Contraste entre o eterno aprendiz e o eterno aprendizado.
Charles Evaldo Boller
A representação artística do "eterno aprendiz", mostra o maçom criado perfeito pelo Grande Arquiteto do Universo, mas que, respondendo de forma desfavorável com seu livre-arbítrio, impossibilita a si mesmo obter o conhecimento da Verdade. Nega-se o direito do "Sapere aude![1]", "Ouse saber! Tenha a coragem de te servires do teu próprio entendimento!", (Quintus Horatius Flaccus[2]). De sua própria iniciativa ele depende de outros para pensar, escolhe viver voluntariamente dependente daquilo que os outros pensam. Não conquistou a sua autonomia[3], independência e liberdade, a razão principal de ele frequentar os trabalhos de sua loja.
Na estátua o artista representa braços e pernas da figura do
maçom imobilizados, somado à postura contemplativa aguarda que alguém coloque o
alimento do filosofar maçônico na sua boca, pois ainda não desenvolveu a
capacidade do livre-pensar, apenas copia o que outros criam. O "eterno
aprendiz" nega a si mesmo a evoluída capacidade de pensar; ele quer obter
a receita do bolo pronta!
Entretanto, isso é demérito ou fraqueza? Profissionais das
áreas do ensino e da psicologia dizem que não! A falta de coragem de assumir a
própria autonomia na capacidade de pensar livremente é postura normal à pelo
menos 9 entre 10 pessoas no mundo. Tal disposição foi imposta e condicionada
por pais, professores, ideologias e crenças ao longo da sua vida. É isso que a
filosofia maçônica tenta reverter em todos os graus. A conquista individual da
autonomia é o cerne de todos os ritos maçônicos regulares.
David E. Pritchard[4], professor norte-americano, do
Massachusetts Institute of Technology, a melhor escola tecnológica do mundo,
diz que, dos estudantes de Física daquela escola, 80% não pensam, só repetem.
Todos sabem que para entrar naquela escola de tecnologia é necessário
destacar-se em conhecimentos, e se entre esses, apenas 10 a 20% pensam, imagine
o cidadão comum! Isso demonstra a falta de livres-pensadores ativos na
sociedade que trabalhem no sentido de tornarem feliz a humanidade. O maçom é
incentivado, desde a sua cerimônia de iniciação, a ter coragem para exercitar a
sua autonomia na arte de pensar: a Arte Real.
É nas oficinas maçônicas que acontece o Eterno Aprendizado,
resultado do esforço próprio e da ação conjunta dos maçons reunidos que,
inspirados na cerimônia de iniciação e depois de passarem pelo noviciado, andam
com as próprias pernas, de acordo com a sua própria capacidade de pensar e
decidir: são autônomos. Deixam de ser robôs, autômatos que se guiam por
software criado por outros. Para as autoridades dos governos é mais fácil
conduzir uma pessoa que não pensa, então usam do analfabetismo funcional para dominar
a massa.
A liberdade dada pelo Grande Arquiteto do Universo, através
do livre-arbítrio, fica impossibilitada de se manifestar se não existir uma
disposição interna de modificar-se, edificar o próprio templo interno. O maçom
destrói e reconstrói esse templo interno a todo momento, dependendo das novas
ideias que aportam em sua mente.
O mais evoluído em termos maçônicos reúne-se com frequência
para usufruir do Eterno Aprendizado que o filosofar maçônico oferece, e deixa
de ser "eterno aprendiz". Tem irmão arguto que já entende isso na
cerimônia de iniciação, ocasião em que absorve o significado daquele momento em
que recebe a Luz e sai caminhando sem apoio de ninguém. Outros acordam nos
graus seguintes, despertados pelo constante filosofar, especular e criticar o
condicionamento imposto pelo nefasto sistema humano de coisas.
A definição de que "a Maçonaria é, antes de tudo, uma
instituição filosófica"[5], é utilizada por homens inteligentes que apreciam
filosofar: serem amigos da Sabedoria. O filosofar maçônico provoca aos adeptos
que se libertem do condicionamento imposto pelo "sistema desumano"
que explora a todos até que sobre apenas bagaço. Possibilita que, por esforço e
persistência tornem-se livres-pensadores, diferenciando-se dos 90% da
humanidade que só copia e repete o que os outros pensam. Conquistam sua
autonomia, assim como define o livre-arbítrio constante no projeto do Grande
Arquiteto do Universo.
O Rito Escocês Antigo e Aceito proporciona trinta graus
adicionais aos três graus do simbolismo. Todos os graus são filosóficos,
inclusive os graus simbólicos, e objetivam provocar o maçom, a cada passo, com
pensamentos diferentes. Na primeira série de graus, a da Excelsa Loja de
Perfeição, acaba o detalhamento da lenda do terceiro grau e o irmão certamente
já entendeu, naquele estágio de sua evolução de pensador maçônico, que dele se
espera o desempenho do Mestre evoluído e pronto para dirigir a sua loja simbólica.
Àquela altura do Rito Escocês Antigo e Aceito ele já não é mais um "eterno
aprendiz", mas um Mestre ciente da necessidade do seu "eterno
aprendizado" para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia
1. ASLAN, Nicola, Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo, ISBN
85-7252-014-7, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 176 páginas,
Londrina, 1997;
2. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, 1ª edição,
Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;
Notas
1 Lema do Iluminismo. É uma expressão latina que significa
'coragem para discernir'. Originalmente usado por Horácio, é um mote comum para
as universidades e outras instituições, após tornar-se intimamente associada
com o Iluminismo por Immanuel Kant em seu ensaio seminal, que é o Iluminismo?
Kant alegou que foi o mote para todo o período, e é usado para explorar suas
teorias da razão na esfera pública. Mais tarde, Michel Foucault assumiu a
formulação de Kant, na tentativa de um lugar para o indivíduo em sua filosofia
pós-estruturalista e chegar a um acordo com o legado problemático do
Iluminismo;
2 Horácio, poeta e satirista de nacionalidade romana.
Quintus Horatius Flaccus, Quintus Horatio Faccus nasceu em 8 de dezembro de 65
a. C. Faleceu em 27 de novembro de 8 a. C. Autor de obras mestras da idade do
ouro da literatura latina;
3 Autonomia, "aquele que estabelece suas próprias
leis". É conceito encontrado na moral, na política, na filosofia e na
bioética. É a capacidade de um indivíduo racional (não necessariamente um
organismo vivo) de tomar uma decisão não forçada baseada nas informações
disponíveis. Na filosofia ligada à moral e à política, a autonomia é usada como
base para se determinar a responsabilidade moral da ação de alguém, (Kant);
4 David Pritchard ou David Edward Pritchard, cientista e
professor de nacionalidade norte-americana. Também conhecido por David E.
Pritchard. Nasceu em Nova Iorque em 15 de outubro de 1941. Professor de física
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT, realizou experimentos
pioneiros sobre a interação dos átomos com a luz, pesquisas que levaram à
criação do campo da óptica atômica.