sexta-feira, 13 de outubro de 2023

As Colunas Booz e Jaquim

 A promoção do maçom ao passar de uma coluna para a outra.

Charles Evaldo Boller


Salomão mandou chamar Hiram de Tiro, filho de uma viúva da tribo de Neftali e cujo pai era natural de Tiro e trabalhava em bronze. Era dotado de grande habilidade, talento e inteligência para executar qualquer trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus trabalhos. Fundiu duas colunas de bronze; a altura era de dezoito côvados (8,23m) e sua circunferência media-se com um fio de doze côvados (perímetro de 5,49m = diâmetro de 1,75m); assim também era a segunda coluna. Fez dois capitéis de bronze fundido, colocando-os no topo das colunas; um capitel tinha cinco côvados (2,29m) de altura e a altura do outro era a mesma. Fabricou duas redes para cobrir os dois colos dos capitéis que encimavam as colunas, uma rede para cada capitel. Fez as romãs; havia duas fileiras de romãs em torno de cada rede, quatrocentas ao todo, aplicadas no centro que ficava por detrás das redes; havia duzentas romãs em torno de um capitel, e o mesmo número em torno do outro. Os capitéis que encimavam as colunas eram em forma de flores. Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual deu o nome de Iaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou-a Booz. Assim ficou pronto o serviço das colunas. I Reis 7:13-22.

O significado simbólico maçônico das duas colunas é controverso e confuso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã. Em essência elas decoram e demarcam a entrada do templo, o portal do iniciado no caminho da luz, do conhecimento gradativo de seu eu, de seu interior, do seu templo, da sua espiritualidade.

Pesquisando diversos autores maçônicos respeitados, eles também têm inúmeras explicações que conduzem a um intrincado labirinto de justificativas onde algumas delas são baseadas em postulações herméticas já provadas ocas, tão vazias como o próprio interior das colunas.

Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta de entrada para o conhecimento, desconsideradas as características que lhe desejam debitar os que defendem interpretações místicas, alquímicas e mágicas, as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do templo. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, e é importante, de um lado o mundo profano e do outro o templo, a representação de algo maior, que o iniciado vai garimpar com suas bateias mentais dentro de si mesmo.

Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas especulações dos livres pensadores e nada disso deve configurar verdade absoluta, final. Cada elemento da composição artística do símbolo está aberto para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada maçom. Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e impor uma ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que decoram a entrada do templo, o seu próprio templo. Ademais, o obreiro é quem mais conhece daquele corpo, daquele templo, pois o usa como receptáculo de seu próprio sopro de vida.

Para as lojas, como as do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde as colunas Booz e Jaquim estão locadas dentro do templo, no extremo Ocidente, cerca de 1,5m da porta, onde existe este espaço, sua locação é comumente confundida com as colunas Norte e sul. A interpretação mais usual da ação de ficar entre colunas é considerado postar-se entre as colunas Booz e Jaquim, e isto é interpretação incorreta da ritualística. Ficar entre colunas é postar-se entre as colunas Norte e sul, entre irmãos, entre pessoas de carne e ossos, sobre uma linha imaginária que une o altar do primeiro vigilante com o do segundo vigilante e no local onde cruza com o eixo longitudinal do templo. Ali o obreiro tem a certeza que não será interrompido em sua oratória e seus irmãos têm certeza que tudo o que for dito é a verdade da ótica daquele que fala, pois uma mentira ali tem graves consequências. Estar locado entre colunas, entre irmãos, obriga o obreiro a responder todas as perguntas que lhe forem dirigidas com sinceridade, sem omissão, sem reserva mental.

Estarem as colunas no átrio, ou dentro do templo seria indiferente, não fosse o propósito ao qual servem. Podem ser levantadas especulações as mais diversas. Por questão de coerência com a bíblia judaico-cristã elas poderiam ficar fora do templo, mas elas podem estar locadas dentro do templo porque todos os objetos e elementos decorativos em uma loja no Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade educacional. Participam dinamicamente da metodologia para ensinar aos obreiros as verdades necessárias para sua escalada na construção de uma sociedade justa e com homens aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo. Colocar as colunas Booz e Jaquim fora da vista não faz sentido, considerando sua utilização como instrumentos de trabalho, as ferramentas devem estar a vista dos estudantes, dos obreiros, que trabalham na pedra bruta. Principalmente se na parte oca das colunas Booz e Jaquim estão guardadas as outras ferramentas de trabalho.

As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm significado simbólico, são parte da lenda materializada como método propedêutico, como introdução ao caminho que cada maçom deve encetar para entender o que a filosofia da Maçonaria deseja incutir em sua mente. As colunas fazem parte da ficção inventada ao redor da vida de Hiram Abif e transmitem conceitos profundos de moral e ética até para pessoas sem formação escolar básica, que não têm vivência com o abstrato. Com isto a Maçonaria transmite conceitos filosóficos profundos para qualquer pessoa, independentemente de sua formação secular. É o princípio da igualdade em ação. É o conhecimento que propicia a liberdade para todos e independente de formação ou berço. O resultado é a geração de uma sociedade onde a fraternidade é de fato praticada indistintamente por todos os seus membros.

Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé, acreditar no inexistente; este não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com veemência. Reportar-se às colunas Booz e Jaquim fora de vista seria o mesmo que dizer: - Acredite, elas existem lá fora! Ou ainda: - Irmão aprendiz vá lá fora buscar maço e cinzel para trabalho na pedra bruta. Todas as ferramentas devem estar dentro do templo depois que a loja estiver aberta. Ninguém sai ou entra no templo sem uma razão muito forte depois que os trabalhos começaram. Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua existência em algo assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus fiéis para forçá-los a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem lógica, ou realmente são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela informa claramente, explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a materialização de uma ficção para fins exclusivamente educacionais.

Todos os símbolos usados pela pedagogia ritualística maçônica devem ficar ao alcance da vista para permitirem sua utilização material e propiciarem a partir disto a construção, a concepção de pensamentos abstratos sem adentrar na seara pantanosa dos dogmas, apresentando algo duvidoso como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar. No passado, quando não existia explicação para determinado fenômeno, creditava-se este a influências misteriosas e mágicas, o mesmo ocorre com um símbolo fora da vista em qualquer era. Os homens são limitados.

Na escola primária, na fase concreta dos métodos de ensino, os conceitos abstratos são transmitidos via materialização, por exemplo: como explicar o zero para uma criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois subtrai-se estes da visão, ficando o nada, definindo o vazio; gravando na mente o conceito de zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa primeira instância; depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se encarrega de completar o que fica invisível aos olhos.

Ao passar pelas colunas Booz e Jaquim o obreiro entra na oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à luz, a sabedoria necessária para burilar a pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma linda e bem formada pedra cúbica polida, que honra o Grande Arquiteto do Universo e que toma seu lugar de destaque na sociedade humana.


Bibliografia

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