A Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito sempre se apresentou
como um caminho de formação do homem adulto, livre e responsável, no qual
aprender não significa acumular informações, mas transformar a própria
consciência. Cada sessão em Loja pode ser comparada a uma oficina
silenciosa, onde não se fabricam objetos, mas sentidos; onde não se erguem
paredes visíveis, mas colunas interiores. Nesse contexto, a aplicação da
andragogia, entendida como a arte de orientar a aprendizagem do adulto, não é
um modismo pedagógico, mas uma chave que abre portas já existentes no templo
simbólico.
O maçom não entra na Loja como folha em branco. Ele chega
trazendo sua história, suas contradições, seus sucessos e fracassos, como quem
carrega uma pedra irregular retirada de pedreiras distintas. Tratar todos de
forma homogênea, como se estivessem no mesmo ponto do caminho, equivale a
tentar construir um templo ignorando as diferenças naturais das pedras. A
andragogia ensina justamente o contrário: reconhecer o valor de cada forma,
compreender seus ângulos e integrá-los com harmonia. Assim, o debate maçônico
deixa de ser discurso unilateral e passa a ser polimento
mútuo.
A filosofia clássica já apontava esse caminho. Sócrates não
ensinava por meio de aulas expositivas; ele perguntava, provocava, inquietava.
Sua maiêutica consistia em ajudar o interlocutor a "dar à luz" ideias que já estavam latentes. Esse método dialoga
profundamente com a prática maçônica, na qual o símbolo não entrega respostas
prontas, mas convida à interpretação pessoal. Um símbolo é como um espelho
antigo: cada um vê nele algo de si, conforme a Luz interior que carrega. A
andragogia respeita esse processo e o potencializa.
Quando os estudos filosóficos em Loja são conduzidos com base no
diálogo, na escuta ativa e na valorização da experiência, o aprendizado ganha
vida. O Irmão deixa de falar para mostrar o que sabe e passa a falar para
compreender melhor aquilo que vive. O debate, então, assemelha-se a uma
fogueira no centro do círculo: não pertence a ninguém, mas aquece a todos. Cada
intervenção lança lenha simbólica, e o fogo do entendimento se eleva sem
consumir ninguém.
Há também um efeito sutil, porém profundo, nesse modo de
aprender. A egrégora da Loja se fortalece quando o conhecimento circula com
sentido. Palavras vazias geram ruído; reflexões autênticas geram ressonância.
Do ponto de vista esotérico, pode-se dizer que a aprendizagem significativa
organiza a energia coletiva, criando um campo propício à iniciação
interior. O silêncio que se segue a um bom debate vale tanto quanto a fala,
pois é nele que o símbolo se assenta e germina.
Aplicar a andragogia na prática exige atitudes simples, porém
conscientes. Perguntas abertas, conectadas à vida real, são mais eficazes do
que longas exposições. Em vez de perguntar "o que significa tal símbolo?", pode-se perguntar "como esse símbolo se manifesta em sua vida
familiar ou profissional?". Outra sugestão é alternar breves
apresentações com momentos de diálogo orientado, evitando tanto o improviso
desordenado quanto a rigidez excessiva. O equilíbrio, como ensina o esquadro
com o compasso, é sempre o ideal.
Essas práticas não se limitam ao espaço maçônico. No ambiente
profissional, reuniões conduzidas de forma andragógica tendem a gerar mais
engajamento e decisões éticas. Na família, o diálogo substitui o sermão e
fortalece vínculos. Na sociedade, líderes que sabem ouvir constroem mais do que
impõem. Em todos esses cenários, o princípio é o mesmo: o adulto aprende melhor
quando percebe sentido, respeito e participação.
No fundo, aprender em Loja é reaprender a caminhar
conscientemente. Cada sessão é um trecho da escada de Jacó, onde o degrau não
se vence pela pressa, mas pela compreensão. A andragogia, nesse percurso,
funciona como o corrimão invisível que dá segurança sem tirar a liberdade.
Assim, a Maçonaria permanece fiel à sua missão essencial: formar homens
melhores, capazes de pensar, sentir e agir com equilíbrio, dentro e fora do
Templo.
Bibliografia Comentada
1.
CASTELLANI, José. A pedagogia iniciática da
Maçonaria. São Paulo: Madras, 2008. Analisa a Maçonaria como sistema educativo
simbólico, oferecendo base conceitual para práticas andragógicas em Loja;
2.
KNOWLES,
Malcolm S.; HOLTON, Elwood F.; SWANSON, Richard A. The adult learner. 8.
Ed. New York: Routledge, 2015. Obra central sobre andragogia, apresenta
princípios claros sobre a aprendizagem do adulto, amplamente aplicáveis ao
contexto maçônico;
3.
PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Martin
Claret, 2008. Fundamental para compreender o método do diálogo e da pergunta
como instrumentos de despertar da consciência;
4.
WIRTH, Oswald. O simbolismo maçônico. São Paulo:
Pensamento, 2005. Explora o símbolo como instrumento de ensino e transformação
interior, essencial para a aprendizagem adulta na Maçonaria;

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