Como duas colunas treinam o maçom.
Charles Evaldo Boller
O significado maçônico, simbólico, das duas colunas é
controverso se comparado ao que diz a bíblia judaico-cristã em I Reis 7:13-22.
Em essência elas decoram e demarcam a entrada no templo, o portal do iniciado
no caminho da Luz, do conhecimento gradativo de seu eu, de seu interior, do seu
templo interno, da sua espiritualidade.
Se tomadas com o propósito de apenas representarem a porta de entrada para o conhecimento, as colunas nada mais são que a delimitação do lado externo e o interno do templo de pedra de Jerusalém. São construídas com metal nobre porque o portal separa dois mundos, de um lado o profano e do outro o templo sagrado, a representação de algo maior, local onde o iniciado garimpa com suas bateias racionais as pepitas do conhecimento do Universo e em si mesmo. Parte-se da percepção que o homem faz parte do grande Universo e o templo é a ilustração do pequeno universo que o iniciado é em si mesmo.
Desconsiderando o que foi omitido em relação ao original
descrito pela bíblia judaico-cristã, para cada componente hoje existente no
símbolo que representam as colunas, inúmeras são as explicações criadas pelas
especulações dos livres pensadores maçônicos, e nada disso configura verdade
absoluta, final. Cada elemento da composição artística do símbolo está aberto
para estudos predominantemente teóricos do raciocínio abstrato de cada maçom.
Dar como terminada a sua função especulativa é desrespeitar o símbolo e impor
ditadura dogmática. A cada maçom é dada a oportunidade de postular suas
próprias conjecturas sobre o significado de cada componente das colunas que
decoram a entrada do templo, afinal, é o portal de entrada ao seu próprio
templo interno. O obreiro é quem mais conhece daquele corpo, daquele templo,
pois sua alma o usa como receptáculo de seu próprio sopro de vida, seu espírito.
Para o Rito Escocês Antigo e Aceito, praticado pela Grande Loja
do Paraná, é definido que as colunas Booz e Jaquim fiquem locadas dentro do
templo, no extremo Ocidente, cerca de 1,5m da porta, onde este espaço causa
certa confusão e cuja locação é comumente confundida com as colunas Norte e Sul.
A interpretação mais usual de "ficar entre colunas" é postar-se entre
as colunas Booz e Jaquim, quando ficar entre colunas é postar-se entre as
colunas Norte e Sul, entre os irmãos, entre pessoas de carne e ossos. Passar por
detrás das colunas também é interpretado como sair simbolicamente do templo. Estarem
as colunas no átrio ou dentro do templo seria indiferente, não fosse o
propósito ao qual servem. São levantadas as mais diversas especulações. Por
questão de coerência com a bíblia judaico-cristã elas deveriam ficar fora do
templo, pois são consideradas colunas vestibulares, locadas no vestíbulo, no átrio,
local onde os maçons vestem seus aventais, colares, e despem-se de pensamentos
mundanos, onde as colunas, no modelo do templo de Jerusalém, funcionam como
portais místicos entre dois mundos.
Contrariando o modelo original, para fins didáticos, elas podem
ser locadas dentro do templo, tomando por base que todos os objetos e elementos
decorativos e instrucionais em loja no Rito Escocês Antigo e Aceito tem
finalidade instrucional. As colunas participam dinamicamente da metodologia de
transmitir aos obreiros as Verdades necessárias para sua escalada como homens
aprovados pelo Grande Arquiteto do Universo, em sua autoconstrução, e,
consequentemente, na construção de sociedade evoluída. Colocar as colunas Booz
e Jaquim fora da vista nem faz sentido, considerando sua utilização como
instrumentos de trabalho. As ferramentas devem estar à vista dos treinandos,
dos obreiros que trabalham, cada um, em sua pedra bruta. Principalmente se na
parte oca das colunas Booz e Jaquim "estão guardadas" as ferramentas
de trabalho.
As colunas, todas as ferramentas e objetos utilizados têm
significado simbólico, são parte da lenda materializada como método
propedêutico, como introdução ao caminho que cada maçom enceta para entender os
meandros que a filosofia da Maçonaria deseja transmitir. Fazem parte de
alegorias que transmitem conceitos profundos de moral e ética até para pessoas
sem formação escolar básica, que não têm experiência aprofundada com o
abstrato. Assim a Maçonaria transmite conceitos filosóficos profundos para qualquer
pessoa, independentemente de sua formação secular. É o princípio da igualdade
em ação. É o conhecimento que propicia a liberdade para todos, independente de
formação ou berço. O resultado é a geração de sociedade onde a fraternidade é,
de fato, praticada indistintamente por todos os seus membros.
Um símbolo não observável é o mesmo que um ato de fé, acreditar
no inexistente. Não é o caso da Maçonaria que rechaça dogmas com veemência.
Reportar-se às colunas Booz e Jaquim fora de vista seria o mesmo que dizer: "-
Acredite, elas existem lá fora!" Ou ainda: "- Irmão aprendiz, vá lá
fora buscar maço e cinzel para seu trabalho na pedra bruta". Para fins
instrucionais todas as ferramentas devem estar dentro do templo antes de a loja
ser aberta. Ninguém sai ou entra no templo sem uma razão forte depois que os
trabalhos começam. Acreditar que as colunas existem lá fora tornaria a sua
existência em algo assemelhado aos dogmas que as religiões impingem aos seus
fiéis para forçá-los a aceitarem postulações que não podem ser vistas, não tem
lógica ou realmente são apenas lendas. A ordem maçônica usa lendas, mas ela
informa claramente, explicitamente, que tudo não passa de ilustração, a
materialização de ficções exclusivamente para fins de treinamento.
Todos os símbolos usados pela ritualística maçônica ficam ao
alcance da vista para permitirem sua utilização material e propiciarem, a
partir disto, a construção, a concepção de pensamentos abstratos sem adentrar
na seara pantanosa dos dogmas, apresentando algo duvidoso como certo e
indiscutível, cuja Verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar. No
passado, quando não existia explicação para determinado fenômeno, creditava-se
este a influências misteriosas e mágicas, o mesmo ocorre com um símbolo fora da
vista em qualquer era para aquele que tem dificuldade de abstração.
Na Pedagogia, método especializado para ensinar crianças na escola
primária, na fase concreta dos métodos de ensino, os conceitos abstratos são
transmitidos via materialização, por exemplo: como explicar o zero para uma
criança? Colocam-se dois objetos a vista e depois subtrai-se estes da visão,
ficando o nada, definindo o vazio. Grava-se na mente do aluno o conceito de
zero. Para usar um símbolo ele deve ser visto, ao menos numa primeira instância.
Depois de firmado o conceito abstrato, o cérebro se encarrega de completar o
que fica invisível aos olhos.
Na Maçonaria recomenda-se utilizar a Andragogia, técnica de
ensino que ajuda o adulto a aprender. É a arte e ciência de orientar e
facilitar o aprendizado de adultos. Diferentemente da Pedagogia, voltada para
crianças, a Andragogia considera as características, necessidades e
experiências dos adultos, que aprendem melhor ao compreender a relevância do
conteúdo para sua vida ou carreira. Adultos preferem autonomia no aprendizado,
valorizam experiências prévias como recurso para interpretar novos
conhecimentos e se engajam mais quando o conteúdo é prático e alinhado a seus
objetivos. Embora influenciados por fatores externos, são motivados
principalmente pelo desejo de crescimento pessoal e profissional. A abordagem andragógica é
amplamente utilizada em treinamentos corporativos, programas de educação
continuada, ensino superior e cursos profissionalizantes, buscando atender às
particularidades do público adulto.
Assim, numa aplicação prática de uma linguagem simbólica com
enfoque no adulto, ao passar pelas colunas Booz e Jaquim o maçom entra na
oficina recheada de ferramentas de trabalho em direção à Luz, a sabedoria
necessária para burilar sua pedra bruta. Trabalha nele próprio até obter uma linda
e bem formada pedra cúbica polida, que honra o Grande Arquiteto do Universo e
que, com isso, toma seu lugar de destaque na sociedade humana.
Bibliografia
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