos de tolerância aos seus pensamentos e crenças. Com isso desenvolve-se a única força no Universo capaz de resolver todos os problemas humanos: o Amor Fraterno.

A tolerância possibilita aceitar os outros irmãos assim como são e isso eleva a autoestima de todos os envolvidos no processo de desenvolvimento do Conhecimento. Tal ambiente especial desenvolve a confiança e a fé que responde ao desejo do facilitador elevar-se à plenitude de sua missão de ensinar. O facilitador alegre não aplica lições aos demais, apenas facilita a passagem daqueles que escalam os mesmos graus em direção ao Conhecimento que liberta. Sua grande lição é a alegria em deduzir que dessa lide toda o que ele mais aprende é conhecer a si mesmo para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.

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