sábado, 4 de janeiro de 2025

Aprendizagem e Evolução Maçônica

Mecanismos da evolução dentro dos templos da Maçonaria.

Charles Evaldo Boller


Prova de Coragem

O momento que terá te apanhado de surpresa e sobre o qual captaste apenas um pouco dos seus inúmeros pormenores e significados, representa um instante importante na vida de um obreiro da Luz[1]. A iniciação na Maçonaria é o primeiro mergulho ao interior de ti mesmo, exercício que poderás repetir vezes sem conta na senda que começastes a trilhar. O primeiro passo nesse caminho foi um exercício de vontade e perseverança, haja vista que as provas a que fostes submetido não te demoveram da vontade de ver a Luz e de ser recebido como obreiro novo entre os maçons, agora teus irmãos. Os passos sugeridos, a partir deste ponto, serão novos apelos à tua vontade, esclarecimento, consciência e vontade de aprender.

Aprendizagem

Como aprendiz estás no noviciado da Maçonaria, ocasião em que te é recomendada atenção durante as sessões da loja. Pergunte e te será fornecida qualquer informação pertinente aos assuntos da ordem maçônica, com restrição apenas a sinais, toques, rituais e palavras dos graus que tens a tua frente. No mais, toda e qualquer informação de história, ritualística e filosofia maçônica está a tua disposição e será respondida ou poderás pesquisá-la numa infinidade de livros disponíveis nas livrarias.

A aprendizagem maçônica é contínua. Ocorre em várias dimensões. No estudo dos símbolos, a Maçonaria utiliza de vasta simbologia que precisa ser compreendida e internalizada. Cada símbolo representa conceitos como moralidade, ética, virtudes e outros.

O complemento da aprendizagem se dá pela leitura e reflexão em loja, quando da apresentação de peças de arquitetura, que são textos desenvolvidos pelo teu intelecto e que são compartilhados com formalidades em loja. Fora da loja são incentivadas leituras de livros, cuja bibliografia será indicada pelo venerável mestre, primeiro vigilante ou segundo vigilante. Tu és incentivado a estudar textos maçônicos, filosóficos e históricos que ampliem teu entendimento sobre a vida e os mistérios do universo.

Dentro da aprendizagem é importante dedicar especial importância à interação com os irmãos na troca de ideias e experiências que enriquecem o aprendizado e fortalecem os laços fraternos. Nos rituais e nas iniciações sucessivas, em diversos graus, os rituais são pontos de entrada ao filosofar maçônico, desempenham papel educativo e provocam a vivenciar ludicamente ensinamentos espirituais e filosóficos.

Evolução Continuada

A tua evolução pessoal na Maçonaria é processo de aperfeiçoamento contínuo em direção ao teu autoconhecimento, realizado por meio da introspecção e da análise de ações. Serás permanentemente incentivado a compreender melhor a ti mesmo. A tua evolução em sentido lato decorre do desenvolvimento de virtudes e da prática de valores como humildade, justiça, fraternidade e sabedoria, essenciais para o progresso pessoal, social e profissional. A contribuição para a sociedade é resultado da evolução dentro da doutrina maçônica ao aplicardes os princípios aprendidos em tua vida cotidiana, buscando ser sempre exemplo de virtude e contribuindo para o bem comum.

A vigilância que tens a oportunidade desenvolver significa enorme disponibilidade para ver, ouvir, cheirar e sentir, sem juízos pré-formados e ideias pré-concebidas. O noviciado é tempo de aprendizagem sobre as regras da prática da Arte Real. Em quase todas as semanas nos reuniremos em loja, longe dos olhares do mundo externo para erguer novos templos à virtude e cavar masmorras ao vício, exercitando o que designamos por Arte Real.

Arte Real

A expressão "arte real" refere-se à prática e ao estudo da busca pelo autoconhecimento, pela perfeição moral e pelo aprimoramento espiritual e intelectual do ser humano. Esse conceito é central e apresenta-se assemelhado a uma escola de virtudes e uma jornada de transformações pessoais. O termo "arte real" vem de tradições antigas que viam a Maçonaria como continuação simbólica das obras realizadas por construtores de catedrais e templos. A expressão também remonta ao conceito medieval de "artes liberais" como gramática, lógica, retórica, música, aritmética, geometria e astronomia, que eram consideradas superiores às "artes mecânicas".

Real porque era praticada pelos reis, filósofos e sacerdotes da realeza que dispensavam tempo útil para pensar em coisas elevadas e diferentes, com o objetivo de cuidar das cidades e dos assuntos ligados ao homem e à divindade. O termo "real" não está relacionado à realeza no sentido monárquico, mas à ideia de algo nobre, elevado e verdadeiro. O mesmo acontece com os maçons reunidos em loja, quando dedicam tempo de forma regular, assídua e continua ao livre-pensar.

Arte porque visa o belo, o perfeito que o homem cria para seu próprio usufruto. Por isso, não falte aos trabalhos de tua loja por motivo realmente justificável: Maçonaria só se faz dentro da loja - trata-se de algo que se sente e não de atividade intelectual que usualmente apenas afaga o ego.

Com a arte real o maçom constrói o seu interior e, para isso, utiliza símbolos e metáforas para ensinar lições morais relacionadas à arquitetura e à construção, a exemplo de ferramentas e edificações. A "arte real" é a habilidade de "esculpir" a própria alma e construir uma vida virtuosa.

A arte real é respeito para com a tradição e o conhecimento acumulado dos que nos precederam e que os maçons atuais buscam preservar e transmitir como conjunto de conhecimentos filosóficos, espirituais e simbólicos, considerados valiosos para a elevação do ser humano.

Para o maçom a harmonia e o equilíbrio são expressão de "arte", ao envolver-se na busca por harmonia em todos os aspectos da vida, incluindo o equilíbrio entre o material e o espiritual.

No topo da "arte real" no interesse do maçom está a obtenção de sabedoria e verdade, observada como busca pela verdade universal, iluminação e compreensão dos mistérios do universo e do homem.

Lembra-te do momento em que te tiraram a venda na cerimônia de iniciação, e que, depois disso, não houve mais necessidade de um guia para ajudar-te a caminhar, isso tem contornos de Arte Real. Immanuel Kant, cujo pai foi maçom, ilustrou essa arte ao definir que "iluminação significa a saída do homem de sua menoridade, da qual o culpado é ele próprio. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem".

Dúvidas São Essenciais

Para as normas da ordem maçônica, as provocações do ritual, a interação com os teus irmãos nos trabalhos da loja, recomendo-te olhar vivo e sentidos despertos. Se tiveres necessidade de expor alguma necessidade ou ideia, pergunte na hora apropriada durante a sessão ou fora de loja, conforme te for conveniente, a qualquer mestre maçom. Todos os teus irmãos são responsáveis pelo teu desenvolvimento e crescimento dentro dos assuntos da ordem maçônica.

Boa aprendizagem na caminhada que agora iniciaste se faz gradualmente, sem pressa, sem saltar etapas, na via do conhecimento das leis e regulamentos que nos regem, na relação com outros maçons, e, principalmente, no interesse da tua autoconstrução, autoconhecimento e autoeducação, atividades lúdicas que te levarão a autorrealização, o último estágio da escala de Maslow[2].

Não tenhas pressa na caminhada que iniciaste. Sempre terás apoio no irmão primeiro vigilante. Deixa-te guiar por ele, pela sua experiência e sensibilidade e cumpre as suas orientações. Adicionalmente, todos os mestres maçons do Universo têm a obrigação de ensinar-te e orientar-te na caminhada.

Dúvidas são importantes ao autodesenvolvimento e têm papel essencial em diversos aspectos da vida como aprendizado, desenvolvimento pessoal, tomada de decisão e inovação.

Na Maçonaria receberás elevado estímulo ao aprendizado para te despertar a curiosidade, onde as dúvidas incentivam a busca por respostas, promovendo aprendizado contínuo. São esperadas de ti a compreensão profunda das propostas dos rituais ao questionares conceitos e ideias que te levarão a uma maior profundidade na compreensão de temas. Não tenha inibição alguma: pergunte. Pergunte e duvide.

Pelo teu perfil, ao ser considerado apto para entrar na Maçonaria, espera-se de ti elevado desenvolvimento crítico. O pensamento crítico só é alimentado ao questionares o estado das coisas que te cercam ou analisares informações na ajuda ao desenvolvimento de uma visão mais crítica do mundo que nos cerca. Evita o conformismo, dúvidas desafiam suposições e impedem que aceitemos informações sem análise.

Espera-se do maçom que trabalhe para a inovação e a criatividade e não apenas copiar pensamentos e fórmulas de terceiros. São aguardadas de ti ideias novas. As inovações surgem de alguém que teve dúvidas sobre como as coisas funcionam, por isso, duvide! Explore alternativas, onde as dúvidas abrirão novos caminhos para buscar soluções alternativas e criativas.

Dentro da fraternidade maçônica fortaleça os relacionamentos. Comunique-se, pois perguntar e expressar dúvidas promove o diálogo e a troca de ideias. Use de empatia, onde as dúvidas sobre sentimentos ou situações dos outros ajudam a criar compreensão mútua.

O autoconhecimento exige reflexão, onde questionar-se sobre escolhas, valores e objetivos leva a um maior entendimento de si mesmo e, certamente, conduzem ao crescimento pessoal, onde enfrentar dúvidas pessoais pode ser transformador e inspirador. Ter dúvidas é sinal de curiosidade e interesse, sendo ferramenta poderosa para crescer e conectar-se com o mundo da Maçonaria de maneira significativa.

Senda do Simbolismo

Esse caminho pelo qual andas é simbólico e a Maçonaria divide a jornada em graus simbólicos de aprendiz, companheiro e mestre. Cada um representa etapas de aprendizado e evolução.

·         Ao aprendiz cabe o foco no autoconhecimento e na compreensão dos fundamentos maçônicos; fase do "Conhece-te a ti mesmo."; "Nosce te ipsum." (Sócrates de Atenas);

·         Ao companheiro cabe a expansão dos conhecimentos e preparação para responsabilidades maiores; fase do "Penso, logo existo." (René Descartes);

·         Ao mestre cabe, continuamente, esforçar-se para atingir a plenitude do aprendizado simbólico e a capacidade de guiar os outros irmãos. É tarefa que nunca acaba!

Para o Rito Escocês Antigo e Aceito, além do simbolismo, existem mais 30 outros graus, ditos filosóficos, que estendem a jornada simbólica com alimento mais consistente. Faça disso um alvo agora!

E não termina aí! A caminhada segue adiante, visando os píncaros da perfeição que é característica da ideia de divindade atribuída ao conceito de Grande Arquiteto do Universo abraçado pela Maçonaria.

Assim é a aprendizagem e evolução maçônica. São processos interligados que incentivam ao maçom a crescer como indivíduo e como parte de uma fraternidade universal, cujo caminho exige dedicação, estudo e prática constante dos ensinamentos, sempre com o objetivo de construir um mundo mais justo e harmonioso pelo amor.

Coluna do Aprendiz Maçom

A coluna do Norte, onde te sentas, presta-se ao despertar de novas sensações e níveis de consciência, que têm por objetivo provocar em ti ímpetos de efetuar mudanças em si mesmo que, às vezes, nem são percebidas de imediato, mas que têm o condão de levar-te a lugares nunca antes visitados.

Perceberás que a Maçonaria é, acima de tudo, uma instituição filosófica com objetivos político-sociais bem diferentes da sociedade de onde tu, como pedra talhada, foste retirado. Perceberás que esta filosofia se aproveita das mais diferentes fontes intelectuais e culturais[3] associadas à física, metafísica e física quântica, apoiadas na espiritualidade e no conceito de Grande Arquiteto do Universo, algo que não encontrarás em instituição alguma do orbe, a não ser na Maçonaria.

Origem dos Maçons

Os maçons são parte de antiga fraternidade humana, que data do tempo das guildas e corporações de pedreiros e maçons operativos que construíram catedrais, castelos, igrejas e outras obras de vulto.

Tem regras, rituais, ritos, segredos e princípios que orientam a:

·         Tratar o outro como um fim e não como um meio;

·         Fazer o bem sem olhar a quem;

·         Ser solidário com os que têm dificuldades;

·         Ajudar a tornar melhor o mundo em que vivemos;

·         Evoluir a partir de provocações intelectuais e subliminares contidas nos assuntos que desenvolverás em loja.

A fraternidade tem segredos que despertam enorme curiosidade dos que não vivem a Maçonaria, que veem nos maçons e nas suas tradições coisas misteriosas. Sim, maçons têm segredos, mas apenas aqueles ligados à sua tradição e à transmissão do conhecimento que é feito boca a orelha, pessoa a pessoa, para aqueles que merecem recebê-los e aprendem a interpretá-los, e, acima de tudo, que aprendem a praticá-los. Qualquer instituição profissional tem seus segredos, assim como os homens que lapidam a pedra de carne e ossos.

Método Maçônico

Dentro dos templos encontrarás conhecimento imediatista, exotérico, com "X", intuitivo e público, e há o conhecimento esotérico, com "S", íntimo, reflexivo. O primeiro está nos livros, na Internet, nas revistas, nos documentários, nas religiões, nas escolas; o segundo encontrarás por ti próprio, com esforço, observando os símbolos que te rodeiam, mas olhando para dentro, procurando a razão de participares desta particular comunidade de homens que desejam ardentemente se aperfeiçoarem. O objetivo da ordem maçônica é despertar-te para este segundo domínio, mediante a prática do livre-pensamento.

Tal aprendizagem exige estudo, reflexão, aplicação e vontade de melhorar como ser humano. Ser maçom é ser reconhecido como tal e não resultado do fato de haveres passado por uma cerimônia de iniciação - denomina-se iniciação interna. O caminho é individual e solitário, a energia para isso vem da convivência com outros pensadores espiritualistas, os teus irmãos maçons espalhados pelo Universo.

Platão de Atenas, considerou que "não é com honras e riquezas que se contenta o coração de um pensador, mas sim apenas com o saber e a virtude", e mais, "o ser, na sua essência, não é substância, mas ideia, pensamento".

Buda disse: "somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com os nossos pensamentos. Com pensamentos, fazemos o nosso mundo".

Jesus disse: "o olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é bom, todo o teu corpo se encherá de Luz. Mas se ele é mau, todo o teu corpo se encherá de escuridão. Se a Luz que há em ti está apagada, imensa é a escuridão".

Maomé acrescentou: "a verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz neste mundo".

O trabalho em loja é tão importante e o maçom o trata com tanto respeito ao ponto de o elevar como serviço sagrado a divindade que reside em ti e orienta-te. É a razão de só se trabalhar oculto dos olhos profanos, guardando simbolicamente o local com um maçom armado de espada. Observe que o templo de pedra, simbolicamente, te representa em pequena escala, já que és constituído por um Universo dentro de ti mesmo, assemelhado ao grande Universo que está lá fora: o templo serve de modelo e inspiração para tu olhares para dentro de ti mesmo. Por vezes, os intrusos do teu templo interno não são físicos, mas mentais, são os teus julgamentos precipitados, os teus impulsos mesquinhos, os teus ódios de estimação. Por isso é importante aquietar os pensamentos antes de entrar no templo e participar dos trabalhos com alegria e empenho de tua capacidade cognitiva e espiritual.

A aprendizagem e a evolução maçônica têm algo de sagrado, irmão aprendiz, para tal, recolha-te ao silêncio que existe em teu templo interior. Concentra-te naquilo ou naquele que te deu a vida para, como espírito, vivenciar uma experiência material. Este treinamento na Arte Real tem o condão de religar-te ao que sentes e percebes como o Grande Arquiteto do Universo.

Bibliografia

1.      BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

2.      PARANÁ, Grande Loja do, Ritual do Grau 01, Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, primeira edição, Grande Loja do Paraná, 174 páginas, Curitiba, 2021;

3.      QUEIROZ, Álvaro de, A Maçonaria Esotérica, Rito Escocês Antigo e Aceito, ISBN 978-85-370-1003-7, primeira edição, Madras Editora Limitada, 158 páginas, São Paulo, 2016;

4.      RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, 4, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 172 páginas, Londrina, 2007;



[1] A Luz é símbolo que representa a busca por conhecimento e iluminação espiritual, e que deve iluminar o caminho do maçom na sociedade e na ordem maçônica. É representada Sempre com inicial maiúscula e obtida através do caminho de procura, meditação e amor fraterno. O maçom trabalha a pedra bruta na construção do seu templo interior e não espera que a Luz seja uma dádiva;

[2] A escala de Maslow, também conhecida como Pirâmide de Maslow ou Teoria das Necessidades Humanas, é um modelo que organiza as necessidades humanas em uma hierarquia de prioridade. A teoria foi desenvolvida pelo psicólogo Abraham Maslow e apresenta cinco categorias de necessidades: necessidades fisiológicas, Necessidades de segurança, Necessidades sociais, Necessidades de estima, Necessidades de autorrealização;

[3] Outras influências: Agnosticismo, Alquimia, Antropologia, Aritmética, Arqueologia, Arquitetura, Astrologia, Astronomia, Biologia, Cabala, Chacras, Cristianismo, Egito, Escultura, Espiritualidade, Filosofia, Geografia, Geometria, Gramática, Hermetismo, Hinduísmo, Judaísmo, Logosofia, Lógica, Matemática, Mitologia, Música, Numerologia, Ontologia, Pintura, Poesia, Retórica, Rosacrucianismo, Sociologia, Templários, Teologia, Teosofia, Vedas, Zoroastrismo;

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