Consideração ideal ressaltando o que motiva o mestre maçom em sua arte de facilitador de treinamento em loja.
Charles Evaldo Boller
O mestre maçom tem compromisso fundamental para com a
Humanidade: servir como facilitador ao crescimento de seus irmãos.
Esta séria responsabilidade faz dele multiplicador dos
fundamentos que a ordem maçônica pretende com toda a sua estrutura filosófica
voltada para a evolução humana. A grande alegria do mestre maçom está ligada
diretamente à sua consciência de concorrer para o objetivo comum, com as
perspectivas de desenvolvimento permanente dos que estão ao seu lado, em loja.
O ânimo do mestre maçom é resultado de trabalho entusiástico
junto a seus irmãos, onde aplica critérios para obter a Verdade que alimenta
necessidades metafísicas, com vistas a progredir em sentido lato. Sempre
disposto a ouvir mais que falar, sua mente encontra-se aberta para escutar
novas e inusitadas propostas filosóficas de seus pares. Está consciente que a
sociedade humana carece de novas ideias para orientar-se, e que ele e seus
irmãos têm a possibilidade de desenvolverem pensamentos de novas e inusitadas
ideias para a evolução humana.
Em loja o mestre maçom desenha ideias na prancha de traçar,
de onde podem eclodir novas propostas intelectuais depois de submetidas ao
crivo da razão. Nessa linha ele se confronta com argumentações diversas, o que
anima o ambiente de forma lúdica. Em loja questiona-se tudo para propiciar a
obtenção de novos horizontes na iluminação dos sentidos e da razão no objetivo
de elucidar o porquê da existência do Universo e do seu papel nesse drama
cósmico.
O mestre maçom não é professor.
Tem o dever de ensinar fazendo os outros pensarem. O modelo
vem de Sócrates e sua maiêutica, onde ele efetuava perguntas e provocações
verbais de modo a induzir aquele que com ele conversava a descobrir, pela
razão, a sua própria verdade adormecida na mente. O objetivo era apenas
despertar as ideias ou, como afirmava o sábio, "parir" novos
pensamentos. O uso da técnica socrática fica evidente numa das definições do
Rito Escocês Antigo e Aceito, quando este é descrito como um sistema de
numerosos graus, dentro do qual o ensino é permanente, não pelas palavras do
presidente ou do orador, mas principalmente pelo trabalho intelectual árduo
desenvolvido pelo adepto. O mestre maçom é apenas o facilitador que assiste ao
"parto" das novas ideias.
A partir dessa base o adepto precisa saber o motivo que o
leva a aprender alguma coisa e qual o ganho pessoal que advirá desse esforço. O
maçom em processo evolutivo justifica o esforço em aprender quando o assunto
liga-se a situações reais do cotidiano. Fica mais interessado em obter
Conhecimento se o aprendizado trata de valores intrínsecos de autoestima,
desenvolvimento pessoal e possibilidade de melhoria da qualidade de vida.
Sócrates discutia em diálogos, os mestres maçons o fazem em grupo, em loja, o
que potencializa os resultados e o interesse em pensar com liberdade. Usam
dicotomias para encontrar soluções práticas que permitam aos presentes
melhorarem como pessoa. Assim, em múltiplas fases de tese, antítese e síntese
desenvolvidas em loja o método é exemplo aperfeiçoado de ensino que, inclusive,
serve de exemplo para as instituições de ensino superior e de adultos na
sociedade.
Não é método pedagógico onde o treinando não participa da
construção do currículo nem da formação do conteúdo, portanto passivo, mas usa
de técnica que ensina e estimula o obreiro a pensar com discernimento e em
assunto do seu interesse, com conteúdo, nível e ritmo ditado pelos próprios
participantes da sessão. O facilitador fornece o tema e orienta os trabalhos
sem participar dos debates nem apoiar um dos lados, preferencialmente deixa os
presentes conduzirem o assunto e só atua para trazer o assunto de volta ao tema
em casos de desvios. O facilitador pode ser qualquer mestre maçom da loja, não
necessariamente luzes ou dignidades.
O mestre maçom é facilitador por excelência para transmitir
e adquirir conhecimentos numa via de mão dupla onde o facilitador e os
presentes numa sessão transmitem conhecimentos uns para os outros. Em sentido
lato o sistema ensina basicamente a viver bem e de acordo com valores e
princípios de disciplina e moralidade elevadas. O maçom evoluído dentro desse
sistema ensina a desfrutar a vida em equilíbrio com a Natureza onde ele acaba
por viver em harmonia dentro da sociedade o que retorna para ele de diversas
formas positivas.
A grande alegria do mestre maçom facilitador é a sua
probabilidade de encaminhar outros para a plenitude humanitária: aquela que
treina a consciência apurada enquanto pessoa. Isso não é possível se o maçom
não colocar o espírito acima da matéria, o que constitui um dos princípios
basilares do aprendizado e da vida: sem isso o método não funciona. A espiritualidade
proporciona a paz dentro do homem e conduz à prática de Justiça, prudência e
serenidade que levam o adepto a viver sua liberdade conquistada.
Essa liberdade é incutida no maçom desde seus primeiros
passos na cerimônia de iniciação, ocasião em que, de cego conduzido passa a
obter visão para combater sua heteronomia, caracterizada pelo medo de tomar
conta da própria vida ou falta de coragem de livrar-se da imposição da vontade
de outrem. Quando finalmente vê a Luz ele passa a cultivar o valor da autonomia.
Assim, ele obtém orientação para livrar-se do materialismo que leva o cidadão a
se escravizar por objetos, vícios degradantes, apego ao brilho de joias e
desejos que conspurcam o magnífico templo que é seu corpo em todas as suas
dimensões. Dessa forma o mestre maçom distingue-se dos demais cidadãos, o que
pode durar pelo resto de seus dias de multiplicador de laços de amor. Ele
entende a lição onde aquele que ama a instrução também ama o Conhecimento.
O amor dá ênfase de viver os dias em equilíbrio com a
Natureza. Nessa liberdade que convive com outras liberdades: metafísica,
política, moral, econômica e outras, o mestre maçom obtém alegria ao desfrutar
da liberdade como possibilidade, onde ele pode decidir-se por caminhos
diferentes que conduzem ao mesmo fim e a tornar-se livre em sentido lato. A
liberdade é para o maçom uma questão de escolha por motivação orientada para o
bem. Não se trata de autodeterminação absoluta, de tudo ou nada, mas de
problemas onde ele é chamado a decidir a medida, a condição ou qual o caminho
seguir para garantir liberdade continuada. Algo que pode ser considerado causa
em si mesma e garantida dentro de certas possibilidades que aumentam conforme
treina e especializa as percepções sutis com o desenvolvimento equilibrado de
racionalidade e espiritualidade.
Desperta a alegria que nutre a satisfação de estar vivo,
mesmo que debaixo do perigoso sistema de coisas que o homem inventou para seu
próprio prejuízo. A liberdade desperta a alegria que leva o mestre maçom a
desempenhar seu ofício apenas pelo prazer de abrir novos e inusitados caminhos,
marcado por possibilidades, haja vista o estado progressivamente selvagem da
sociedade que o cerca. Surge a Fraternidade, o ambiente repleto de afeto que o
leva a propósitos acertados e conduzidos por consciência treinada no convívio
com outros maçons. O ambiente de confiança cria um espaço energeticamente
positivo ao fortalecimento espiritual, disciplinado, erudito onde o mestre
maçom não tem compromisso com o erro e abre sua mente para despejar seus
pensamentos ao grupo. Não existe o medo de passar vergonha diante dos outros
porque vigora a tolerância ao seu pensamento.
O alimento para a alegria do mestre maçom facilitador vem da
satisfação de ver seus irmãos usufruindo da vida pela aprendizagem que faz
sentido para o bem viver, onde a razão leva à compreensão do sentido da vida. O
maçom evolui e a sociedade progride, sai da progressiva barbárie em andamento.
O mestre maçom facilitador alegra-se ao ver o irmão crescer
de todas as formas e se fortalece para avançar pela estrada das virtudes por
seus próprios méritos. Ele entende que o maçom em evolução, depois que lhe foi
dada a luz, é responsável para dirigir seus passos e tomar decisões na sua
vida. Desta forma o homem estudioso conquista para si o tratamento que lhe
permite ser visto pelos outros com respeito e afirma o quanto é autônomo e
capaz de dirigir-se através de seu próprio discernimento.
A alegria do facilitador fundamenta-se essencialmente no
crescimento que ele pode levar ao seu irmão e onde o Conhecimento se torna
rocha e fortaleza. É impossível de retratar para aquele que ainda não
experimentou em si mesmo a felicidade de ver o outro evoluir com ética,
envolvido e comprometido em cuidados para si mesmo, sua família e a sociedade.
É indescritível o júbilo resultante daquilo que a ação propicia ao fazer outros
responderem com estudo e criatividade para as demandas de um mundo em
permanente mudança. Heráclito argumentou que "tudo se move",
"tudo escorre", "nada permanece imóvel e fixo", "tudo
muda e se transmuta", até mesmo a rocha é fluída em seu tempo relativo,
quanto mais o pensamento do homem. O mundo muda constantemente e o homem
treinado tem mais chance de sobreviver com qualidade mesmo se o ambiente é
hostil ao cidadão honesto e correto. Pela experiência da felicidade que promove
para os outros o facilitador vai se desconstruindo e reconstruindo
constantemente: seu pensamento possui a fluidez do átomo e a tenacidade do aço.
A Maçonaria "empurra" o maçom a encontrar recursos
dentro de si mesmo onde absorveu o Conhecimento que o torna versátil e
engenhoso para escapar às armadilhas do sistema humano. Ao observar o panorama
ao seu redor, decorrente de seu sucesso, o facilitador sente prazer em conhecer
o sentido da vida porque está munido com o escudo analítico e a espada da
crítica. Sua alegria é resultado do fato de garantir seu futuro apoiado na
garantia de haver propiciado futuro melhor para outros. Essa consciência o faz
servir a humanidade enquanto serve sua própria vida.
A Maçonaria tem por alvo a ação moral dentro da meta de cada
adepto manter-se livre e de bons costumes. Os temas que debatem em loja estão
usualmente ligados com a vida criada pelo Grande Arquiteto do Universo.
Assuntos que não despertam interesse são evitados para não perder tempo. Se o
mestre maçom facilitador não simplifica o entendimento de seu irmão com sua
própria alma é certo que aquele que recebe a instrução não o fará com
entusiasmo. Conhecimento que não desperta interesse de nada serve!
O estudo sério e sereno tem necessidade de alegrar quem
participa do processo de aprendizagem. Convém usar de metodologia e didática
que ressaltem a formação ética e despertem valores adormecidos dentro do maçom
em evolução. A sociedade, infelizmente, a todos condiciona para servirem quais
escravos. O conhecimento desenvolvido em grupo, em loja, desenvolve-se porque
oportuniza e cria o ambiente apropriado para lidar com questões de valores que
servem para a vida e desenvolvimento de competências às quais se atribui valor.
Principalmente valores que permitem ao adepto tomar conta de sua vida como
pessoa livre, com qualidade, e repleta de reais valores humanos.
O ambiente de estudo é sério, mas também lúdico e agradável,
anima a assimilação de conteúdos e facilita a compreensão e o estudo. O
facilitador fica extasiado quando obtém sucesso em passar Conhecimento que seja
colocado logo em prática e facilita a vida dos irmãos. Principalmente se os
resultados venham em resultado do despertar moral que conduz a progresso
espiritual e material.
A experiência de vida do maçom em crescimento é base do
aprendizado. Todos os maçons possuem inteligência e desenvoltura que precisa
ser compartilhada. Disso o facilitador se aproveita para obter das diferenças
individuais a dinâmica de grupo que possibilita o treinamento eficiente e
lúdico de onde vem o sucesso dos irmãos e constitui o grande prêmio do
facilitador! Dá-lhe significado à vida e trabalho dentro do objetivo
político-social da Maçonaria. Valoriza seu trabalho assumido como missão e
vocação. O resultado prático é para o facilitador uma massagem para a alma e
regozijo ao coração. É a sua forma de alegrar-se porque cresce a possibilidade
de contribuir para a edificação de sociedade melhor e justa. Tirar o homem
selvagem da barbárie de uma sociedade em progressiva degradação e conduzi-lo a
um estado evoluído é sublime, pois vai ao encontro dos desígnios do Grande
Arquiteto do Universo.
O maçom aprende melhor quando os conceitos e Conhecimentos
em que está trabalhando estejam relacionados com alguma aplicação prática e que
de alguma forma lhe sejam úteis. O facilitador se alegra quando o seu irmão
melhora porque consegue aplicar o Conhecimento na prática, tornando-se mais
humano e por suas qualidades se destaca na sociedade.
O facilitador motivado e alegre não dá aulas. Ele passa
informações assimiláveis e práticas porque o maçom que estuda não é gravador ou
máquina é um ser que pensa, processa informações. O dever do facilitador é contribuir
com a formação do outro de modo que aquele possa tornar-se pessoa melhor. O
maçom em formação apenas deseja saber, obter o Conhecimento com o qual possa
trabalhar em seu ofício e de replicar esse mesmo Conhecimento para outros,
funcionando assim como multiplicador de maravilhosa filosofia de vida.
Colocado em prática o Conhecimento conduz os irmãos a serem
mais humanos. Predispõem ao desenvolvimento do ambiente fraterno onde se
encontra o afeto que a sociedade não supre. Alimenta a convivência em paz e
trato amistoso onde vigoram preceitos de tolerância aos seus pensamentos e
crenças. Com isso desenvolve-se a única força no Universo capaz de resolver
todos os problemas humanos: o Amor Fraterno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário