sábado, 10 de maio de 2025

A Grande Obra da Educação Maçônica

 Charles Evaldo Boller

 

A educação maçônica, entendida como um processo profundo e transformador, busca equilibrar o ser interno e o agir externo do homem. Desde tempos imemoriais, o ser humano enfrenta um conflito essencial entre suas potências internas e suas ações no mundo exterior. Este dilema reflete a disparidade entre a essência e a aparência, o pensamento e a prática, o ideal e a realidade. No entanto, para os iniciados na filosofia cósmica — uma tradição tão antiga quanto a própria humanidade — essa busca pelo equilíbrio não se dá por imposição externa, mas sim por um processo interno de autodescoberta e iluminação.

 

A dualidade humana está intrinsecamente ligada à natureza dispersiva da lógica comum, que rege o pensamento da maioria. Enquanto a grande multidão se prende a dogmas e modelos rígidos, poucos são os que, por meio da iniciação, transcendem os limites da dualidade e alcançam uma compreensão mais profunda da unidade cósmica. A filosofia cósmica não se limita a esquemas binários de certo e errado, mas reconhece a multiplicidade de perspectivas e a integração de polaridades aparentes.

 

Por outro lado, as formas de educação vigentes muitas vezes falham ao tentar moldar o homem como se fosse um autômato, obediente e submisso às ordens de uma autoridade suprema. A tradição maçônica, ao contrário, rejeita qualquer sistema educacional ditatorial que se imponha de cima para baixo, como se a verdade fosse propriedade de poucos e devesse ser imposta aos demais. A educação não nasce da coerção, mas da compreensão, e o homem moderno já não se submete a mandamentos irracionais sem questionamento.

 

O homem contemporâneo busca compreender antes de agir, refletindo uma evolução significativa em relação aos paradigmas antigos. Ele deseja participar ativamente de sua formação, questionando, refletindo e compreendendo as razões por trás das ações e pensamentos que lhe são sugeridos. Assim, não age por compulsão externa, mas sim como resultado de uma profunda compreensão interna, o que lhe garante autenticidade e coerência entre o ser e o fazer.

 

A grande obra maçônica, portanto, não é um processo simples de instrução, mas uma jornada de autoconhecimento e crescimento espiritual. Para que o homem se torne verdadeiramente livre e autêntico, é necessário que ele compreenda o simbolismo que permeia os ensinamentos maçônicos, integrando seu eu interior com as ações que realiza no mundo. Essa integração é a chave para a harmonia, permitindo que o indivíduo transcenda os conflitos internos e se torne um agente de transformação tanto em sua própria vida quanto na sociedade em geral.

 

Educar o homem não significa doutriná-lo, mas guiá-lo para que ele descubra sua própria verdade. Isso requer um ambiente de liberdade intelectual, onde o pensamento crítico e a reflexão sejam incentivados. A educação maçônica, por sua natureza, recusa o dogmatismo e abraça o questionamento, pois entende que o conhecimento não se impõe, mas se conquista por meio da busca sincera.

 

O processo educativo maçônico promove o diálogo entre o interno e o externo, respeitando a individualidade e a capacidade de discernimento de cada um. Essa abordagem é essencial em um mundo cada vez mais complexo e polarizado, onde a verdade muitas vezes se fragmenta em perspectivas contraditórias. A grande obra é, portanto, um convite ao despertar da consciência, ao encontro consigo mesmo e à realização de um agir que reflita verdadeiramente o ser.

 

Por fim, a educação maçônica não pretende criar discípulos obedientes, mas sim homens livres que compreendam suas próprias motivações e sejam capazes de agir de maneira consciente e responsável. Ao promover a unidade entre o ser interno e o agir externo, a Maçonaria contribui para a formação de indivíduos íntegros e comprometidos com o desenvolvimento pessoal e social. Essa é a essência da grande obra: transformar o homem a partir de dentro, para que suas ações no mundo reflitam a verdade que pulsa em seu coração.

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