A promoção do maçom ao passar de uma coluna para a outra.
Charles Evaldo Boller
Salomão mandou chamar Hiram de Tiro, filho de uma viúva da
tribo de Neftali e cujo pai era natural de Tiro e trabalhava em bronze. Era
dotado de grande habilidade, talento e inteligência para executar qualquer
trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus
trabalhos. Fundiu duas colunas de bronze; a altura era de dezoito côvados
(8,23m) e sua circunferência media-se com um fio de doze côvados (perímetro de
5,49m = diâmetro de 1,75m); assim também era a segunda coluna. Fez dois
capitéis de bronze fundido, colocando-os no topo das colunas; um capitel tinha
cinco côvados (2,29m) de altura e a altura do outro era a mesma. Fabricou duas
redes para cobrir os dois colos dos capitéis que encimavam as colunas, uma rede
para cada capitel. Fez as romãs; havia duas fileiras de romãs em torno de cada
rede, quatrocentas ao todo, aplicadas no centro que ficava por detrás das
redes; havia duzentas romãs em torno de um capitel, e o mesmo número em torno
do outro. Os capitéis que encimavam as colunas eram em forma de flores. Ergueu
as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à
qual deu o nome de Iaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou-a Booz. Assim
ficou pronto o serviço das colunas. I Reis 7:13-22.
O significado simbólico maçônico das duas colunas é
controverso e confuso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã. Em
essência elas decoram e demarcam a entrada do templo, o portal do iniciado no
caminho da luz, do conhecimento gradativo de seu eu, de seu interior, do seu
templo, da sua espiritualidade.
Pesquisando diversos autores maçônicos respeitados, eles
também têm inúmeras explicações que conduzem a um intrincado labirinto de
justificativas onde algumas delas são baseadas em postulações herméticas já
provadas ocas, tão vazias como o próprio interior das colunas.
Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta
de entrada para o conhecimento, desconsideradas as características que lhe
desejam debitar os que defendem interpretações místicas, alquímicas e mágicas,
as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do
templo. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, e é
importante, de um lado o mundo profano e do outro o templo, a representação de
algo maior, que o iniciado vai garimpar com suas bateias mentais dentro de si
mesmo.
Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original
descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no
símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas
especulações dos livres pensadores e nada disso deve configurar verdade
absoluta, final. Cada elemento da composição artística do símbolo está aberto
para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada maçom.
Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e impor
uma ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas
próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que decoram
a entrada do templo, o seu próprio templo. Ademais, o obreiro é quem mais
conhece daquele corpo, daquele templo, pois o usa como receptáculo de seu
próprio sopro de vida.
Para as lojas, como as do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde as colunas Booz e Jaquim estão locadas dentro do
templo, no extremo Ocidente, cerca de 1,5m da porta, onde existe este espaço,
sua locação é comumente confundida com as colunas Norte e sul. A interpretação
mais usual da ação de ficar entre colunas é considerado postar-se entre as
colunas Booz e Jaquim, e isto é interpretação incorreta da ritualística.
Ficar entre colunas é postar-se entre as colunas Norte e sul, entre irmãos,
entre pessoas de carne e ossos, sobre uma linha imaginária que une o altar do
primeiro vigilante com o do segundo vigilante e no local onde cruza com o eixo
longitudinal do templo. Ali o obreiro tem a certeza que não será interrompido
em sua oratória e seus irmãos têm certeza que tudo o que for dito é a verdade
da ótica daquele que fala, pois uma mentira ali tem graves consequências. Estar
locado entre colunas, entre irmãos, obriga o obreiro a responder todas as
perguntas que lhe forem dirigidas com sinceridade, sem omissão, sem reserva
mental.
Estarem as colunas no átrio, ou dentro do templo seria
indiferente, não fosse o propósito ao qual servem. Podem ser levantadas
especulações as mais diversas. Por questão de coerência com a bíblia
judaico-cristã elas poderiam ficar fora do templo, mas elas podem estar locadas
dentro do templo porque todos os objetos e elementos decorativos em uma loja no
Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade educacional. Participam
dinamicamente da metodologia para ensinar aos obreiros as verdades necessárias
para sua escalada na construção de uma sociedade justa e com homens aprovados
pelo Grande Arquiteto do Universo. Colocar as colunas Booz e Jaquim fora da
vista não faz sentido, considerando sua utilização como instrumentos de
trabalho, as ferramentas devem estar a vista dos estudantes, dos obreiros, que
trabalham na pedra bruta. Principalmente se na parte oca das colunas Booz e
Jaquim estão guardadas as outras ferramentas de trabalho.
As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm
significado simbólico, são parte da lenda materializada como método
propedêutico, como introdução ao caminho que cada maçom deve encetar para
entender o que a filosofia da Maçonaria deseja incutir em sua mente. As colunas
fazem parte da ficção inventada ao redor da vida de Hiram Abif e transmitem
conceitos profundos de moral e ética até para pessoas sem formação escolar
básica, que não têm vivência com o abstrato. Com isto a Maçonaria transmite
conceitos filosóficos profundos para qualquer pessoa, independentemente de sua
formação secular. É o princípio da igualdade em ação. É o conhecimento que
propicia a liberdade para todos e independente de formação ou berço. O
resultado é a geração de uma sociedade onde a fraternidade é de fato praticada
indistintamente por todos os seus membros.
Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé,
acreditar no inexistente; este não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com
veemência. Reportar-se às colunas Booz e Jaquim fora de vista seria o mesmo que
dizer: - Acredite, elas existem lá fora! Ou ainda: - Irmão aprendiz vá lá fora
buscar maço e cinzel para trabalho na pedra bruta. Todas as ferramentas devem
estar dentro do templo depois que a loja estiver aberta. Ninguém sai ou entra
no templo sem uma razão muito forte depois que os trabalhos começaram.
Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua existência em algo
assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus fiéis para forçá-los
a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem lógica, ou realmente
são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela informa claramente,
explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a materialização de uma
ficção para fins exclusivamente educacionais.
Todos os símbolos usados pela pedagogia ritualística
maçônica devem ficar ao alcance da vista para permitirem sua utilização
material e propiciarem a partir disto a construção, a concepção de pensamentos
abstratos sem adentrar na seara pantanosa dos dogmas, apresentando algo
duvidoso como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas
aceitem sem questionar. No passado, quando não existia explicação para
determinado fenômeno, creditava-se este a influências misteriosas e mágicas, o
mesmo ocorre com um símbolo fora da vista em qualquer era. Os homens são
limitados.
Na escola primária, na fase concreta dos métodos de ensino,
os conceitos abstratos são transmitidos via materialização, por exemplo: como
explicar o zero para uma criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois
subtrai-se estes da visão, ficando o nada, definindo o vazio; gravando na mente
o conceito de zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa
primeira instância; depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se
encarrega de completar o que fica invisível aos olhos.
Ao passar pelas colunas Booz e Jaquim o obreiro entra na
oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à luz, a sabedoria
necessária para burilar a pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma
linda e bem formada pedra cúbica polida, que honra o Grande Arquiteto do
Universo e que toma seu lugar de destaque na sociedade humana.
Bibliografia
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edição, Edições Paulinas, 1663 páginas, São Paulo, 1973;
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3. BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçônica, Segundo as Regras
da Simbólica Esotérica e Tradicional, título original: La Symbolique
Maçonnique, tradução: Frederico Ozanam Pessoa de Barros, ISBN 85-315-0625-5,
primeira edição, Editora Pensamento Cultrix limitada., 400 páginas, São Paulo,
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4. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN
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título original: Dictionaire des Symboles, tradução: Vera da Costa e Silva,
ISBN 85-03-00257-4, 20ª edição, José Olympio Editora, 996 páginas, Rio de
Janeiro, 1982;
7. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do
Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada.,
308 páginas, São Paulo, 2003;
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