Charles Evaldo Boller
A educação maçônica,
entendida como um processo profundo e transformador, busca equilibrar o ser
interno e o agir externo do homem. Desde tempos imemoriais, o ser humano
enfrenta um conflito essencial entre suas potências internas e suas ações no
mundo exterior. Este dilema reflete a disparidade entre a essência e a
aparência, o pensamento e a prática, o ideal e a realidade. No entanto, para os
iniciados na filosofia cósmica — uma tradição tão antiga quanto a própria
humanidade — essa busca pelo equilíbrio não se dá por imposição externa, mas
sim por um processo interno de autodescoberta e iluminação.
A dualidade humana está
intrinsecamente ligada à natureza dispersiva da lógica comum, que rege o pensamento
da maioria. Enquanto a grande multidão se prende a dogmas e modelos rígidos,
poucos são os que, por meio da iniciação, transcendem os limites da dualidade e
alcançam uma compreensão mais profunda da unidade cósmica. A filosofia cósmica
não se limita a esquemas binários de certo e errado, mas reconhece a
multiplicidade de perspectivas e a integração de polaridades aparentes.
Por outro lado, as
formas de educação vigentes muitas vezes falham ao tentar moldar o homem como
se fosse um autômato, obediente e submisso às ordens de uma autoridade suprema.
A tradição maçônica, ao contrário, rejeita qualquer sistema educacional
ditatorial que se imponha de cima para baixo, como se a verdade fosse
propriedade de poucos e devesse ser imposta aos demais. A educação não nasce da
coerção, mas da compreensão, e o homem moderno já não se submete a mandamentos
irracionais sem questionamento.
O homem contemporâneo
busca compreender antes de agir, refletindo uma evolução significativa em
relação aos paradigmas antigos. Ele deseja participar ativamente de sua
formação, questionando, refletindo e compreendendo as razões por trás das ações
e pensamentos que lhe são sugeridos. Assim, não age por compulsão externa, mas
sim como resultado de uma profunda compreensão interna, o que lhe garante
autenticidade e coerência entre o ser e o fazer.
A grande obra maçônica,
portanto, não é um processo simples de instrução, mas uma jornada de
autoconhecimento e crescimento espiritual. Para que o homem se torne
verdadeiramente livre e autêntico, é necessário que ele compreenda o simbolismo
que permeia os ensinamentos maçônicos, integrando seu eu interior com as ações
que realiza no mundo. Essa integração é a chave para a harmonia, permitindo que
o indivíduo transcenda os conflitos internos e se torne um agente de
transformação tanto em sua própria vida quanto na sociedade em geral.
Educar o homem não
significa doutriná-lo, mas guiá-lo para que ele descubra sua própria verdade.
Isso requer um ambiente de liberdade intelectual, onde o pensamento crítico e a
reflexão sejam incentivados. A educação maçônica, por sua natureza, recusa o
dogmatismo e abraça o questionamento, pois entende que o conhecimento não se
impõe, mas se conquista por meio da busca sincera.
O processo educativo
maçônico promove o diálogo entre o interno e o externo, respeitando a
individualidade e a capacidade de discernimento de cada um. Essa abordagem é
essencial em um mundo cada vez mais complexo e polarizado, onde a verdade
muitas vezes se fragmenta em perspectivas contraditórias. A grande obra é,
portanto, um convite ao despertar da consciência, ao encontro consigo mesmo e à
realização de um agir que reflita verdadeiramente o ser.
Por fim, a educação
maçônica não pretende criar discípulos obedientes, mas sim homens livres que
compreendam suas próprias motivações e sejam capazes de agir de maneira
consciente e responsável. Ao promover a unidade entre o ser interno e o agir
externo, a Maçonaria contribui para a formação de indivíduos íntegros e
comprometidos com o desenvolvimento pessoal e social. Essa é a essência da
grande obra: transformar o homem a partir de dentro, para que suas ações no
mundo reflitam a verdade que pulsa em seu coração.
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