Religiões e Maçonaria inconciliáveis.
Charles Evaldo Boller
Por conta da Maçonaria Operativa os atuais maçons antigos
livres e aceitos possuem em sua base profunda influência da Igreja Católica
Apostólica Romana e do Judaísmo.
Símbolos, documentos e leis maçônicas antigas ressaltam a
doutrina judaico-cristã como base moral.
O que quebrou a linha doutrinária teísta foi a gradual
imposição do Deísmo pelos maçons especulativos, os maçons aceitos.
O pensamento iluminista influiu nesta mudança e o
Racionalismo dentro da Filosofia Moderna de René Descartes, Spinoza e Leibniz,
complementa a adoção do Deísmo pelos maçons.
A intolerância contra a Maçonaria de parte da Igreja
Católica Apostólica Romana é evidente nas palavras recentes do padre Paulo
Ricardo de Azevedo Junior, o qual interpreta que segundo a disciplina da Igreja
Católica Apostólica Romana, "um católico não pode pertencer, de forma
alguma, à Maçonaria", declaração apoiada em "Reflexões a um Ano de
Distância da Declaração para a Doutrina da Fé, em Inconciliabilidade Entre Fé
Cristã e Maçonaria" (L'Osservatore Romano, 10 de março de 1985, páginas
115-117, escrito pelo cardeal Joseph Aloisius Ratzinger, Papa Bento XVI. Desta
e da parte de outras instituições religiosas, filosoficamente, a Maçonaria é,
de fato, inconciliável com elas!
O irmão Voltaire, uma das mentes mais brilhantes do
Iluminismo francês, ao afirmar que "a certeza é mais agradável do que a
dúvida", insinua o quanto "é mais fácil simplesmente aceitar as
declarações oficiais" - como as da monarquia ou da Igreja Católica Apostólica
Romana de sua época - do que "desafiá-las e pensar por si mesmo",
andar sobre as próprias pernas, refletindo a iluminação
("Aufklärung", Kant).
O abismo entre religiões e Ordem Maçônica formou-se em 1717,
ano em que a Maçonaria Especulativa se declarou deísta. De lá para cá, por
conta de outras controvérsias a separação só se aprofundou, como no conflito
brasileiro entre a Maçonaria e a Igreja Católica Apostólica Romana, conhecido
como "Questão Religiosa".
Por ocasião da adoção do Deísmo pelos maçons evolucionistas
houve rompimento com os maçons operativos.
Maçons operativos, teístas, fundam a Grande Loja dos
Antigos.
Maçons evolucionistas, deístas, passam a ser reconhecidos
como Modernos e fundam a Grande Loja de Londres.
Depois de inúmeros acordos aconteceu a união destas duas
grandes lojas, filosoficamente discordantes, culminando em 1813, na formação da
Grande Loja Unida da Inglaterra. Nesta união prevaleceu a filosofia deísta para
a Maçonaria Moderna e desta resultaram todas as lojas reconhecidas atualmente
como justas e perfeitas pela Grande Loja Unida da Inglaterra.
Se entre maçons houve rompimento não poderia ser diferente
com a Igreja Católica Apostólica Romana, a qual a partir de 1884 passa a
detratar a atividade maçônica em todos os sítios longínquos ou próximos.
Não existe meio de conciliação no campo filosófico - a
Maçonaria Universal "de forma alguma" se alinha a dogmas de qualquer
religião. Seria o mesmo que negar o princípio de sua existência. Além de deísta
a Maçonaria preconiza a liberdade de pensar e duvidar.
Se existem esforços de conciliação nos bastidores, isto nega
os fundamentos da Maçonaria. É assemelhado à prática comum em todos os tempos,
onde a prostituição entre religiões e estados políticos corre por conta da sede
de poder a qualquer preço, é ação de "inclinação política militante",
é movida por "interesses inconfessáveis" (Ritual do Grau de Aprendiz
Maçom, Grande Loja do Paraná).
A fornicação religioso-política em todos os tempos nunca
existiu com objetivo da busca de Deus porque sempre fomentou vaidade e poder.
Mesmo entre cacique e pajé sempre aconteceu a luxúria da troca de favores.
Conspirar para conciliar o inconciliável, tanto da parte de
religiosos como de maçons que remanescem na escuridão, é negar a origem da
Maçonaria. Os artifícios conciliatórios sempre foram utilizados espertamente
pelos retóricos para iludir a boa-fé do povo e submete-los, pelo medo, à
tirania dos déspotas religiosos e políticos.
Ao maçom universal cabe seguir em frente em sua caminhada
marcada pelos desígnios definidos pelo Grande Arquiteto do Universo. Mesmo que
as lendas e ícones utilizados pela Maçonaria sejam de origem judaica e cristã,
as religiões compatíveis com estas linhas filosóficas são irremediavelmente
inconciliáveis com a ordem maçônica.
Bibliografia
1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da
Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN
85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São
Paulo, 2004;
2. GOSWAMI, Amit, A Física da Alma, tradução: Marcello
Borges, ISBN 85-7657-014-9, primeira edição, Aleph Publicações e Assessoria
Pedagógica Limitada, 206 páginas, São Paulo, 2001;
3. KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura, tradução: Fulvio
Lubisco, Lucimar A. Coghi Anselmi, ISBN 978-85-274-0927-8, primeira edição,
Ícone Editora, 542 páginas, São Paulo, 2011;
4. LE GOFF, Jacques, O nascimento do Purgatório, La Nascita
del Purgatorio, Turin, Einaudi, 1982;
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