sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Mochila da Vida

Considerações da inutilidade de manter e alimentar ódio e ressentimentos;

Valor do perdão;

Posicionamento do maçom.

Charles Evaldo Boller


Ao percorrer a estrada da vida cada um se faz acompanhar de uma mochila que contém tudo o que se realiza. Existe aquele que, para não deixar ninguém ver seus erros, ainda não é sábio o suficiente para deixar pelo caminho as lascas que arrancou com esmero e força da pedra bruta. Seu medo em deixar transparecer sua condição humana imperfeita aos outros o leva a colocar tais detritos escondidos dentro de sua mochila da vida e passa a carregar aquelas nódoas consigo ao longo da jornada. Se não treinar o perdoar, este saco de viagem vai ficar cada vez mais pesado. Aprender a perdoar é perseverar num treinamento mental. É um grande e difícil passo. É livrar-se de algo que incomoda. Pode ser alguma ação que se fez ou que outros fizeram.

Deve-se desenvolver a habilidade mental de constantemente reorganizar a mochila da vida. Periodicamente tirar tudo de dentro dela e só recolocar o que se presta para uma viagem leve e tranquila. Só recolocar nela aquilo que realmente é necessário. Organizando-a de tal forma a aliviar seu peso e tornar a vida leve e solta. Não colocar dentro dela, em hipótese alguma e sob nenhum pretexto, ressentimento, desgosto, raiva ou decepção. Isto culmina na obtenção de facilidades na caminhada, na constante subida e descida das rampas de dificuldades com que se é confrontado. Tem-se o direito de ser feliz, e, para isto, começar por perdoar a si mesmo, elevar a autoestima. É forçoso deixar o lixo atormentador pelo caminho, independente do que dizem outros. Não é bobagem, é sabedoria!

"Seria muito mais produtivo se as pessoas procurassem compreender seus pretensos inimigos. Aprender a perdoar é muito mais proveitoso do que simplesmente tomar de uma pedra e arremessá-la contra o objeto de sua ira. Quanto maior a provocação, maior a vantagem do perdão. É quando padecemos os piores infortúnios que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem, a si e aos outros." (Dalai Lama).

É fácil perdoar a quem nos prejudicou?

Não, não é!

A necessidade de perdoar alguém sempre aflora quando alguma expectativa sua não foi alcançada.

Qual expectativa?

Por exemplo: que o outro faça, ou seja, alguma coisa, que deixe de usar algo, e assim por diante. Quer dizer: quando o outro faz algo que quebra expectativa sua. Quem não possui esta habilidade espera um pedido de perdão vindo do outro. O raciocínio mais comum é: o problema é do outro e não meu. E, devido a isto, o inapto fica cada vez com mais raiva do outro. Fica na expectativa que o outro lhe peça perdão, e, como aquele não o faz, cria uma sequência crescente de frustrações. Sua ira aumenta cada vez mais. A mochila da vida mais o pressiona contra o chão.

Levar a vida com outro nível de expectativa leva ao perdoar. Primeiro a si mesmo, depois ao próximo.

"O perdão cai como uma chuva suave do céu na terra. É duas vezes bendito: bendito ao que dá e bendito ao que recebe!" (William Shakespeare).

O homem sábio não permite que o outro o atinja. Ele sabe que é ele mesmo quem permite que o outro o acerte. Já aprendeu que é ele mesmo quem coloca mais peso dentro da sua própria mochila da vida. O próximo não é responsável pela sua frustração. É algo particular de cada um. Não tem como controlar um processo que é único e resultado exclusivo do livre-arbítrio do próximo. É você mesmo quem aceita colocar às suas costas o peso da frustração que alguém, intencionalmente ou não, impinge.

Tem aquele que diz:

- Você é a razão da minha felicidade!

Como é possível expressar tal sandice?

Isto é algo que leva fatalmente ao desenvolvimento de ressentimento e raiva. A necessidade de perdoar vem de o outro nem sempre fazer o que se espera. E a conclusão a que se chega deste raciocínio é que amar está mais no doar que no esperar.

Outra razão frequente de perdão vem para aquele que não tem tempo equilibrado em coisas distintas. Fatalmente terá momentos de decepção se não equilibrar seu tempo para todos os aspectos da vida.

Para perdoar o que contribui muito é boa saúde, alimentação correta, relaxamento, meditação, pensamento positivo e exercícios físicos.

Considerar que os problemas de relações interpessoais são cinco por cento reais e noventa e cinco por cento o que se faz deles. O sábio analisa as possibilidades e o nível de expectativa real sem fantasias. Isto diminui a frustração.

E como frustrações geram culpa, ao perdoar a si próprio, alivia-se o peso da mochila da vida. As lascas retiradas da pedra bruta são deixadas pelo caminho. E, só então, devidamente fortalecido, existe real possibilidade de perdoar ao ofensor, àquele que quebrou suas expectativas. Isto desenvolve a energia emocional de aceitar ao outro como ele é, sem a obrigação de aceitar o mal que faz ou a maneira como se comporta. Como não existe meio de controlar as ações de terceiros, ninguém é obrigado a tornar-se conivente com o indesejado. Aceitar seria ferir o seu direito à felicidade e certamente prejudica a saúde.

"O néscio aplica todas as energias na vingança; o perdão é a vingança da sabedoria." (Carl Wernick).

Como é impossível esquecer um mal que o outro fez, perdoar é evitar pensar na injúria recebida. Se possível, afastar-se do ofensor. Perdão é ato de defesa do próprio ser e implica em não realimentar emoções negativas. Perdoar não é ato de amor, mas de defesa pessoal. Amar é interessar-se pelo outro e tolerar pequenas imperfeições, mas quando a injúria é grande demais, o ato de perdoar, significa não pensar ou remoer o assunto. A indiferença é forma eficaz de aliviar a mochila da vida.

"A doença alimenta-se da falta de perdão. O perdão não tem nada a ver com aceitar um mau comportamento. A pessoa que você acha mais difícil de perdoar em geral é aquela da qual você mais precisa se libertar. Eu descobri que perdoar e em seguida deixar partir o ressentimento são atitudes que ajudam a curar até mesmo o câncer." (Louise L. Hay).

E como você nunca fará os outros mudarem, então a mudança deve vir de você mesmo. E, normalmente, como são os mais próximos que ofendem, é importante colocar limites. Ao mudar o seu relacionamento com as pessoas, elas mudam com certeza.

Sempre se obtém resultado positivo ao aliviar a mochila da vida.

"O fraco jamais perdoa: o perdão é característica do forte." (Mahatma Gandhi).

E o maçom forte e esperto tem sua mochila da vida sempre aliviada.


Bibliografia

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9. TOURNIER, Paul, Para Melhor Compreender-se no Matrimônio, título original: Pour se Mieux Comprendre Entre Époux, tradução: Bertholdo Weber, primeira edição, Editora Sinodal, 72 páginas, São Leopoldo, 1972;

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