Maçonaria: o Segredo que Mora Dentro de Você
A pergunta parece simples, quase ingênua: "O que é, afinal, a Maçonaria?" No
entanto, essa aparente simplicidade esconde um abismo. Percebe-se logo que
nenhuma definição satisfaz, nenhuma fórmula encerra, nenhuma frase esgota. A
Maçonaria escapa como a própria verdade: quanto mais o intelecto tenta
aprisioná-la em conceitos, mais ela se dispersa em vivências. É como tentar
engarrafar o vento ou medir o infinito com uma régua escolar. Talvez o ponto de
partida mais honesto seja admitir que Maçonaria é menos algo que se explica e
mais algo que se vive.
Vivemos em um tempo obcecado por "informações fidedignas", rótulos, resumos de uma linha. Mas e
se a Verdade não couber em manuais? E se nossos sentidos, como nos alerta a
filosofia e confirma a física quântica, forem apenas filtros que editam a
realidade? Dentro dessa perspectiva, a Maçonaria surge não como um pacote
doutrinário pronto, mas como um laboratório interior onde o homem experimenta a
si mesmo, sob a luz de símbolos milenares. Não é à toa que se afirma que se
pode "ser maçom sem avental":
há homens que nunca pisaram num templo e, no entanto, vivem com tal
integridade, liberdade interior e amor fraterno que já encarnam o ideal
maçônico em seu mais alto grau.
A curiosidade cresce quando se descobre que a Maçonaria reúne
homens de diferentes religiões, ideologias e culturas, sem que isso constitua
ameaça, mas riqueza. Um cristão, um judeu, um muçulmano, um espírita e um
agnóstico podem sentar-se lado a lado em torno do mesmo altar simbólico, não
para decidir qual fé é "a verdadeira",
mas para descobrir como cada um, à sua maneira, tenta dialogar com o Mistério.
A pergunta que atiça o leitor é: que tipo de escola consegue, em tempos de
polarização e fanatismo, sustentar em seu interior uma convivência assim tão
radicalmente plural e, ao mesmo tempo, coesa?
Quando se afirma que a Maçonaria é uma "escola de aperfeiçoamento humano",
corre-se o risco de reduzi-la a um curso de ética aplicada. Mas por trás dessa
expressão há algo mais profundo: um método iniciático, um método de ensino da
alma que dialoga com Sócrates, Platão, Pitágoras e, ao mesmo tempo, com
Einstein e a física quântica. Se a ciência descobre que a matéria é, em última
instância, energia organizada, a Maçonaria propõe ao iniciado a reorganização
de sua própria energia moral, emocional e espiritual. O templo maçônico
torna-se uma metáfora do campo quântico da consciência: ali, o observador é
chamado a observar-se, o construtor a reconstruir-se, a pedra bruta a aceitar a
dor do cinzel que a transforma em pedra polida.
Não menos instigante é a dimensão esotérica que envolve a Maçonaria.
Muito se fala em "segredos",
"sinais", "palavras de passe", mas o
verdadeiro enigma não está no que se esconde dos olhos curiosos. O segredo
essencial não é o que se cala, é o que não pode ser dito porque só faz sentido
quando vivido. Pode-se ler todos os livros que "revelam" a Maçonaria, decifrar todos os rituais na Internet,
decorar todos os símbolos; ainda assim, algo permanece inacessível: o impacto
existencial da iniciação, o choque silencioso de atravessar o "pórtico" que separa o profano do
sagrado, o ordinário do simbólico, a rotina do caminho.
Há também uma provocação ética difícil de ignorar: a Maçonaria
não procura "almas subservientes",
mas homens livres e de bons costumes, capazes de pensar por si, desconfiar de
dogmas fáceis, resistir ao fascínio de líderes que querem "pensar por eles". Em um mundo que
fabrica seguidores dóceis e consumidores automatizados, que instituição é essa
que insiste na disciplina, na responsabilidade pessoal, na dureza da
autocrítica, e ainda assim fala de amor fraterno como única força capaz de
transformar o homem e a Humanidade?
Este ensaio se dirige ao leitor que desconfia das respostas
rápidas, que percebe que a Verdade é mais um horizonte que nos chama do que uma
pedra onde se sentar para descansar. Ele o convida a entrar, ainda que
simbolicamente, num templo sem paredes visíveis: o templo interior. Ao longo do
texto, a Maçonaria será apresentada não como seita misteriosa nem como clube
elitista, mas como caminho exigente de autoconstrução, onde ciência, filosofia,
religião e simbolismo se entrelaçam numa única pergunta: o que você está
fazendo com a obra em construção que é a sua própria vida? Se essa pergunta o
inquieta, este ensaio é para você.
A Impossível Definição Daquilo que se Vive
A pergunta sobre o que é Maçonaria surge como um eco ancestral
em cavernas de consciência ainda não inteiramente iluminadas. Buscamos
definições fidedignas, mas como alcançá-las se a própria Verdade é apenas a
moldura sensorial que construímos para suportar o mistério? Assim como a física
quântica revela que o observador altera o fenômeno observado, também a
Maçonaria se converte em múltiplas perspectivas conforme o grau evolutivo de
quem tenta decifrá-la. Não há essência que se imponha de fora para dentro; há
vivência que se projeta do interior para o mundo.
Toda tentativa de definição é, portanto, um mapa incompleto.
Maçonaria não cabe em dicionários, como a vida não cabe em retratos. É
realidade experimentada, não conceito formulado. É caminho, não ponto fixo. É
um avental, símbolo do trabalho interior, que pode ser ostentado exteriormente
sem jamais ter sido conquistado espiritualmente. Nesse sentido, muitos portam o
ornamento sem carregar o peso do compromisso que ele representa; e outros, sem
jamais vesti-lo, vivem de modo tão íntegro e luminoso que já são Maçons no sentido
mais nobre do termo.
A Maçonaria pode ser descrita, mas nunca explicada; pode ser
vislumbrada, mas não cercada; pode ser sinalizada, mas não encerrada em
molduras conceituais. Assim como um templo vivo, ela cresce conforme os seus
obreiros crescem, e se revela conforme os seus iniciados se permitem desvelar.
A Unidade na Diversidade: Sinfonia das Crenças Humanas
Um dos pilares da vida maçônica é a convivência harmoniosa
entre homens de diferentes credos, culturas e tradições. A Maçonaria, desde
suas origens operativas e especulativas, sempre entendeu que a verdade
religiosa, como as frequências da luz, é plural em manifestação e una em
essência. Assim como um prisma decompõe o raio luminoso em múltiplas cores, mas
todas nascem da mesma fonte, também as religiões se diferenciam na superfície,
mas convergem no mistério do Sagrado.
O maçom, ao reconhecer essa pluralidade, não se perturba diante
dos dogmas dos outros. Em Constantinopla, convive com muçulmanos; em Roma,
acompanha procissões; em Jerusalém, respeita os que beijam o Muro das
Lamentações. Nada disso ameaça a paz interior daquele que trabalha para polir
sua pedra bruta. A diversidade religiosa é, na verdade, uma das mais belas
expressões da liberdade de consciência, princípio tão caro à Maçonaria.
A Maçonaria se alinha, nesse ponto, à filosofia socrática, que
nos lembra que a maior sabedoria é reconhecer a ignorância das certezas
absolutas. O dogmatismo é o cárcere do espírito; a tolerância, sua libertação.
Os iniciados aprendem, em seus templos simbólicos, que nenhuma crença possui o
monopólio da Verdade e que o amor fraterno é mais forte que qualquer separação
teológica. A fraternidade, como força quântica de coesão, unifica diferentes
campos vibracionais, assim como os elétrons se movem em estados energéticos
variados sem romper a unidade de um átomo.
Maçonaria como Escola de Aperfeiçoamento Humano
Chamar a Maçonaria de escola é, talvez, a tentativa mais
aproximada de traduzir sua natureza. Mas é uma escola peculiar: nela, o
currículo se organiza em degraus de consciência, não em disciplinas; os mestres
surgem como irmãos mais adiantados, não como autoridades infalíveis; e o
aprendizado é construtivo, não transmissivo.
A Maçonaria é um método de ensino da alma, uma didática da
liberdade, uma andragogia da razão. Sua finalidade não é meramente intelectual,
mas existencial. Formar bons cidadãos é consequência; formar homens lúcidos
é propósito. A Maçonaria combate o vício não com moralismos externos, mas
com o desenvolvimento interno da autodisciplina. Dispersa a ignorância não por
acúmulo de dados, mas pela iluminação do discernimento. Inspira amor fraterno
não por discursos sentimentais, mas pela convivência estruturada em rituais que
despertam a sensibilidade moral.
De modo muito semelhante ao método socrático, o ensino maçônico
é baseado no questionamento. As perguntas e provocações dos rituais, simbólicas
e filosóficas funcionam como cinzéis lapidando a superfície da pedra bruta. O
iniciado é convidado a responder não com palavras, mas com ações; não com
teorias, mas com transformações pessoais; não com discursos, mas com escolhas
concretas no cotidiano.
Ciência, Religião e Física Quântica como Janelas para o Mistério
O pensamento maçônico, além de filosófico, mantém enorme
afinidade com a ciência. Desde os Iluministas que iluminaram a modernidade,
passando pelos engenheiros que projetaram catedrais e pontes, até físicos
contemporâneos que investigam os quanta e os campos de probabilidade, a
Maçonaria sempre conversou com o conhecimento racional.
A física quântica, em especial, sensibiliza a imaginação
maçônica ao revelar que o Universo é menos sólido do que parece. Partículas são
ondas e ondas são partículas; matéria é energia condensada; existência é
possibilidade antes de ser fato. Tal como o templo simbólico construído em cada
grau, o Universo quântico é arquitetado por vibrações, frequências e estados de
coerência.
Essas descobertas estão alinhados com ensinamentos esotéricos
antigos. O Caibalion afirma que "o
Todo é mente; o Universo é mental", expressão hermética que parece repetir,
de forma metafórica, o princípio quântico de que a realidade se manifesta
conforme a interação do observador. Hermes Trismegisto, Pitágoras e Platão já
intuíam que o cosmos é uma grande arquitetura matemática sustentada por
harmonia e proporção. A Maçonaria recebe e retransmite essas tradições,
atualizando-as na linguagem contemporânea.
Nesse sentido, ciência e espiritualidade, longe de serem
contrárias, são duas faces de uma mesma moeda de busca. Onde a ciência pergunta
"como?", a espiritualidade
pergunta "por quê?". A
Maçonaria cria o ambiente em que ambas se encontram, assim como duas colunas
sustentando o pórtico da sabedoria.
O Simbolismo como Linguagem da Alma
A Maçonaria usa símbolos porque a alma[1] compreende significados
que a razão, sozinha, não alcança. O esquadro ensina retidão; o compasso indica
limites; o avental dignifica o trabalho; o templo representa o mundo e a
interioridade; a pedra bruta simboliza o homem em estado natural, enquanto a
pedra polida encarna o ideal de aperfeiçoamento.
Esses símbolos não são meros enfeites. Funcionam como chaves
iniciáticas. Para o profano, são simples objetos; para o iniciado, são portas
para a transcendência. A cada grau, novos significados emergem, como camadas
concêntricas da realidade. Quanto mais o maçom avança, mais percebe que o
símbolo não contém a Verdade, mas a desperta. É instrumento de meditação,
ferramenta de autoeducação, metáfora viva.
Assim como os fractais matemáticos revelam padrões infinitos a
partir de estruturas básicas, também o simbolismo maçônico apresenta infinitas
espirais de interpretação. O iniciado percebe que cada reunião ritualística
atua como um campo harmônico vibrando em ressonância com arquétipos universais.
O templo é a extensão da psique; o rito é a projeção da jornada interior.
O Segredo que não se Diz: a Iniciação como Metamorfose
A Maçonaria não é secreta; apenas guarda segredos. Tais
segredos, entretanto, não são informações ocultas, mas transformações
vivenciais. Podem ser impressos em livros, divulgados em ensaios, registrados
em vídeos, mas jamais serão apreendidos sem a vivência iniciática. São como
fórmulas científicas: qualquer pessoa pode lê-las, mas somente quem realiza o
experimento compreende seu significado.
A iniciação é um rito de passagem que modifica o ser. Nela, o
candidato atravessa o pórtico que separa o mundo profano do mundo simbólico.
Essa transição não é teatral; é psicológica, espiritual e ética. O iniciado
passa a integrar uma egrégora, um campo energético coletivo, que amplifica sua
capacidade de percepção. Esse fenômeno, conhecido desde as sociedades tribais,
permanece ativo nos templos maçônicos: o grupo transforma o indivíduo, que por
sua vez fortalece o grupo, criando um circuito de reciprocidade espiritual.
Somente pela prática regular a transformação ocorre. Aquele que
se afasta da loja, mesmo conhecendo símbolos e palavras, perde a vibração
iniciática, como uma corda que deixa de ser tensionada e perde sua afinação.
A Virtude do Terreno Fértil: Seleção Moral e Responsabilidade Pessoal
O ingresso na Maçonaria pressupõe que o indivíduo seja terreno
fértil, dotado de caráter íntegro e potencial para o crescimento moral. A Maçonaria
não busca pessoas subservientes, nem indivíduos que desejam privilégios.
Procura homens livres, de bons costumes, inclinados ao bem, desejosos de
autotransformação.
A seleção rígida não é elitismo espiritual, mas prudência
ética. Assim como uma semente só germina quando o solo é adequado, também a
iniciação só produz frutos quando o candidato traz consigo disposição interior.
A Maçonaria pode polir, mas não cria a pedra. Pode orientar, mas não remodelar
integralmente aquilo que o próprio indivíduo não deseja modificar.
Por isso, a investigação da vida do candidato é cuidadosa. Não
se trata de vasculhar erros, mas de compreender se as virtudes essenciais estão
presentes: honestidade, honra, senso de justiça, autodisciplina, fraternidade.
O processo é lento, delicado e profundo.
A Disciplina que Forma Líderes
A obediência é maior escola de liderança. A Maçonaria
compreende essa verdade muito antes de ela ser enunciada pelas teorias modernas
de gestão. Quem nunca soube obedecer dificilmente saberá comandar. O
autoritarismo nasce da insegurança; a liderança autêntica nasce da experiência
de ter servido com humildade.
O maçom aprende, em seus trabalhos, que obedecer às leis da Maçonaria
não diminui sua liberdade, mas a aperfeiçoa. A obediência é centrada no amor
fraterno, não na submissão. É disciplina interior, não servilismo. É caminho
para a autonomia, não escravidão.
No mundo profano, líderes que desconhecem esse princípio tendem
a exercer poder de forma agressiva e desmedida. Na Maçonaria, a liderança se
fundamenta em três pilares:
·
Compreensão do mundo interior do liderado;
·
Serviço voluntário;
·
Equidade na aplicação da justiça;
Assim se constrói o mestre: aquele que inspira, e não impõe.
As Portas que se Abrem: Evolução Interior e Mérito
Muitos ingressam na Maçonaria com a equivocada expectativa de
obter favores, alianças políticas ou acessos privilegiados. Mas nenhuma dessas
portas se abre pela iniciação. A porta que a filosofia da Maçonaria abre é a da
consciência. Todo o resto é consequência do mérito e da conduta exterior.
Se um maçom prestigia outro, é porque reconhece nele virtudes e
não porque compartilham uma identidade ritual. O maçom defende o justo, não o
semelhante. A fraternidade não é corporativismo; é reconhecimento da dignidade
humana.
Quando o indivíduo realmente trilha o caminho do
aperfeiçoamento, então portas materiais se abrem naturalmente. Não porque ele
as forçou, mas porque sua conduta inspira confiança. É o mérito que cria
oportunidades, não a filiação.
Filantropia como Construção Humana, não como Caridade Assistencialista
A beneficência maçônica não se limita a distribuir alimentos,
roupas ou recursos. Sua finalidade é desenvolver a humanidade dentro do próprio
maçom. Caridade sem amor é arrogância; ajuda sem respeito é humilhação. Por
isso, a Maçonaria busca ensinar a pescar, não apenas dar o peixe. Filantropia é
elevar o ser humano, não atenuar temporariamente sua dor.
O maior beneficiado pela caridade maçônica é o próprio maçom,
pois ao servir ele amplia sua consciência, desperta empatia e compreende a
sacralidade da vida humana.
Maçonaria: Caminho, não Resposta
A Maçonaria não oferece respostas prontas. Oferece ambiente,
ferramentas, métodos e símbolos que provocam o buscador. A resposta vem de
dentro, como ensinava Sócrates: conhece-te a ti mesmo. O processo iniciático é
catalisador de uma transformação que já estava latente.
A Maçonaria, portanto, não faz o
homem; apenas o desperta.
Desilusões, Perigos e Perseverança
O caminho maçônico não é um mar tranquilo. É senda estreita,
cheia de tropeços e riscos. O maior inimigo do maçom não é o mundo exterior, mas
sua própria sombra: vaidade, orgulho, preguiça, impaciência. O trabalho não
termina em um grau, nem em trinta e três. Termina na morte. Talvez nem então.
Haverá irmãos imperfeitos, como em qualquer comunidade humana.
Mas o simples fato de dedicarem tempo e recursos para se reunirem com o
propósito de se tornarem melhores já os torna dignos de respeito. A
perseverança é o segredo. A luz só se revela a quem permanece no caminho.
Ser Maçom na Prática: Aplicando o Aprendizado à Vida Cotidiana
Nada do que se aprende na Maçonaria vale se não for aplicado.
De nada adianta conhecer símbolos se eles não moldam atitudes. De nada vale
repetir palavras sagradas se elas não transformam comportamentos.
O maçom manifesta a filosofia da Maçonaria:
·
Na família, como conselheiro sereno;
·
No trabalho, como profissional íntegro;
·
Na sociedade, como cidadão justo;
·
Em si mesmo, como alquimista interior.
Sua vida se converte em metáfora viva do templo universal. Cada
gesto é uma pedra; cada palavra é uma argamassa; cada escolha é um cinzel
lapidando o futuro.
Caminho para Quem Deseja Ingressar
Quem deseja entrar na Maçonaria deve começar de fora: vivendo
com dignidade, sendo bom cidadão, cultivando virtudes. A Maçonaria não se
procura; é encontrada. Não se compra; é merecida. Não se pede; é oferecida.
O candidato deve buscar a Verdade dentro de si. Não em
pastores, padres ou guias espirituais. Não em livros que prometem segredos. As
chaves estão no coração humano, no espírito que vibra, na mente que raciocina.
O templo está no interior.
Se houver sinceridade e propósito, um maçom o reconhecerá. E
então, talvez, o convite chegará.
Entre o Profano e o Iniciado: Fronteiras da Consciência
Será maçom, antes de portar avental, aquele que vive retamente.
E, mesmo depois da iniciação, a Maçonaria não lhe entregará respostas.
Entregará instrumentos para que ele mesmo as descubra.
O rito é a porta. O trabalho é o
caminho. A transformação é destino.
O Arquiteto Interior e o Templo Universal
Que o Grande Arquiteto do Universo proteja e conduza todo
buscador à sabedoria. Não para torná-lo membro da Maçonaria, mas para torná-lo
bom construtor da sociedade, seja como maçom de avental ou como maçom de
espírito.
A Maçonaria não é fim, mas meio. Não é doutrina, mas jornada.
Não é verdade, mas instrumento para alcançá-la. E talvez a grande revelação
seja esta: a Verdade não é algo que se encontra, mas algo que se constrói, como
um templo erguido com as próprias mãos, pedra a pedra, gesto a gesto, vida a
vida.
A Travessia Interior do Verdadeiro Iniciado
A síntese final deste ensaio revela que a Maçonaria, mais do
que instituição, é experiência transformadora. Não se encerra em definições
porque vive no âmbito do indizível, onde símbolos operam como alfabetos da alma
e rituais despertam dimensões silenciosas do ser. Seu valor está menos nos
segredos que guarda e mais na capacidade de provocar, em cada homem, a
inquietação necessária para que ele se reconheça como obra em construção. A Maçonaria,
portanto, não oferece respostas prontas, mas o espaço para que a própria
vida se torne resposta.
Ressalta-se que a Maçonaria não é religião, nem seita, nem
clube, mas "escola" de aperfeiçoamento humano, onde a
pluralidade das crenças se transforma em sinfonia harmônica, sustentada por um
ethos de liberdade, fraternidade e disciplina. A convivência entre homens de
diferentes culturas revela que a Verdade não é propriedade de nenhum dogma, mas
horizonte compartilhado. E essa multiplicidade, longe de enfraquecer a unidade,
fortalece-a, pois lembra que cada consciência traz consigo um fragmento do
templo universal.
O ensaio também expõe a profunda ligação entre Maçonaria,
filosofia clássica e ciência moderna. A física quântica, ao demonstrar que o
observador influencia o fenômeno observado, ressaslta a lição iniciática:
transformar o mundo implica primeiro transformar-se. Assim, o avental do maçom
não é adorno, mas metáfora da responsabilidade de lapidar a si mesmo para que
suas ações irradiem luz no convívio humano.
A iniciação começa antes do avental e continua muito além dos
rituais. É jornada de coragem interior, de enfrentamento das próprias sombras,
de construção incessante de virtudes. Como escreveu Platão, "a verdadeira sabedoria vem de reconhecer a
própria ignorância". Cabe ao iniciado, portanto, permanecer humilde
diante do mistério, perseverante na busca, luminoso na ação.
Que cada leitor, maçom ou não, descubra que o maior templo está
dentro de si e que a obra da própria vida é sua mais alta iniciação.
Bibliografia Comentada
1.
ALMEIDA, J. A. Simbolismo maçônico e a
construção do ser. São Paulo: Pensamento, 2014. Obra que aprofunda a função
iniciática dos símbolos e seu papel na formação ética do maçom, relacionando-os
com tradições antigas e modernas interpretações psicológicas;
2.
CARVALHO, L. F. A iniciação e o segredo. Rio de
Janeiro: Nova Acrópole, 2017. Estudo sobre o significado filosófico do segredo
iniciático e sua relação com vivências subjetivas e transformações
psicológicas, oferecendo paralelos com a mística ocidental;
3.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São
Paulo: Martins Fontes, 1992. Clássico que examina a experiência religiosa e sua
manifestação simbólica, ajudando a compreender a linguagem iniciática da
Maçonaria e suas estruturas ritualísticas;
4.
GARDNER, Laurence. O legado do Templo. Rio de
Janeiro: Record, 2001. Explora tradições templárias e sua possível influência
na Maçonaria, enfatizando conexões históricas e esotéricas que enriquecem o
entendimento simbólico;
5.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas.
Rio de Janeiro: LTC, 2019. Obra fundamental da antropologia simbólica,
oferecendo ferramentas para compreender a Maçonaria como sistema cultural de
significações, ritos e representações;
6.
HEISENBERG, Werner. Física e filosofia.
Brasília: UnB, 1995. Discute as implicações filosóficas da física quântica,
oferecendo paralelos conceituais com a metafísica maçônica e seu entendimento
da realidade como campo de possibilidades;
7.
JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. Rio de
Janeiro: HarperCollins, 2016. Explora o inconsciente e os arquétipos
simbólicos, permitindo correlacionar ritos maçônicos às dinâmicas profundas da
psique humana;
8.
PITÁGORAS. Versos áureos. São Paulo: Ed. Madras,
2004. A tradição pitagórica, central na formação simbólica maçônica, revela os
fundamentos éticos e harmônicos que estruturam o ideal do homem iniciado;
9.
PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret,
2018. O texto platônico fornece base conceitual para compreender a busca
maçônica pela justiça, pela Verdade e pelo aperfeiçoamento da alma;
10. SPINOZA,
Baruch. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. A obra de Spinoza ilumina o
conceito maçônico de liberdade como autodeterminação racional e amor
intelectual a Deus, o Grande Arquiteto do Universo;
11. STEIN,
Robert. O simbolismo universal. Porto Alegre: L&PM, 2011. Analisa símbolos
universais presentes em diversas culturas, fornecendo bases comparativas para a
compreensão do simbolismo maçônico;
12. WILBER,
Ken. Breve história de todas as coisas. São Paulo: Cultrix, 2011. Apresenta
visão integradora da evolução da consciência humana, alinhada ao ideal maçônico
de progresso moral e intelectual da humanidade;
13. ZOHAR,
Danah; MARSHALL, Ian. O eu quântico. São Paulo: Best Seller, 2000. Relaciona
conceitos da física quântica a processos psicológicos e espirituais, oferecendo
linguagem contemporânea para interpretar o aspecto energético da iniciação
maçônica;
[1]
Em sentido filosófico, a alma (psique) é o princípio vital que anima os
seres vivos, sendo a essência que organiza e dá movimento, sensação e
intelecção ao corpo, variando de uma substância imaterial e eterna (Platão) a
uma forma inerente à matéria do corpo (Aristóteles), representando o
"eu" interior e a fonte de nossas capacidades cognitivas e
emocionais. "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em
suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente". (a alma
é o conjunto do corpo com o espírito do homem) (Gênesis 2:7) Bíblia
Judaico-cristã, tradução de João Ferreira de Almeida, versão revista e
atualizada;

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