quinta-feira, 28 de março de 2024

O Eterno Aprendiz

Contraste entre o eterno aprendiz e o eterno aprendizado.

Charles Evaldo Boller



A representação artística do "eterno aprendiz", mostra o maçom criado perfeito pelo Grande Arquiteto do Universo, mas que, respondendo de forma desfavorável com seu livre-arbítrio, impossibilita a si mesmo obter o conhecimento da Verdade. Nega-se o direito do "Sapere aude![1]", "Ouse saber! Tenha a coragem de te servires do teu próprio entendimento!", (Quintus Horatius Flaccus[2]). De sua própria iniciativa ele depende de outros para pensar, escolhe viver voluntariamente dependente daquilo que os outros pensam. Não conquistou a sua autonomia[3], independência e liberdade, a razão principal de ele frequentar os trabalhos de sua loja.

Na estátua o artista representa braços e pernas da figura do maçom imobilizados, somado à postura contemplativa aguarda que alguém coloque o alimento do filosofar maçônico na sua boca, pois ainda não desenvolveu a capacidade do livre-pensar, apenas copia o que outros criam. O "eterno aprendiz" nega a si mesmo a evoluída capacidade de pensar; ele quer obter a receita do bolo pronta!

Entretanto, isso é demérito ou fraqueza? Profissionais das áreas do ensino e da psicologia dizem que não! A falta de coragem de assumir a própria autonomia na capacidade de pensar livremente é postura normal à pelo menos 9 entre 10 pessoas no mundo. Tal disposição foi imposta e condicionada por pais, professores, ideologias e crenças ao longo da sua vida. É isso que a filosofia maçônica tenta reverter em todos os graus. A conquista individual da autonomia é o cerne de todos os ritos maçônicos regulares.

David E. Pritchard[4], professor norte-americano, do Massachusetts Institute of Technology, a melhor escola tecnológica do mundo, diz que, dos estudantes de Física daquela escola, 80% não pensam, só repetem. Todos sabem que para entrar naquela escola de tecnologia é necessário destacar-se em conhecimentos, e se entre esses, apenas 10 a 20% pensam, imagine o cidadão comum! Isso demonstra a falta de livres-pensadores ativos na sociedade que trabalhem no sentido de tornarem feliz a humanidade. O maçom é incentivado, desde a sua cerimônia de iniciação, a ter coragem para exercitar a sua autonomia na arte de pensar: a Arte Real.

É nas oficinas maçônicas que acontece o Eterno Aprendizado, resultado do esforço próprio e da ação conjunta dos maçons reunidos que, inspirados na cerimônia de iniciação e depois de passarem pelo noviciado, andam com as próprias pernas, de acordo com a sua própria capacidade de pensar e decidir: são autônomos. Deixam de ser robôs, autômatos que se guiam por software criado por outros. Para as autoridades dos governos é mais fácil conduzir uma pessoa que não pensa, então usam do analfabetismo funcional para dominar a massa.

A liberdade dada pelo Grande Arquiteto do Universo, através do livre-arbítrio, fica impossibilitada de se manifestar se não existir uma disposição interna de modificar-se, edificar o próprio templo interno. O maçom destrói e reconstrói esse templo interno a todo momento, dependendo das novas ideias que aportam em sua mente.

O mais evoluído em termos maçônicos reúne-se com frequência para usufruir do Eterno Aprendizado que o filosofar maçônico oferece, e deixa de ser "eterno aprendiz". Tem irmão arguto que já entende isso na cerimônia de iniciação, ocasião em que absorve o significado daquele momento em que recebe a Luz e sai caminhando sem apoio de ninguém. Outros acordam nos graus seguintes, despertados pelo constante filosofar, especular e criticar o condicionamento imposto pelo nefasto sistema humano de coisas.

A definição de que "a Maçonaria é, antes de tudo, uma instituição filosófica"[5], é utilizada por homens inteligentes que apreciam filosofar: serem amigos da Sabedoria. O filosofar maçônico provoca aos adeptos que se libertem do condicionamento imposto pelo "sistema desumano" que explora a todos até que sobre apenas bagaço. Possibilita que, por esforço e persistência tornem-se livres-pensadores, diferenciando-se dos 90% da humanidade que só copia e repete o que os outros pensam. Conquistam sua autonomia, assim como define o livre-arbítrio constante no projeto do Grande Arquiteto do Universo.

O Rito Escocês Antigo e Aceito proporciona trinta graus adicionais aos três graus do simbolismo. Todos os graus são filosóficos, inclusive os graus simbólicos, e objetivam provocar o maçom, a cada passo, com pensamentos diferentes. Na primeira série de graus, a da Excelsa Loja de Perfeição, acaba o detalhamento da lenda do terceiro grau e o irmão certamente já entendeu, naquele estágio de sua evolução de pensador maçônico, que dele se espera o desempenho do Mestre evoluído e pronto para dirigir a sua loja simbólica. Àquela altura do Rito Escocês Antigo e Aceito ele já não é mais um "eterno aprendiz", mas um Mestre ciente da necessidade do seu "eterno aprendizado" para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia

1. ASLAN, Nicola, Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo, ISBN 85-7252-014-7, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 176 páginas, Londrina, 1997;

2. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, 1ª edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;


Notas

1 Lema do Iluminismo. É uma expressão latina que significa 'coragem para discernir'. Originalmente usado por Horácio, é um mote comum para as universidades e outras instituições, após tornar-se intimamente associada com o Iluminismo por Immanuel Kant em seu ensaio seminal, que é o Iluminismo? Kant alegou que foi o mote para todo o período, e é usado para explorar suas teorias da razão na esfera pública. Mais tarde, Michel Foucault assumiu a formulação de Kant, na tentativa de um lugar para o indivíduo em sua filosofia pós-estruturalista e chegar a um acordo com o legado problemático do Iluminismo;

2 Horácio, poeta e satirista de nacionalidade romana. Quintus Horatius Flaccus, Quintus Horatio Faccus nasceu em 8 de dezembro de 65 a. C. Faleceu em 27 de novembro de 8 a. C. Autor de obras mestras da idade do ouro da literatura latina;

3 Autonomia, "aquele que estabelece suas próprias leis". É conceito encontrado na moral, na política, na filosofia e na bioética. É a capacidade de um indivíduo racional (não necessariamente um organismo vivo) de tomar uma decisão não forçada baseada nas informações disponíveis. Na filosofia ligada à moral e à política, a autonomia é usada como base para se determinar a responsabilidade moral da ação de alguém, (Kant);

4 David Pritchard ou David Edward Pritchard, cientista e professor de nacionalidade norte-americana. Também conhecido por David E. Pritchard. Nasceu em Nova Iorque em 15 de outubro de 1941. Professor de física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT, realizou experimentos pioneiros sobre a interação dos átomos com a luz, pesquisas que levaram à criação do campo da óptica atômica.

5 Primeira frase no preâmbulo dos Estatutos da Grande Loja Maçônica do Estado do Paraná;

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