Educação maçônica na construção de homens.
Charles Evaldo Boller
Especula-se que: o Universo é resultado de projeto
inteligente com finalidade definida; não é o resultado de ocasionais
ocorrências aleatórias; que a vida tem propósito significativo; que é lógico
pensar na vida com intenção de preencher finalidade determinada, planejada.
Na contramão disso, o homem percebe que muitas de suas
atividades são dispersivas e alienantes no uso da vida. Para a maioria a vida
não tem sentido, principalmente na forma correta de usufruir o que realmente a
natureza intenciona no viver bem.
Na atividade do homem não se concebe que faça o que é certo
em um aspecto da vida, enquanto comete erros em outros. Como fará em sua
caminhada para não perder a visão de sua vida em sentido lato? Como deve agir
para usufruí-la como um conjunto indivisível?
O homem que se iniciou nos mistérios da Maçonaria descobre
na vida a existência de maravilhas a serem exploradas, questionadas e aplicadas
para usufruir de sua existência da maneira mais equilibrada possível com o
propósito do Criador. Pela educação maçônica o homem deixa de ser um morto-vivo
de comprometida visão da vida.
A Maçonaria e seus mistérios oferecem ferramentas e
instruções que removem barreiras e possibilita o usufruto da vida em sua
plenitude. O senso do mistério alimenta emoções residentes na psique e que são
trabalhados nas atividades maçônicas. A ciência em forma de arte traduz a
emoção fundamental para o progresso pessoal. São mistérios que não inspiram
medos, o maçom faz o bem porque isso é parte de sua nova vida e não porque tem
medo de algum castigo ou almeje hipotético prêmio depois de morto.
Se aplicada passo-a-passo, de forma simples, a essência da
vida é aprendida e, se for da vontade do adepto, liberta-o da escravidão, do
servilismo ao sistema desumano de vida, que o espreme e suga toda a sua força
ativa até sobrar apenas bagaço. Ao sujeitar a ambição ao controle racional,
liberta-se do pior tipo de servilismo, pior até que a própria fome e pobreza.
Ao inspirar coragem e decisão no adepto, a filosofia da Maçonaria conduz àquele
que passa a confiar em si mesmo e conduz seus próprios passos ao prazer de
conquistar a vitória sobre si mesmo. Ao sentir que é capaz de conduzir a si
mesmo torna-se apto a conduzir aos que ainda não despertaram.
As noções filosóficas da Maçonaria auxiliam na absorção das
noções que livram do obscurantismo e da alienação ao trabalho. São aplicadas
apenas umas poucas horas semanais em treinamento e convivência que eliminam
anos de frustrantes tentativas de acertos e erros até obter a visão necessária
para dar sentido à vida. Não se trata de entendimento intelectual, político ou
crença, mas de um sentido misterioso, ainda inexplicável, de intuição
individual que dá sentido à vida. Cada adepto usa da Maçonaria para dar o seu
próprio sentido para a vida sem ficar batendo cabeça em tentativas inúteis e
fantasiosas.
O sucesso pessoal não é devido exclusivamente à força ou ao
conhecimento, mas diz respeito à vontade férrea, de coragem para agir. O
entendimento de como caminhar por conta própria advém do conhecimento esotérico
que conduz ao sucesso pessoal, familiar, social e profissional. A convivência
maçônica inspira o conhecimento intuitivo e o fortalecimento do caráter que
conduzem o maçom, que inicia a si mesmo, a uma consciência superior. Não um
super-homem, mas um homem renascido de sua própria decisão de fazer de si mesmo
uma criatura em permanente evolução.
Ao trabalhar em si mesmo, na pedra, o adepto participa na
construção de um templo social onde ele é incentivado a ocupar cada vez mais
cargos, públicos ou privados, de modo a conduzir a sociedade por bons pastos.
Não se trata de conduzir gado de corte por fértil campo de engorda e deste ao
matadouro da exploração, mas de propiciar oportunidades razoáveis de vida sem
eliminar as diferenças e os desníveis que são característica de civilizações
saudáveis. É a sabedoria salomônica aplicada no dia-a-dia do cidadão. O homem
sábio é muito mais forte que o bruto, pois o conhecimento aplicado com
sabedoria é muito mais forte. O conhecimento provê a base sólida da construção
pessoal que se afasta da alienação do sistema de coisas humano pela aplicação
do pensamento sábio.
Maçonaria é arte. É uma ciência que permite construir o
intelecto cuja compreensão possibilita o despertar, o abraçar da iluminação que
vem da racionalidade conduzida por balanceada espiritualidade - diferente de
religiosidade. A luz que o maçom busca é o aperfeiçoamento pessoal em seu
dia-a-dia. A Maçonaria faz deste entendimento o ponto essencial a ser
alcançado. É mero coadjuvante o esforço das atividades maçônicas restantes ao
objeto central que é a evolução do homem. O estado de iluminação inspirado pela
Maçonaria destrói a máscara da ilusão do sistema de coisas humano que manipula
separações e quebra de relações que conduzem a alienação da vida para objetivos
fúteis e inúteis. No instante em que o maçom abre os olhos e vê a luz do que é
certo e errado torna-se sensato. Desaparece a ilusão e ele deixa de
experimentar o que está errado na tentativa de acertar, torna-se mais objetivo
e acerta no primeiro ensaio muito mais vezes. Some o ilusionismo com seus
truques que submetem o homem a um servilismo voluntário em virtude da perda de
noção da realidade.
Surge nova consciência quando a iluminação esclarece a
diferença entre religiosidade e espiritualidade. Fica claro o entendimento de
que a crença em verdades absolutas ditadas pelos sistemas religiosos não torna
seus adeptos pessoas espiritualizadas. Também não é espiritualizado o maçom que
não iniciou a si mesmo, que insiste em aprisionar-se na execução de rituais sem
penetrar em seus significados. A intenção da educação maçônica é criar a
identidade própria do indivíduo afastado de influência ditatorial externa e
aproxima-lo da dimensão espiritual que já reside dentro dele. Esta dimensão
existe em todos. Basta que acorde. Não está contida no pensamento, mas numa
dimensão diferente e inspirada na intuição. Por isso a filosofia maçônica
incentiva à diversidade de pensamentos. Procura-se provocar no homem a obtenção
de matéria prima para construir pontes evolutivas que progridem aos saltos
sobre os precipícios da ignorância. Não se admitem limitações ao pensamento como
é objetivo dos sistemas alienantes de crenças. O fato de a espiritualidade
surgir em larga escala fora do sistema de crenças é novo para a sociedade em
geral, mas é usado faz séculos pelos maçons que iniciaram a si mesmos nos
mistérios da arte da Maçonaria.
A iluminação, o andar com as próprias pernas inspirado pela
Maçonaria desperta a compaixão que se traduz num homem dotado de menos cobiça;
torna-o mais alegre porque a sabedoria o afasta do sofrimento; alimenta a
igualdade onde se produzem mais amigos unidos pelo poderoso laço do amor;
inspira a ternura que remove a discriminação que produz tantos inimigos. Afasta
ignorância, falsas imaginações, desejos viciantes e estultícia, todas nascidas
na própria mente, manifestadas pelas ilusões e manipuladas pelo ego.
A mudança estimulada pela educação maçônica repele os
desejos da mente e afastam os sofrimentos, lutas inúteis alimentadas pela
cobiça, estultícia e ira. Maçom que se iniciou é homem armado com espada - a
sua língua, a sua oratória —, e escudo, - o conhecimento de seu cérebro. Pela
iluminação, - kant, Aufklärung - anda com os próprios pés. Está sempre pronto
para o bom combate com mente treinada para alcançar o objetivo de construir uma
sociedade humana dentro dos desígnios estabelecidos pelo Grande Arquiteto do
Universo.
Bibliografia
1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e
Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira
edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;
2. SILVA, Georges da, Budismo, Psicologia do
Autoconhecimento, 222 páginas, Editora Pensamento Limitada, São Paulo;
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