quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Aprender em Loja: Lapidar Consciências pelo Diálogo Vivo

 Charles Evaldo Boller

A Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito sempre se apresentou como um caminho de formação do homem adulto, livre e responsável, no qual aprender não significa acumular informações, mas transformar a própria consciência. Cada sessão em Loja pode ser comparada a uma oficina silenciosa, onde não se fabricam objetos, mas sentidos; onde não se erguem paredes visíveis, mas colunas interiores. Nesse contexto, a aplicação da andragogia, entendida como a arte de orientar a aprendizagem do adulto, não é um modismo pedagógico, mas uma chave que abre portas já existentes no templo simbólico.

O maçom não entra na Loja como folha em branco. Ele chega trazendo sua história, suas contradições, seus sucessos e fracassos, como quem carrega uma pedra irregular retirada de pedreiras distintas. Tratar todos de forma homogênea, como se estivessem no mesmo ponto do caminho, equivale a tentar construir um templo ignorando as diferenças naturais das pedras. A andragogia ensina justamente o contrário: reconhecer o valor de cada forma, compreender seus ângulos e integrá-los com harmonia. Assim, o debate maçônico deixa de ser discurso unilateral e passa a ser polimento mútuo.

A filosofia clássica já apontava esse caminho. Sócrates não ensinava por meio de aulas expositivas; ele perguntava, provocava, inquietava. Sua maiêutica consistia em ajudar o interlocutor a "dar à luz" ideias que já estavam latentes. Esse método dialoga profundamente com a prática maçônica, na qual o símbolo não entrega respostas prontas, mas convida à interpretação pessoal. Um símbolo é como um espelho antigo: cada um vê nele algo de si, conforme a Luz interior que carrega. A andragogia respeita esse processo e o potencializa.

Quando os estudos filosóficos em Loja são conduzidos com base no diálogo, na escuta ativa e na valorização da experiência, o aprendizado ganha vida. O Irmão deixa de falar para mostrar o que sabe e passa a falar para compreender melhor aquilo que vive. O debate, então, assemelha-se a uma fogueira no centro do círculo: não pertence a ninguém, mas aquece a todos. Cada intervenção lança lenha simbólica, e o fogo do entendimento se eleva sem consumir ninguém.

Há também um efeito sutil, porém profundo, nesse modo de aprender. A egrégora da Loja se fortalece quando o conhecimento circula com sentido. Palavras vazias geram ruído; reflexões autênticas geram ressonância. Do ponto de vista esotérico, pode-se dizer que a aprendizagem significativa organiza a energia coletiva, criando um campo propício à iniciação interior. O silêncio que se segue a um bom debate vale tanto quanto a fala, pois é nele que o símbolo se assenta e germina.

Aplicar a andragogia na prática exige atitudes simples, porém conscientes. Perguntas abertas, conectadas à vida real, são mais eficazes do que longas exposições. Em vez de perguntar "o que significa tal símbolo?", pode-se perguntar "como esse símbolo se manifesta em sua vida familiar ou profissional?". Outra sugestão é alternar breves apresentações com momentos de diálogo orientado, evitando tanto o improviso desordenado quanto a rigidez excessiva. O equilíbrio, como ensina o esquadro com o compasso, é sempre o ideal.

Essas práticas não se limitam ao espaço maçônico. No ambiente profissional, reuniões conduzidas de forma andragógica tendem a gerar mais engajamento e decisões éticas. Na família, o diálogo substitui o sermão e fortalece vínculos. Na sociedade, líderes que sabem ouvir constroem mais do que impõem. Em todos esses cenários, o princípio é o mesmo: o adulto aprende melhor quando percebe sentido, respeito e participação.

No fundo, aprender em Loja é reaprender a caminhar conscientemente. Cada sessão é um trecho da escada de Jacó, onde o degrau não se vence pela pressa, mas pela compreensão. A andragogia, nesse percurso, funciona como o corrimão invisível que dá segurança sem tirar a liberdade. Assim, a Maçonaria permanece fiel à sua missão essencial: formar homens melhores, capazes de pensar, sentir e agir com equilíbrio, dentro e fora do Templo.

Bibliografia Comentada

1.     CASTELLANI, José. A pedagogia iniciática da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2008. Analisa a Maçonaria como sistema educativo simbólico, oferecendo base conceitual para práticas andragógicas em Loja;

2.     KNOWLES, Malcolm S.; HOLTON, Elwood F.; SWANSON, Richard A. The adult learner. 8. Ed. New York: Routledge, 2015. Obra central sobre andragogia, apresenta princípios claros sobre a aprendizagem do adulto, amplamente aplicáveis ao contexto maçônico;

3.     PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Martin Claret, 2008. Fundamental para compreender o método do diálogo e da pergunta como instrumentos de despertar da consciência;

4.     WIRTH, Oswald. O simbolismo maçônico. São Paulo: Pensamento, 2005. Explora o símbolo como instrumento de ensino e transformação interior, essencial para a aprendizagem adulta na Maçonaria;

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