terça-feira, 19 de março de 2013

Inconciliabilidade Entre Fé Cristã e Maçonaria

Religiões e Maçonaria inconciliáveis.

Charles Evaldo Boller


Por conta da Maçonaria Operativa os atuais maçons antigos livres e aceitos possuem em sua base profunda influência da Igreja Católica Apostólica Romana e do Judaísmo.

Símbolos, documentos e leis maçônicas antigas ressaltam a doutrina judaico-cristã como base moral.

O que quebrou a linha doutrinária teísta foi a gradual imposição do Deísmo pelos maçons especulativos, os maçons aceitos.

O pensamento iluminista influiu nesta mudança e o Racionalismo dentro da Filosofia Moderna de René Descartes, Spinoza e Leibniz, complementa a adoção do Deísmo pelos maçons.

A intolerância contra a Maçonaria de parte da Igreja Católica Apostólica Romana é evidente nas palavras recentes do padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior, o qual interpreta que segundo a disciplina da Igreja Católica Apostólica Romana, "um católico não pode pertencer, de forma alguma, à Maçonaria", declaração apoiada em "Reflexões a um Ano de Distância da Declaração para a Doutrina da Fé, em Inconciliabilidade Entre Fé Cristã e Maçonaria" (L'Osservatore Romano, 10 de março de 1985, páginas 115-117, escrito pelo cardeal Joseph Aloisius Ratzinger, Papa Bento XVI. Desta e da parte de outras instituições religiosas, filosoficamente, a Maçonaria é, de fato, inconciliável com elas!

O irmão Voltaire, uma das mentes mais brilhantes do Iluminismo francês, ao afirmar que "a certeza é mais agradável do que a dúvida", insinua o quanto "é mais fácil simplesmente aceitar as declarações oficiais" - como as da monarquia ou da Igreja Católica Apostólica Romana de sua época - do que "desafiá-las e pensar por si mesmo", andar sobre as próprias pernas, refletindo a iluminação ("Aufklärung", Kant).

O abismo entre religiões e Ordem Maçônica formou-se em 1717, ano em que a Maçonaria Especulativa se declarou deísta. De lá para cá, por conta de outras controvérsias a separação só se aprofundou, como no conflito brasileiro entre a Maçonaria e a Igreja Católica Apostólica Romana, conhecido como "Questão Religiosa".

Por ocasião da adoção do Deísmo pelos maçons evolucionistas houve rompimento com os maçons operativos.

Maçons operativos, teístas, fundam a Grande Loja dos Antigos.

Maçons evolucionistas, deístas, passam a ser reconhecidos como Modernos e fundam a Grande Loja de Londres.

Depois de inúmeros acordos aconteceu a união destas duas grandes lojas, filosoficamente discordantes, culminando em 1813, na formação da Grande Loja Unida da Inglaterra. Nesta união prevaleceu a filosofia deísta para a Maçonaria Moderna e desta resultaram todas as lojas reconhecidas atualmente como justas e perfeitas pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

Se entre maçons houve rompimento não poderia ser diferente com a Igreja Católica Apostólica Romana, a qual a partir de 1884 passa a detratar a atividade maçônica em todos os sítios longínquos ou próximos.

Não existe meio de conciliação no campo filosófico - a Maçonaria Universal "de forma alguma" se alinha a dogmas de qualquer religião. Seria o mesmo que negar o princípio de sua existência. Além de deísta a Maçonaria preconiza a liberdade de pensar e duvidar.

Se existem esforços de conciliação nos bastidores, isto nega os fundamentos da Maçonaria. É assemelhado à prática comum em todos os tempos, onde a prostituição entre religiões e estados políticos corre por conta da sede de poder a qualquer preço, é ação de "inclinação política militante", é movida por "interesses inconfessáveis" (Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, Grande Loja do Paraná).

A fornicação religioso-política em todos os tempos nunca existiu com objetivo da busca de Deus porque sempre fomentou vaidade e poder. Mesmo entre cacique e pajé sempre aconteceu a luxúria da troca de favores.

Conspirar para conciliar o inconciliável, tanto da parte de religiosos como de maçons que remanescem na escuridão, é negar a origem da Maçonaria. Os artifícios conciliatórios sempre foram utilizados espertamente pelos retóricos para iludir a boa-fé do povo e submete-los, pelo medo, à tirania dos déspotas religiosos e políticos.

Ao maçom universal cabe seguir em frente em sua caminhada marcada pelos desígnios definidos pelo Grande Arquiteto do Universo. Mesmo que as lendas e ícones utilizados pela Maçonaria sejam de origem judaica e cristã, as religiões compatíveis com estas linhas filosóficas são irremediavelmente inconciliáveis com a ordem maçônica.


Bibliografia

1. BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

2. GOSWAMI, Amit, A Física da Alma, tradução: Marcello Borges, ISBN 85-7657-014-9, primeira edição, Aleph Publicações e Assessoria Pedagógica Limitada, 206 páginas, São Paulo, 2001;

3. KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura, tradução: Fulvio Lubisco, Lucimar A. Coghi Anselmi, ISBN 978-85-274-0927-8, primeira edição, Ícone Editora, 542 páginas, São Paulo, 2011;

4. LE GOFF, Jacques, O nascimento do Purgatório, La Nascita del Purgatorio, Turin, Einaudi, 1982;

5. ROHDEN, Humberto, A Grande Libertação, quarta edição, Martin Claret Editores Limitada, 210 páginas, Sumaré;

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