Considerações da inutilidade de manter e alimentar ódio e
ressentimentos;
Valor do perdão;
Posicionamento do maçom.
Charles Evaldo Boller
Ao percorrer a estrada da vida cada um se faz acompanhar de
uma mochila que contém tudo o que se realiza. Existe aquele que, para não
deixar ninguém ver seus erros, ainda não é sábio o suficiente para deixar pelo
caminho as lascas que arrancou com esmero e força da pedra bruta. Seu medo em
deixar transparecer sua condição humana imperfeita aos outros o leva a colocar
tais detritos escondidos dentro de sua mochila da vida e passa a carregar
aquelas nódoas consigo ao longo da jornada. Se não treinar o perdoar, este saco
de viagem vai ficar cada vez mais pesado. Aprender a perdoar é perseverar num
treinamento mental. É um grande e difícil passo. É livrar-se de algo que
incomoda. Pode ser alguma ação que se fez ou que outros fizeram.
Deve-se desenvolver a habilidade mental de constantemente
reorganizar a mochila da vida. Periodicamente tirar tudo de dentro dela e só
recolocar o que se presta para uma viagem leve e tranquila. Só recolocar nela
aquilo que realmente é necessário. Organizando-a de tal forma a aliviar seu
peso e tornar a vida leve e solta. Não colocar dentro dela, em hipótese alguma
e sob nenhum pretexto, ressentimento, desgosto, raiva ou decepção. Isto culmina
na obtenção de facilidades na caminhada, na constante subida e descida das
rampas de dificuldades com que se é confrontado. Tem-se o direito de ser feliz,
e, para isto, começar por perdoar a si mesmo, elevar a autoestima. É forçoso
deixar o lixo atormentador pelo caminho, independente do que dizem outros. Não
é bobagem, é sabedoria!
"Seria muito mais produtivo se as pessoas procurassem
compreender seus pretensos inimigos. Aprender a perdoar é muito mais proveitoso
do que simplesmente tomar de uma pedra e arremessá-la contra o objeto de sua
ira. Quanto maior a provocação, maior a vantagem do perdão. É quando padecemos
os piores infortúnios que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem, a
si e aos outros." (Dalai Lama).
É fácil perdoar a quem nos prejudicou?
Não, não é!
A necessidade de perdoar alguém sempre aflora quando alguma
expectativa sua não foi alcançada.
Qual expectativa?
Por exemplo: que o outro faça, ou seja, alguma coisa, que
deixe de usar algo, e assim por diante. Quer dizer: quando o outro faz algo que
quebra expectativa sua. Quem não possui esta habilidade espera um pedido de
perdão vindo do outro. O raciocínio mais comum é: o problema é do outro e não
meu. E, devido a isto, o inapto fica cada vez com mais raiva do outro. Fica na
expectativa que o outro lhe peça perdão, e, como aquele não o faz, cria uma
sequência crescente de frustrações. Sua ira aumenta cada vez mais. A mochila da
vida mais o pressiona contra o chão.
Levar a vida com outro nível de expectativa leva ao perdoar.
Primeiro a si mesmo, depois ao próximo.
"O perdão cai como uma chuva suave do céu na terra. É
duas vezes bendito: bendito ao que dá e bendito ao que recebe!" (William
Shakespeare).
O homem sábio não permite que o outro o atinja. Ele sabe que
é ele mesmo quem permite que o outro o acerte. Já aprendeu que é ele mesmo quem
coloca mais peso dentro da sua própria mochila da vida. O próximo não é
responsável pela sua frustração. É algo particular de cada um. Não tem como
controlar um processo que é único e resultado exclusivo do livre-arbítrio do
próximo. É você mesmo quem aceita colocar às suas costas o peso da frustração
que alguém, intencionalmente ou não, impinge.
Tem aquele que diz:
- Você é a razão da minha felicidade!
Como é possível expressar tal sandice?
Isto é algo que leva fatalmente ao desenvolvimento de
ressentimento e raiva. A necessidade de perdoar vem de o outro nem sempre fazer
o que se espera. E a conclusão a que se chega deste raciocínio é que amar está
mais no doar que no esperar.
Outra razão frequente de perdão vem para aquele que não tem
tempo equilibrado em coisas distintas. Fatalmente terá momentos de decepção se
não equilibrar seu tempo para todos os aspectos da vida.
Para perdoar o que contribui muito é boa saúde, alimentação
correta, relaxamento, meditação, pensamento positivo e exercícios físicos.
Considerar que os problemas de relações interpessoais são
cinco por cento reais e noventa e cinco por cento o que se faz deles. O sábio
analisa as possibilidades e o nível de expectativa real sem fantasias. Isto
diminui a frustração.
E como frustrações geram culpa, ao perdoar a si próprio,
alivia-se o peso da mochila da vida. As lascas retiradas da pedra bruta são
deixadas pelo caminho. E, só então, devidamente fortalecido, existe real
possibilidade de perdoar ao ofensor, àquele que quebrou suas expectativas. Isto
desenvolve a energia emocional de aceitar ao outro como ele é, sem a obrigação
de aceitar o mal que faz ou a maneira como se comporta. Como não existe meio de
controlar as ações de terceiros, ninguém é obrigado a tornar-se conivente com o
indesejado. Aceitar seria ferir o seu direito à felicidade e certamente
prejudica a saúde.
"O néscio aplica todas as energias na vingança; o
perdão é a vingança da sabedoria." (Carl Wernick).
Como é impossível esquecer um mal que o outro fez, perdoar é
evitar pensar na injúria recebida. Se possível, afastar-se do ofensor. Perdão é
ato de defesa do próprio ser e implica em não realimentar emoções negativas.
Perdoar não é ato de amor, mas de defesa pessoal. Amar é interessar-se pelo
outro e tolerar pequenas imperfeições, mas quando a injúria é grande demais, o
ato de perdoar, significa não pensar ou remoer o assunto. A indiferença é forma
eficaz de aliviar a mochila da vida.
"A doença alimenta-se da falta de perdão. O perdão não
tem nada a ver com aceitar um mau comportamento. A pessoa que você acha mais
difícil de perdoar em geral é aquela da qual você mais precisa se libertar. Eu
descobri que perdoar e em seguida deixar partir o ressentimento são atitudes
que ajudam a curar até mesmo o câncer." (Louise L. Hay).
E como você nunca fará os outros mudarem, então a mudança
deve vir de você mesmo. E, normalmente, como são os mais próximos que ofendem,
é importante colocar limites. Ao mudar o seu relacionamento com as pessoas,
elas mudam com certeza.
Sempre se obtém resultado positivo ao aliviar a mochila da
vida.
"O fraco jamais perdoa: o perdão é característica do
forte." (Mahatma Gandhi).
E o maçom forte e esperto tem sua mochila da vida sempre
aliviada.
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