Charles Evaldo Boller
Na senda iniciática da
Maçonaria, o homem não é considerado obra acabada, mas a pedra bruta a ser
lapidada pelo labor constante da consciência e da vontade. A introspecção,
neste contexto, ergue-se como pilar fundamental, o exercício contínuo e
silencioso que configura o cinzel da inteligência, instrumento simbólico com o
qual o iniciado molda os excessos de sua natureza, esculpindo sua alma rumo à
perfeição moral e espiritual.
A analogia do cinzel não
é mera alegoria decorativa. Ele representa a razão disciplinada, a análise
lúcida e a crítica serena que o maçom aplica a si mesmo. O verdadeiro templo a
ser edificado não é externo; é o santuário interior onde habita o espírito,
onde cada pedra, cada traço, cada aresta da personalidade deve ser trabalhada
com rigor e delicadeza. Introspectar-se é, assim, adentrar o templo da própria
consciência e ali, sob o lume da Verdade, contemplar a si mesmo com coragem e
humildade.
O maço, por sua vez,
simboliza a força. Não a força bruta, dominadora ou irrefletida. Trata-se da
força interna resiliente, a energia moral que sustenta o processo de
autoconstrução. Se o cinzel representa a capacidade analítica de discernir e
corrigir, o maço representa a perseverança necessária para executar tal tarefa,
mesmo diante da dor, da dúvida ou do fracasso. É ele que impulsiona a ação após
a contemplação, que reforça a decisão após o exame.
Nesse duplo instrumento,
maço e cinzel, reside a síntese do processo iniciático: pensar para agir, agir
para evoluir. Olhar para dentro de si mesmo é o gesto inaugural da jornada
maçônica. Porém, esse olhar não é passivo, é o mergulho profundo e laborioso
que visa desvelar, por detrás das máscaras do ego e das ilusões do mundo
profano, a centelha da Verdade que anima o ser.
A Verdade, contudo, não
é entregue, é conquistada. E ela não se revela ao homem que se contenta com as
aparências ou que se recusa ao silêncio e à disciplina do autoconhecimento. Por
isso, o caminho iniciático exige o abandono das certezas fáceis e o
enfrentamento dos próprios fantasmas. Nesse processo, cada irmão é ao mesmo
tempo aprendiz e mestre de si mesmo, escultor e matéria da escultura, força e
inteligência em constante interação.
A introspecção, ao
moldar a consciência, revela os contornos da virtude. Pois não há virtude sem
conhecimento de si, e não há sabedoria sem o labor interior de desbastar os
vícios, as paixões desordenadas e os impulsos instintivos que obscurecem a luz
da razão. É nesse trabalho, repetido em cada dia, que o maçom edifica seu
templo interior, sólido, harmônico, justo e verdadeiro.
O caminho maçônico,
portanto, não é uma estrada de passividade ou mera contemplação. É um chamado à
ação consciente, à reforma íntima, à construção de um ser mais elevado, que se
expressa em palavras e atos impregnados de retidão. Maço e cinzel, introspecção
e resiliência, tornam-se companheiros inseparáveis da jornada iniciática que
conduz da ignorância à iluminação, da matéria ao espírito, da dispersão à
unidade.
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