O que o maçom faz dentro do templo.
Charles Evaldo Boller
Para o obreiro motivar-se ele pode agir da forma como
Domenico de Masi afirmou: agir como se "não sabe se está trabalhando,
aprendendo ou se divertindo". Onde trabalho é parte importante da vida,
fornecendo sustento financeiro e oportunidades de crescer profissionalmente;
onde estudar é jornada contínua que ocorre ao longo da vida; onde a diversão
desempenha papel importante para manter a saúde mental e emocional; onde se
destaca a importância de equilibrar essas três atividades para desfrutar da
vida com qualidade. Visto a partir dessa ótica, na Maçonaria, é interessante
que o trabalho dentro da oficina maçônica, torne-se atividade lúdica, onde no
maçom desperta o desejo de se fazer presente em todas as oportunidades para
trabalhar em si mesmo.
A influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo
estudado na Psicologia Social, Sociologia e Antropologia, onde a origem dessa
inclinação natural, comumente é debitada a várias teorias e conceitos como: a
Psicologia Social, onde os indivíduos tendem a se conformar com as normas e
expectativas de um grupo, mesmo que isso signifique ir contra suas próprias
crenças ou julgamentos; a Identidade de Grupo que parte da teoria da identidade
social, onde as pessoas categorizam a si mesmas e derivam parte de sua
identidade e autoestima; a Polarização do Grupo que influi nos membros de um
grupo a compartilharem opiniões ou atitudes semelhantes; onde as Normas Sociais
aplicam regras que regem o comportamento aceitável do indivíduo dentro de um
grupo ou sociedade; e a Pressão Social sobre o indivíduo que se manifesta de
diversas formas, incluindo aprovação, desaprovação, elogios, críticas e até
mesmo coerção. Assim, as pessoas, muitas vezes, cedem à pressão social para
evitar conflitos ou para sentirem-se aceitas. A Teoria da Psicologia Evolutiva
explica que a tendência de os seres humanos serem influenciados pelo grupo tem
raízes na própria evolução das sociedades. A cooperação do indivíduo dentro de
grupos sociais conferiu vantagens adaptativas ao longo da história da evolução
humana, assim, a influência do grupo sobre o indivíduo é fenômeno complexo
afetado por interação de fatores psicológicos, sociais e culturais. A compreensão
desses fatores é essencial para entender por que os maçons acabam adotando
comportamentos, crenças e valores conforme à loja a qual pertencem, e, assim,
aprendem e se influenciam uns com os outros.
Quem ensina que a raiz quadrada de 4 é igual a 2 é o
professor de escola, mas quem ensina na Maçonaria é o próprio obreiro. Não
existe a figura do professor na Maçonaria. Todos são autodidatas. Dessa forma,
a Maçonaria promove a autoeducação a partir do autoconhecimento e potencial de
cada um. Em presença do livre arbítrio, no Universo inteiro, apenas o próprio
indivíduo muda a si mesmo, se assim ele o desejar. E isso acontece dentro da
loja que o maçom frequenta aproveitando-se da característica natural interna
gravada no seu DNA, em milênios de evolução social. Cada loja é uma célula
independente, onde cada maçom se autoconstrói e evolui segundo a sua vontade e
conforme a sua capacidade intelectual. É dentro da oficina que se levantam
templos à virtude, no plural, porque um obreiro influencia o outro e todos
crescem juntos. Cada um é professor de si mesmo e dos outros. Como cada maçom é
internamente um templo, o processo de mudança individual exige a presença dos
outros templos, que são os outros irmãos. A atividade é coletiva, realizada em
conjunto. Um depende do outro, daí a criação do ambiente próprio dentro do
templo onde a mudança ocorre, tudo dependendo da vontade individual. E assim
acontecem fenômenos de mudança que parecem magia, mas é resultado da simples
convivência em ambiente apropriado e mediante o debate da filosofia maçônica. O
que cada maçom cria nesse meio é extremamente cativante e motivador, pois, como
afirmava Domenico de Masi, "a criatividade baseia-se na incerteza: o
criativo erra muitas vezes, mas quando acerta, revoluciona"!
O valor agregado nas sessões maçônicas onde o maçom filosofa
produz aprendizagem com aplicação prática diária. Em sendo adulto, aprende o
que realmente precisa e quer saber; um homem assim vai diretamente ao ponto que
o interessa. A atividade ritualística e intelectual o leva ao processo
denominado Metacognição, que é a capacidade de pensar sobre a maneira de
resolver problemas e reagir com rapidez aos processos de mudança cada vez mais
rápidos da tecnologia e de aspectos culturais. Com isso o maçom obtém valores nos
campos espiritual, financeiro, social e na maneira de conduzir a vida. Ao mudar
a si mesmo ele muda àqueles que com ele se relacionam, e os outros só mudam
depois que ele se modifica, e, assim, torna feliz a humanidade pelo amor.
2 comentários:
Muito boa a apresentação do maçom, do indivíduo como um "micro templo", aperfeicoando-se e auxiliando no aperfeiçoamento dos demais templos, e relacionando este paralelo à presença constante e participativa de cada membro de uma Loja. Como sempre, reflexões interessantes e edificantes Irmão Charles! Parabéns.
O Universo é representado no teto do templo da loja para nos inspirar a ideia que estamos dentro de nós mesmos, trabalhando arduamente na construção do nosso templo, que não é de carne e ossos, mas formado das mais diversas formas de energia, onde uma dessas forças mantém acesa a capacidade de viver como parte de um Todo no Universo.
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