quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

As Colunas Booz e Jaquim

 Como duas colunas treinam o maçom.

Charles Evaldo Boller


O significado maçônico, simbólico, das duas colunas é controverso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã em I Reis 7:13-22. Em essência elas decoram e demarcam a entrada no templo, o portal do iniciado no caminho da Luz, do conhecimento gradativo de seu eu, de seu interior, do seu templo interno, da sua espiritualidade.

Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta de entrada para o conhecimento, as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do templo de pedra de Jerusalém. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, de um lado o profano e do outro o templo sagrado, a representação de algo maior, local onde o iniciado garimpa com suas bateias racionais as pepitas do conhecimento do Universo e em si mesmo. Parte-se da percepção que o homem faz parte do grande Universo e o templo é a ilustração do pequeno universo que o iniciado é em si mesmo.

Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas especulações dos livres pensadores maçônicos, e nada disso configura verdade absoluta, final. Cada elemento da composição artística do símbolo está aberto para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada maçom. Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e impor ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que decoram a entrada do templo, afinal, é o portal de entrada ao seu próprio templo interno. O obreiro é quem mais conhece daquele corpo, daquele templo, pois sua alma o usa como receptáculo de seu próprio sopro de vida, seu espírito.

Para o Rito Escocês Antigo e Aceito, praticado pela Grande Loja do Paraná, é definido que as colunas Booz e Jaquim fiquem locadas dentro do templo, no extremo Ocidente, cerca de 1,5m da porta, onde este espaço causa certa confusão e cuja locação é comumente confundida com as colunas Norte e Sul. A interpretação mais usual de "ficar entre colunas" é postar-se entre as colunas Booz e Jaquim, quando ficar entre colunas é postar-se entre as colunas Norte e Sul, entre os irmãos, entre pessoas de carne e ossos. Passar por detrás das colunas também é interpretado como sair simbolicamente do templo. Estarem as colunas no átrio ou dentro do templo seria indiferente, não fosse o propósito ao qual servem. São levantadas as mais diversas especulações. Por questão de coerência com a bíblia judaico-cristã elas deveriam ficar fora do templo, pois são consideradas colunas vestibulares, locadas no vestíbulo, no átrio, local onde os maçons vestem seus aventais, colares, e despem-se de pensamentos mundanos, onde as colunas, no modelo do templo de Jerusalém, funcionam como portais místicos entre dois mundos.

Contrariando o modelo original, para fins didáticos, elas podem ser locadas dentro do templo, tomando por base que todos os objetos e elementos decorativos e instrucionais em loja no Rito Escocês Antigo e Aceito tem finalidade instrucional. As colunas participam dinamicamente da metodologia de transmitir aos obreiros as Verdades necessárias para sua escalada como homens aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo, em sua autoconstrução, e, consequentemente, na construção de sociedade evoluída. Colocar as colunas Booz e Jaquim fora da vista nem faz sentido, considerando sua utilização como instrumentos de trabalho. As ferramentas devem estar à vista dos treinandos, dos obreiros que trabalham, cada um, em sua pedra bruta. Principalmente se na parte oca das colunas Booz e Jaquim "estão guardadas" as ferramentas de trabalho.

As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm significado simbólico, são parte da lenda materializada como método propedêutico, como introdução ao caminho que cada maçom enceta para entender os meandros que a filosofia da Maçonaria deseja transmitir. Fazem parte de alegorias que transmitem conceitos profundos de moral e ética até para pessoas sem formação escolar básica, que não têm experiência aprofundada com o abstrato. Assim a Maçonaria transmite conceitos filosóficos profundos para qualquer pessoa, independentemente de sua formação secular. É o princípio da igualdade em ação. É o conhecimento que propicia a liberdade para todos, independente de formação ou berço. O resultado é a geração de sociedade onde a fraternidade é, de fato, praticada indistintamente por todos os seus membros.

Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé, acreditar no inexistente. Não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com veemência. Reportar-se às colunas Booz e Jaquim fora de vista seria o mesmo que dizer: "- Acredite, elas existem lá fora!" Ou ainda: "- Irmão aprendiz, vá lá fora buscar maço e cinzel para seu trabalho na pedra bruta". Para fins instrucionais todas as ferramentas devem estar dentro do templo antes de a loja ser aberta. Ninguém sai ou entra no templo sem uma razão forte depois que os trabalhos começam. Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua existência em algo assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus fiéis para forçá-los a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem lógica ou realmente são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela informa claramente, explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a materialização de ficções exclusivamente para fins de treinamento.

Todos os símbolos usados pela ritualística maçônica ficam ao alcance da vista para permitirem sua utilização material e propiciarem, a partir disto, a construção, a concepção de pensamentos abstratos sem adentrar na seara pantanosa dos dogmas, apresentando algo duvidoso como certo e indiscutível, cuja Verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar. No passado, quando não existia explicação para determinado fenômeno, creditava-se este a influências misteriosas e mágicas, o mesmo ocorre com um símbolo fora da vista em qualquer era para aquele que tem dificuldade de abstração.

Na Pedagogia, método especializado para ensinar crianças na escola primária, na fase concreta dos métodos de ensino, os conceitos abstratos são transmitidos via materialização, por exemplo: como explicar o zero para uma criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois subtrai-se estes da visão, ficando o nada, definindo o vazio. Grava-se na mente do aluno o conceito de zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa primeira instância. Depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se encarrega de completar o que fica invisível aos olhos.

Na Maçonaria recomenda-se utilizar a Andragogia, técnica de ensino que ajuda o adulto a aprender. É a arte e ciência de orientar e facilitar o aprendizado de adultos. Diferentemente da Pedagogia, voltada para crianças, a Andragogia considera as características, necessidades e experiências dos adultos, que aprendem melhor ao compreender a relevância do conteúdo para sua vida ou carreira. Adultos preferem autonomia no aprendizado, valorizam experiências prévias como recurso para interpretar novos conhecimentos e se engajam mais quando o conteúdo é prático e alinhado a seus objetivos. Embora influenciados por fatores externos, são motivados principalmente pelo desejo de crescimento pessoal e profissional. A abordagem andragógica é amplamente utilizada em treinamentos corporativos, programas de educação continuada, ensino superior e cursos profissionalizantes, buscando atender às particularidades do público adulto.

Assim, numa aplicação prática de uma linguagem simbólica com enfoque no adulto, ao passar pelas colunas Booz e Jaquim o maçom entra na oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à Luz, a sabedoria necessária para burilar sua pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma linda e bem formada pedra cúbica polida, que honra o Grande Arquiteto do Universo e que, com isso, toma seu lugar de destaque na sociedade humana.

Bibliografia

1.      ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, ISBN 978-85-311-1134-1, Sociedade Bíblica do Brasil, 1268 páginas, Baruerí, 2009;
2.      GHEERBRANT, Alain; CHEVALIER, Jean, Dicionário de Símbolos, Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores, Números, título original: dictionaire des Symboles, tradução: vera da Costa e Silva, ISBN 85-03-00257-4, 20ª edição, José Olympio Editora, 996 páginas, Rio de Janeiro, 1982;
3.      GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora limitada., 308 páginas, São Paulo, 2003;
4.      MASI, Domenico de, Criatividade e Grupos Criativos, título original: La Fantasia e la Concretezza, tradução: gaetano Lettieri, ISBN 85-7542-092-5, primeira edição, Editora Sextante, 796 páginas, Rio de Janeiro, 2003;
5.      MOREIRA, Ivelise Mena Barreto, A Importância da Andragogia Educação de Adultos no Ensino Superior da Ciência Contábil, ISBN 978-85-444-1258-9, 1ª edição, Editora CRV Limitada, 116 páginas, Curitiba, 2017;

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