Ensaio sobre a atividade de desmonte e possibilidade de
reconstrução do edifício social.
Charles Evaldo Boller
O edifício social é construído para que o cidadão possua o
atributo humano para desenvolver sua dignidade e desde era remota vem
desenvolvendo sua humanidade em sociedades cada vez mais organizadas e
complexas. Na Maçonaria o maçom destaca a honra e nobreza já perseguidas desde
sociedades mais antigas e combate os inimigos da dignidade humana: a falsa
liberdade, aquela que transforma a vida para o mal em resultado de vida e
procedimentos dissolutos como desregramento moral; promoção da falsa ordem que
redunda em anarquia, a falsa humanidade como consequência do despotismo das
massas. Estas ideias de combate surgiram no Iluminismo alemão e foram introduzidos
nas leis e dispositivos legais hodiernos.
Com o crescimento da população e conspiração ideológica, o
estabelecimento destas leis colocou fora do controle a sua aplicação. O
progresso tecnológico deu lugar a guerras de dominação sem lutas armadas e onde
passaram a figurar povos dominantes e dominados em larga escala. Desapareceram
as classes dos escravos e homens livres; hoje todos estão de alguma forma
presos ao um nefasto sistema onde uma minoria explora a maioria em seus
próprios prejuízos; em detrimento do edifício social que vai desfalecendo.
Presa de paixões e vícios a sociedade humana derruba constantemente a soberania
da igualdade e da justiça.
Aquela dignidade que era respeitada de forma natural pelos
antigos passou a ser aviltada e desrespeitada no edifício social hodierno que
obriga os miseráveis e oprimidos a se escravizarem de forma indigna para
sobreviver. Negam-se às pessoas os direitos mais rudimentares de liberdade,
desviando-os do estado de direito e gerando homens desesperados que enveredam
ao crime organizado, quebrando uma cultura natural que também tinha seus
defeitos, mas preservava valores hoje esvaziados e ridicularizados. A
instituição familiar está de tal forma arruinada que, para coibir o crescimento
populacional os governos permitem, e até incentivam, a união conjugal de
pessoas do mesmo sexo. A violência não é combatida de forma eficaz apenas para
manter o terror e a submissão. A saúde é negligenciada para reduzir a sobrevida
do cidadão e diminuir a população.
O maçom estuda as diferenças entre orgulho, vaidade e
egoísmo para esta época marcada pelo avilte da dignidade humana onde ele
levanta-se contra a tendência de desestruturação do edifício social, inspirado
na lenda da Torre de Babel descrita na bíblia judaico-cristã e que representa a
confusão e desestruturação da sociedade. O mundo civilizado vive em permanente
atividade para desconstruir a sociedade, gerando conflitos sociais e derrubando
o edifício social na sarjeta; é do interesse das classes dominantes manter os
mais fracos submissos ao seu sistema de domínio. Grandes humanistas como
Joaquim Nabuco e Rousseau, em seu tempo, já apontavam para esta degradante
situação e em seus trabalhos filosóficos buscam resgatar a humanidade do
retorno à barbárie.
O maçom é inspirado a levar para a sua célula social a
devida reação contra toda e qualquer injustiça promovida pelos grandes e
poderosos. Prove auxílio para os que sofrem alguma forma de tratamento desigual
pela justiça, delatando juízes e políticos prevaricadores e corruptos. Auxilia
aos que foram aviltados por extorsões, abusos e violências. É inspirado a
estabelecer justiça humana condizente com as necessidades para estabelecer a
dignidade humana e estabilizar as bases da sociedade ordeira e progressista.
Incentiva-se a integridade mantida a semelhança de Noé, quando este foi justo e
modesto fugindo ao orgulho que vitimou o planejador do projeto da edificação
que deveria alcançar as nuvens e ficou conhecida como torre de Babel, símbolo
da confusão hoje representado pelo sistema que oprime e escraviza.
A dignidade humana com liberdade é o meio necessário para
que o homem construa o edifício social assentado nos valores da natureza
humana. O respeito pela liberdade faz o homem equilibrado constituir a
sociedade organizada no humanismo, valorizando o homem. Dignidade só aflora com
liberdade. E isto só se conquista quando se reconhecem os valores internos do
homem e não suas posses materiais ou dotes intelectuais. A vaidade é a pior
componente do avilte do homem por outro homem. Descendente do sentimento social
e do desejo de aprovação que condiciona os homens a se tornarem agradáveis como
exercício de falsidade e hipocrisia; faz com que um homem queira ser mais
importante que o outro, é quando o orgulho, a autoestima em demasia o leva a
promover a submissão de outros homens pela força. A consequência disso leva ao
desmonte do edifício social.
A escravidão nos antigos moldes é rara nos dias de hoje. A
subjugação do homem é parcial, mas tão repugnante como a antiga, onde um ser
humano podia ser conduzido a uma condição de propriedade de outro. O que avilta
os alicerces do edifício da sociedade de hoje é a ultrajante desigualdade
social que pode ser resolvida por vontade política. Existem recursos
financeiros, humanos e tecnológicos suficientes para eliminar a mácula da
servidão e miséria em questão de pouco tempo. Mas como hoje as pessoas são
dominadas pela economia, tecnologia e falta de acesso aos bens de consumo e
oportunidades em virtude da presença de imensos e intransponíveis vales do
desnível social, esta realidade parece querer perpetuar-se.
O edifício social humano melhorou em artificialidades e
técnica, mas não em valores sociais; nisso a degradação e desmonte é visível -
existe uma grande opressão à dignidade humana em virtude da dificuldade de
acesso a melhores oportunidades e suporte de condições de vida em decorrência
do manipulado descontrole econômico ao sabor dos interesses de uns poucos
grupos de poder mundial.
Na Maçonaria busca-se a presença da premente necessidade do
despertar da consciência individual, de consciência universal para obter
liberdade necessária para nutrir a dignidade e construir uma sociedade liberta
em sentido lato. Não é o caso de nova ideologia político partidária, mas de
marcha em sentido de restaurar valores e elevar o respeito à dignidade humana
num pedestal onde o egoísmo humano não a possa tocar. Isto faz aflorar uma nova
organização social. É pela reorganização dos pilares que suportam a justiça
social que o homem adquire a liberdade necessária para obter dignidade de vida
e de onde obtém forças para construir um edifício social digno para si e seus
descendentes. Com o aparecimento e desenvolvimento da liberdade individual
despertará a consciência social e a vontade de servir às causas comuns da sociedade.
As palavras em nossa constituição federal são lindas e
poéticas, mas a sua consecução é um desastre em virtude da falta de força e do
interesse alienígena de fazer do povo escravos para o sistema aviltante que
escraviza. Tem a dignidade humana como fundamento, mas esta é apenas teoria.
Fala-se em erradicação de pobreza, que poderia ser eliminada num soco só,
bastaria, para tanto, apenas vontade política. Ao invés disso criou-se uma
geração de dependentes e indolentes sem vontade alguma de trabalhar para
construir e manter os valores do edifício social. Inclusive contém em seus
artigos previsão que coíbe tratamento degradante e aviltante, mas a realidade
dos corredores de hospitais, escolas e lares estão recheadas de péssimos
exemplos de má gestão da coisa pública, quando não desvio de verbas e outros
crimes de lesa-pátria. Arrogam-se proteção aos desamparados e esta não passa de
mero ensaio, de um faz de conta que não tem fim. Propala-se a base da ordem
social e do bem estar e justiça social e isto não passa de teatro, encenação
até bem pobre, pois é notória até ao mais simples cidadão. Dispositivos legais
existem em profusão, mas não protegem a dignidade humana, antes, degradam-na e
aviltam de forma ultrajante. Leis existem, mas faltam força e vontade na sua
aplicação.
Para o edifício social existir em sua plenitude, a ação
conjunta da sociedade deve fortalecer os direitos fundamentais do homem com
liberdade; só então este poderá conquistar vida digna. O que impede a aplicação
do diversificado cabedal de boas leis é ganância, vaidade, orgulho e outros
pecados. Apenas o amor é capaz de tornar os homens mais modestos e livres.
Longe de paixões e desejos exagerados passarão a enobrecer a pratica de
virtudes, obedecerão às leis, respeitarão os direitos dos outros e cumprirão
seus deveres de forma aceitável e natural. A educação estará em primeiro plano
no planejamento dos governantes. Liberdade de imprensa e da palavra
possibilitará correção de rumos. Assim que o maçom acorda em si esta disposição
ele fará a diferença no mundo em que vive. Se o fizer em seu lar já é de bom
tamanho. Se obtiver o privilégio de dirigir a política e chegar ao ponto de
poder influenciar nas decisões de poder e com sua atuação construir o edifício
social, então se dará glória ao Grande Arquiteto do Universo e o homem escravo
recuperará naturalmente a sua dignidade.
Bibliografia
1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e
Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira
edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;
2. GREGÓRIO, Fernando César, Ética e Maçonaria, Opúsculos do
Livre Pensamento, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 190
páginas, Londrina, 2005;
3. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo Radical a Filosofia e a
Construção da Modernidade 1650-1750, Radical Enlighttenment, Philosofy, Making
of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6,
primeira edição, Madras Editora limitada., 878 páginas, São Paulo, 2009;
4. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira
edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;
5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os
Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas,
São Paulo, 2007;
Nenhum comentário:
Postar um comentário