Objetivo da ética maçonicamente orientada.
Carlos Alberto Peixoto Baptista e Charles Evaldo Boller
O Rito Escocês Antigo e Aceito tem rica filosofia da qual o
maçom dispõe para sua autoconstrução. Este cabedal filosófico reflete-se na
sociedade na forma de mudanças que promovem libertação do sistema humano que
subjuga o pensamento das pessoas. E todas as mudanças sociais e políticas
ocorrem antes na mente e depois se materializam na forma de ações e produtos em
constante evolução e graus de complexidade. A transformação é obtida aos saltos
pelos que trabalham os neurônios constantemente. Abruptamente, despertam,
fixam-se e mudam conceitos, verdades. Ao longo da história humana os saltos
intuitivos sempre foram influenciados por fatores ambientais, genéticos e
culturais. O software da mente gravado no hardware do cérebro humano só
progride em resultado da troca de informações entre indivíduos em debates,
conversas ou leituras. O método maçônico visa estes saltos intuitivos de seus
adeptos para encontrar a solução de problemas que se refletem na sobrevivência
pacífica da espécie humana.
O homem sempre usou dos pensamentos de seus semelhantes para
desenvolver máquinas, escrita, arte, ciência e toda a cultura existente. O
maçom usa seus companheiros para deles extra-ir e desenvolver pensamentos que
mudem sua forma de pensar e agir no campo moral. Da camaradagem desenvolvida
nas reuniões brota a força que muda intelecto, emoção e espiritualidade. É a
energia condicionadora que o grupo social exerce sobre o indivíduo. E isto é
realidade desde a época das cavernas, onde um ser humano influiu na educação do
outro, até acumular no presente toda a vasta cultura política, metafísica,
social e tecnológica. O maçom é multiplicador da filosofia político-social da
Maçonaria. Do conjunto de atividades do filosofar maçônico ele desenvolve
posturas que constituem o código de ética que dirige seus passos e que se
reflete no meio social. E como ética e moral se confundem, pois é tênue a sua
diferença e profundo o seu alcance, convém esclarecer o que é a ética
maçonicamente orientada.
Na conceituação da Ética é possível identificar dois grandes
campos de concepções fundamentais: Na primeira concepção, "o bem seria
para onde se dirigiria o homem", e na segunda concepção, "o bem seria
uma realidade, embora não inscrita na natureza, humana e alcançável"
(Abbagnano, 1998, página 380 e 381).
A Ética, um ramo da Filosofia que busca os princípios ou
fundamentos da natureza das ações humanas, pode também referir-se a princípios
que fundamentam o pensar humano, sem formular ações ou regras de conduta,
precisas e fechadas. Ética, também chamada de Filosofia da Moral, é
caracterizada por ser um pensar reflexivo dos princípios ou fundamentos que
determinam os valores e as normas que governam a conduta humana. Nesta
perspectiva, a Ética enquanto Filosofia da Moral mantém ampliadas ligações de
natureza prática com outras áreas do conhecimento humano, dentre as quais, a
biologia, a antropologia, a economia, a sociologia, a teologia, a história e a
política. São áreas do conhecimento caracterizadas por serem disciplinas
regidas pela lógica cartesiana da sistematização, com ordenamento racional e
perda do caráter sagrado, portanto ciências descritivas ou experimentais.
A Ética, enquanto Filosofia da Moral, ao contrário, busca a
determinação dos fundamentos ou princípios que justificam a natureza de teorias
normativas e estando determinados os fundamentos ou princípios, aplica-os, se
necessário, e quando for o caso, aos dilemas morais.
Algumas áreas do conhecimento que eram objeto de estudo da
filosofia, em especial da Ética, após a revolução industrial e a consequente
profissionalização e especialização do conhecimento, estabeleceram-se como
disciplinas independentes e científicas. Assim, pôde a Ética ser definida como
a área da filosofia que estuda as normas morais nas sociedades humanas e que
pretende explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem
como, solucionar dilemas a ela inseridos.
A Moral é um conjunto de normas e regras estabelecidas por
cada sociedade e aplicadas ao cotidiano de cada pessoa. A moral ocorre em dois
planos: o normativo e o factual. De um lado, nela encontramos normas e regras
que tendem a regulamentar a conduta dos homens e, de outro lado, um conjunto de
atos humanos regulamentados por eles; cumprindo assim a sua exigência de
realização (Vásquez, 1998, página 51-64). A Moral, com suas normas e regras que
orientam e julgam as ações do indivíduo sobre o que é certo e errado, bom e
mau, moral e imoral. Um pensar sobre a conduta.
A Ética investiga justamente o significado e propósito
desses adjetivos, tanto em relação à conduta humana, como em seu sentido
fundamental e supremo. Um pensar a partir de princípios ou fundamentos. Um
infindável pensar, refletir e construir.
Noutra perspectiva, existe a Moral como primazia exclusiva,
defendida por um sistema filosófico, o Moralismo, que fundamentou ideologias de
intolerância, de preconceito e de puritanismo. Para alguns, a palavra Moral foi
desqualificada por esta associação a Moralismo e, deste modo, justificaram a
preferência em associar à palavra Ética, as regras e os valores por eles
consagrados. No campo das ideologias, não se pode deixar de apontar a diferença
que se estabeleceu entre a lógica dos que associaram a palavra Ética às regras
e valores por eles consagrados e a lógica dos moralistas, onde a Moral aparece
como primazia exclusiva. Passou a referir-se a julgamentos éticos, ou
princípios éticos, quando seria mais pertinente falar de juízos morais ou
princípios morais.
Assim, existem pessoas que possuem um valor e por um
processo psicológico que legitimam as normas ou regras decorrentes e pautam sua
conduta por elas, sem controle externo, só porque estão emocionalmente
convictas de que, essa regra representa um bem moral. Outras pessoas por
costume e por hábito validam certas condutas.
Há aquelas que consideram determinadas condutas como boas, e
assim, devem ser praticadas. Aqui o juízo de valor como matriz para a
legitimação das normas. São exemplos de conduta Moral, de Moralidades. Existem
pessoas em que os processos inconscientes seriam os determinantes da conduta
moral, que são oriundos da sua individualidade pessoal e social, responsável
pela forma habitual e constante de agir do caráter e da personalidade. Este é
um exemplo de Ética, enquanto Filosofia da Moral.
A partir do final do século XIX, da era dos sofistas e
início do século XX, observa-se na Ética ocidental três perguntas constantes:
seriam os juízos éticos reflexos dos desejos dos que os criam ou verdades
inseridas neste mundo; seria a ação boa, fruto da racionalidade construída,
introjetada ou inculcada ou simplesmente ação vinculada ao interesse próprio; e
ainda, qual seria a natureza do certo, do errado e do bem. Desde o início do
século XX estes temas desenvolveram-se nas mais variadas formas, com ênfase na
aplicação da Ética para problemas práticos e descritos como Ética normativa,
Ética aplicada e Metaética. Esta última como estudo que, diferente de
prender-se à análise de teorias éticas ou julgamentos morais, dedica-se à busca
da natureza dos juízos morais, se objetivos ou subjetivos.
Por óbvio, pode-se estar inserindo aqui a Ética Maçônica
como estudo contemporâneo e ajustado ao paradigma deste milênio, quando ela
busca ajudar os irmãos a legitimar intimamente valores, pela introjeção de
princípios ou fundamentos que os farão conduzir-se coerentemente por normas e
regras, consagradas como boas e virtuosas. Abordam-se os princípios ou
fundamentos filosóficos que pretendem ser valores intimamente legitimados pelos
maçons e passem a ser sistema de regras e normas que os Norteiem e os
qualifiquem nas relações entre irmãos e sociedade.
Considera-se que o maçom se aperfeiçoa gradativamente,
lentamente acordando dentro de si mesmo, pela autoeducação, autoconhecimento e
relações fraternas, esta ética maçonicamente orientada, onde algumas etapas o
levam a evoluir como pessoa humana pertencente a um único corpo vivo e
interdependente ao qual se denomina humanidade.
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