domingo, 8 de outubro de 2023

A Maçonaria é Aceita em Todos os Lugares?

A busca da individuação, a ação continuada e progressiva que torna a pessoa distinta e independente debaixo do sistema humano de condicionamento e submissão.

Charles Evaldo Boller


A Maçonaria não tem aceitação geral. É tolerada em alguns lugares e combatida em outros. Será que isso ocorre devido ao fato de ela ter segredos ou ser discreta? Não! Outras instituições e classes profissionais também têm segredos e não são combatidas.

Seria por sua ação social de liberdade de culto e de expressão? Também não! Tudo indica que a rejeição vem do fato de a Maçonaria fomentar o livre pensamento do indivíduo que, pelo treinamento do uso da razão, quebra o condicionamento a que a pessoa esteja submetida dentro de seu grupo social.

É de conhecimento geral que a maioria dos regimes de poder não combinam com a liberdade do indivíduo. Nem mesmo os regimes que se denominam democráticos. Seja individual seja coletivo o exercício do poder sempre implica em postura autoritária e despótica.

Desde o berço especulativo a ordem maçônica é perseguida pelos poderes religiosos que nunca a aceitaram como comprometida com o estabelecimento da liberdade do homem. De sua parte a Maçonaria nunca teve a pretensão de substituir qualquer religião, então o que causa tanta perseguição?

Apenas da Igreja Católica Apostólica Romana emanaram inúmeras bulas de Papas com as quais persegue e repudia a Maçonaria (veja Bulas da Igreja Católica Apostólica Romana que Condenam a Maçonaria). As religiões evangélicas se opõem de forma radical à atuação da Maçonaria.

Salvo diminuta exceção, a absoluta maioria das religiões se opõem a atuação da ordem maçônica.

As religiões sempre submeteram seus adeptos aos poderes políticos dos estados, com os quais praticam fornicação política. A fúria fanática das religiões provém do fato de a ordem maçônica quebrar o condicionamento a que foram submetidos os adeptos dessas instituições.

Um sábio disse certa vez que a civilização começou quando alguém cercou um pedaço de chão e se disse proprietário e os outros acreditaram nele. O ditador político diz que ele é dono do poder e o povo acredita nisso. A religião diz que ela é dona da intermediação com o Criador e o adepto crê no dogma. Assim os seres humanos são condicionados a pensar. Creem estar alinhados com o direito e a civilidade, que são modernos e atuais, que vivem livres e autônomos. Em verdade, lhes foram estabelecidas leis que nada têm de livres.

Desde quando linhas invisíveis que separam países determinam a diferença entre miséria e opulência? É tudo jogo de cena. Vem em prejuízo da humanidade. Pequenas diferenças até podem ser toleradas, mas miséria não! Países inteiros sofrem para que outros possam levar vida folgada. E estes contra-stes podem continuar indefinidamente. O maçom não aceita isto porque aprende a pensar. Uma das razões de a Maçonaria ser rejeitada!

Os líderes fanáticos e autoritários das religiões abusam e conduzem seus rebanhos de ovelhas aos seus redis de domínio, afastando-as da influência libertária da Maçonaria. Para obterem sucesso de domínio sobre seus escravos insuflam medo e terror em seus adeptos. Mentem e caluniam a ordem maçônica classificando-a de praticante de ritos demoníacos e outras considerações conspiratórias.

Os déspotas são os que mais temem a ação dos maçons, porque estes preclaros homens não se submetem à vontade de outros que tentem usurpar sua liberdade de pensar livremente ou de agir de acordo com o próprio discernimento e consciência. Sempre foi assim! E continuará sendo! O temor dos tiranos emana do ato de livre pensar dos maçons, aos quais a ordem maçônica incentiva a se desenvolverem em pensamento visando a liberdade, o progresso, a evolução.

Governos e religiões desejam escravos, servos, cativos, dependentes, servidores adestrados. O maçom diligente e estudioso da filosofia maçônica é livre pensador, o que fomenta obstáculos à intensão de dominar as massas. O homem que pensa e age conforme seu pensamento amadurecido é temido, verdadeiro terror daquele que exerce o poder de forma opressora.

Antes de entrar na Maçonaria e de frequentá-la alguns anos, seguindo nova vida em convivência fraterna, igualitária e liberta, o cidadão está condicionado pelos usos e costumes da sociedade em que vive. Influenciam nisso os seus pais, professores, religiosos, livros, filmes, valores sociais e morais, medos, ambições e assim segue. Isso desenvolve um condicionamento mental gravado no mais íntimo do ser, difícil de ser modificado e que aprisiona o indivíduo a um sistema social e de conduta. Não é livre! Não é indivíduo! Ele é iludido que desfruta de liberdade, mas está sujeito a grilhões invisíveis que o dominam e conduzem qual animal que vagueia sem sentido pela vida.

Como ocorre a libertação do condicionamento imposto pela sociedade exercido pela Maçonaria?

Como acontece a formação da individuação, a realização continuada e progressiva que torna a pessoa distinta e independente?

O iniciado em espírito sabe!

Trata-se do segredo da Arte Real que ele pratica. Consta do exercício de antigas e sábias fórmulas esotéricas e ou aplicação do ócio criativo aplicado no tempo reservado pelo maçom para pensar.

Esses procedimentos eram privilégio de reis, príncipes e nobres na antiguidade, quando dedicavam tempo útil para pensar e meditar, por isso é arte da realeza, algo que o maçom pratica quando reserva costumeira e periodicamente certo tempo para filosofar dentro do seu templo maçônico.

Lembrando numa primeira instância que esse "templo" pode até referir-se a um lugar de respeito feito de pedra, mas alude principalmente ao recipiente composto de carne e ossos. Usa-se o jargão "iniciado internamente", fenômeno que só ocorre dentro do maçom quando ele se reúne em grupos, como nas lojas maçônicas ou na prática do hábito de meditar.

Numa sessão maçônica cria-se um ambiente especial, místico e disciplinado, onde o adepto descobre a capacidade de ser criativo. Nessas reuniões ele pode acordar para a realidade, descobrir o Grande Arquiteto do Universo, encontrar a Verdade, impor a morte do anterior homem submisso, mergulhar num estado constante de renovação e outras vantagens libertárias.

A atividade coletiva em loja desperta a criação de si mesmo, a que o iniciado define como o aparar das arestas e imperfeições da pedra bruta, que nada mais é que o "conhece-te a ti mesmo", de Sócrates. Esse constante trabalho em si mesmo liberta o maçom do condicionamento que foi imposto pelo sistema humano de usurpação da liberdade individual. O homem anterior à iniciação é resultado da coletividade, o maçom desperto é produto de reflexão racional em si e que o liberta do condicionamento externo a si mesmo.

A liberdade não é submeter-se a outro tipo de condicionamento, mais nobre ou erudito ou condescendente, mas algo que livra o espírito para despertar o indivíduo. Não é condicionamento, porque senão seria cópia da atuação sociedade e das religiões sobre o indivíduo. Trata-se do despertar racional e espiritual para uma nova forma de vida independente. Não existem promessas nem reprimendas nem prêmios nem castigos para a forma como a vida é dirigida: é a Individuação.

O objetivo da Maçonaria é tornar feliz a humanidade pelo amor, pela liberdade de expressão e de culto, opondo-se a qualquer forma de totalitarismo, fanatismo e obscurantismo. A Maçonaria cria as condições ideais para o homem pensar com liberdade, daí ela ser combatida por qualquer instituição que vise escravizar o povo pelo condicionamento.


Bulas da Igreja Católica Apostólica Romana que Condenam a Maçonaria

  • "In Eminenti Apostolatus Specula" de Clemente XII de 24 de abril de 1738 - baseado nesta Encíclica Felipe V, em 1740, legislou contra os maçons, exemplo que seguiu com o decreto de 2 de julho de 1751 e outras medidas restritivas das autoridades espanholas vigentes até há alguns anos, quando o Governo de Franco condena o maçom com pena mínima de doze anos de prisão, quando não a morte.
  • "Providas Romanorum", de Benedito XVI, de 18 de maio de 1751;
  • "Ecclesiam a Jesu-Christo", de Pio VII, de 13 de setembro de 1821;
  • "Quo Graviora", de Leão XII, de 13 de maio de 1825;
  • "Traditi Humilitati Nostrae", de Pio VIII, de 21 de maio de 1829;
  • "Mirari Vos", de Gregório XVI, de 15 de agosto de 1832;
  • "Qui Pluribus", de Pio IX, de 9 de novembro de 1846;
  • "Syllabus", de Pio IX, de 8 de dezembro de 1864;
  • "Multiplicer Inter", de Pio IX, de 21 de setembro de 1865;
  • "Apostolicae Sedis", de Pio IX, de 12 de outubro de 1869;
  • "Etsi Multa", de Pió IX, de 21 de novembro de 1873;
  • "Humanum Genus", de Leão XIII, de 20 de abril de 1884, seguida de uma Instrução Publica do Santo Ofício "De Secta Massonum" de 7 de maio de 1884;
  • "Proeclara" de 20 de junho de 1894;
  • "Annum Igressi" de 18 de março de 1950, através das colunas do Observatório Romano, no sentido das condenações da Maçonaria manter-se integralmente.
  • Adicionalmente, as Bulas de 30 de janeiro de 1816 do Papa Pio VII, e das de 24 de setembro de 1824 e 10 de fevereiro de 1825, de Leão XII, a Igreja Católica Apostólica Romana condenava os movimentos libertadores da América e indiretamente a Maçonaria.


Bibliografia

1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

2. CAPRILE, G.; FERRER-BENIMELI, José Antonio; ALBERTON, Valério, Maçonaria e Igreja Católica, Ontem, Hoje e Amanhã, título original: La Masoneria Después del Concílio, tradução: Valério Alberton, ISBN 85-349-0535-5, quarta edição, Paulus, 396 páginas, São Paulo, 1998;

3. CASTELLANI, José, A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial, ISBN 85-88781-02-6, primeira edição, Editora Landmark, 204 páginas, São Paulo, 2001;

4. CICHOSKI, Luiz Vitório, Fundamentos da Ritualística Maçônica, Cadernos de Estudos Maçônicos, ISBN 978-85-7252-365-3, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 288 páginas, Londrina, 2017;

5. PORTO, A. Campos, A Igreja Católica e a Maçonaria, terceira edição, Editora Aurora Limitada, 320 páginas, Rio de Janeiro;

6. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, 4, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 172 páginas, Londrina, 2007;

7. SÁ, José Anselmo Cícero de, Fonte de Luz Maçônica, A Arte que Praticamos é Filosofia Pura, ISBN 978-85-7252-237-3, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 212 páginas, Londrina, 2007;

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